terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por uma infância sem racismo

Por: Helciane Angélica
Com informações do UNICEF e da comissão organizadora de Alagoas


O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) realizou ontem (29) em Brasília o lançamento da Campanha Nacional “Impacto do Racismo na Infância. – Valorizar as diferenças na infância é cultivar igualdades”. Com duração de 12 meses, a ação tem o objetivo de alertar a sociedade e a mídia sobre o impacto do racismo na infância em todo o País. Em Alagoas, o lançamento acontecerá no dia 03 de dezembro na Serra da Barriga, berço da liberdade e da resistência negra, localizada no município de União dos Palmares.

Cerca de 30 instituições – órgãos governamentais, ONGs, empresas e entidades do movimento negro e indígena alagoano – estão participando da articulação que visa promover uma ampla mobilização social que ajude a eliminar atitudes discriminatórias contra crianças e adolescentes indígenas, negras, ciganas, brancas, com deficiências e outras.

O Governo de Alagoas, o Escritório Estadual da Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de União dos Palmares, o Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (Ceasb), o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô/APN-AL, Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL), a Prefeitura de Maceió/Secretaria Municipal dos Direitos Humanos, a Ordem dos Advogados do Brasil/AL e o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida estão diretamente envolvidos na organização do evento.

A programação terá início às 9h, com o acolhimento de aproximadamente 200 crianças oriundas de comunidades quilombolas (Muquém, Filús e Jussarinha), da periferia de Maceió (Vila Emater II, Vila dos Pescadores do Jaraguá), indígenas Xucuru Cariri (Palmeira dos Índios) e ciganas – que seguirão em cortejo étnico da Jaqueira até o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Essa será a oportunidade de promover a integração étnico-cultural e discutir as dez maneiras de contribuir para uma infância sem racismo. Também terá contação de histórias e a apresentação especial do coral infantil Canarinhos de Sergipe, além dos grupos: Afro Dandara, Afoxé Odô Iyá, Capoeira Muzenza, Projeto Inâe e Malungos do Ilê.

O coordenador do UNICEF se pronunciará sobre o sentido da mobilização, apresentará as peças de comunicação e a rede de parceiros. Na coletiva de imprensa com a participação de Salvador Soler Lostao (Coordenador UNICEF no Escritório Zonal do Recife), Casimira Benge e Helena Silva (UNICEF Brasília) que discutirão os dados do estado relativos ao tema e esclarecerão as principais dúvidas sobre a campanha.

No encerramento do evento, todos os participantes se dirigirão ao centro do PMQP e darão um abraço simbólico na Serra da Barriga. Mais informações: (82) 8831.3231 / 9937-7359 / 9600-9941.


Fonte: Coluna Axé - Tribuna Independente (30.11.10)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Alagoas: Inicia hoje a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos

O Cine SESI abrigará de 29 de novembro a 09 de dezembro de 2010 a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. É o segundo ano consecutivo em que os Saudáveis Subversivos assumem a produção da Mostra em Maceió, neste ano com o apoio do derepente.org.

A Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul chega a sua 5º edição neste ano tem como destaque a Retrospectiva Histórica Direito à Memória e à Verdade, reunindo alguns títulos clássicos da cinematografia sul-americana e uma mostra Contemporânea, que exibe diversas obras premiadas internacionalmente e inéditas no país.

Com entrada gratuita em todas as sessões sempre as 17 e 19 horas, a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul exibe, a partir de 29 de novembro, 41 títulos em 20 capitais brasileiras. No total, estão representados nesta quinta edição da Mostra dez países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

Realizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira e patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet, o evento é dedicado a obras que abordam questões referentes aos Direitos Humanos, produzidas recentemente nos países sul-americanos. Entre outros, estão presentes na programação temas como o direito à terra, ao trabalho, à inclusão social, à diversidade étnica, à diversidade religiosa, à solidariedade intergeracional da cidadania LGBT, o direito à memória e à verdade, direitos dos povos indígenas, das pessoas com deficiência, da pessoa idosa, da criança e do adolescente, da população carcerária, da população afrodescendente e dos refugiados.

Em todas as cidades acontecem sessões com audiodescrição e closed caption, garantindo o acesso a pessoas com deficiência visual e ou auditiva. O agendamento das sessões podem ser realizados através do email: contato@derepente.org ou pelos telefones: (82) 8805-2232 - Glauber Xavier / (82) 8112-4737 Larissa Lisboa. 

A 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul conta com apoio do Ministério das Relações Exteriores, da TV Brasil e da Sociedade Amigos da Cinemateca. As obras mais votadas pelo público são contempladas com o Prêmio Aquisição TV Brasil nas categorias longa, média e curta-metragem. A programação tem curadoria do cineasta e curador Francisco Cesar Filho. Mais informações podem ser acessadas no site www.cinedireitoshumanos.org.br, www.derepente.org e www.saudaveissubversivos.org .

