sábado, 29 de novembro de 2008

Reggae no Bar de Comunicação


Depoimentos sobre a Cojira-AL

Alberto Jorge (Advogado e Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB/AL):

"Durante a última década pautamos nossas atividades em prol de pessoas que sofrem discriminação, contando sempre com o apoio da imprensa alagoana e a Cojira nasceu para dar voz aos anseios dos movimentos sociais, auxiliando a nossa causa".



Arísia Barros (Professora, publicitária e Gerente Étnico-racial na Secretaria Estadual de Educação e Esporte):

"A informação cojirana é aquela que desvenda as palavras inexploradas, quebra os paradigmas do racismo midiático e agrega valores e símbolos étnicos às informações cotidianas. Em seu primeiro ano a COJIRA já se tornou um valioso instrumento de captação e divulgação dos aspectos identitários positivos da historicidade afro-alagoana. Parabéns aos jornalistas do COJIRA por ressignificar a palavra escrita, legitimando histórias étnico-sociais".



Célio Rodrigues (Babalorixá e historiador):

"Agradeço a Olorum por iluminar os pensamentos dos jornalistas, que trouxeram a Cojira para Maceió. Parabéns por esse primeiro ano de existência, mostrando o movimento negro de forma geral, porque além da luta política existe uma luta religiosa, cultural e acadêmica para a valorização da negritude brasileira e principalmente maceioense".






Clara Suassuna (Historiadora e Coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – Neab/Ufal):

"Assim como os Neabs, organizações que favoreçam as questões étnicas no país vem para somar forças, por isso a Cojira tem sua importância. Temos que respeitar as pessoas, fortalecendo a retratação histórica com as minorias já não é mais uma utopia".



Toinho Pereira (Jornalista; Presidente da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas – Jorgraf/Tribuna Independente):

"Nós da Tribuna Independente temos a honra de dizer que nosso jornal é plural. Buscamos a diversidade, abrindo espaço para todos os segmentos sociais. Foi assim com a Coluna Axé, quando solicitado pelo pessoal da Cojira um espaço para divulgação de notícias vinculadas à luta por igualdade, respeito e contra qualquer tipo de preconceito".





Agradecemos a tod@s pela força!!!

Axé!!!





Carta de Maceió sobre a Promoção da Igualdade

Aos 27 e 28 de novembro de 2008, na cidade de Maceió, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Alagoas, reuniram-se a Comissão Nacional de Promoção da Igualdade, a Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais da OAB/AL e a Sociedade Civil Organizada, no Auditório Pontes de Miranda, no II Seminário Regional de Promoção da Igualdade para o I Seminário Latino Americano onde foram discutidos os seguintes temas: Desenvolvimento da Promoção da Igualdade Racial; violência Doméstica; Promoção do Direitos da pessoa com deficiência; questões indígenas após a Constituição de 1988; Igualdade direito na saúde e na vida e intolerância religiosa. A plenária refletiu a respeito da constitucionalidade das ações afirmativas entendendo a necessidade da manutenção das políticas reparatórias, como forma de combater o racismo e promover a igualdade, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento e a dignidade dos seres humanos, recomendando a inserção nas grades curriculares, como uma das formas de implementar a Lei 10.639/03 , incorporando a capoeira como um instrumento educacional didático pedagógico em toda a rede educacional como estudo da história da África e da cultura afro-brasileira. Ficou pactuado a necessidade da publicação dos instrumentos legais para banir a violência contra as crianças e adolescentes; idoso; homossexuais; mulheres; portadores de deficiência, visando a preservação do direito a saúde e a vida. A plenária entendeu, ainda, que a OAB Nacional deverá promover audiência publica a respeito da valorização de patrimônios históricos e demarcações das terras dos povos indígenas e das populações quilombolas. Ficou definido também, a garantia da tolerância e do respeito às religiões de matrizes africanas, banindo todas as formas de discriminação religiosa, considerando que o Estado Brasileiro é laico nos termos da carta cidadã de 1988. Por fim a presente carta foi lida e aprovada pela plenária que consagrou o texto final.


