quarta-feira, 4 de abril de 2018

#DeixaElaTrabalhar

Uma campanha encabeçada por repórteres esportivas chama atenção sobre a questão do assédio e machismo nos estádios e fora deles. Sob a marca #DeixaElaTrabalhar, um grupo de cerca de 50 jornalistas mulheres de todo o país lançou na sexta-feira, dia 20 de março, a campanha e um vídeo com alguns dos relatos sofridos. Comentários violentos e ameaças de estupro de torcedores nos estádios e nas redes sociais estão entre as agressões.

Em uma cobertura ao vivo de uma partida de futebol, a repórter Bruna Dealtry, do canal Esporte Interativo, foi beijada, à força, por um torcedor. O episódio ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 14 de março, durante a partida entre o Vasco e Universidad do Chile, pela Libertadores. Constrangida, a repórter disse que a atitude “não foi legal”, mas continuou a transmissão. Três dias antes, em Porto Alegre, um torcedor do Inter insultou e agrediu, fisicamente, a repórter Renata Medeiros, da Rádio Gaúcha, que cobria a partida entre Grêmio e Inter. Esses são apenas dois dos casos mais recentes de assédio e desrespeito que jornalistas mulheres, principalmente – mas não somente – da área esportiva vem sofrendo no ambiente de trabalho.

Bibiana Bolson, jornalista da ESPN W e uma das participantes da campanha, explica que o objetivo é chamar a atenção para as agressões que as profissionais sofrem não somente nos estádios. Segundo Bibiana, a campanha, embora tenha surgido de episódios vividos por jornalistas esportivas não se limita somente a esta editoria.

A ideia é dar voz para mulheres de todas as esferas. “É uma maneira de incentivar as mulheres a relatarem os abusos que sofrem, a buscarem seus espaços”, diz. O vídeo, além de ser um pedido para que as jornalistas possam trabalhar em paz, lembra também que o silêncio diante de casos de assédio é parte de um mesmo problema. Não é a primeira vez que jornalistas mulheres se unem para denunciar os abusos e assédios sofridos na profissão.

Em junho de 2016, depois que uma repórter do portal iG foi assediada no meio de uma entrevista coletiva pelo ex-cantor Biel, um grupo de jornalistas mulheres criou a campanha #JornalistasContraOAssédio. Na época, Biel, que caiu no ostracismo após o episódio, chamou a repórter de 21 anos de “gostosinha” e disse que a “quebraria no meio” se eles tivessem relações sexuais. A jornalista chegou a registrar queixa na Delegacia da Mulher e o iG prometeu que daria todo o apoio à profissional. Mas ela foi dispensada menos de um mês após o caso vir à tona. Na época, a campanha também reuniu relatos de abusos e assédios sofridos por profissionais no exercício da profissão.

Hoje, a campanha se transformou em um coletivo que denuncia, sistematicamente, as diversas formas de assédio.


Coluna Axé – 485ª edição – Jornal Tribuna Independente (03 a 09/04/18) – Contato: cojira.al@gmail.com
(Responsáveis, interinamente, as jornalistas Valdice Gomes e Luila de Paula)