segunda-feira, 2 de março de 2009

HU irá realizar acompanhamento médico de quilombolas albinos

Quilombolas albinos serão atendidos no Hospital Universitário

Desde a morte de Luzinete Isabel da Conceição em 2008, vítima de câncer de pele, a preocupação entre os outros albinos da comunidade quilombola Filus, de Santana do Mundaú, aumentou. Por causa disso, nesta segunda-feira, 2, com o apoio do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) e o Instituto Irmãos Quilombolas, eles foram levados ao Hospital Universitário, em Maceió, para iniciarem um acompanhamento médico que visa prevenir e monitorar possíveis doenças provocadas em decorrência do albinismo.

De acordo com o médico especialista em cirurgia plástica Fernando Gomes, eles têm mesmo motivos para se preocupar. “É bem provável que todos eles, em alguma fase da vida, desenvolvam tumores, por isso, precisam de acompanhamento”, alerta o médico. Ele explica que lesões sucessivas provocadas por exposição ao sol podem, ao longo do tempo, provocar alterações celulares e, com isso, gerar os tumores. Na manhã desta segunda-feira, oito dos nove albinos moradores da comunidade Filus foram atendidos por ele e por outros médicos do HU.

Segundo Fernando Gomes, os tipos mais comuns de tumores que podem aparecer em albinos são o espinocelular, o melanoma ou o basocelular. Para tentar evitar o aparecimento de tumores, o médico recomenda alguns cuidados, como usar sempre boné ou chapéu, de preferência com proteção para a nuca e as orelhas, roupas de mangas longas, protetor solar e realização de exames pelo menos duas vezes ao ano. Segundo outro médico que prestou atendimento aos quilombolas albinos, Cláudio Cavalcante, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, é mais comum que esse tipo de câncer apareça a partir dos 40 anos, e que 85% do câncer de pele envolve a cabeça ou o pescoço. Quem também estava presente no primeiro contato dos quilombolas albinos no HU era a médica Edna Tenório.

De acordo com o médico Fernando Gomes, que já fez uma visita à comunidade Filus, alguns dos fatores que provocam o aparecimento do albinismo são a base da consangüinidade e o perfil genético, ou seja, o casamento entre pessoas da mesma família, como primos. Isso ocorre em Filus e, segundo o médico, será levado em consideração. “O grupo dos não-albinos também será importante, por isso eles passarão por alguns exames”, comenta o especialista.

Segundo o médico Fernando Gomes, o primeiro passo do acompanhamento dos albinos será encaminhá-los para os setores de clínica médica, genética e dermatologia, que deverão solicitar exames para diagnosticar ou não o aparecimento de alguma doença. Após essa fase, eles deverão retornar ao hospital pelo menos duas vezes ao ano para a realização de novos exames.

Outros problemas

Além da particularidade dos albinos, a comunidade Filus é carente de uma série de outros serviços. Um deles é o acesso à comunidade, que fica a mais de nove quilômetros da sede do município de Santana do Mundaú, e precisa de melhorias. Outro problema antigo é a água para o consumo. Segundo Cicera Vital, presidente do Instituto Irmãos Quilombolas, na comunidade há um alto índice de esquistossomose, doença contraída pelo consumo da água contaminada, que também é usada para banhar animais e lavar roupa. Também faltam banheiros, muitas casas ainda são de “taipa”, e algumas pessoas já estão com a doença de Chagas.

Iteral

O presidente do Iteral, Geraldo de Majella, disse que o instituto vai continuar acompanhando e dando apoio aos moradores da comunidade Filus, que já foi reconhecida oficialmente como remanescente de quilombos em 2006. “Vamos procurar a Secretaria de Estado da Saúde para trabalhar com o HU e acreditamos que deve haver problemas de saúde semelhantes em outras comunidades”, afirmou Majella. “O trabalho de organização é para que o Estado assuma suas responsabilidades e inclua essas pessoas, que há séculos já vêm sendo excluídas dos serviços de cidadania”, completou.

Segundo ele, o Iteral está concluindo a elaboração de um Mapeamento Etnográfico das comunidades quilombolas de Alagoas que ainda não foram certificadas oficialmente pela Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura. Esse mapeamento faz uma descrição das condições sociais, econômicas, histórias e geográficas de cerca de 30 comunidades quilombolas e vai ajudar o Estado a direcionar suas ações. Ainda segundo ele, o Iteral está realizando um trabalho de sensibilização dessas comunidades para obter a certificação junto à Fundação Palmares


Melhorias

Entre as mulheres albinas de Filus, a mais velha é dona Deusa da Silva, de 52 anos. Ela conta que quando se expõe ao sol sente coceira na pele, que chega a descamar. Mas ela está otimista em relação ao acompanhamento médico que se iniciou hoje. Dos nove albinos de Filus, a mais nova é Tais, de apenas cinco meses, filha de Cleone Severino da Silva, que não é albina. A mãe espera aprender como cuidar melhor da filha e que ela não desenvolva nenhuma doença.


Fonte: Assessoria-Iteral

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