A Comissão de elaboração


ALBERTO JORGE FERREIRA DOS SANTOS

ELIS LOPES GARCIA

MIRIAM ARAÚJO SOUZA MELO

SHEILA REJANNE CAMELO DA ROCHA

SILVIA CERQUEIRA

MIRANTE CULTURAL - 9ª Edição

O Centro de Estudos e Pesquisas Afro-Alagoano Quilombo em parceria com Fórum de Entidades Negras de Alagoas (FENAL) e Associação Comunitária Cultural e Esportiva Juventude realizaram nesta sexta-feira (28), a 9ª edição do Mirante Cultural – “Um Quilombo Chamado Jacintinho”.

O projeto envolve educação e arte, acontece toda a última sexta-feira do mês, e busca impulsionar os artistas locais, trabalhar a geração de renda e valorizar a cultura afro-alagoana. Já se apresentaram mais de 40 grupos no Mirante Cultural, temos uma média de público de 300 pessoas entre componentes dos grupos, integrantes do Quilombo e a comunidade. O Mirante Cultural vem se consolidando ao longo de suas edições como um espaço de disseminação e integração da cultura popular e afro.

O Grupo Quilombo vem lutando pela requalificação do Mirante Kátia Assunção com o objetivo de transformá-lo em um espaço de fomentação de cultura e lazer. Dentro dessa requalificação visa trabalhar também a mudança do nome de mirante Kátia Assunção para um ícone da luta quilombola, homenageando assim, um símbolo da resistência negra.

Nessa 9ª Edição do MIRANTE CULTURAL, apresentaram-se as seguintes atrações:

BUMBA-MEU-BOI EXCALIBUR
GRUPO TEATRAL MÁSCARAS SOBRE MÁSCARAS
NÚCLEO DE CAPOEIRA

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Seminário aborda políticas afirmativas para as minorias


Por: Emanuelle Oliveira
Jornalista / Integrante da Cojira-AL


As ações e políticas afirmativas e a igualdade racial no mercado de trabalho foram temas debatidos durante o II Seminário Regional de Promoção da Igualdade, que teve início ontem e se estende até hoje (28), no auditório da Ordem dos Advogados (OAB/AL). Promovido pela Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB/AL, o evento foi realizado em várias capitais brasileiras e marca o mês da consciência negra, trazendo também painéis sobre a violência doméstica, a promoção dos direitos da pessoa com deficiência, as questões indígenas, a igualdade de direito na saúde e na vida e a intolerância religiosa.

No primeiro tema, as painelistas Silvia Cerqueira, presidente da Comissão nacional da promoção da igualdade (Cnpir) e da Associação nacional de advogados afrodescendentes da Bahia (Anaad/BA) e Valdice Gomes, presidente do Sindicato dos jornalistas de Alagoas (Sindjornal) e integrante da Comissão de jornalistas pela igualdade racial (Cojira/AL) falaram sobre o preconceito que ainda existe no país e que para elas vai além da questão social. Helcias Pereira, coordenador de cultura do Anajô, foi o presidente de mesa.

A advogada defendeu a política de cotas nas universidades e disse que é preciso promover um debate amplo, porque os negros se sentem envergonhados por serem cotistas. Para ela, essa é uma medida de reparação, que necessita de um maior incentivo do governo, como a distribuição de bolsas de auxílio financeiro, já que muitos estudantes não têm como arcar com xerox e transporte. "Os negros não têm oportunidades como os não-negros, porque herdaram a ausência de cidadania.

Dificilmente os vemos ocupando cargos de chefia e as cotas servem só para garantir o acesso ao ensino superior, porque o rendimento é avaliado da mesma forma e sabemos que no Rio de Janeiro e na Bahia os cotistas se saíram igual ou melhor que os demais, mostrando que são capazes, desde que tenham condições", afirmou Silvia.

