sábado, 29 de novembro de 2008
Depoimentos sobre a Cojira-AL
"A informação cojirana é aquela que desvenda as palavras inexploradas, quebra os paradigmas do racismo midiático e agrega valores e símbolos étnicos às informações cotidianas. Em seu primeiro ano a COJIRA já se tornou um valioso instrumento de captação e divulgação dos aspectos identitários positivos da historicidade afro-alagoana. Parabéns aos jornalistas do COJIRA por ressignificar a palavra escrita, legitimando histórias étnico-sociais".
Célio Rodrigues (Babalorixá e historiador):
"Agradeço a Olorum por iluminar os pensamentos dos jornalistas, que trouxeram a Cojira para Maceió. Parabéns por esse primeiro ano de existência, mostrando o movimento negro de forma geral, porque além da luta política existe uma luta religiosa, cultural e acadêmica para a valorização da negritude brasileira e principalmente maceioense".
"Assim como os Neabs, organizações que favoreçam as questões étnicas no país vem para somar forças, por isso a Cojira tem sua importância. Temos que respeitar as pessoas, fortalecendo a retratação histórica com as minorias já não é mais uma utopia".
Carta de Maceió sobre a Promoção da Igualdade
MIRANTE CULTURAL - 9ª Edição
BUMBA-MEU-BOI EXCALIBUR
GRUPO TEATRAL MÁSCARAS SOBRE MÁSCARAS
NÚCLEO DE CAPOEIRA
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Seminário aborda políticas afirmativas para as minorias
Jornalista / Integrante da Cojira-AL
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Parabéns, Cojira-AL!
Coordenador de Cultura do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô e ativista há mais de 20 anos
Ao saber da formação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) no ano passado, fiquei extremamente feliz e cheio de esperança.
Sua existência proporciona uma comunicação sincera e comprometida com a causa afro-brasileira. Constatar que em nosso Estado existe profissionais de comunicação unidos e articulados em torno de objetivos inovadores, é motivo suficiente para acreditar nesta nova etapa de transformação da sociedade através da comunicação.
A Cojira é sem sombra de dúvidas uma alavanca primordial no sentido de efetivar consideravelmente essa nova forma de luta e de organização de um povo, que busca cotidianamente sua dignidade e felicidade.
Parabéns a todos os jornalistas cojiranos e que suas presenças sejam ampliadas e fortalecidas sempre!
Axé!!!
Programação: Seminário da OAB-AL
27 de novembro - Quinta-feira
8:30- Solenidade de Abertura
Hino de Alagoas-Coral da OAB
Discurso da Presidente da CONPI- Drª. Sílvia Cerqueira
Apresentação da Companhia Teatral Mundo Paralelo
9:30 - 1º Painel: Desenvolvimento da Promoção da Igualdade Racial
Drª. Silvia Cerqueira Advogada: Ações Afirmativas e Políticas de Reparação Racial
Dr. Hermes Juiz de Direito: Aspectos Constitucionais e a Igualdade Racial
Drª. Valdice Gomes - Jornalista: Igualdade Racial no Mercado de Trabalho
Debate: Presidente de Mesa: Dr. Helcias Pereira Secretario de Cultural do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô
14:30 - 2º Painel: Violência Doméstica
Dr. Liercio Pinheiro Psicólogo: Violência Contra a Criança
Drª Irainé Araújo Psicóloga: Violência a Mulher e ao Idoso
Dr. Ivan Bergson Advogado: Aspectos Jurídicos na violência Doméstica
Debate: Presidente de Mesa: Drª. Sônia Lopes Sampaio - Psicóloga
Drª. Roseane Cavalcante de Freitas (EDEFAL): Evolução Normativa dos Direitos dos portadores de deficiência
28 de novembro - sexta-feira
8:30 - 1°Painel: Questões Indígenas após a Constituição de 1988
Dr. Ivan Soares Antropólogo do MPF: Situação Legal dos Índios e suas Garantias
Prof. Jorge Vieira: Povos Indígenas do Nordeste: Da Integração a Afirmação Étnica
Dr. Sávio Almeida - Prof da UFAL: Indigenismo e Política: O Pensamento MARIÁTIGUI Debate: Presidente de Mesa: Sonja Camelo - Psicóloga
10:10 - 2º Painel: Igualdade de Direito na Saúde e na Vida
Dr. Alberto Jorge - Advogado: Direito dos Homossexuais
Drª. Zoelma Lima Sexóloga: Homossexualidade: Uma Questão de Opção ou Orientação? Debate: Presidente de Mesa: Sandra Camelo - Sexóloga
14:30 - 3° Painel: Intolerância Religiosa
Padre Manoel Henrique: Atuação da Igreja Católica no Combate a Intolerância Religiosa
Prof Edson Moreira - Teólogo: Religião de Matriz Africana e o Combate do Preconceito Étnico-Religioso.
Debate: Presidente de Mesa: Helciane Angelica Santos Pereira - Jornalista
Projeto: Potencial Capoeira
Até então, o projeto está em sua primeira fase de execução, onde as aulas práticas acontecem durante os finais de semanas, junto às aulas práticas. Também temos aulas teóricas através de leitura de textos, mostras de filmes e documentários que retratam tanto a questão racial quanto outras questões no que se diz respeito ao desenvolvimento do homem na sociedade.
Neste projeto, também como forma de potencializar estes capoeiristas na convivência entre grupo, foi executado no dia 16 de Novembro uma viagem a Serra da Barriga onde todos os participantes do projeto tiveram uma vivência sobre a história da Serra da Barriga.
Por ter nascido e vivido sua saga no estado de Alagoas - Quilombo dos Palmares (hoje União dos Palmares), a importância de Zumbi ultrapassa a questão ideológica, diz respeito, sobretudo à auto-estima de um povo que precisa ser realimentada em bases reais, já que as instituições e a história nos têm relegado às misérias e currais políticos presentes até hoje. E a cultura de descendência africana segue tratada como marginal.
