segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Terremoto agrava a miséria no Haiti

O Haiti já estava numa situação social bastante complicada antes do terremoto da última terça-feira (12). O país mais pobre das Américas vivia uma situação de penúria, em que ausência do Estado, aliada a uma economia quase de subsistência, marcava o cotidiano daqueles que tentavam se recuperar de mais uma guerra civil.

Antes do tremor de terra que praticamente devastou a capital Porto Príncipe e outras regiões do Haiti, primeira nação do continente a conseguir a independência, a população já sofria com a falta de serviços básicos e com o subemprego.


A capital haitiana possui inúmeras favelas. Luz e água são serviços escassos. O comércio é quase todo informal e a segurança, dividida entre a polícia local e os militares da força da paz das Nações Unidas (ONU). É uma área de instabilidade permanente, como a reportagem constatou ao visitar o país antes que o terremoto fizesse o mundo volta seus olhos para essa nação formada majoritariamente por negros.


A agricultura do Haiti é baseada na produção de cana-de-açúcar, manga, milho e arroz. Mas a produtividade caiu muito. Depois da guerra civil, as plantações são praticamente de subsistência.

Os rios não são perenes e só 0,5% da cobertura vegetal nativa resistiu às queimadas para a produção de carvão vegetal, principal fonte de energia para cozinhar alimentos no país. Os principais recursos naturais são o mármore e o calcário, cujas explorações estão estagnadas.


Segundo o Exército brasileiro, que comanda a Força de Paz da ONU desde 2004, a luz chegava só a 20% das casas e a água encanada, a 30%. A expectativa de vida é de 53 anos, e o analfabetismo atinge 47% da população. Apesar do quadro desolador, os veteranos da missão brasileira diziam que a situação “melhorou um pouquinho”.


Nas áreas mais pobres da capital haitiana, era normal ver crianças em trajes escolares convivendo com outras seminuas. Em lugares como Cité Soleil, o último reduto das gangues que resistiu ao domínio dos militares brasileiros, o Ponto Forte, ocupado pelo Exército brasileiro no começo de 2007, ainda estava crivado de balas. No bairro paupérrimo, a pobreza extrema era uma realidade cotidiana. Os mercados públicos funcionavam em meio a valas de esgoto, onde se comercializa de tudo, desde alimentos até o carvão.


A realidade das famílias mais abastados economicamente era diferente. Elas moravam na parte alta da cidade e contavam com gerador próprio de energia, o que permitia que assistissem televisão, ouvissem música e tivessem geladeiras. Na parte baixa, próxima ao porto, a luz era artigo de luxo.


A sociedade haitiana é majoritariamente católica, cerca de dois terços, mas pratica o vudú, que mistura o catolicismo com religiões africanas. As línguas oficiais são o francês e o creóle, um dialeto que mescla o francês com línguas africanas e é falado pela maioria da população. A moeda local é o Gourde, mas o que realmente vale é o dólar americano.


No país de 27 milhões de quilômetros quadrados, pouco maior do que estado de Sergipe, vivem cerca de 9 milhões de pessoas. Desse total, as organizações internacionais calculam que pelo menos 50 mil tenham morrido durante o terremoto. É essa a nação, agora ainda mais pobre, que o Brasil, a França, os Estados Unidos e o Canadá, com a ajuda de outras economias, terão de ajudar a reconstruir nos próximos anos.


Fonte:
Rivadavia Severo - Repórter da Agência Brasil

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