Segundo Silvia, as leis não são suficientes para acabar com o racismo, uma vez que apenas em 2001 o governo reconheceu, perante a comunidade internacional, que o Brasil é um país miscigenado e assinou protocolos que são um marco nas políticas afirmativas. Com base no artigo 3°, que diz ser preciso erradicar a pobreza e a desigualdade, combatendo qualquer forma de preconceito, ela justifica as ações inclusivas.

Já a jornalista Valdice Gomes contestou a falta de profissionais negros, principalmente nas redações dos meios de comunicação, porque eles têm o mesmo diploma e apesar de não existir nenhuma determinação que os proíba de trabalhar em televisão, são ignorados por causa de um preconceito implícito. "Apenas 4% dos jornalistas que trabalham em tv pública são negros e a programação desses veículos também não representa a diversidade étnico-cultural do país", reforçou.

"Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprova que a construção do emprego no Brasil começou de forma desigual, porque a imigração européia se deu 30 anos antes da abolição da escravatura, reafirmando a ideologia do braqueamento e a exclusão dos negros. É necessário que todas as categorias abracem a causa, para que as empresas promovam a igualdade também no mercado de trabalho", enfatizou Valdice.

Estiveram presentes ao evento o presidente da OAB/AL, Omar Coelho, o presidente da Comissão de defesa das minorias étnicas e sociais, Alberto Jorge, além de religiosos de matrizes africanas, professores, estudantes e demais membros da sociedade civil.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Parabéns, Cojira-AL!


Por: Helcias Pereira
Coordenador de Cultura do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô e ativista há mais de 20 anos



Ao saber da formação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) no ano passado, fiquei extremamente feliz e cheio de esperança.

Sua existência proporciona uma comunicação sincera e comprometida com a causa afro-brasileira. Constatar que em nosso Estado existe profissionais de comunicação unidos e articulados em torno de objetivos inovadores, é motivo suficiente para acreditar nesta nova etapa de transformação da sociedade através da comunicação.

A Cojira é sem sombra de dúvidas uma alavanca primordial no sentido de efetivar consideravelmente essa nova forma de luta e de organização de um povo, que busca cotidianamente sua dignidade e felicidade.

Parabéns a todos os jornalistas cojiranos e que suas presenças sejam ampliadas e fortalecidas sempre!

Axé!!!


Convite: Missa da Paz


Programação: Seminário da OAB-AL

2° Seminário Regional de Promoção da Igualdade
27 e 28.11 no auditório da OAB-AL


27 de novembro - Quinta-feira

8:30- Solenidade de Abertura
Hino Nacional-Coral da OAB
Hino de Alagoas-Coral da OAB
Discurso de Abertura Dr. Omar Coelho - Presidente da OAB
Discurso do Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais - Dr. Alberto Jorge
Discurso da Presidente da CONPI- Drª. Sílvia Cerqueira
Apresentação da Companhia Teatral Mundo Paralelo

9:30 - 1º Painel: Desenvolvimento da Promoção da Igualdade Racial
Drª. Silvia Cerqueira Advogada: Ações Afirmativas e Políticas de Reparação Racial
Dr. Hermes Juiz de Direito: Aspectos Constitucionais e a Igualdade Racial
Drª. Valdice Gomes - Jornalista: Igualdade Racial no Mercado de Trabalho
Debate: Presidente de Mesa: Dr. Helcias Pereira Secretario de Cultural do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô

14:30 - 2º Painel: Violência Doméstica
Dr. Liercio Pinheiro Psicólogo: Violência Contra a Criança
Drª Irainé Araújo Psicóloga: Violência a Mulher e ao Idoso
Dr. Ivan Bergson Advogado: Aspectos Jurídicos na violência Doméstica
Debate: Presidente de Mesa: Drª. Sônia Lopes Sampaio - Psicóloga