Observamos no contato com grupos de capoeira que, embora a relação do conhecimento corporal de fato se efetiva e evoluem, as matrizes históricas fundamentais à dignidade de nosso povo parece ter sido negligenciada, ou reduzida.
Em Maceió acompanho desde o início dois grupos de adolescentes e jovens que tentam por conta própria manter viva a prática da Capoeira.
O primeiro grupo surgiu em 2003, no bairro do Jacintinho e o segundo grupo surgiu no inicio do ano de 2007 no bairro loteamento Terra de Antares. Ambos os bairros tem como características comuns fazerem parte da periferia pobre de Maceió, ter um crescimento geográfico relativamente rápido e desordenado; alto índice populacional composto principalmente por migrantes do interior do Estado que, fugindo muitas vezes da seca e da falta de trabalho buscam na capital melhores condições de vida; precariedade no atendimento dos serviços públicos básicos como saúde, educação, moradia, segurança, lazer... e, ainda, alto índice de violência entre jovens devido, principalmente, a falta de trabalho, perspectiva de vida, gerando, desde cedo muitas vezes, a inclusão no universo das drogas e da criminalidade.
Entretanto, os adolescentes tem resistido em manter seus grupo vivos e buscam dentro de suas possibilidades e das possibilidades do Agente Cultural de professor Capoeira e Executor do projeto Denis angola - promover rodas de Capoeira em espaços de tempo que variam de semanalmente a bimensalmente.
Essa disposição nos chama atenção, sobretudo, em razão do sentido que a Capoeira vai tomando na vida dessas pessoas. E mais ainda, como aos poucos, esses adolescentes vão integrando outros dentro do grupo. Enfrentando o desafio da falta ou descontinuidade de projetos governamentais, com ações de resistência e perseverança.
E é aí que vemos a possibilidade de contribuir no sentido de potencializar tais ações desenvolvidas por esses grupos, enfocando, além de uma prática mais regular de suas atividades nos espaços comunitários do bairro (escolas, centros sociais, ruas...) e do apoio logístico aos grupos a ampliação de sua compreensão histórico-filosófica da Capoeira, da construção identitária do povo brasileiro.
O projeto Potencial Capoeira, que tem o financiamento Capoeira Viva que é patrocinado pela Petrobrás, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Contatos: denisangola@gmail.com / (82) 8858-6771
http://meumundocapoeira.blogspot.com
http://fotolog.terra.com.br/mirante
Sobre Imprensa Negra
Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro
> A imprensa negra como fator de importância na luta ideológica anti-racista. Mecanismos de preconceito na grande mídia. A imprensa negra nos anos 90 e suas relações com o mercado de consumo.
A partir da década de 80, os pequenos jornais que começaram a aparecer um pouco por toda parte refletiam em geral as linhas ideológicas e emocionais do “Movimento Unificado contra a Discriminação Racial (MNU)”, que pretendia desmontar o mito da democracia racial brasileira e montar estratégias anti-racistas. Esvanecem-se os discursos reivindicativos e pedagógicos, as preocupações com ordenamento familiar e formação profissional, dando lugar a enunciados de denúncia do preconceito de cor, análises da consciência discriminatória, a informações históricas sobre colonialismo e escravatura, a esparsos juízos afirmativos de identidade negra que procuram resgatar os valores políticos das lutas anti-coloniais na África. Ao mesmo tempo, fundam-se em universidades e fora delas centros de estudo em torno da categoria “cultura negra”, que abrange os cultos, os costumes e os jogos afro-brasileiros.
A importância de uma imprensa negra acentua-se quando se leva em consideração, a exemplo de Van Dijk1, que os discursos sociais - manuais escolares, diálogos socializantes (pais/filhos, professores/estudantes), programas de radiodifusão, textos jornalísticos, pronunciamentos parlamentares, etc. - desempenham um papel central tanto na produção quanto na reprodução do preconceito e do racismo. Desses discursos provêm os modelos cognitivos e as atitudes relativos às minorias de qualquer natureza, especialmente os negros na sociedade “clara” do Ocidente.
Como esclarece Van Dijk, o discurso atua nos níveis micro e macro, assim como nos registros da interação e da cognição. A mídia funciona no nível macro com gênero discursivo capaz de catalisar expressões políticas e institucionais sobre as relações interraciais, em geral estruturadas por uma tradição intelectual elitista que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da pele.
A palavra “elitista” não é aqui casual. Sabe-se efetivamente que da influência interativa entre elites de diferentes ordens - grupos de alta renda, ministérios, organizações de trabalho, intelectuais e meios de comunicação de massa - resultam os padrões cognitivos e políticos que orientam os componentes da ação social e do julgamento ético presentes no comportamento racista.
Falar de elite é designar os grupos e as instituições com acesso diferenciado a mecanismos geradores de poder, tais como renda, emprego, educação e força repressiva. São as elites que ocupam, em cada Estado-nacional, sejam as posições de controle direto da mídia, sejam as possibilidades de moldar o seu discurso. Dentro do próprio sistema informativo (jornais, radiodifusão, editoras, agências de publicidade, etc.), constituem-se hoje pequenas elites intelectuais, a que se pode chamar de “logotécnicas”, isto é, especializadas na neo-retórica elaboradora do discurso público.
As elites logotécnicas - editorialistas, articulistas, editores, colunistas, âncoras de tevê, criadores publicitários, artistas, jornalistas especiais - funcionam como filtro e síntese de variadas formas de ação e cognição presentes nas elites econômicas, políticas e culturais coexistentes num contexto social. O racismo ostentado pelas elites tradicionais desde séculos atrás pode ser reproduzido logotecnicamente, de modo mais sutil e eficaz, pelo discurso midiático-popularesco, sem distância crítica do tecido da civilização tecnoeconômica, onde se acha incrustada a discriminação em todos os seus níveis.
