Texto: Emanuelle Oliveira
Fotos: Emanuelle Vanderlei
(Integrantes da Cojira-AL)
A Comissão de jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/AL) foi criada no dia 24 de novembro de 2007, pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) e para comemorar um ano de atuação, divulgando as manifestações afros do Estado, realizou no auditório do espaço Linda Mascarenhas, no último dia 29, um seminário abordando temas polêmicos sobre a presença negra na mídia brasileira, além de proporcionar aos participantes momentos de integração, por meio de um almoço no bar da comunicação - que teve a apresentação da banda Civilização Roots - e uma visita ao Quilombo dos Palmares.
O evento contou com a participação do professor de comunicação da Universidade Federal de Brasília (Unb), Nelson Inocêncio e ainda, com a cientista social e mestra em educação pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Ana Claudia Laurindo, a ialorixá e coordenadora do Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb), Neide Martins e o advogado e presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da Ordem dos advogados do Brasil (OAB-AL), Alberto Jorge Ferreira.
Palestrantes: Betinho, Ana Claudia, Mãe Neide e Nelson Inocêncio
Durante o painel sobre os "200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial", Nelson falou sobre a evolução da imprensa étnica, através de publicações alternativas e imagens divulgadas por grandes revistas e jornais. Já Ana Cláudia tratou da estética negra e da auto-estima, principalmente nas telenovelas. No painel sobre "Mídia e conjuntura afro brasileira" a ialorixá Neide ressaltou a perseguição às religiões de matriz africana, enquanto Alberto Jorge abordou as leis de combate ao racimo e a intolerância religiosa.
"Tivemos publicações que fortaleceram a imprensa étnico-racial no país, como o jornal Clarin da alvorada e a revista Quilombo (1950), que registrou processos artísticos para a inclusão do negro, além dos periódicos abolicionistas, que impulsionaram a assinatura da lei áurea, contando com jornalistas como José do Patrocínio. Na década de 20 e 30 haviam artigos sobre a questão racial e durante a ditadura a imprensa alternativa se fortaleceu. Em 1970 surgiu o Jornegro e o Tição e em 1990 o Elohim, bem como a revista Raça", contou o professor.
Nelson informou que existem documentários sobre a forma como a mídia repercute as questões afro, além de obras como a de Rosana Borges (O negro no telejornalismo), de Silvia Ramos (Mídia e racismo), de Edmilson e Núbia Pereira (A imagem negra na mídia) e ainda, de Muniz Sodré (Claros e escuros). "A mídia explora a imagem erótica do negro e os representantes bem-sucedidos. Apesar do Brasil ter a segunda maior população negra do mundo demorou muito para ver um negro apresentando o Jornal Nacional", completou.
A cientista social Ana Cláudia afirma que o problema do racismo está em não admitir que ele existe, pelo fato da grande mídia pautá-lo como um debate obsoleto, fruto do mito da desigualdade porque existe um número limitado de ícones negros que servem para dizer que a discussão é sem fundamento.
"Os negros são incorporados e adaptados a um modelo de hierarquia estética, principalmente nas telenovelas, já que olhar para eles é querer saber de onde vêm e se podem fazer parte de determinado grupo social. O racismo brasileiro é classista, fundamentado no que a mídia divulga", esclareceu ela.
Em se tratando das religiões de matriz africana, a ialorixá Neide disse que distante da sua terra os africanos foram obrigados a adorar os deuses católicos, fazendo com que muitos negassem sua fé. "A demonização do culto dos orixás é um aspecto constantemente mostrado pela mídia, mas ainda assim devemos abrir os terreiros para que a imprensa conheça melhor nossa religião", completou.
Já Alberto Jorge reconhece que a imprensa tem um importante papel na luta pela igualdade racial, já que desde que assumiu a Comissão de defesa das minorias tomou conhecimento de 56 casos de racismo. "Temos nossos diretos assegurados pela Lei 7716/89 que define os crimes contra raça e cor. Cerca de 90% das pessoas que lêm acesso às notícias sobre a comissão já sabem a quem procurar diante de situações discriminatórias".
A jornalista Edna Cunha aprovou a iniciativa da Cojira/AL. "Não adianta negar a realidade porque sabemos que existe racismo no jornalismo e reflexões como essas deveriam se estender para outras profissões". Já a estudante Cecília Mendonça acredita que é preciso falar mais sobre a questão racial. "Outras pessoas precisam saber que a cultura afro está presente em nosso dia-a-dia e que existe todo um contexto de representatividade na mídia".
Estiveram presentes professores de comunicação, estudantes, jornalistas, representantes de religiões evangélicas e de matriz africana, além de membros de movimentos sociais.
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