(21/05/08 ALAI/Ana Alakija).
A publicação de uma tira em quadrinhos de Maurício de Souza no Estado de São Paulo no último dia 18 gerou o protesto de jornalistas que defendem a retratação da redação do jornal e do autor à sociedade. A tira é considerada de conteúdo racista, ao exibir o personagem Cascão sentado na cadeira de um cabeleireiro que usa um martelo para cortar o cabelo "crespo" dele; em outros quadros da tira, o mesmo cabeleireiro usa tesoura para cortar os cabelos "lisos" de Mônica e Cebolinha.
Os jornalistas consideram que "ao hierarquizar e tratar de maneira diferenciada a criança de cabelo crespo, a tira comete um ato claro de discriminação que afeta a auto-estima de crianças negras" que se identificam com o personagem Cascão - o cabelo é de grande importância cultural e estética e elemento de afirmação e valor para o negro. As comissões de jornalistas pela igualdade racial vinculadas aos Sindicatos de Jornalistas do Distrito Federal e do Estado de São Paulo enviaram uma nota de repúdio ao jornal Estado de São Paulo e cobraram uma retratação pública da redação e do artista.
Segue abaixo o teor da nota:
NOTA DE REPÚDIO AO JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO
Prezado Editor do Caderno TV&Lazer do Jornal O Estado de São Paulo
O caderno TV&Lazer deste domingo (18) traz, na página 24, sessão Quadrinhos, uma seqüência lamentável do artista Mauricio de Sousa. Nele, Mônica, Cebolinha e Cascão estão sentados na cadeira de um salão de beleza.Com um rosto feliz e auxílio de tesoura e pente, o cabeleireiro corta o cabelo dos dois primeiros personagens, de cabelos lisos. Com expressão fechada e auxílio de marreta, o mesmo profissional atende o terceiro personagem: Cascão. Ao hierarquizar e tratar de maneira diferenciada a criança de cabelo crespo, o trabalho em questão comete um ato claro de discriminação, que afeta diretamente a auto-estima de crianças negras, identificadas com o personagem justamente pelas características do cabelo.
Essa perversa depreciação tem sido combatida arduamente por amplos setores da sociedade. Constatarmos o uso dessa abordagem num espaço de tanta influência na sociedade espanta, apesar do discurso em torno do próprio personagem em questão (conhecido por não gostar de tomar banho) ser há muito tempo objeto de questionamento do movimento social negro.
A discriminação é ampliada, no entanto, em quadrinhos como o publicado no último final de semana. Fica o nosso repúdio a essa prática e a esperança de que o jornal não prossiga respaldando tais posturas, inequivocamente perniciosas. É imprescindível uma retratação pública da redação e do artista. Sob pena de ampliação de uma violência cruel, que atinge parcela vulnerável da população e incita práticas de discriminação no ambienteinfanto-juvenil.
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF)
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP)
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