Esse racismo aloja-se em novas modalidades institucionais - no sentido dado por Mauss à palavra “instituição”, ou seja, modo de fazer ou de pensar independente do indivíduo. O racismo midiático é, assim, suscitado por fatores da seguinte ordem:
1 - A negação - Do mesmo modo como as elites de hoje rejeitam o racismo doutrinário ou evitam a pecha de “sujeitos da discriminação”, a mídia tende a negar a existência do racismo, a não ser quando este aparece como objeto noticioso, devido à violação flagrante desse ou daquele dispositivo anti-racista ou a episódicos conflitos raciais. De uma maneira geral, porém, as elites logotécnicas, ao contrário das elites identitárias do passado, tendem a considerar “anacrônica” a questão racial, deixando de perceber as suas formas mutantes e assim contribuindo para a reprodução de fenômenos em bases mais extensas.
2 - O recalcamento - Tanto no jornalismo como na indústria cultural em seus diferentes modos de produção, costuma-se recalcar aspectos identitários positivos das manifestações simbólicas de origem negra. Assim é que, quando se fala de vitalismo cultural da música popular brasileira, não se acentua suficientemente a sua proveniência nem o papel tático que tem desempenhado nas relações inter-raciais. O mesmo acontece quando se trata de vultos importantes da História, das artes, da literatura. É freqüente encontrarem-se profissionais competentes da mídia completamente ignorantes no que se diz respeito à História do negro no Brasil ou nas Américas.
3 - A estigmatização - Goffman distingue identidade social virtual (aquela que se atribui ao outro) de identidade social real (conferida por traços efetivamente existentes)2. Na passagem do potencial/virtual ao real/atual, surge o estigma, a marca da desqualificação da diferença, ponto de partida para todo tipo de discriminação, consciente ou não, do outro. Num país de dominação branca, a pele escura tende a tornar-se um estigma. Na verdade, qualquer tipo de diferença (por exemplo, traços faciais distintos, como entre os hutus e os tutsis em Ruanda) pode ser estigmatizado e suscitar juízos de inferioridade sobre o outro.
4 - A indiferença profissional - A mídia organiza-se empresarialmente, com motivações de lucro e poder semelhantes às de outras iniciativas industriais. Diferentemente da imprensa tradicional, que podia bater-se por causas públicas ou políticas, a mídia contemporânea pauta-se pelos ditames do comércio e da publicidade, pouco interessados em questões como a discriminação do negro ou de minorias. Os profissionais midiáticos acabam dessensibilizando-se com problemas dessa ordem. Por outro lado, é reduzida a presença de negros nas fileiras profissionais da mídia brasileira. Quando indivíduos de pele escura conseguem empregar-se em redações de jornais ou em estações de televisão, mesmo que possam eventualmente ocupar uma função importante, são destinados a tarefas ditas “de cozinha”, isto é, aquelas que se desempenham nos bastidores do serviço, longe da visibilidade pública3.
A partir do final dos anos sessenta, com o movimento denominado Black Soul, começou-se a discutir em termos políticos a identidade racial no Brasil, sob a desconfiança e a severa vigilância das autoridades ditatoriais. Desde então, no bojo das tentativas de reorganização da sociedade civil frente ao regime militar, o Movimento Negro emergente - constituído de jovens se não com formação universitária, pelo menos com um discurso diretamente influenciado por disciplinas universitárias, como História, Sociologia, Antropologia, mas igualmente pela propaganda dos movimentos negros norte-americanos - passou a caracterizar-se por tomadas de posição agressivas. Estas eram às vezes excessivamente emocionais ou marcadas pelo ressentimento, uma espécie de doença infantil do anti-racismo.
Pari-passu ao fortalecimento de uma consciência etnicista (afirmativa de identificações positivas com a pele negra) junto a jovens, desenvolveram-se em algumas universidades ou à margem delas, grupos de estudo de assuntos negros. Inexiste aqui regularidade dos Africana Studies nos Estados Unidos, mas não há dúvidas quanto à formação de núcleos de pesquisa e de promoção cultural capazes de catalisarem as atenções (tanto constantes como esparsas) de intelectuais de destaque e, às vezes, de editores e jornalistas, sempre atraídos pelo vigor da singularidade cultural afro-brasileira (cultos, culinária, ritmos, etc.).
Ao mesmo tempo, desde o início dos anos noventa, alguns prefeitos e governadores começaram a instituir “secretarias de assuntos negros”; criou-se no âmbito do Governo Federal a Fundação Palmares, destinada à promoção da cultura afro-brasileira; um negro elegeu-se prefeito de São Paulo, a cidade mais próspera do país. Cidadãos de pele escura começaram a entrar em partidos políticos, tanto de esquerda como de direita. Um grande número de bandas e grupos musicais negros passou a freqüentar os dispositivos da cena pública, sempre com discursos de politização da identidade racial.
Formou-se, assim, uma espécie de base social (clara e escura) para a aceitação da imprensa que viria a implantar-se nos anos noventa, agora sob a égide plena da argumentação mercadológica. Assim é que uma pesquisa realizada em vinte e dois estados brasileiros - “Qual é o pente que te penteia - o perfil do consumidor negro no Brasil”4 - revelava que os negros integrantes de 1,7 milhão de famílias, com alto nível de escolaridade (45% de colegial completo e 34% de superior) completa e renda familiar média pouco acima de dois mil dólares mensais, eram atrativos o suficiente para motivar uma grande variedade de negócios.