16:10 - 3° Painel - Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência
Drª. Roseane Cavalcante de Freitas (EDEFAL): Evolução Normativa dos Direitos dos portadores de deficiência
Drª Maria Denise Moura Guimarães - Psicóloga: Descriminação existente com relação aos Portadores de transtornos mentais
Debate: Presidente de Mesa: Drª Irainé Araújo - Psicólogo

28 de novembro - sexta-feira

8:30 - 1°Painel: Questões Indígenas após a Constituição de 1988
Dr. Ivan Soares Antropólogo do MPF: Situação Legal dos Índios e suas Garantias
Prof. Jorge Vieira: Povos Indígenas do Nordeste: Da Integração a Afirmação Étnica
Dr. Sávio Almeida - Prof da UFAL: Indigenismo e Política: O Pensamento MARIÁTIGUI Debate: Presidente de Mesa: Sonja Camelo - Psicóloga

10:10 - 2º Painel: Igualdade de Direito na Saúde e na Vida
Dr. Alberto Jorge - Advogado: Direito dos Homossexuais
Drª. Zoelma Lima Sexóloga: Homossexualidade: Uma Questão de Opção ou Orientação? Debate: Presidente de Mesa: Sandra Camelo - Sexóloga

14:30 - 3° Painel: Intolerância Religiosa
Padre Manoel Henrique: Atuação da Igreja Católica no Combate a Intolerância Religiosa
Pastora Odja Santos: A importância de um Núcleo Afro no Contexto Evangélico.
Prof Edson Moreira - Teólogo: Religião de Matriz Africana e o Combate do Preconceito Étnico-Religioso.
Debate: Presidente de Mesa: Helciane Angelica Santos Pereira - Jornalista
16:30 - Discussão, Aprovação e Leitura Solene do Texto Final da Carta de Maceió sobre a Promoção da Igualdade Criação e Posse da Comissão de Suporte à Comissão de Defesa das Menorias Étnicas e Sociais.
Discurso de Encerramento: Sheila Camelo - Advogada - Membro da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade (CONPI)

Projeto: Potencial Capoeira

O Projeto Potencial Capoeira é um projeto que tem como finalidade potencializar, ações de capoeiristas do bairro do jacintinho, através de aulas práticas em duas Escolas uma do Estadual e outra Municipal através de encontros de formação e apresentações tanto na comunidade onde moram quanto em eventos que assim venham a ser convidados.

Até então, o projeto está em sua primeira fase de execução, onde as aulas práticas acontecem durante os finais de semanas, junto às aulas práticas. Também temos aulas teóricas através de leitura de textos, mostras de filmes e documentários que retratam tanto a questão racial quanto outras questões no que se diz respeito ao desenvolvimento do homem na sociedade.

Neste projeto, também como forma de potencializar estes capoeiristas na convivência entre grupo, foi executado no dia 16 de Novembro uma viagem a Serra da Barriga onde todos os participantes do projeto tiveram uma vivência sobre a história da Serra da Barriga.

Por ter nascido e vivido sua saga no estado de Alagoas - Quilombo dos Palmares (hoje União dos Palmares), a importância de Zumbi ultrapassa a questão ideológica, diz respeito, sobretudo à auto-estima de um povo que precisa ser realimentada em bases reais, já que as instituições e a história nos têm relegado às misérias e currais políticos presentes até hoje. E a cultura de descendência africana segue tratada como marginal.

Observamos no contato com grupos de capoeira que, embora a relação do conhecimento corporal de fato se efetiva e evoluem, as matrizes históricas fundamentais à dignidade de nosso povo parece ter sido negligenciada, ou reduzida.
Sendo assim, refletimos e propomos nesse Projeto a atuação do tripé: corporeidade\formação\difusão cultural, possamos contribuir no processo de identidade e recuperação da dignidade da cultura negra entre esses jovens e seus grupos.

Em Maceió acompanho desde o início dois grupos de adolescentes e jovens que tentam por conta própria manter viva a prática da Capoeira.