Serviço:
5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
29 de novembro a 09 de dezembro de 2010
Cine SESI – Centro Cultural SESI. Maceió-AL
Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara.
ENTRADA FRANCA

PROGRAMAÇÃO
29/11 – SEGUNDA-FEIRA
19h – Sessão de Abertura
VIDAS DESLOCADAS – João Marcelo Gomes (Brasil, 13 min, 2009, doc)
PERDÃO, MISTER FIEL – Jorge Oliveira (Brasil, 95 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 14 anos
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30/11 – TERÇA-FEIRA
17h
A BATALHA DO CHILE II – O GOLPE DE ESTADO – Patricio Guzmán (Chile/ Cuba/ Venezuela/ França, 90 min, 1975, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
KAMCHATKA – Marcelo Piñeyro (Argentina/ Espanha/ Itália, 103 min, 2002, fic)
Classificação indicativa: livre
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01/12 – QUARTA-FEIRA
17h - Audiodescrição
AVÓS – Michael Wahrmann (Brasil, 12 min, 2009, fic)
ALOHA – Paula Luana Maia, Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)
CARRETO – Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)
EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO – Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)
* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.
Classificação indicativa: 12 anos
19h
ABUTRES – Pablo Trapero (Argentina/ Chile/ França/ Coréia do Sul, 107 min, 2010, fic)
Classificação indicativa: 16 anos
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02/12 – QUINTA-FEIRA
17h
A VERDADE SOTERRADA – Miguel Vassy (Uruguai/ Brasil, 56 min, 2009, doc)
ROSITA NÃO SE DESLOCA – Alessandro Acito, Leonardo Valderrama (Colômbia/ Itália, 52 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
HÉRCULES 56 – Silvio Da-Rin (Brasil, 94 min, 2006, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
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03/12 – SEXTA-FEIRA
15h – Audiodescrição
PRA FRENTE BRASIL – Roberto Farias (Brasil, 105 min, 1982, fic)
* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.
Classificação indicativa: 14 anos
17h
A CASA DOS MORTOS – Debora Diniz (Brasil, 24 min, 2009, doc)
CLAUDIA – Marcel Gonnet Wainmayer (Argentina, 76 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 14 anos
19h
ALOHA – Paula Luana Maia / Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)
AVÓS – Michael Wahrmann (Brasil, 12 min, 2009, fic)
CINEMA DE GUERRILHA – Evaldo Mocarzel (Brasil, 72 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
21h
GROELÂNDIA – Rafael Figueiredo (Brasil, 17 min, 2009, fic)
MUNDO ALAS – León Gieco, Fernando Molnar, Sebastián Schindel (Argentina, 89 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
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04/12 – SÁBADO
17h
DIAS DE GREVE – Adirley Queirós (Brasil, 24 min, 2009, doc)
PARAÍSO – Héctor Gálvez (Peru/ Alemanha/ Espanha, 91 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
CARNAVAL DOS DEUSES – Tata Amaral (Brasil, 9 min, 2010, fic)
MEU COMPANHEIRO – Juan Darío Almagro (Argentina, 25 min, 2010, doc)
LEITE E FERRO – Claudia Priscilla (Brasil, 72 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 16 anos
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05/12 – DOMINGO
17h
A HISTÓRIA OFICIAL – Luis Puenzo (Argentina, 114 min, 1985, fic)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
XXY – Lúcia Puenzo (Argentina/ França/ Espanha, 86 min, 2006, fic)
Classificação indicativa: 16 anos
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06/12 – SEGUNDA-FEIRA
15h
MÃOS DE OUTUBRO – Vitor Souza Lima (Brasil, 20 min, 2009, doc)
JURUNA, O ESPÍRITO DA FLORESTA – Armando Lacerda (Brasil, 86 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
17h
HALO – Martín Klein (Uruguai, 4 min, 2009, fic)
ANDRÉS NÃO QUER DORMIR A SESTA – Daniel Bustamante (Argentina, 108 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
MARIBEL – Yerko Ravlic (Chile, 18 min, 2009, fic)
O QUARTO DE LEO – Enrique Buchichio (Uruguai/ Argentina, 95 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 14 anos
21h
O FILHO DA NOIVA – Juan José Campanella (Argentina/ Espanha, 124 min, 2001, fic)
Classificação indicativa: livre
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07/12 – TERÇA-FEIRA
17h
DOIS MUNDOS – Thereza Jessouroun (Brasil, 15 min, 2009, doc)
AMÉRICA TEM ALMA – Carlos Azpurua (Bolívia/ Venezuela, 70 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
VLADO, 30 ANOS DEPOIS – João Batista de Andrade (Brasil, 85 min, 2005, doc)
Classificação indicativa: 14 anos
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08/12 – QUARTA-FEIRA
17h
ENSAIO DE CINEMA – Allan Ribeiro (Brasil, 15 min, 2009, fic)
108 – Renate Costa (Paraguai/ Espanha, 91 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
19h
CARRETO – Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)
BAILÃO – Marcelo Caetano (Brasil, 17 min, 2009, doc)
DEFENSA 1464 – David Rubio (Equador/ Argentina, 68 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
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09/12 – QUINTA-FEIRA
17h
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS – Cao Hamburger (Brasil, 110 min, 2006, fic)
Classificação indicativa: 10 anos
19h
EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO – Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)
IMAGEM FINAL – Andrés Habegger (Argentina, 94 min, 2008, doc)
Classificação indicativa: 12 anos
* O formato de exibição dos filmes é DVCAM.
Fonte: Larissa Lisboa - Monitora da Mostra em Maceió

sábado, 27 de novembro de 2010

África: um continente que exala história e cultura

A Semana de Cultura Africana acontece anualmente na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e busca proporcionar uma melhor compreensão sobre o continente por meio de exposições, debates e manifestações artísticas.