Surge aí uma questão: de onde provém tal renda, quando se sabe da proverbial inferioridade econômica dos afro-descendentes no Brasil? Há até mesmo alusões de especialistas a um “racismo sócio-econômico”, que “permite aumentar ou reduzir em qualquer zona de espaço-tempo particular o número dos destinados aos papéis econômicos menos remunerados e gratificantes, segundo as necessidades do momento; engendra e recria constantemente comunidades sociais que condicionam as crianças a desempenhar um papel apropriado (mesmo se evidentemente isso os leva a formas de resistência); e fornece uma base não-meritocrática para justificar a desigualdade”5.
Este é um ponto bastante polêmico. Há pouco mais de duas décadas, Oliveira criticava, num ensaio hoje bastante conhecido6, a hipótese da “redistribuição intermediária”, formulada por M. C. Tavares e J. Serra, segundo a qual a compressão salarial era necessária ao modelo de crescimento econômico vigente na época, para financiar a inversão e redistribuir o superexcedente para as classes médias. Nesta argumentação, o sistema econômico teria algo como um preconceito de classe e de cor, porque só as classes médias e ricas (brancos, em suma) poderiam consumir. Trabalhadores (pretos e mulatos) não poderiam fazê-lo, devido à compressão dos salários, que funcionaria como mecanismo de transferência de renda para as classes médias.
Para Oliveira, a falha da argumentação estava no fato de que a compressão salarial “transfere os ganhos da elevação da mais-valia absoluta e relativa para o pólo de acumulação e não para o consumo”. A renda das classes médias seria uma necessidade da estrutura produtiva em seu sentido global (e não um estado de bem-estar dos favorecidos), já que decorre das exigências técnico-institucionais da nova estrutura industrial e, portanto, das novas ocupações criadas. Isto faria da renda uma exigência objetiva da estrutura produtiva e não um efeito de presumido preconceito de classe ou de cor por parte da acumulação capitalista.
De fato, a acumulação de capital é, em princípio, neutra com relação à cor da pele do agente produtivo. Mas não é absolutamente neutra com respeito aos modelos culturais de incrementação do trabalho e da produtividade ou às múltiplas formas discriminatórias da civilização tecnoeconômica, que se alimentam de uma margem estrutural de pobreza - daí, a hipótese do “racismo sócio-econômico”. No Brasil, como se sabe, aconteceu uma Abolição da Escravatura sem direito ao trabalho, sem reforma agrária e sem uma estrutura político-partidária que reorientasse os conflitos. A mesma matriz social da Colônia reeditou-se no Império, reforçando a segregação, as barreiras sociais. Como a industrialização, cresceu a mobilidade social, acentuada durante o próprio Estado Novo, que ensejou uma mobilidade da clássica organização burocrático-estatal.
É com o Estado Novo que a educação começa a generalizar-se. No Exército Nacional, abrem-se brechas ascensionais para os negros e mulatos7. Mas com exceção da Bahia - onde se desenvolveu até o final dos anos 30 uma pequena burguesia negra -, ocorreu no resto do país uma marginalização progressiva do indivíduos de pele escura, mitigada às vezes por oportunidades advindas da migração interzonal (do Norte para o Sul, principalmente) no período de crescimento das grandes cidades. Hoje, a migração observável é intrazonal (dentro do próprio estado), na medida em que as metrópoles entram em queda livre, assoberbadas pelo excesso populacional, pela deterioração de capitais e serviços, pela baixa taxa de natalidade - em franco contraste com o desenvolvimento de cidades de porte médio, para onde tendem a deslocar-se indústrias nacionais e estrangeiras.
Nessa conjuntura, registra-se o fenômeno crescente de famílias uniparentais (mãe, diversos filhos e diversos pais), assim como o aumento em escala da miséria, devido à estrutura sócio-econômica excludente. No entanto, a existência de mais de um milhão e meio de famílias negras (há cerca de trinta milhões de famílias no país) inseridas em oportunidades de consumo é perfeitamente cabível dentro desse modelo. Desde meados dos anos oitenta, sob o influxo do neoliberalismo sócio-econômico e da inferioridade do emprego diante do crescimento da população economicamente ativa, o setor informal passou a gerar um volume gigantesco de recursos. Isto ajudaria a explicar o aparecimento de emergentes de pele escura na órbita do consumo. Efetivamente, um estudo da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) mostrava em 98 que, de cada cem empregos gerados na América Latina entre 90 e 95, cerca de 84 pertenciam à economia informal.
Além disso, o fenômeno obedece também ao mesmo padrão norte-americano de concentração de renda em alguns setores urbanos antes excluídos (em termos de renda, educação e saúde) do resto. Não ocorre, portanto, uma verdadeira e digna integração sócio econômica dos descendentes de africanos - que constituem a maioria populacional -, mas nos bolsões de renda concentrada facilmente detectável pelo mercado e simulável como “modernização” pela publicidade. Na verdade, os produtos anunciados em Raça são bens semiduráveis de preços acessíveis, barateados pela produção de massas.
Fora dessa esfera mercadológica-midiática, continua preocupante a condição social dos afrodescendentes, marcada pela desigualdade nos níveis de renda e acesso a serviços de educação, saúde e habitação. Tanto assim que, ao mesmo tempo em que alguns analistas (jornalistas, burocratas, acadêmicos) anunciavam em tom esperançoso a existência de uma nova “política de raça” na vida brasileira, um amplo estudo divulgado (1997) pela Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontava perspectivas sombrias para descendentes de africanos no Brasil. Mostrava, por exemplo, que era escassa a presença de negros nas universidades de boa qualidade, que a sua representação no Congresso era apenas simbólica e que as pessoas de pele clara ganhavam, em média, duas vezes e meia mais do que as de pele escura. A expectativa de vida tanto de crianças quanto de suas mães negras era igualmente muito menor.