O primeiro grupo surgiu em 2003, no bairro do Jacintinho e o segundo grupo surgiu no inicio do ano de 2007 no bairro loteamento Terra de Antares. Ambos os bairros tem como características comuns fazerem parte da periferia pobre de Maceió, ter um crescimento geográfico relativamente rápido e desordenado; alto índice populacional composto principalmente por migrantes do interior do Estado que, fugindo muitas vezes da seca e da falta de trabalho buscam na capital melhores condições de vida; precariedade no atendimento dos serviços públicos básicos como saúde, educação, moradia, segurança, lazer... e, ainda, alto índice de violência entre jovens devido, principalmente, a falta de trabalho, perspectiva de vida, gerando, desde cedo muitas vezes, a inclusão no universo das drogas e da criminalidade.
Os grupos de Capoeira que citamos anteriormente iniciados nesses bairros integravam um Projeto de ação cultural desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação, o qual foi finalizado no ano de 2005. Tal projeto não mais foi retomado até a presente data.

Entretanto, os adolescentes tem resistido em manter seus grupo vivos e buscam dentro de suas possibilidades e das possibilidades do Agente Cultural de professor Capoeira e Executor do projeto Denis angola - promover rodas de Capoeira em espaços de tempo que variam de semanalmente a bimensalmente.

Essa disposição nos chama atenção, sobretudo, em razão do sentido que a Capoeira vai tomando na vida dessas pessoas. E mais ainda, como aos poucos, esses adolescentes vão integrando outros dentro do grupo. Enfrentando o desafio da falta ou descontinuidade de projetos governamentais, com ações de resistência e perseverança.

E é aí que vemos a possibilidade de contribuir no sentido de potencializar tais ações desenvolvidas por esses grupos, enfocando, além de uma prática mais regular de suas atividades nos espaços comunitários do bairro (escolas, centros sociais, ruas...) e do apoio logístico aos grupos a ampliação de sua compreensão histórico-filosófica da Capoeira, da construção identitária do povo brasileiro.

O projeto Potencial Capoeira, que tem o financiamento Capoeira Viva que é patrocinado pela Petrobrás, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Informações enviadas pela organização: Prof° Denis Angola
Contatos: denisangola@gmail.com / (82) 8858-6771
http://meumundocapoeira.blogspot.com
http://fotolog.terra.com.br/mirante

Sobre Imprensa Negra

Por: Muniz Sodré
Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro


> A imprensa negra como fator de importância na luta ideológica anti-racista. Mecanismos de preconceito na grande mídia. A imprensa negra nos anos 90 e suas relações com o mercado de consumo.


A partir da década de 80, os pequenos jornais que começaram a aparecer um pouco por toda parte refletiam em geral as linhas ideológicas e emocionais do “Movimento Unificado contra a Discriminação Racial (MNU)”, que pretendia desmontar o mito da democracia racial brasileira e montar estratégias anti-racistas. Esvanecem-se os discursos reivindicativos e pedagógicos, as preocupações com ordenamento familiar e formação profissional, dando lugar a enunciados de denúncia do preconceito de cor, análises da consciência discriminatória, a informações históricas sobre colonialismo e escravatura, a esparsos juízos afirmativos de identidade negra que procuram resgatar os valores políticos das lutas anti-coloniais na África. Ao mesmo tempo, fundam-se em universidades e fora delas centros de estudo em torno da categoria “cultura negra”, que abrange os cultos, os costumes e os jogos afro-brasileiros.

A importância de uma imprensa negra acentua-se quando se leva em consideração, a exemplo de Van Dijk1, que os discursos sociais - manuais escolares, diálogos socializantes (pais/filhos, professores/estudantes), programas de radiodifusão, textos jornalísticos, pronunciamentos parlamentares, etc. - desempenham um papel central tanto na produção quanto na reprodução do preconceito e do racismo. Desses discursos provêm os modelos cognitivos e as atitudes relativos às minorias de qualquer natureza, especialmente os negros na sociedade “clara” do Ocidente.