Por: Domingos Intchalá – Estudante de Jornalismo da FITS e natural de Guiné Bissau / Nícia Tavares – Estudante de Jornalismo da UFAL e natural de Cabo Verde


A África é um continente que possui 53 países, é o segundo mais populoso e mais extenso depois da Ásia. É considerado o berço da humanidade, com a existência de grandes reinos, onde a matemática nasceu e que está cercada de uma imensa riqueza cultural. O Brasil é um país multi-étnico, que possui fortes heranças africanas presentes na culinária, na ginga, nos ritmos musicais, danças; nas palavras que têm raiz africana e até no jeito alegre de ser. Porém, muitos brasileiros não têm orgulho ou não possuem conhecimento da história e cultura afro-brasileira.

Com o intuito de desmitificar o continente africano e quebrar preconceitos, surgiu a ideia de realizar a Semana da Cultura Africana em agosto de 2004. Foi precisamente, quando Sergio Moreira, secretário de Planejamento, e o guineense Carlos Lopes, então embaixador e representante do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, a convite de Rachel Rocha, professora de antropologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), se reuniram com os dirigentes, professores e estudantes do Programa Convênio de Graduação (PEC-G) para discutir as sugestões e propostas para a efetivação do evento. Assim, a semana foi incorporada dentro do congresso acadêmico da Universidade.

A presença do embaixador Carlos Lopes contribuiu para a aproximação dos acadêmicos africanos com a instituição universitária alagoana e também colaborou na auto-estima dos estudantes ao promover um espaço de manifestação com a finalidade de acabar com mitologia em relação ao continente Africano

Rachel Rocha assegura que Carlos Lopes foi convidado para conhecer a realidade dos seus congêneres; criar um espaço de manifestação, e por ser um africano que ocupou cargo de grande destaque. “Era uma obra de espelhamento entre os acadêmicos africanos com essa autoridade”, ressaltou.

Também ela não entende porque a Ufal possui cursos de letras, francês, espanhol, até latim e, não oferece nenhuma língua africana: “povo com o qual estamos visceralmente ligados”. E questiona “por que isso acontece dessa forma? A língua inglesa, francesa é mais próxima de nós, por acaso? E todo esse passado que nós temos de aproximação com a África, que ainda hoje se apresenta de forma clara em nosso processo de formação cultural. Então, acho que essas iniciativas podem alargar leques de discussões que podem culminar com a criação de um convênio mais forte que contemple idas e vindas dos brasileiros e africanos, num processo que de fato nunca se interrompeu, mas também não foi estimulado”, enfatiza.

A semana cultural africana ocorre exatamente para quebrar os paradigmas, esclarecer dúvidas e desfazer equívocos sobre o povo africano. Muitas pessoas se confundem com as informações veiculadas na mídia. “África é o País não é o continente; ela vive na miséria, não tem riqueza; os africanos são ignorantes, não são inteligentes”. Portanto, ela surge com o objetivo de proporcionar ao povo brasileiro, especialmente à população alagoana, e aos estudantes da Ufal um conhecimento sobre a história e a cultura africana, articulando-o à construção da história e cultura brasileira; promover a interação e aproximação entre os universitários brasileiros e os africanos, sobretudo os que estudam nas instituições brasileiras de ensino superior. O evento torna-se enriquecedor, à medida que traz informações esclarecedoras sobre o continente.

Um dos participantes na elaboração do projeto da semana cultural africana, Vagner Bijagó, mestrando em Sociologia, acredita que a concepção continuará. Ele tem a convicção de que os futuros estudantes e os que estão ainda aqui devem dar a continuidade ao evento. Salienta, também, a sua satisfação de ter participado e contribuído para realização da atividade desde o início.

Após a primeira edição da semana, realizada no período de 13 a 17 de dezembro de 2004, ocorreu um processo de transformação em alguns estudantes da Ufal. Carlos Henrique Martins de Jesus, graduado em Ciências Sociais, salienta que estudantes alagoanos passaram a compreender melhor a realidade política e social do povo africano. “Ela de fato tem contribuído para que esse paradigma seja quebrado”, sugere.


PEC-G

O Governo brasileiro ofereceu aos países em via de desenvolvimento, especialmente aos da África, o Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G) que constitui um dos instrumentos de cooperação educacional. Neste âmbito, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) começou a receber estudantes PEC-G a partir de 1988, e oriundos de diferentes países da África: Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé & Príncipe, Moçambique, Angola e Congo Kinshasa.

No total de estudantes formados de 1988 a 2006, a maioria é da Guiné-Bissau, que representa um percentual de 26% de concluintes. É seguida de Cabo Verde, com 25% de formados e segue-se Angola, com 13%. Trata-se de uma importante compensação do governo brasileiro, e que tem contribuído para o desenvolvimento dos países africanos.

Sete edições

Nos dias 18 a 23 de outubro de 2010, durante a programação do Congresso Acadêmico da Ufal, ocorreu a VII Semana da Cultura Africana. Os alunos oriundos dos países africanos e a comunidade acadêmica realizaram um verdadeiro intercâmbio sócio-cultural e de conhecimento.