Mas houve mesmo, na verdade, a descoberta pelos publicitários de um filão novo de mercado. Há euforia neste fato, tanto da parte deles quanto, é preciso reconhecer, dos virtuais consumidores, os indivíduos de pele escura. Estrategistas de necessidades (publicitários, técnicos em marketing) costumam orientar-se por uma visão superotimista da realidade histórica, bastante diversa da ideologia crítico-catastrofista do jornalismo tradicional. Na simples exteriorização de sinais de renda podem enxergar uma transformação real das condições de existência e agir em conformidade com tal suposição.
Por sua vez, os consumidores virtualmente emergentes num espaço social onde cor e classe estão imbricados, mesmo sem uma efetiva representatividade política (ou seja, sem acesso ao jogo do poder decisório) podem enxergar nas mudanças de superfície um reposicionamento “ontológico” de sua presença no mundo. Auto-imagem e auto-estima são mobilizadores poderosos do ego - alvo prático da visão publicitária das coisas, sustentada pela ideologia do mercado perfeito e sujeito ao equilíbrio “natural”.
1. Cf. Dijk, Teun A. Van. Political Discourse and Racism - describing others in western parliaments. Paper for the International Conference on “Others” in Discourse. Toronto, May 6-8, 1993. Ver também do mesmo autor Elites, Rascism and the Press. Paper for the Congress of the International Association of Mass Communication Research (IAMCR), Guarujá, Brasil, August 16-21, 1992.
2. Cf. Goffman, E. Stigmate. Minuit, p. 57.
3. Vale registrar a respeito deste tópico que a rede hegemônica de televisão no Brasil (Rede Globo) vem concedendo há muito tempo espaço para uma repórter negra no vídeo. Há algo aí que se poderia chamar de Know-how norte-americano na gestão da imagem empresarial: reserva-se um lugar único para uma “colored”, à maneira do sistema de quotas, produzindo-se um simulacro profissional de democracia racial.
4. Pesquisa levada a cabo em 1997 pela empresa Grottera Comunicação.
5. Wallerstein, Emmanuel, cit. por Dias, Patrick. Un autre partage. Ed. Erés, Unesco, p.48.
6. Oliveira, Francisco. Crítica da Razão Dualista. In Estudos Cebrap 2, edições Cebrap, 1972.
7. Registram-se inclusive oportunidades de acesso a instrumentos musicais até então vedados a descendentes de africanos. Alguns dos instrumentos de sopro que fariam depois as glórias de grandes músicos negros provinham originariamente das fileiras militares.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Cojira-AL comemora o primeiro aniversário com seminário
Jornalista e integrante da Cojira-AL
No dia 24 de novembro de 2007, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) dava um passo importante, instalou oficialmente, o primeiro coletivo do Nordeste voltado para o desenvolvimento de ações sobre as questões étnico-raciais. Assim, deu-se início a trajetória da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-AL). Para comemorar em grande estilo, a entidade realizará nos dias 29 e 30 de novembro, o seminário “200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial”.
O grupo ainda é pequeno, formado por jornalistas e acadêmicos negros e não-negros, comprometidos com a produção de material jornalístico que exalte a cultura afro e os avanços sócio-políticos; divulga as atividades do movimento social negro; além de denunciar irregularidades, casos de racismo e intolerância religiosa.
As ferramentas de trabalho resume-se a este blog com informações de âmbito local e mundial; e a Coluna Axé, publicada todas às terças-feiras na Tribuna Independente, jornal pioneiro na implantação de um espaço com esse recorte étnico no Estado. Porém, os integrantes têm planos para produzir cartilhas, pesquisas e livros sobre a temática.
Para a realização do evento, os organizadores contam com o apoio do Cesmac, Algás, Fundação Cultural Palmares, Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), Federação das Indústrias de Alagoas, Secretaria Estadual de Saúde e o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô (entidade do movimento negro alagoano).
Programação
As atividades serão iniciadas a partir das 8h, com o credenciamento e o acolhimento afro no Teatro Linda Mascarenhas, localizado no bairro do Farol em Maceió. Após a abertura oficial, começam as exposições de temas importantes, que foram divididos em painéis e desencadearão ricos debates.
No primeiro painel que possui o nome do evento, subdivide-se em dois perfis: “Aspectos históricos e a importância da mídia étnico-racial” e “Estética negra, auto-estima e o papel da Imprensa”, respectivamente, ministrados por: Nelson Inocêncio (Jornalista e Professor de Comunicação na UnB) e Ana Claudia Laurindo (Cientista Social e Mestra em Educação na Ufal).
Após um pequeno intervalo, terá o painel II com o tema: “Mídia e conjuntura afro-brasileira”, também dividido em dois perfis: “Mídia e Religiosidade Afro” que terá as explicações da ialorixá Neide Martins (Grupo União Espírita Santa Bárbara - Guesb), e também, outro tema polêmico “Políticas de Ações Afirmativas, Leis de combate ao racismo e intolerância”, conduzido pelo advogado Alberto Jorge Ferreira (Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL).
No período da tarde, acontecerá um almoço e o momento de confraternização no Bar da Comunicação Afro-Cultural na sede do Sindjornal. Também terá cerveja a preço promocional, no valor de R$ 1,00 (um real). Para abrilhantar a festa, a banda de reggae Civilização Roots interpretará músicas próprias e os sucessos de Bob Marley, Tribo de Jah e Edson Gomes.
Para enriquecer a programação do seminário, no domingo (30) acontecerá uma visita étnico-cultural na Serra da Barriga em União dos Palmares. O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô foi convidado para repassar as explanações históricas sobre a importância do maior quilombo do mundo (lideranças quilombolas, herança-cultural, organização sócio-política e militar); serão realizadas trilhas e dinâmicas de relaxamento; além de levar o grupo para conferir a realidade da comunidade remanescente de quilombo Muquém. Serão disponibilizados dois micro-ônibus que sairão da Casa da Comunicação/Sindjornal às 8h, e o retorno à Maceió está programado para às 15h. As vagas são limitadas e destinadas para os jornalistas que participarem de todo o evento.
