quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cultura afro em evidência no 5º Prêmio Espia

Saiu o resultado oficial do 5º Prêmio Espia que homenageia pessoas e grupos que realmente contribuem para a cultura alagoana durante o ano todo. Instituído em 2005 trata-se de uma sátira aos prêmios de fim de ano que tem interesse financeiro e/ou político, onde inclusive, pode acontecer pagamento para adquirir o prêmio. A iniciativa é da Revista ESPIA, agora com o nome “Blog do Carlito Lima”, foram três meses de votação na internet e mais de 60 premiados em cinco categorias.

A coluna axé destaca alguns campeões como: o acarajé da Elisa – Shopping Maceió, na categoria Gastronomia/Acarajé; o Baque Alagoano, como melhor bloco carnavalesco; Igbonan Rocha, categoria música/cantor; o Atlântico Negro como CD destaque; e o jornalista Felipe Camelo (Tribuna Independente), na categoria imprensa/fotógrafo profissional.

A entrega dos prêmios será amanhã (29.01) às 19h na Praça Gogó da Ema, orla da Ponta Verde em Maceió. Parabéns pela brilhante iniciativa de valorização local e para todas e todos contemplados de 2009!

Haitiano ilustre

O ator Jimmy Jean-Louis é um dos artistas mais conhecidos do Haiti, também, porque interpreta o haitiano René na série norte-americana Heroes.

O negro de 41 anos tem 1,85m, se mudou para Paris na adolescência para iniciar a carreira de modelo, mesmo longe, há 20 anos ajuda a sua família e conterrâneos com dinheiro ou projetos sociais, a exemplo da fundação que criou a “Hollywood Unites for Haiti”, uma organização sem fins lucrativos cuja missão é incentivar o esporte e educação cultural para jovens pobres que vivem na ilha.

Com os efeitos do desastre natural, a casa onde morou ficou completamente destruída e durante alguns dias não teve contato com os pais: “Recebi um telefonema da minha irmã dizendo que conseguiu chegar em nossa casa. Então, peguei o telefone e minha mãe respondeu. Nossa primeira reação foi de simplesmente chorar", contou o ator a rede de TV americana CNN em uma entrevista.


Fonte: Coluna Axé / Tribuna Independente (26.01.10) Crédito da foto: Divulgação

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

21 de janeiro - Dia Nacional contra a Intolerância religiosa

Muita gente não sabe que o dia 21 de janeiro foi incluído no calendário cívico como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, trata-se da Lei nº 11.635 que foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007.

A data é uma homenagem à memória de Mãe Gilda, yalorixá do Terreiro Abassá de Ogum, um dos mais tradicionais da Bahia. Ela teve sua fotografia publicada em um jornal evangélico de grande circulação, associada ao charlatanismo; depois seu templo religioso sofreu invasão e depredação, que desencadeou em vários problemas de saúde até a sua morte por um infarto em 2000.

Embora, a religiosidade de origem africana seja reconhecida como uma importante característica da identidade nacional, os praticantes da umbanda e candomblé são vítimas cotidianamente do preconceito no Brasil contemporâneo.

Durante a semana contra a intolerância religiosa, adeptos das religiões de matrizes africanas realizam várias atividades em defesa do respeito e liberdade de crenças, como: eventos que abordam o diálogo interreligioso, atos político-culturais, entrega de dossiês para autoridades locais, a criação de núcleos de estudos e pesquisas sobre o tema, dentre outras ações.

Porém, aquele que seria o mais importante acontecimento foi suspenso de última hora: o Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa que seria implantado no dia 20, prevê a legalização fundiária dos imóveis ocupados por terreiros de umbanda e candomblé e até o tombamento de casas de culto.

O adiamento da cerimônia ocorreu por causa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a preocupação de evitar novos atritos entre evangélicos e a Igreja Católica ainda mais em ano eleitoral, o argumento também utilizado é que precisa revisar os aspectos jurídicos do texto e evitar maiores constrangimentos.