A programação foi bem variada, e os participantes conferiram a palestra “Sociedade e Estado em África”, na Tenda Cultura Estudantil, que contou com a presença do professor Ricardino Jacinto Dumas Teixeira, da Faculdade de Ipojuca (PE); e a bacharel em Música, Sônia André, natural de Moçambique e ex-aluna da Ufal, que falou sobre a Mulher Africana.

Também teve apresentação das danças de seis países (Angola, Cabo Verde, Congo, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), e o visitante teve a oportunidade de apreciar uma exposição com trajes típicos, fotografias, banners e vídeos dos países africanos, nos estandes próximos instalados no Campus de Maceió.


Fonte: Encarte Afro Especial "Axé!" - Tribuna Independente (20.11.10)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Construindo uma mídia sem preconceitos


Em defesa da igualdade racial, entidades lutam pela democratização dos meios de comunicação e reivindicam a aplicação de políticas públicas


Por: Emanuelle Vanderlei / Cojira-AL



Democratizar a comunicação é uma luta antiga dos movimentos sociais no Brasil. Desde 1991, pelo menos, as entidades estão organizadas em um fórum com o objetivo de enfrentar os problemas existentes na comunicação do nosso país. Mas, que problemas são esses?

A sociedade brasileira é submetida a um sistema de comunicação que não tem objetivo de informar, promover cultura ou justiça, respeitam-se apenas os interesses de uma minoria, detentora de maior parte da riqueza e do poder do país. Através dos meios de comunicação são formadas gerações de brasileiros e brasileiras que já crescem com a mentalidade mais conveniente para aqueles que se perpetuam no poder.

É através da escolha da pauta do jornal, da música que repete várias vezes no rádio, nas propagandas, ou até mesmo da novela, que a sociedade brasileira adquire uma cultura machista, consumista e o que é pior: racista.

Em um país com maioria absoluta de negros e negras invisibilizados por essa mídia, temos a sensação de que os séculos se passaram e a escravidão ainda está presente em nosso dia a dia. Promove-se uma cultura de que negros são menos capazes ou que não podem estar presentes em cargos qualificados, a imagem da raça negra sempre é vista com referências sexuais, ou de entretenimento. Não é comum ver um negro ou uma negra apresentando um telejornal, por exemplo.

Em 2009, depois de muita cobrança de entidades da sociedade civil, o Governo Federal realizou a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. Um espaço criado entre poder público, sociedade civil e empresários da área para questionar a forma de se fazer comunicação no Brasil. Durante todo o processo, várias entidades que defendem a igualdade racial se fizeram presentes, ajudando a construir um espaço que priorizasse políticas de promoção da igualdade racial na mídia, entendendo que, sem a inclusão racial no âmbito da comunicação a democratização desse setor estaria irreversivelmente comprometida.

Em Alagoas, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) realizou uma conferência livre com o tema “A diversidade étnica e o direito à comunicação”, reunindo representantes dos segmentos afros locais para promover o debate e levar propostas para a conferência estadual.

Depois de vários meses de discussões em todo o país, com a execução de conferências em vários municípios e em todos os Estados, aconteceu de 14 a 17 de dezembro de 2009 a Confecom, em Brasília (DF). Durante o evento, cerca de 1600 delegados e delegadas discutiram inúmeras propostas, inclusive, voltadas para a igualdade racial e que foram aprovadas, algumas até por unanimidade. Propostas desde o conteúdo, até com relação ao espaço dado aos negros e negras dentro das empresas de comunicação.

Esse foi um grande avanço, já que todos os setores da sociedade presentes à Confecom reconheceram que existe o problema e já temos algumas propostas para aplicar. Desde a realização da conferência, as entidades da sociedade civil têm feito a cobrança para transformar as deliberações em projetos de lei. É preciso manter viva a discussão e colocar em prática tudo o que foi aprovado lá.


Confira algumas propostas aprovadas de promoção da igualdade racial:

  • Aplicar diretrizes estabelecidas no Plano Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Planapir) e na Conferência Mundial contra o Racismo (Durban, 2001);
  • Adotar ações afirmativas na mídia e realizar um censo étnicorracial nas empresas do setor;
  • Garantir a participação negra na composição de um futuro Conselho Nacional de Comunicação;
  • Ter a inclusão de critérios que contemplem os quilombolas nas concessões de radiodifusão, e a destinação de parte das verbas do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fuste) para o financiamento de projetos voltados à juventude negra;
  • Criar programas educativos para jovens que abordem os direitos das mulheres e coíbam a violência de gênero;
  • Criar mecanismos de fiscalização, inclusive com ações punitivas para emissoras de rádio e TV que veiculem conteúdos que desvalorizem, depreciem ou estigmatizem crianças e minorias historicamente discriminadas e marginalizadas (negros, LGBT, comunidades de terreiro, mulheres, pessoas com deficiência, idosos, indígenas, dentre outros).


Fonte: Encarte Afro Especial "Axé!" / Tribuna Independente (20.11.10)

7º Ginga Terapia inicia hoje

Nos dias 26 e 27 de novembro, terá o 7º Ginga Terapia – Encontro e Seminário Nacional de Capoeira Inclusiva, no Centro Inclusivo Genilda Porto localizado na Av. Santa Rita de Cássia, nº 140, Farol em Maceió-AL. A atividade é coordenada pelo Mestre Girafa e Graduado Bujão. 