Representatividade
O tratamento dado pela mídia à população afro-descendente tem se caracterizado pela invisibilidade e pela manutenção de estereótipos. Reverter este quadro é papel dos jornalistas comprometidos com o interesse público e com a democratização dos meios de comunicação.
Recentemente, foi implantada a Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conjira), órgão consultivo de assessoramento da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), que congrega todos os 06 (seis) coletivos no Brasil que trabalham as questões étnico-raciais no movimento sindical de jornalistas: o Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul e as Cojiras do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Alagoas e Bahia.
Aos poucos, os coletivos enfrentam os obstáculos e ampliam suas ações, com o fortalecimento de produtos midiáticos (entrevistas, artigos, fotos, reportagens) durante o ano inteiro e não apenas nas datas nacionalmente conhecidas (13 de maio e 20 de novembro); realizam seminários e debates sobre a conjuntura da população afro-descendente; investem na publicação de livros, pesquisas e outros. O próximo passo será a execução do I Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial em 2009, as discussões já começaram, e tem tudo para ser um sucesso.
Serviços
Seminário: “200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial”
Dias: 29 e 30 de novembro
Local: Palestras – Teatro Linda Mascarenhas
Bar da Comunicação – Sindjornal
Visita étnica - Serra da Barriga/ União dos Palmares
Missa da Paz e recorte étnico
OAB/AL promove encontro sobre Promoção de Igualdade
A abertura do evento vai contar com a presença do presidente da OAB/AL Omar Coelho de Melo, da presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igual do Conselho Federal da OAB, Sílvia Cerqueira e do presidente da Comissão de Defesa das Minorias Alberto Jorge. A programação dos dois dias se estende com mesas temáticas sobre os direitos das crianças, GLBTS, portadores de necessidades especiais, negros, mulheres, índios e idosos. A expectativa é encerrar o evento com a formação da Comissão de Suporte à Defesa das Minorias Étnicas e Sociais.
Segundo a advogada Sheila Camelo, que integra a CONPI, o seminário é uma oportunidade especial de crescimento coletivo e individual. Ela explicou que o encontro é uma prévia do evento internacional que será realizado em Salvador (BA). “Queremos promover mudanças na sociedade. A nossa finalidade é tentar diminuir as desigualdades com o apoio desses movimentos”, afirmou. No final do encontro será redigido o texto da Carta de Maceió sobre a Promoção da Igualdade.
O evento está com inscrições abertas na sede da OAB. Para participar é necessário um quilo de alimento não perecível. O que for arrecadado será doado a Comunidade Nova Jericó que funciona em Marechal Deodoro e atua no tratamento de dependentes químicos. Mais informações pelo 9997-9289.
Fonte: http://www.oab-al.org.br/noticias.php?in=index&nid=2222Teotonio e ministro Edson Santos, da Igualdade Racial, encerram programação de Zumbi
“Precisamos trabalhar em conjunto, de mãos dadas, para que o mundo possa ter acesso a esse local. Temos uma agenda de trabalho para dar seqüência ao que vem sendo feito aqui”, afirmou o governador.
Entre as ações prioritárias para que o Parque Memorial Zumbi dos Palmares passe a funcionar todos os meses do ano está a pavimentação da pista de acesso a Serra da Barriga, já que no inverno o local fica praticamente inacessível. Pensando nisso, Teotonio afirmou que tem buscado a ajuda do ministro Edson Santos e que pretende procurar a bancada federal e, se necessário, até o presidente Lula para que a verba para a obra de pavimentação possa ser liberada o mais rápido possível.
“Vamos trabalhar para que a verba venha o mais rápido possível. O governo do Estado não tem condições de fazer sozinho, precisamos do apoio do governo federal”, destacou o governador.
O ministro Edson Santos falou sobre a importância do local na história do país e destacou a necessidade de fazer com que as visitas ao Parque Memorial deixem de ser sazonais. “Esse é o patrimônio do nosso povo, um símbolo de luta que precisa ser conhecido. Uma certeza que temos ao nascer é o fato de que vamos morrer, mas existem figuras que são especiais e nascem duas vezes, Zumbi é um deles. A morte dele inaugurou uma nova vida. Ele e Tiradentes são os grandes heróis da nossa pátria”, afirmou.
Para o secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas, a Serra da Barriga é um local sagrado, que simboliza a luta pela liberdade. Ele destacou a importância da união entre as esferas federal, estadual e municipal, no intuito de fazer com o local seja difundido. “Esse projeto da pavimentação da pista de acesso a Serra é essencial para que o local possa se tornar um espaço de inclusão”, falou.
O presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo, aproveitou a oportunidade para prestar contas do que foi feito no Parque Memorial Zumbi dos Palmares durante esse ano de funcionamento. Entre outras coisas, ele citou a contratação de 18 novos servidores — 12 para fazer a segurança e 6 para limpeza e conservação do local - e a realização de oficinas de trabalho que envolveram cerca de 250 jovens.
O prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas, se mostrou satisfeito com as festividades deste ano, alusivas ao Dia da Consciência Negra na Serra da Barriga, e pediu ao ministro Edson Santos e ao governador Teotonio Vilela Filho uma atenção especial para a única comunidade quilombola do município, a de Muquém. “Nós temos uma comunidade quilombola aqui em União que também precisa ter a pista de acesso melhorada, pois a maioria das pessoas que vem conhecer a Serra da Barriga também passam pela comunidade. Lá o investimento é bem menor, pois são apenas 1,5 km de estrada”, disse.
