segunda-feira, 23 de março de 2009

21 de março, a luta continua!


Helcias Pereira (*)


É Militante Negro desde 1988, foi da Coordenação Nacional dos APNs do Brasil e atua no momento como Diretor do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô (AL).


Nesta data em 1988 a Serra da Barriga através do Decreto nº 95.855 foi reconhecida como Monumento Nacional, após ter sido tombada pelo IPHAN em janeiro de 1986. Em 21 de março de 1998, ou seja, dez anos depois, o Movimento Negro conseguiu junto ao Governo Federal consagrar o último comandante-em-chefe da República Quilombola Palmarina, Zumbi dos Palmares como Herói Nacional por toda importância de luta, organização e resistência do maior e mais importante “mukambu” do mundo.

Seriam dois bons motivos para o Movimento Negro e a sociedade como um todo festejar, exceto a triste desinformação do nosso povo a cerca desta importante data, haja vista, que as conquistas acima mencionadas, só aconteceram exatamente devido aos fatos passados da história. Portanto, a grande interrogação é: O que foi que aconteceu mesmo que tornou de fato o 21 de março – DIA INTERNACIONAL PELA ELIMINAÇÃO DO RACISMO? Pois bem, vamos lá! Em 1960 na África Sul, o regime do Aparthaid de população minoritariamente branca, comandava o poder na região e obrigava o povo negro africano a usar uma espécie de documento que permitia, ou não, seu deslocamento para outras partes da cidade. Cansados da humilhação, o povo resolveu fazer um protesto contra o “tal passe” em Shaperville, cuja resposta do Governo foi o uso da força, entre artilharia de terra e até aviões para dispensar a multidão, eram homens, mulheres e crianças que foram barbaramente metralhados pelo regime racista do Aparthaid, deixando um saldo de 69 mortos e dezenas de feridos.

É fato que a ONU tornou a dada uma alavanca de luta contra a Discriminação Racial chamando a responsabilidade do Mundo quanto a eliminação dessa prática. Foi feito um documento internacional cujas nações deveriam se comprometer. Sabe-se que o Brasil assinou a carta em 27 de março de 1963. Veja, o massacre aconteceu em 21 de março de 1960. E porque só nas últimas duas décadas o Estado brasileiro tem dado sinais para reverter tantas atrocidades históricas do colonialismo, reforçadas posteriormente com fatores segregacionistas a exemplo da “ideologia do branqueamento” e a falsa “Democracia Racial?”

Os massacres continuam acontecendo de diversas formas, ora pela prática da discriminação racial, direta ou velada, ora pelas segregações sócio-culturais e econômicas, e a comunidade negra na sua maioria fora dessa conscientização, ainda.

Portanto, apesar de todos os avanços na última década, é preciso mais empenho das lideranças negras e não negras, é preciso muito mais compromisso dos que detém cargos importantes nas instãncias dos Governos, no sentido de impactar positivamente a sociedade brasileira na busca real de transformação e conquistas de ações afirmativas / reparativas através de mais políticas públicas consolidáveis.

O 21 de março tem que ser transformado a cada ano, num dia de reflexão, conscientização e luta por dignidade do povo afro-brasileiro.

A luta continua!

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