"Temos um Carnaval segregador e elitista", diz antropólogo Bruno César Há quase uma década ele estuda o comportamento da sociedade alagoana no período da festa de Momo
Por: Roberto Amorim
O antropólogo e professor universitário Bruno César não hesita em chamar o Carnaval de Maceió de "segregador e elitista". Sabe o que está dizendo. Desde 2000 estuda como se comporta a sociedade alagoana no período da festa de Momo.
Na pesquisa, busca identificar quem, quando, onde e como se brinca o Carnaval por aqui. Suas constatações comprovam teoricamente o que já é possível perceber: transformar Maceió na capital das prévias esvazia os quatros dias de folia, além de colocar em último plano as manifestações populares de bairros, como os bois, as escolas de samba e os blocos tradicionais.
Ao Tudo na Hora, Bruno César explica como essa política é nociva para o autêntico Carnaval Popular. Abaixo os principais trechos da entrevista.
Na pesquisa, busca identificar quem, quando, onde e como se brinca o Carnaval por aqui. Suas constatações comprovam teoricamente o que já é possível perceber: transformar Maceió na capital das prévias esvazia os quatros dias de folia, além de colocar em último plano as manifestações populares de bairros, como os bois, as escolas de samba e os blocos tradicionais.
Ao Tudo na Hora, Bruno César explica como essa política é nociva para o autêntico Carnaval Popular. Abaixo os principais trechos da entrevista.
Como surgiu o interesse pelo estudo do Carnaval?
Comecei a me interessar pelo Carnaval como tema de pesquisa por volta de 1997. E fui levado a tanto pelas opiniões que passei a observar, na imprensa escrita daqui e de outras cidades, no período que antecede ao Carnaval.
Percebi que entrávamos, aqui em Maceió, numa inquietação comum a várias cidades da região historicamente sob a influência do modelo festivo do frevo. Havia um discurso maior, fustigado de apelo às raízes culturais, à busca de identidades culturais locais e, neste contexto, a querela sobre a "invasão baiana" caia como uma luva.
O que busca com a pesquisa?
Busco entender as mutações, no tempo, na forma como se dá essa festa de rua em Maceió; não apenas em termos de ritmos, por exemplo, mas, sobretudo, na morfologia festiva das ruas, na forma como ocupamos o espaço público e repercutimos isso na esfera pública. Algo do tipo: quem, quando, onde e como se brinca o Carnaval.
O que descobriu até agora?
Não temos sido capazes de criar uma atmosfera duradoura, um confusional dionisíaco que se estenda por todo um dia ou mais. É um Carnaval de pequenos drops festivos. A predominância das camisetas padronizadas também revela essa forma híbrida da festa, cujo gosto pela teatralização e alegorias é reduzido a pouquíssimos blocos e foliões. Principalmente, temos um Carnaval segregador: prévias para a classe média, e os desanimados e desprestigiados dias de momo para o povão.
Maceió ainda é pólo de resistência de Carnaval Popular?
Entre o sim e o não, fico com a segunda opção. É verdade que há uma demanda reprimida pelo Carnaval popular, mas o poder público e a iniciativa privada dão as costas para isso. Nem mesmo as cotas publicitárias são utilizadas para uma divulgação eficiente destas manifestações populares do período carnavalesco.
E boa parte da imprensa acompanha esta tendência elitista, pois quando se fala do sábado de prévias na cidade, por exemplo, quase sempre se esquece que após os blocos massivos temos o concurso de Bois de Carnaval.Eles (os Bois e seus brincantes) quase não são notificados (exceção à televisão que tem aí boas imagens) com a mesma ênfase porque seu público é outro. Portanto, há isso que você chama de resistência, mas existe um propósito de esquecê-la, por parte dos formadores de opinião e produtores culturais.
O que acha desse movimento em transformar a cidade na capital das Prévias?
Um horror. É como se estivessem a dizer que não nos animemos muito. É algo claramente voltado para o beneficiamento da cidade como destino turístico, e mesmo que custe a alegria do povo. Quando o atual prefeito começou sua primeira gestão, os Bois de Carnaval foram retirados da orla da Pajuçara, porque sua presença num domingo de Carnaval pareceu aviltante para o marketing de cidade morta para o Carnaval.
A presença das comunidades que os acompanham parecia ameaçar, literalmente, os turistas que vinham em busca de descanso. Somente este ano resolveram trazê-los de volta; mesmo assim antecipando o concurso para a semana anterior ao Carnaval propriamente.Nada tenho contra as prévias, mas o problema é que os empresários do setor querem maior investimento do poder público para este evento.
Ora, isso poderá significar um maior abandono do que já existe para com a semana carnavalesca. Enfim, a oficialização das prévias é um problema da iniciativa privada e da classe média, pois ambos sabem bem o que fazer no período momesco. Por ora, é uma proposição elitista, se observada do ponto de vista da maioria de nossa população. Afinal, Maceió é bem maior que a Ponta Verde, não?
Como estão os bois e os blocos de bairros hoje em dia?
Os Bois de Carnaval são o fenÿmeno mais importante da cultura popular festiva, e a maior novidade do Carnaval de Maceió. Somente a ignorância na gestão pública da cultura não vê a dimensão que alcançaram, o que é uma pena.Eles estão numa fase de grandes transformações estéticas (são neo-barrocos), estão em busca de um novo patamar. Há uma dinâmica incrível nesse ambiente dos Bois.
Em importância, eu compararia o advento dos atuais Bois de Carnaval à aparição do Guerreiro na virada dos anos 1920/1930.Os blocos tradicionais, à base de frevo, estão à míngua, e junto com as escolas de samba só se mantém por amor de seus diretores e adeptos fiéis. Nada de realmente importante, sistêmico e permanente foi posto em prática para que eles se viabilizem. A situação é realmente crítica.
Fonte: Tudo na Hora
olá Cojiristas alagoanos, na perspectiva carnavalesca já se tem um bloco. O tema da postagem é muito interessante e registra uma possível passagem de fase do carnaval alagoano. Conheci o carnaval alagoano faz algumas décadas e fiquei deslumbrado com a sua diferença e cara local - fui para o interior. Parte do drama da questão abordada é a falta de uma expressão mais urbana para que o carnaval renasça em Maceió. Uma sugestão está na postagem abaixo, o Kuduro. Tb falta uma identidade, não sei o nível de organização mas um carnaval popular autêntico não precisa de patrocínio, aí me parece q a idéia e fazer um carnaval para quem não quer/pode sair de Maceió.
ResponderExcluirSaudações