Fonte: Coluna Axé / Tribuna Independente (26.01.10)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Censo e periferia


Por: Helciane Angélica - jornalista


Infelizmente, o racismo tem se escondido em discursos “sutis” e encontra-se presente em nosso cotidiano. É comum ouvirmos as pessoas chamarem negros de “moreninhos”, como se fosse mais “aceitável” ou menos “feio” para a pessoa. Além disso, ainda tem as piadinhas “inocentes” que só ajudam a consolidar uma cultura inconsequente e que acredita na “democracia racial”, ou seja, extremamente contrárias as ações que promovam o respeito e a garantia de direitos aos diferentes.


Os afrodescendentes (negros e pardos) são a maioria no país com 50,6% da população, mas tem muita gente espalhada por esse mundão que tem vergonha de suas origens, e o que ainda pior desconhece sua própria história. O Censo 2010 irá avaliar a realidade dos brasileiros, e em cada residência os entrevistados responderão um extenso questionário, inclusive, sobre a cor da pele, etnia, crença religiosa e opção sexual.


O Tambor Falante – ciclo de debates fortalece a reflexão crítica sobre a pesquisa demográfica que acontecerá em toda a América Latina, é uma iniciativa do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô em parceria com a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) e a Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro. Desta vez, abordará o tema “Censo 2010 – Negritude e Periferia”, e o local escolhido para a quinta edição do projeto foi a comunidade que vive ao lado do lixão de Maceió.


A concentração para o evento será às 14h na sede do Ponto de Cultura Guerreiros da Vila/Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (Ceasb), em seguida, os participantes seguirão em caminhada até o espaço cultural da Vila Emater II localizada no Sítio São Jorge onde serão executadas as trocas de opiniões, propostas e experiências. Mais informações sobre o evento: (82) 9119-5730 / 8893-9495 / 9999-1301.


O objetivo é ampliar a discussão junto com os diversos segmentos afros, além de garantir a conscientização sobre a importância dos dados coletados e contabilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que posteriormente podem servir de subsídio na elaboração de políticas públicas adequadas aos diversos segmentos sociais.


Os moradores das periferias são secularmente vítimas da marginalização, há locais que nem os agentes de endemias conseguem entrar, devido ao forte tráfico de drogas ou por puro preconceito. Será que os recenseadores conseguirão aplicar a pesquisa nesses locais? E as pessoas que moram nas tribos indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos da reforma agrária estão esclarecidas sobre o censo e serão realmente ouvidas? E os que irão aplicar os questionários estão preparados?! Continuaremos pensando sobre o assunto e buscando novos avanços. Axé!


Fonte: Coluna Axé / Tribuna Independente - 26.01.10

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Comunidades quilombolas: titulação é necessária para desenvolvimento

Na manhã deste domingo, dentro da programação do 1º Fórum Social e 1ª Feira Mundial de Economia Solidária, foi realizado o seminário “Movimento quilombola e etnodesenvolvimento”, que tratou temas sobre uma perspectiva étnica do povo quilombola, um desenvolvimento a partir das práticas da economia solidária, educação pelo trabalho, controle social e autogestão. Tratou, ainda, sobre o sistema financeiro das comunidades, a partir da produção, acesso ao crédito, comercialização e banco comunitário como instrumentos de avanço, além da regularização fundiária dos territórios quilombolas no Brasil. Sobre isso, foi feita uma análise da situação atual e definidas as perspectivas.

Atualmente, no Rio Grande do Sul são mais de 70 quilombos titulados e cerca de 130 comunidades já identificadas, esperando o reconhecimento. Conforme o coordenador da Fundação das Associações das Comunidades Quilombolas/RS (FACQ), Roberto Potacio Rosa, a titulação das comunidades é um sinal de avanço. “Os quilombos que não têm titulação já recebem benefícios, mas são políticas incipientes e paliativas, que não vem a sanar as necessidades mais urgentes do nosso povo”, salientou. Mais de 200 pessoas estiveram presentes na atividade, que debateu os avanços das comunidades e sua realidade, além de propostas reais de inserção social, educação, desenvolvimento e políticas públicas que garantam as melhorias.