Ao chegar a Serra da Barriga, o governador e o ministro Edson Santos foram recepcionados por um grupo de Afoxé Odô Iyá. Em seguida, o herói nacional Zumbi dos Palmares foi homenageado, tendo uma coroa de flores colocada em sua estátua construída na Serra da Barriga.
Também participaram da visita á Serra neste sábado a secretária de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Wedna Miranda, o secretário do Gabinete Militar, coronel Ronaldo dos Santos, o presidente do comitê gestor do Parque Memorial, Zezito Araújo, e Mãe Neide, do Grupo União Espírita Santa Bárbara.
Flor de Manacá - 2ª edição
ARTIGO: O negro no poder
Jornalista / Integrante da Cojira-AL
A instrução dada por alguns pais influi na liberdade de pensamento dos pequenos, reproduzindo costumes racistas, já que para mim, a questão está diretamente ligada à educação. Porém, não dá para acreditar que quanto mais instruída, menos preconceituosa uma pessoa será.
Ministro da Seppir discursa em rede nacional
Jornalista / Integrante da Cojira-AL
Foram 3 minutos e 25 segundos com palavras otimistas em pleno horário nobre, bem diferente do ano passado onde não se ouviu nem um “Feliz Dia da Consciência Negra!” de qualquer autoridade do Governo Federal.
A data não referencia só os negros, como muitos ainda insistem em falar “Festa dos Negros”. Trata-se de um momento para a reflexão e celebrações, onde todos os brasileiros deveriam participar independente, de cor, credo, gênero e condições sociais. Também serve para recordar as histórias de lutas e principalmente avaliar as ações desenvolvidas.
O ministro está de parabéns pela iniciativa e esperamos que novos avanços sejam adquiridos, para que no próximo ano tenhamos mais orgulho desta data.
Veja na íntegra o discurso transmitido na última quinta-feira:
“Boa noite!
Hoje é o dia da consciência negra, uma data para reflexão de todos nós brasileiros. Durante o período da escravidão, os negros resistiram de diversas formas nas muitas revoltas, fugas e com a formação de quilombos em várias partes do país. Assim surgiu o Quilombo das Palmares e o seu sonho de liberdade, que teve como principal líder Zumbi.
O exemplo de Zumbi morto em 20 de novembro de 1695, despertou a consciência de que era preciso lutar contra a escravidão. Veio a abolição, o Brasil mudou, mas os negros continuaram em situação de desigualdade. Donos de sua liberdade, mas privados do acesso a terra, a educação e não atingiram a plena cidadania. Mesmo assim, continuaram ajudando a construir o Brasil com o seu trabalho e uma rica contribuição à nossa cultura.
Atualmente, o Governo Federal investe em políticas públicas para promover a igualdade racial. A educação é o melhor instrumento para transformar a realidade da juventude negra nas favelas e nas periferias das grandes cidades. A falta de oportunidade leva muitos jovens a uma vida violenta e curta.
É muito raro, por exemplo, encontrarmos médicos negros ou negros em posição de chefia nas empresas. No entanto, a polícia de cotas e o PROUNI tornam possível o acesso de milhares de jovens negros e carentes à Universidade.
Em breve, essa nova geração terá a oportunidade de alcançar posições de destaque no mercado de trabalho. A gradual implantação do ensino de História da África e a revisão da História Brasileira inserindo o papel do negro na formação do nosso país será outro grande avanço. Dessa forma combatemos o racismo, fazemos com que haja o respeito à diversidade e tornamos a escola mais identificada pelos alunos negros.
Avançamos também na proteção contra a intolerância que atingem as religiões de matrizes africanas, como a Umbanda e o candomblé. E através da Agenda Social Quilombola, quase 2.000 comunidades remanescentes de quilombo são atendidas com serviços essenciais como saneamento e energia elétrica. O Governo Federal promove também ações para desenvolver economicamente as comunidades, de forma sustentável e adequada as suas tradições.
Todas essas medidas estão sendo aplicadas a partir do diálogo entre o Poder Público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada. Com cada um fazendo a sua parte, já é possível enxergar em dias futuros, um país livre do racismo e da discriminação racial em que a qualidade de vida e as oportunidades sejam iguais para qualquer brasileiro.
Afinal, um país sem desigualdade é um país melhor para todos!
Boa noite!”
Ato político-cultural e religioso marca 20 de novembro em Alagoas
Jornalista / Integrante da Cojira-AL
Outra pauta de reivindicação foi a ausência de apoio para o ritual religioso de suma importância que acontece tradicionalmente na madrugada do dia 20 de novembro na Serra da Barriga. O "Axexê", oferenda aos orixás e homenagens aos ancestrais, o qual reverencia os quilombolas mortos em nome da liberdade, abre os caminhos, traz boas energias e purifica a subida até o palco da resistência negra.
Durante muitos anos, o ritual sagrado era conduzido por babalorixás e ialorixás da Bahia, e com a organização das Casas de Axé em Alagoas, foi assumido religiosos alagoanos. A cerimônia que tradicionalmente faz parte da programação foi abortada, porque as promessas com a garantia do translado, a compra dos objetos e alimentos para as oferendas não foram cumpridas até a véspera do ritual.
Segundo Maurício Reis, Diretor de Patrimônio da Fundação Cultural Palmares, a instituição não pôde atender tudo que havia sido solicitado, mas foi ofertada uma contra-proposta. “Nós disponibilizamos transporte e alimentação. O quantitativo que eles queriam eram para 300 pessoas e dentro de nossas possibilidades, nós não tínhamos recursos para isso”. A FCP sugeriu uma quantidade menor: “Seriam para aproximadamente 99 pessoas, mas eles não se sentiram contemplados”, declarou em entrevista a uma emissora de TV.