Como esclarece Van Dijk, o discurso atua nos níveis micro e macro, assim como nos registros da interação e da cognição. A mídia funciona no nível macro com gênero discursivo capaz de catalisar expressões políticas e institucionais sobre as relações interraciais, em geral estruturadas por uma tradição intelectual elitista que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da pele.

A palavra “elitista” não é aqui casual. Sabe-se efetivamente que da influência interativa entre elites de diferentes ordens - grupos de alta renda, ministérios, organizações de trabalho, intelectuais e meios de comunicação de massa - resultam os padrões cognitivos e políticos que orientam os componentes da ação social e do julgamento ético presentes no comportamento racista.

Falar de elite é designar os grupos e as instituições com acesso diferenciado a mecanismos geradores de poder, tais como renda, emprego, educação e força repressiva. São as elites que ocupam, em cada Estado-nacional, sejam as posições de controle direto da mídia, sejam as possibilidades de moldar o seu discurso. Dentro do próprio sistema informativo (jornais, radiodifusão, editoras, agências de publicidade, etc.), constituem-se hoje pequenas elites intelectuais, a que se pode chamar de “logotécnicas”, isto é, especializadas na neo-retórica elaboradora do discurso público.

As elites logotécnicas - editorialistas, articulistas, editores, colunistas, âncoras de tevê, criadores publicitários, artistas, jornalistas especiais - funcionam como filtro e síntese de variadas formas de ação e cognição presentes nas elites econômicas, políticas e culturais coexistentes num contexto social. O racismo ostentado pelas elites tradicionais desde séculos atrás pode ser reproduzido logotecnicamente, de modo mais sutil e eficaz, pelo discurso midiático-popularesco, sem distância crítica do tecido da civilização tecnoeconômica, onde se acha incrustada a discriminação em todos os seus níveis.

Esse racismo aloja-se em novas modalidades institucionais - no sentido dado por Mauss à palavra “instituição”, ou seja, modo de fazer ou de pensar independente do indivíduo. O racismo midiático é, assim, suscitado por fatores da seguinte ordem:

1 - A negação - Do mesmo modo como as elites de hoje rejeitam o racismo doutrinário ou evitam a pecha de “sujeitos da discriminação”, a mídia tende a negar a existência do racismo, a não ser quando este aparece como objeto noticioso, devido à violação flagrante desse ou daquele dispositivo anti-racista ou a episódicos conflitos raciais. De uma maneira geral, porém, as elites logotécnicas, ao contrário das elites identitárias do passado, tendem a considerar “anacrônica” a questão racial, deixando de perceber as suas formas mutantes e assim contribuindo para a reprodução de fenômenos em bases mais extensas.

2 - O recalcamento - Tanto no jornalismo como na indústria cultural em seus diferentes modos de produção, costuma-se recalcar aspectos identitários positivos das manifestações simbólicas de origem negra. Assim é que, quando se fala de vitalismo cultural da música popular brasileira, não se acentua suficientemente a sua proveniência nem o papel tático que tem desempenhado nas relações inter-raciais. O mesmo acontece quando se trata de vultos importantes da História, das artes, da literatura. É freqüente encontrarem-se profissionais competentes da mídia completamente ignorantes no que se diz respeito à História do negro no Brasil ou nas Américas.

3 - A estigmatização - Goffman distingue identidade social virtual (aquela que se atribui ao outro) de identidade social real (conferida por traços efetivamente existentes)2. Na passagem do potencial/virtual ao real/atual, surge o estigma, a marca da desqualificação da diferença, ponto de partida para todo tipo de discriminação, consciente ou não, do outro. Num país de dominação branca, a pele escura tende a tornar-se um estigma. Na verdade, qualquer tipo de diferença (por exemplo, traços faciais distintos, como entre os hutus e os tutsis em Ruanda) pode ser estigmatizado e suscitar juízos de inferioridade sobre o outro.
Com referência ao negro, a mídia, a indústria cultural, constróem identidades virtuais a partir, não só da negação e do recalcamento, mas também de um saber do senso comum alimentado por uma longa tradição ocidental de preconceitos e rejeições. Da identidade virtual nascem estereótipos e as folclorizações em torno de pele escura.