O seminário contou com realização da FACQ/RS, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, e apoio da Comissão Pastoral da Terra, Sintrajufe, CUT, Senaes/Ministério do Trabalho e Emprego, INCRA/RS e Frente Parlamentar Quilombola.


Fonte: Daiani Ferrari - Jornalista - MTB 13.509
Contato: (55) 9159.7375

Mulher negra na comunicação: gestão em favor das TVs públicas

Acho que se nós estivéssemos unidos, o campo público de comunicação seria imbatível. Comunicação tem a ver com política de Estado. Interação e trabalho coletivo podem gerar produtos melhores”. Esses são algumas das considerações de Regina Lima, presidenta da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais, que lidera uma rede nacional para fortalecer as TVs públicas. Ousadia e criatividade são atributos dela, que já reergueu a TV Cultura do Pará e recuperou 75% das retransmissoras públicas, antes nas mãos da iniciativa privada.


Por Valéria Lima e Isabel Clavelin
Com colaboração de Regina Adami

Regina Lima é presidenta da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais) desde outubro de 2009, quando foi empossada em cerimônia na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mulher negra, paraense de nascimento, ela morou por quase 10 anos no Rio de Janeiro, período em que se dedicou ao mestrado e doutorado em Comunicação na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

No seu retorno ao Pará, ingressou como professora na UFPA (Universidade Federal do Pará), onde chefiou o curso de Comunicação, no período de 2002 a 2004. De lá pra cá, entrou no universo das TV públicas. Área em que inovações como a reestruturação da Funtelpa (Fundação Paraense de Radiodifusão) e a valorização da cultura local, com a ousada cobertura dos jogos do campeonato de futebol estadual, a credenciaram para comandar a Abepec. Nesta entrevista para o Ìrohìn, concedida no Rio de Janeiro, Regina Lima lista oportunidades e desafios para as emissoras públicas brasileiras, como inovação tecnológica e programação que valorize a pluralidade de vozes e conteúdos.

Ìrohìn - Como a mulher negra chegou nesse espaço? Na presidência de uma associação nacional de TVs públicas?
Regina Lima - Tenho o histórico de movimento estudantil e movimento sindical no sindicato dos jornalistas. Investi na carreira acadêmica porque a universidade é um campo de conhecimento e não adiantava apenas minha experiência prática. Minha área sempre foi de reflexão da mídia, comunicação e política. Voltei ao Pará, em 2004, e fui convidada para dar aula. Coordenei o curso de comunicação por um período e desenvolvi uma série de ações. Geralmente, em órgão público, as pessoas dizem que não dá pra fazer algo, porque fazer dá trabalho. Qualquer ação dentro de órgão público dá muito trabalho, então precisa querer. Fiquei no curso, estava dando aula quando a governadora [Ana Júlia Carepa] se reuniu com uma série de professores da Federal. Foi quando ela me convidou para dirigir a Funtelpa (Fundação Paraense de Radiodifusão), que engloba rádio, TV, portal na internet e revista.

Ìrohìn De que forma você encarou esse desafio de comandar o sistema público de comunicação do Pará?
Regina Lima - A Funtelpa era mais um problema para o governo. Como é que iria administrar? Ou eu fazia diferente ou eu faria como todo mundo fez. Lembro que o pessoal me cobrava muito: – “antes a gente investia em conteúdo”. Chamei os funcionários no auditório e disse pra eles: “eu vou investir em conteúdo agora pra quê? Se essa TV não vai pra lugar nenhum”? A TV não chegava em casa nenhuma, cobria Belém, mas não ia para outros lugares do Pará. Não ia para o estado, porque as concessões e outorgas estavam nas mãos da iniciativa privada. Por que eu iria gastar um dinheiro com conteúdo pra ninguém assistir? Pra ninguém ver. Não adianta você dar uma entrevista se ninguém vai conseguir ver, nem no município.