ATO
A atividade teve início com um cortejo afro que percorreu as ruas do centro de Maceió até a Praça Zumbi dos Palmares. O afoxé Odô Iyá conduziu o batuque afro e destacou a dança-afro, também, tiveram faixas que ressaltavam a indignação: "O povo do axé exige o respeito da Fundação Cultural Palmares" e "Religião de matriz africana é força e resistência da luta de Zumbi".
Na praça esperavam as bandas percussivas Baque Alagoano e Orquestra de Tambores que abrilhantaram ainda mais o “Xirê” (culto aos orixás, realizado em círculo), em baixo de sol forte, que foi acompanhado pelos meios de comunicação do Estado.
A ocasião também foi propícia para a passagem de uma Moção de repúdio aos últimos acontecimentos, que foi assinada pelos presentes, onde solicitava mais respeito.
Dentre as organizações que prestigiaram a celebração, estavam: Fórum de Entidades Negras de Alagoas (Fenal); Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL); Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL; Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro; Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô; Companhia Teatral Mundo Paralelo; Fundação Afonso Arinus.
Confira os depoimentos:
“Precisamos ser fortes, marchar no mesmo caminho e confiar em Olorum (deus da guerra). Pedimos proteção, muita paz e axé. Estamos aqui um por todos e todos por um” – Pai Maciel (O mais antigo Babolorixá de Alagoas)
"Nós não estamos pedindo autorização para subir a Serra não, estamos dizendo que a Serra da Barriga é nossa!" – Amaurício de Jesus (Professor; Fenal; Coordenador do Ponto de Cultura Quilombo Cultural dos Orixás/Casa de Iemanjá)
"Eu fiquei muito triste com as coisas que estão acontecendo, as questões políticas e as decisões impostas. Desde 1993, as atividades também aconteciam aqui (Praça Zumbi dos Palmares - Maceió) e a gente conseguia colocar 400 pessoas nesse espaço. (...) Muitas pessoas do nosso grupo fizeram questão de não subir a Serra esse ano, não nos sentíamos contemplados. Nosso quilombo, também é aqui!" – Wilson Santos (Orquestra de Tambores)
“Todos os anos nós vamos a Serra da Barriga realizamos nossas atividades. Nós dançamos, fazemos nossas oferendas, mas também, precisamos aprender a fazer um ato político-cultural. Nós não somos qualquer um, merecemos respeito! Aonde tiver justiça, Xangô estará com a gente” – Alberto Jorge Ferreira (Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL).
“Qualquer manifestação aqui em Alagoas ou em qualquer outro lugar sobre a importância de Zumbi merece respeito e tem sua relevância. A gente sabe também que ele não é herói apenas de União, é nacional. Maceió não poderia ficar fora da programação e esse momento é de extrema importância, onde não deixamos de dar o nosso grito de axé”. – Benedito Jorge (Integrante da Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro).
“Esse é um momento histórico. Mostra de uma vez por todas que vocês não devem ser tutelados, devem assumir o controle das ações. É um momento único” – Edson Bezerra (Antropólogo e Sociólogo).
"Estou satisfeita pela união e a força de todos nós. Quero dizer uma coisa, Zumbi não está só na Serra não, está aqui entre nós!” – Mãe Mirian (Ialorixá)
domingo, 23 de novembro de 2008
Bahia Afro Film Festival
Imagine All the Afro People
O Bahia Afro Film Festival é um projeto da Casa de Cinema da Bahia, dirigida pelo cineasta Lázaro Faria e tem como principal objetivo divulgar, integrar e promover discussões em torno da produção de cinema e vídeos nacionais e estrangeiros, que tenham o povo afro-descendente como tema principal. O lema do Festival coordenado por Ruybela Carteado é "Imagine All the Afro People", um trocadilho com a letra da música do beatle John Lennon, que numa tradução livre significa "Imagine todos os negros juntos".
Para o presidente da Casa de Cinema da Bahia, Lázaro Faria, a comunidade afro-descendente já merecia - há muito - um festival internacional como este. "É um povo que veio como escravo, despojado de roupas, auto estima e chegou aqui para construir e refazer sua vida. E fizeram isso com uma alegria e uma beleza genial", opina Faria, que já assinou filmes conhecidos internacionalmente, entre eles, Orixás da Bahia, Mandinga em Manhattan e Cidade das Mulheres. Para Faria, Salvador é o lugar certo para um festival de filmes voltado para os afrodescendentes.
Foi aqui que a África foi reiventada, conclui.
Entre as pautas a serem discutidas no Festival destaques para a discussão do processo de profissionalização e crescimento da produção audiovisual na Bahia, a popularização da sétima arte, a formação de público e a promoção do cinema afro como gerador de debates. Estarão entre os sub-temas do evento, assuntos como Raízes e ancestralidade, Sincretismo Cultural, Diáspora Africana e Reparações . O Festival resgatará ainda, a velha ambição de tornar a Bahia, já conhecida mundialmente por sua essência e autenticidade cultural, um pólo internacional do audiovisual.
Para estas, entre outras questões pertinentes a ambiência da produção cinematográfica, serão montados simpósios, palestras, manifestações artísticas e culturais que resgatem e valorizem o cinema afro-descendente. Além disso, um acervo audiovisual será instalado na Casa de Cinema e disponibilizado ao público para mostras e exibições especiais durante todo o ano.
Mais informações: http://www.bahiaafrofilmfestival.com/o-festival
No mês da Consciência Veja ataca Zumbi
sábado, 22 de novembro de 2008
Artistas nacionais agitaram União dos Palmares
Zumbi dos Palmares é lembrado durante entrega da Comenda da Ordem do Mérito dos Palmares
Mãe Neide e Mestre Jacaré no lado esquerdo