4 - A indiferença profissional - A mídia organiza-se empresarialmente, com motivações de lucro e poder semelhantes às de outras iniciativas industriais. Diferentemente da imprensa tradicional, que podia bater-se por causas públicas ou políticas, a mídia contemporânea pauta-se pelos ditames do comércio e da publicidade, pouco interessados em questões como a discriminação do negro ou de minorias. Os profissionais midiáticos acabam dessensibilizando-se com problemas dessa ordem. Por outro lado, é reduzida a presença de negros nas fileiras profissionais da mídia brasileira. Quando indivíduos de pele escura conseguem empregar-se em redações de jornais ou em estações de televisão, mesmo que possam eventualmente ocupar uma função importante, são destinados a tarefas ditas “de cozinha”, isto é, aquelas que se desempenham nos bastidores do serviço, longe da visibilidade pública3.
Nenhuma verdadeira política anti-racista pode implantar-se num sistema discursivo como o dessa grande mídia. A imprensa negra do passado, percebe-se, era política, ainda que não necessariamente partidária: tratava-se de exprimir os anseios ascensionais ou integracionistas de um grupo social pela cor e pela origem escrava. Era uma imprensa, portanto, impelida pela luta anti-racista, ainda que suas estratégias nem sempre tenham se pautado por posições muito nítidas ou ideologicamente progressistas.

A partir do final dos anos sessenta, com o movimento denominado Black Soul, começou-se a discutir em termos políticos a identidade racial no Brasil, sob a desconfiança e a severa vigilância das autoridades ditatoriais. Desde então, no bojo das tentativas de reorganização da sociedade civil frente ao regime militar, o Movimento Negro emergente - constituído de jovens se não com formação universitária, pelo menos com um discurso diretamente influenciado por disciplinas universitárias, como História, Sociologia, Antropologia, mas igualmente pela propaganda dos movimentos negros norte-americanos - passou a caracterizar-se por tomadas de posição agressivas. Estas eram às vezes excessivamente emocionais ou marcadas pelo ressentimento, uma espécie de doença infantil do anti-racismo.

Pari-passu ao fortalecimento de uma consciência etnicista (afirmativa de identificações positivas com a pele negra) junto a jovens, desenvolveram-se em algumas universidades ou à margem delas, grupos de estudo de assuntos negros. Inexiste aqui regularidade dos Africana Studies nos Estados Unidos, mas não há dúvidas quanto à formação de núcleos de pesquisa e de promoção cultural capazes de catalisarem as atenções (tanto constantes como esparsas) de intelectuais de destaque e, às vezes, de editores e jornalistas, sempre atraídos pelo vigor da singularidade cultural afro-brasileira (cultos, culinária, ritmos, etc.).

Ao mesmo tempo, desde o início dos anos noventa, alguns prefeitos e governadores começaram a instituir “secretarias de assuntos negros”; criou-se no âmbito do Governo Federal a Fundação Palmares, destinada à promoção da cultura afro-brasileira; um negro elegeu-se prefeito de São Paulo, a cidade mais próspera do país. Cidadãos de pele escura começaram a entrar em partidos políticos, tanto de esquerda como de direita. Um grande número de bandas e grupos musicais negros passou a freqüentar os dispositivos da cena pública, sempre com discursos de politização da identidade racial.

Formou-se, assim, uma espécie de base social (clara e escura) para a aceitação da imprensa que viria a implantar-se nos anos noventa, agora sob a égide plena da argumentação mercadológica. Assim é que uma pesquisa realizada em vinte e dois estados brasileiros - “Qual é o pente que te penteia - o perfil do consumidor negro no Brasil”4 - revelava que os negros integrantes de 1,7 milhão de famílias, com alto nível de escolaridade (45% de colegial completo e 34% de superior) completa e renda familiar média pouco acima de dois mil dólares mensais, eram atrativos o suficiente para motivar uma grande variedade de negócios.