O projeto é realizado desde 2004 em Alagoas, em parceira com o Grupo Muzenza de Capoeira e a Associação Pestalozzi de Maceió. Tem projeção nacional e internacional, por ser um evento que utiliza um recurso terapêutico de grande utilização lúdica através da capoeira que tem grande potencialidade e riqueza de movimentos. 

Parabéns pela iniciativa! Mais informações: gigaterapia@hotmail.com / (82) 3336-6008 e 8831-5750.


Confira a programação:


26 DE NOVEMBRO (sexta-feira)

Local: Auditório do Centro Inclusiva Genilda Porto.
Praça Santa Rita - Farol

19h00 - ABERTURA
Apresentação da Programação e Convidados;

Palestra de Abertura

Tema:“As Dificuldades e Barreiras Para a Inclusão na escola”
Mestre Eraldo Gabriel de Souza / Aracajú-SE.

Palestra de Enceramento

Tema: “As contribuições da capoeira para a Educação Inclusiva”
Professora Silvia Campos / Pestalozzi de Maceió.

Coquetel.

DIA 27 DE NOVEMBRO - Sábado

LOCAL: Pátio do Centro Inclusivo Genilda Porto
Praça Santa Rita - Farol

08h00 às 12h00
Oficinas
TEMA: Capoeira Na Melhor Idade / Contra Mestre Juba
Saquarema - RJ;

TEMA: LUDO-CAPOEIRA
“Uma Nova Perspectiva de Trabalho na Capoeira”
Mestres Condi e Claudio. Maceió - AL;

TEMA: Capoeira Inclusiva “Incluir, respeitar e oportunizar”
Professor Edy Fortaleza-CE.

ALMOÇO

14h00 às 17h00
Apresentações Culturais, batizado e Troca de Cordas.

CONVITE ESPECIAL DA COJIRA-AL

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vitória, apesar do preconceito!


Por: Kelly Baeta - COJIRA/AL


“Sim, enfrentei muito preconceito!” Essa foi a resposta que a modelo alagoana Bárbara Suellem deu a nossa entrevista sobre o início da sua carreira como modelo. Filha única, nascida no bairro do Prado, em Maceió, tendo pai negro e mãe branca, conheceu o preconceito racial dentro da própria família. Atualmente, com planos de continuar sua carreira nos Estados Unidos, a jovem se considera vitoriosa por ter conseguido alçar voos nos trabalhos da concorrida e sonhada profissão. Com 24 anos, tem no currículo trabalhos para marcas famosas como Perdigão, Extra, Carrefour, editoriais para Imaginarium, Pernambucanas e Karsten.



Qual a experiência mais marcante da sua carreira?
Em um concurso de beleza, uma menina linda e loira, hoje bastante conhecida, começou a carreira junto comigo, na mesma época. Ela sempre dizia durante as etapas desse concurso que eu não iria passar, nunca chegaria à final. Eu fiquei em primeiro lugar. Tinha 15 anos na época, era tão ingênua que não revidei as agressões com palavras, apenas chorei.

Como tudo começou?
Nesse mesmo concurso, onde enfrentei o preconceito com outra modelo, fui chamada para uma agência local que não durou muito tempo. Depois migrei para outra agência, até que resolvi trabalhar para mim mesma, pois as agências cobram percentagem e não vale muito à pena. Então, resolvi ir para São Paulo, fiz entrevista numa agência, fui aceita e trabalhei por um ano. Em seguida tive que voltar para Maceió, pois sou filha única e minha mãe sentia muito a minha falta.

Já enfrentou algum tipo de preconceito racial na família?
Sim, por parte dos meus avós. Minha mãe é branca e meu pai negro, por isso meus avós não aceitaram o namoro. Até que minha mãe engravidou e eu nasci negra. No dia em que minha mãe saiu da maternidade, voltando para a casa, minha avó falou para a minha mãe: “filho de negro não entra na minha casa”. Minha mãe guarda essa mágoa até hoje. O mais interessante dessa história é que minha avó também é negra, no caso é parda, mais pode ser considerada negra, somos descendentes de índios.


Como está a sua situação familiar atualmente?
Hoje em dia, eu me dou muito bem com a minha avó, ela ainda tem uma pouco de preconceito quando minhas tias se relacionam com negros. Minha tia mais nova era casada com um negro, minha avó infernizou tanto a vida dela, até que conseguiu separar o casal (risos). Não entendo o porquê disso, relevo.

Como está sua carreira atualmente?
Eu casei e engravidei, estou com um bebê de onze meses. Meu esposo é americano e eu vivo entre o Brasil e os Estados Unidos. Tenho planos de voltar a trabalhar brevemente.

Como está sendo sua experiência nos Estados Unidos?
Quando viajei, fui temerosa. Escutei muita gente dizendo que os Estados Unidos é um país com muito preconceito, que eu não me daria bem, que lá tem bairros somente para brancos e bairros somente para negros. Mas, onde eu estive fui muito bem recebida, tenho um empresário que cuida dos meus contatos e está esperando a minha volta. Vou fazer uma entrevista para a Next Model, uma ótima agência.