Ìrohìn - Estrutura tecnológica e técnica em busca da qualidade.
Regina Lima - Eu fiz ação estruturante dentro da Funtelpa. Percebi que era preciso pegar as retransmissoras de volta, e foi o que fizemos. Hoje é outra realidade. Talvez seja a emissora que mais cresceu. Cresceu do ponto de vista de que ela retomou. A governadora foi quem mais levou pancada porque estava tirando da mão do cara. É uma afiliada da Globo, então não é um processo fácil. De 80 retransmissoras, recuperamos 60. Por exemplo, as OTs (ondas tropicais) para um estado como o Pará é um meio de comunicação importantíssimo, porque é o único sinal que sobe e qualquer pessoa pega esse sinal, até mesmo fora do Brasil. A OT não tem limite de alcance. Retomamos a OT no final de outubro de 2009 e a TV está fazendo o maior sucesso. O que a gente recebe de ligação até das Guianas... Na verdade, não fiz nada de novo. Nada que não existisse na Funtelpa, só que não estava sendo usado por ela. O meu trabalho foi de retomada de tudo aquilo que era dela e que estava fora. Hoje se você olhar, a Funtelpa é uma TV vista. Agora que a gente está no estado, a gente vai começar a mexer no conteúdo.

Ìrohìn - Como vocês conquistaram o público do Pará?
Regina Lima - O Barbero [Jesús Martín-Barbero, pesquisador de Comunicação] sempre diz: a gente precisa de uma matriz cultural que agregue e atraia os olhares. E onde a gente foi? Convencemos a governadora a comprar o campeonato paraense de futebol. Aí duas coisas legais: os times estavam cobrando do estado uma contribuição e o estado entendia que dar uma contribuição por dar não resolveria. Então qual foi a lógica? A governadora ajudou os times, mas a contrapartida foi a exclusividade da transmissão dos jogos pela TV Cultura. Foi para o estado todinho. Recentemente, fizemos uma pesquisa e a audiência foi lá pra cima. Nos dias de jogos, podia ter o campeonato nacional que tivesse...

Ìrohìn – Como incorporar a pluralidade racial e de gênero nas TVs públicas?
Regina Lima - Você corre o risco de entrar em programa de auditório que começa a trazer um monte de gente que às vezes não tem nada a ver. Pode ser um programa, por exemplo, de debate que traga para a discussão todas essas questões que estão aí. Mas não tem um modelo definido, não tem nenhuma fórmula. A gente precisa trazer os movimentos para discutir e encontrar uma fórmula que com certeza não é: “eu quero um espaço na TV pra mulher fazer um programa”, isso necessariamente não atende.

Ìrohìn – E a participação social?
Regina Lima - Não adianta só discutir que o espaço está lá, nós não temos espaço, e aí? A gente dá o espaço, vamos supor, e aí? Vocês vão se sentir contemplados? Claro que não. Porque se eu não tiver no transversal da grade da programação uma maneira de respeitar o movimento, não adianta nada dar o espaço pra vocês. Eu posso até dar por um desencargo de consciência, mas será que é isso que nós queremos? A gente precisa sentar, e sem ter medo. Fica um grupo de um lado com medo de ser criticado e do outro, querendo criticar cada vez mais. A gente tem que baixar a guarda, sentar e começar a discutir. É isso que a Abepec vai fazer agora no debate sobre conteúdo. Que conteúdo é esse? Até hoje a gente só pensa em grade. Queremos fazer um programa, queremos, mas qual é a discussão, que conteúdo é esse? Vamos supor que a gente vai faça um programa sobre as mulheres, qual é o conteúdo que nós queremos?

Ìrohìn – Como os interesses sociais estarão representados?
Regina Lima - Quando você descobre o pulo do gato como projeto, todo mundo tem dificuldade de fazer projeto, emplacar projeto nos grandes órgãos, estadual ou federal. Na hora que você descobre como faz isso e como é que aceita lá, todos os teus projetos emplacam. Então precisamos encontrar o caminho. Inegavelmente com todas as deficiências dessas TVs, é onde há espaço. Talvez o que esteja faltando é não só pensar na grade e garantir o espaço, mas pensar o conteúdo que queremos e como vamos trabalhar

Ìrohìn – A cobertura parcial nos estados impede o aumento da audiência. Temos a experiência da Bahia. A maioria das cidades do interior não tem acesso à TV Educativa nem à TV Brasil. O que está sendo feito em relação a isso?
Regina Lima - Você tem que conhecer que é uma estrutura de comunicação, que é o caso da Bahia, do Pará, enfim, é o caso das TVs todas, nós geramos da capital, onde ocorre todo o processo de produção e geração. O que vai para os municípios é o que se chama de RTV, são as retransmissoras. Passa aquilo que a capital está produzindo. Como você tem dificuldade de estar nos municípios, você reproduz para o interior um modelo que é de notícias ali da capital de vocês, e os municípios ficam à parte desse movimento. Então qual é o mecanismo? Eu não consigo, pedi quatro geradoras pra quatro municípios pólos do Pará. E o Ministério das Comunicações negou, disse que eu não posso ter geradoras nesses municípios.

Ìrohìn – A situação voltou pra vocês e a população perde...
Regina Lima - O governo do Pará tem um projeto chamado “Navega Pará”, que é a distribuição de internet grátis para todo o estado através de fibra ótica. E o que estou fazendo como TV? Estou negociando com o projeto para que em cada localidade que ele vá seja criado um infocentro, que é uma lan house ampliada. Eu estou pedindo pontos dedicados para qualquer pessoa no município que chegar naquele local com o celular, ligar, passar informação no infocentro, pluga, chega imediatamente pra mim. Se eu mesmo mandar alguém pra lá, eu não tenho como fazer isso. Vai lá grava, pega a fitinha, volta. Tentamos encontrar mecanismos e aproveitar a estrutura que pode agregar para a TV.

Ìrohìn – Mas as TVs culturais, educativas e públicas são mais abertas aos temas sociais.
Regina Lima – Há uma tendência. Mas as TVs estaduais estão vinculadas aos governos do Estado. E isso cria uma dificuldade muito grande até para o gestor, porque são raros os governadores que querem investir nessas Tvs, sem necessariamente aparelhar. Ele nem precisa fazer isso por uma razão muito simples, o governo de qualquer estado por si só é o maior produtor de pauta. Então vai estar dentro da TV sem necessariamente aparelhar, e sim discutindo política. Inegavelmente o governo federal e os governos estaduais são os maiores produtores de pauta, inclusive da TV privada, não só da TV pública. Nós temos uma série de problemas com as Tvs, boa parte delas está com o parque tecnológico defasado e enfrentam problemas para migrar para o sistema digital. Até o final deste ano, todas devem alterar esse sistema.. Fazer TV é um negócio muito caro e temos que criar uma política de financiamento. Os governos precisam entender que comunicação é uma política de Estado.

Ìrohìn – E a participação social?
Regina Lima - Não adianta só discutir que o espaço está lá, nós não temos espaço, e aí? A gente dá o espaço, vamos supor, e aí? Vocês vão se sentir contemplados? Claro que não. Porque se eu não tiver no transversal da grade da programação uma maneira de respeitar o movimento, não adianta nada dar o espaço pra vocês. Eu posso até dar por um desencargo de consciência, mas será que é isso que nós queremos? A gente precisa sentar, e sem ter medo. Fica um grupo de um lado com medo de ser criticado e do outro, querendo criticar cada vez mais. A gente tem que baixar a guarda, sentar e começar a discutir. É isso que a Abepec vai fazer agora no debate sobre conteúdo. Que conteúdo é esse? Até hoje a gente só pensa em grade. Queremos fazer um programa, queremos, mas qual é a discussão, que conteúdo é esse? Vamos supor que a gente vai faça um programa sobre as mulheres, qual é o conteúdo que nós queremos?