Fonte: Encarte Afro Especial "Axé!" - Tribuna Independente (20.11.10)

Bar da Sexta da Ufal com temática afro

Contatos: (82) 8843-7754 / 9968-2645.

Mulheres que mais denunciam a violência doméstica são negras


A maioria das mulheres que buscaram a Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) entre 2007 e 2009 é negra (43,3%), tem entre 20 e 40 anos (56%), está casada ou em união estável (52%) e possui nível médio (25%).

Os dados da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres indicam que 93% do total de denúncias foram feitas pelas próprias vítimas. 

A maioria dos casos (78%) é de crimes de lesão corporal leve e ameaça. A metade dos agressores são cônjuges das vítimas.

Do total das mulheres que recorreram ao serviço,  69% relataram sofrer agressões diariamente e que 34% delas se sentem em risco de morte.

Sobre os agressores, 39% deles não usam  substâncias entorpecentes ou de álcool e 33% vivem com a vítima há mais de dez anos.

Dos 86.844 relatos registrados entre 2007 e 2009, 53.120 foram de agressão física. Houve 23.878 de violência psicológica, 6.525 casos envolvendo a moral, 1.645 de assédio  sexual, 1.226 dano ao patrimônio, 389 de cárcere privado e 61 de tráfico de mulheres.

Apenas entre janeiro e outubro de 2009, a Central de Atendimento à Mulher registrou 269.258 denúncias – um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2008, quando houve 216.035. Do total de atendimentos, 47% foram buscas por informações sobre a Lei Maria da Penha, com 127.461 atendimentos.


Fonte: Agência Brasil

Parabenizações pelos três anos da COJIRA-AL



A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (COJIRA-AL) que é vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) completou ontem (24.11) três anos de atuação no Estado. Confira abaixo as mensagens de parabenizações que recebemos.



Querida Valdice e demais colegas da Cojira Alagoas,

Saudamos mais este aniversário da Cojiras Alagoas, em que a garra e o compromisso com o enfrentamento ao racismo animam a continuidade e o crescimento do trabalho junto à imprensa e à sociedade. Desejamos sucesso e muitos anos de vida com boas parcerias pela frente!

Abraços,

Isabel Clavelin

Assessora de Comunicação do UNIFEM Brasil e Cone Sul / Integrante do Núcleo de Jornalistas Afro-descendentes do Rio Grande do Sul

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Aos colegas da Cojira Alagoas,
Parabéns pelo aniversário e pela iniciativa.
Um abraço e votos de sucesso em tudo que fizerem.


Flávio Carrança - Cojira/SP

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Antecipadamente os nossos parabéns às guerreiras e guerreiros negras e negros das Alagoas, onde o nosso herói Zumbi marcou com ferro e fogo a dignidade do povo brasileiro, ao lutar por seus ideais de liberdade e de honra do povo negro.

Um grande beijo em todos.


Edson Verber - COJIRA/PB

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Salve Cojira Alagoas!
Parabéns pelo trabalho
! Vida longa!
Abraços


Juliana César Nunes - COJIRA/DF

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Parabéns Valdice e membros dessa afro-equipe.
Muito sucesso neste belo evento.

Saudades


Angélica
Basthi - COJIRA/RJ

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COJIRA-AL completa três anos

O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô – mocambo estadual dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) – parabeniza a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de Alagoas (COJIRA-AL) pelos três anos de atuação em nosso Estado que completa hoje (24 de novembro).

Parabéns malungos e malungas (companheiros de luta), pela dedicação, compromisso social e pelas contribuições na visibilidade das questões étnicorraciais e das ações político-culturais do movimento social negro.

Vocês são nossos guerreiros e guerreiras da atualidade! São nossos representantes na mídia e tem contribuído para a abertura de espaços nos veículos de comunicação. Parabéns pela Coluna Axé, Informes Afros, Cobertura jornalística dos eventos, a retrospectiva afro-alagoana e recentemente pelo Encarte Afro “AXÉ!” publicado no jornal Tribuna Independente, no Dia Nacional da Consciência Negra deste ano.

Vida longa ao grupo!

“Olorum Kolofé Axé!” (Deus te abençoe e te dê força)

ANAJÔ/APN-AL

Fonte: http://anajoalagoas.wordpress.com


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mobilização X Educação


Lei n° 10.639/03 inclui obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" em escolas de Ensino Fundamental e Médio no Brasil. Regulamentação Estadual em Alagoas acontece quase oito anos após publicação da Lei


Por: Riane Rodrigues - COJIRA/AL



Perto de completar oito anos, a Lei n° 10.639/03, que incluiu no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" nas escolas do país já foi motivo de inúmeros debates. Em Alagoas, o Conselho Estadual de Educação concede parecer no dia 23 de novembro deste ano, quase uma década depois de sua publicação.

Para especialistas, uma certeza pode ser constatada: conhecer a história e a origem de uma população é essencial para a construção e a mudança de uma sociedade, principalmente, quando essa educação parte dos Ensinos Fundamental e Médio, atingindo desde crianças a adolescentes. “Quando uma criança tem contato com a sua história, ela começa a construir uma identidade para o futuro. E esse é o princípio da aplicação dessa Lei; que possamos modificar o pensamento social e conduzir a nação para a mudança das relações raciais, pois, a base, está na questão social”, disse Irani Neves, gerente étnicorracial da Secretaria Estadual de Educação e Esporte de Alagoas.

A Lei, publicada pela Presidência da República em 9 de janeiro de 2003, alterou a Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Com três novos artigos, a Lei de 1996 passou a vigorar acrescida das alíneas 26-A, 79-A e 79-B, que estabelecem o estudo da História da África e dos Africanos; a luta dos negros no Brasil; a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. O texto estabelece ainda inclusão no calendário escolar do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.

Em Alagoas, o tema ainda é tratado com particularidades em escolas públicas e particulares do Estado. Ainda segundo Irani, muito já foi conquistado, mas é preciso avançar ainda mais. “Somos acompanhados pelo Ministério da Educação (MEC) e precisamos promover essa discussão de perto, embora não seja uma tarefa fácil. Temos conseguido avançar na capital e, para 2011, a meta é chegar com mais força no interior do Estado, principalmente, após a Regulamentação Estadual da Lei, que ainda não foi dado pelo Conselho Estadual de Educação, sobre a Lei 10.639/03; mesmo após quase oito anos de sua publicação.

Contudo, algumas escolas de ensino primário já começam a tratar do tema. “Abordamos o assunto na pré-escola. Claro que de forma transversal, em projetos onde a igualdade e o respeito ao ser humano são colocados em evidência. Esse é um tema que deve ser tratado com muita responsabilidade. É preciso pensar em uma metodologia eficaz para que, ao longo dos anos, até a formação adulta do indivíduo, não haja a desconstrução dessa realidade”, afirmou a educadora Maria Tereza de Jesus Salvador Santos.

Regulamentação

Em Alagoas, pela falta de regulamentação estadual, as escolas têm autonomia para trabalhar a temática. Atualmente, em escolas públicas do Estado, a SEEE tem promovido capacitações. No dia 23 de novembro de 2010, na prefeitura de União dos Palmares, o Conselho Estadual de Educação irá, finalmente, dar seu Parecer Estadual sobre a Lei. Com isso, espera-se ampliar o acompanhamento de sua aplicabilidade, também, nas escolas particulares, além de ampliar as ações nas escolas públicas estaduais. “Esse é o grande desafio para 2011”, concluiu Irani.


Fonte: Encarte Afro Especial"Axé!" / Tribuna Independente (20/11/10)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Expressões racistas: quando a mídia incentiva o preconceito

Por: Gerônimo Vicente - COJIRA/AL


O que será que um jornalista tenta repassar aos leitores, ouvintes ou telespectador, quando se refere à expressão “samba do crioulo doido” em uma reportagem ou em alguma nota recheada de ironia? Por que crioulo doido? Qual seria a razão de um dos apelidos dados aos negros escravos, entre os séculos 18 e 19, no caso de “crioulo” ter alusão a trapalhadas e confusão. Talvez nem o próprio jornalista seja capaz de dar explicação sobre o uso do termo, a não ser a de que seja uma máxima já conhecida, principalmente, nas rodas de conversas informais. Na realidade, a expressão tem conotação racista e é abominada pelos manuais de redação de vários veículos de comunicação do país.

A expressão “samba do crioulo doido” é um título de famoso samba composto pelo genial Sérgio Porto para satirizar o ensino de História do Brasil nas escolas do país, iniciado pela estrofe “Foi em Diamantina / Onde nasceu JK/ Que a princesa Leopoldina / Arresolveu se casá/ Mas Chica da Silva / Tinha outros pretendentes/ E obrigou a princesa / A se casar com Tiradentes / Lá iá lá iá lá iá / O bode que deu vou te contar”. A frase passou também a ser usada para discriminar os negros, atribuindo-lhes confusões e trapalhadas

Expressões como essas permeiam, com certa frequência, a imprensa alagoana e, na maioria dos casos, o repórter sequer tem noção de que está cometendo um erro grosseiro e sujeito, mais tarde, a consequências danosas para a empresa em que trabalha, que vão de um pedido de direito de resposta a um processo criminal, conforme estabelece o artigo 20 da Lei nº 7.716.

Abuso desse quilate fez com que a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) interviesse em alguns casos para, primeiramente, esclarecer aos profissionais de comunicação sobre a contribuição negativa que essas expressões podem gerar no cotidiano do leitor, ouvinte ou telespectador. Um veículo de comunicação seja rádio, jornal ou televisão, não tem público específico e sim uma massa de pessoas das mais diversificadas raças, opiniões e crenças religiosas e que devem ser respeitadas.

Desde o início da redemocratização do país tornou-se comum expressões alcunhadas pela mídia ocuparem espaços em enciclopédias, dicionários e serem associadas por linguísticas como expressões populares, a exemplo da palavra “reajuste” como sinônimo de aumento de preço e de salário ou “imexível” usada por um ex-ministro do Trabalho e absolvida, até hoje por jornalistas e literatos mesmo que de forma irônica, porém sem uso na gramática na língua portuguesa. Do mesmo modo ocorre com essas expressões que possuem conotações racistas pela forma como podem ser interpretadas pelo público midiático.