Ìrohìn – Como os interesses sociais estarão representados?
Regina Lima - Quando você descobre o pulo do gato como projeto, todo mundo tem dificuldade de fazer projeto, emplacar projeto nos grandes órgãos, estadual ou federal. Na hora que você descobre como faz isso e como é que aceita lá, todos os teus projetos emplacam. Então precisamos encontrar o caminho. Inegavelmente com todas as deficiências dessas TVs, é onde há espaço. Talvez o que esteja faltando é não só pensar na grade e garantir o espaço, mas pensar o conteúdo que queremos e como vamos trabalhar

Ìrohìn – Fale um pouco mais da Abepec. Quanto tempo você tem de mandato?
Regina Lima - Dois anos [mandato vencerá em 2011]. E minha área sempre foi de reflexão da mídia, comunicação e política. Dá trabalho, mas eu me sinto altamente gratificada. Porque uma ação que você faz, o benefício é enorme. Quando eu vou aos municípios, as pessoas dizem que assistem a Funtelpa. Na Abepec, os projetos que nós vamos encaminhar são todos para que as TVs possam ser beneficiadas. Se a gente conseguir, vão poder se estruturar minimamente. Há ainda a discussão sobre esse conteúdo, o que nós estamos fazendo? Como nós vamos abrir espaço para que os movimentos entrem? Que critério nós vamos usar?

Ìrohìn – Como a Abepec poderá contribuir para a inclusão das questões raciais nos conteúdos das TVs públicas?
Regina Lima – Não existe uma fórmula pronta e acabada, é uma questão da sentar, pra começar a discutir como é que a gente faz isso. De repente é muito mais ganho pro movimento, se o conjunto dos conteúdos da TV trate conceitualmente e dialogue com esses movimentos do que ter um espaço na grade, que ele pode se esgotar. Nós temos que encontrar uma maneira. Além disso, ter uma discussão dentro das redações das TVs, porque a pessoa que está lá trabalhando não tem nada a ver, não tem compromisso com nada. Embora seja dada a ela a responsabilidade de definir o que entra e o que não entra. Porque o critério para ela entrar lá não foi um critério político, foi o critério profissional. É uma boa jornalista, é uma boa redatora, ela vai pra lá. Então, a gente tem que abrir essas discussões para o conjunto, inclusive de quem está fazendo televisão. Agora, vamos discutir com o pessoal que está fazendo a comunicação pública. As ações que a Abepec está colocando não entram propriamente dentro de conteúdo específico, mas ela abre para o campo de ações e é dentro desse campo de ações que nós vamos ter abertura pra discutir questões mais específicas dentro do conjunto de políticas sociais. Mas o que é mais importante é garantir para que essa TV possa funcionar, e pra isso ela tem que sair de alguns guarda-chuvas que ela está hoje.

Ìrohìn – O que são os guarda-chuvas?
Regina Lima - Isso é uma coisa certa. Essas ações estão lá dentro, estão previstas. Agora, ao meu ver, o nosso grande desafio não é no documento. Porque no documento eu coloco, o problema é cumprir. O que nós temos que garantir? A inclusão desses temas e ter um poder de fiscalização muito grande pra que essas ações sejam efetivadas.

Ìrohìn – Qual é a relação da Abepec com o governo federal?
Regina Lima - O Ministério das Comunicações eu digo que tem vida própria hoje. O movimento ainda é o da barganha, da troca. E como a gente vai trabalhar com isso? Essa é uma realidade que o próprio governo federal teria que mudar. Precisaria que tivesse alguém lá dentro com sensibilidade pro movimento social. Essa seria a grande mudança e aí teríamos condições de ampliar o mínimo de negociação. Hoje do jeito que está é quase impossível. Não pense que é só com as TVs comunitárias. Isso é geral, a menos quem tem acesso maior lá dentro. Não temos conseguido. O quê a gente faz? Procurar mecanismos dentro da estrutura existente, para que a gente possa resolver esses problemas. Agora acho que tem – nada que uma boa criatividade não resolva. No Ministério da Cultura, a Abepec faz a administração do DOC TV [projeto de incentivo à produção de documentários]. Temos também o DOC CPLP das comunidades portuguesas, mas com menos produção. Ainda acho muito pouco diante do volume que a gente tem. Acho sinceramente que a gente deveria se juntar, por isso que os conselhos curadores das TVs são muito importantes, principalmente com a participação da sociedade. Ainda com todas as deficiências do Conselho Curador, ainda é uma forma de fiscalização dessas TVs.


Fonte: http://www.irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=5042