A professora de Química e coordenadora do Núcleo Afro-Brasileira do Instituto Federal de Alagoas, Fátima Viana se mostrou preocupada com a repercussão que essas palavras geram dentro de uma sala de aula. “Deparo-me em sala de aula com atos que são resultantes dessas expressões, como por exemplo, qual seria o motivo de um colega de sala se referir ao outro como “negrão” se o aluno tem nome na caderneta chamado todos os dias pelo professor?”, questionou a professora que também apontou alguns estereótipos utilizados no cotidiano como conotação racista. Fátima Viana disse que faz questão de abordar o preconceito racial, todos os dias, em sala de aula mesmo sendo a disciplina de Química, devido à influência discriminatória resultante da mídia, em telejornais, programas de auditório, novelas e, mais recentemente, principalmente durante um programa de reality-show.

- É claro que expressões racistas contribuem para os estereótipos de que negro só compra na promoção; de que não tem dinheiro para curtir uma balada ou para andar na moda; e que tem preferência de ser abordado em blitz quando possui carro do ano, lembrou a professora.

Outra expressão, utilizada de forma abusiva é o termo “língua negra” como eufemismo (suavização de um termo pejorativo) de esgoto a céu aberto. A palavra foi gerada nas áreas de Controle Urbano das prefeituras municipais e se supõe que a intenção era esconder dos turistas, pelo menos de forma literal, o grau de poluição das cidades. Em Maceió, como todo alagoano tem conhecimento, são comuns os esgotos a céu aberto correrem em direção às praias de Pajuçara, Ponta Verde e da Avenida da Paz, notadamente, nos pontos turísticos. No final dos anos de 1990, técnicos da Secretaria Municipal de Controle Urbano recomendaram aos assessores de comunicação do município o uso do termo língua negra como forma de, pelo menos na morfologia, abrandar a situação degradante de poluição do mar. Consequentemente, a expressão foi inserida nos “releases” (textos encaminhados à imprensa) e sem que houvesse precaução alguma começou a ser inserida nas reportagens de rádio, jornal e televisão com a conivência dos editores. O próprio site da Prefeitura de Maceió persiste na expressão, a exemplo da nota Línguas Negras, publicada em 19 de abril de 2005.


‘Numa parceria entre as secretarias municipais de Infra-Estrutura, Turismo, Proteção ao Meio Ambiente e a rede hoteleira foi criada uma campanha para a retirada das “línguas negras”, esgotos que escorrem em direção ao mar, localizadas nas praias da Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas’

O engenheiro civil, da área de Construção Civil, Eduardo Nobre desconhece que o termo esteja associado aos jargões utilizados na profissão. “É evidente que toda matéria orgânica que sofre oxidação escurece como o esgoto, por exemplo, que é composto por 99% de água e 10% de resíduos sólidos, entre eles, fezes. A este processo chamamos de fluxos de contaminação. Agora, associar esgoto a cor da pele de uma raça é um disparate sem tamanho e racismo puro”, disse o também professor da área de Edificações.

Do mesmo modo, ocorre na imprensa esportiva com o termo “mala preta” que no jargão esportivo significa jogo sujo, ou seja, quando um clube financia um outro e incentiva seus jogadores a não se empenharem em campo, ser derrotado em uma partida e assim beneficiar na tabela de classificação a equipe financiadora. Mala preta também significava a pasta que o representante trazia cheia de dinheiro para fazer o pagamento caso o acordo fosse cumprido. Contudo, como se fosse para incentivar o racismo, a própria imprensa esportiva criou o termo “mala branca” que, ao contrário, da expressão anterior significa jogar limpo, ou seja, um clube incentiva, financeiramente, outro para derrotar o adversário.

O manual Politicamente Correto, editado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República no primeiro mandado do governo Lula e que foi interpretado pela grande imprensa como um controle da liberdade de expressão aponta várias expressões utilizadas na imprensa e no cotidiano dos brasileiros consideradas ofensivas e degradante à sociedade, como por exemplo: “a coisa ficou preta” como significado de aumento das dificuldades, situação embaraçosa ou até a palavra ‘africano’, numa referência a negros da África como se não houvesse diversidade nos países desse continente. Cita também a expressão Branquelo como um tipo preconceito racial, mais fortemente, de pessoas brancas nascidas no Brasil contra brasileiros descendentes de europeus das comunidades européias no Sul do País.

É necessário entender que a imprensa é a melhor aliada da sociedade e que os jornalistas têm como missão fazer com que essa sociedade cumpra com seus deveres e direitos estabelecidos pela Constituição Brasileira. De acordo com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, é dever dos profissionais "combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza" (Cap. 2 / Art. 6º / XIV) e "não podem usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime" (Cap. 2 / Art. 7º / V).

A Cojira-AL desde sua criação tem se destacado para que a ética do profissional jornalista seja cumprida à risca, não só quanto à questão do racismo, mas contra qualquer tipo de perseguição ou discriminação. Nas colunas de humor, a veiculação de piadas grosseiras e racistas e a adoção dos padrões estéticos de beleza, com predominância branca para contratações de profissionais, principalmente pelas emissoras de televisão. O próximo passo é a produção de um manual de orientação que possa ser aplicado a partir das faculdades de comunicação como modo de estender a atividade às assessorias.


Fonte: Encarte Afro especial "Axé!" / Tribuna Independente (20.11.10)