Surge aí uma questão: de onde provém tal renda, quando se sabe da proverbial inferioridade econômica dos afro-descendentes no Brasil? Há até mesmo alusões de especialistas a um “racismo sócio-econômico”, que “permite aumentar ou reduzir em qualquer zona de espaço-tempo particular o número dos destinados aos papéis econômicos menos remunerados e gratificantes, segundo as necessidades do momento; engendra e recria constantemente comunidades sociais que condicionam as crianças a desempenhar um papel apropriado (mesmo se evidentemente isso os leva a formas de resistência); e fornece uma base não-meritocrática para justificar a desigualdade”5.

Este é um ponto bastante polêmico. Há pouco mais de duas décadas, Oliveira criticava, num ensaio hoje bastante conhecido6, a hipótese da “redistribuição intermediária”, formulada por M. C. Tavares e J. Serra, segundo a qual a compressão salarial era necessária ao modelo de crescimento econômico vigente na época, para financiar a inversão e redistribuir o superexcedente para as classes médias. Nesta argumentação, o sistema econômico teria algo como um preconceito de classe e de cor, porque só as classes médias e ricas (brancos, em suma) poderiam consumir. Trabalhadores (pretos e mulatos) não poderiam fazê-lo, devido à compressão dos salários, que funcionaria como mecanismo de transferência de renda para as classes médias.

Para Oliveira, a falha da argumentação estava no fato de que a compressão salarial “transfere os ganhos da elevação da mais-valia absoluta e relativa para o pólo de acumulação e não para o consumo”. A renda das classes médias seria uma necessidade da estrutura produtiva em seu sentido global (e não um estado de bem-estar dos favorecidos), já que decorre das exigências técnico-institucionais da nova estrutura industrial e, portanto, das novas ocupações criadas. Isto faria da renda uma exigência objetiva da estrutura produtiva e não um efeito de presumido preconceito de classe ou de cor por parte da acumulação capitalista.

De fato, a acumulação de capital é, em princípio, neutra com relação à cor da pele do agente produtivo. Mas não é absolutamente neutra com respeito aos modelos culturais de incrementação do trabalho e da produtividade ou às múltiplas formas discriminatórias da civilização tecnoeconômica, que se alimentam de uma margem estrutural de pobreza - daí, a hipótese do “racismo sócio-econômico”. No Brasil, como se sabe, aconteceu uma Abolição da Escravatura sem direito ao trabalho, sem reforma agrária e sem uma estrutura político-partidária que reorientasse os conflitos. A mesma matriz social da Colônia reeditou-se no Império, reforçando a segregação, as barreiras sociais. Como a industrialização, cresceu a mobilidade social, acentuada durante o próprio Estado Novo, que ensejou uma mobilidade da clássica organização burocrático-estatal.

É com o Estado Novo que a educação começa a generalizar-se. No Exército Nacional, abrem-se brechas ascensionais para os negros e mulatos7. Mas com exceção da Bahia - onde se desenvolveu até o final dos anos 30 uma pequena burguesia negra -, ocorreu no resto do país uma marginalização progressiva do indivíduos de pele escura, mitigada às vezes por oportunidades advindas da migração interzonal (do Norte para o Sul, principalmente) no período de crescimento das grandes cidades. Hoje, a migração observável é intrazonal (dentro do próprio estado), na medida em que as metrópoles entram em queda livre, assoberbadas pelo excesso populacional, pela deterioração de capitais e serviços, pela baixa taxa de natalidade - em franco contraste com o desenvolvimento de cidades de porte médio, para onde tendem a deslocar-se indústrias nacionais e estrangeiras.

Nessa conjuntura, registra-se o fenômeno crescente de famílias uniparentais (mãe, diversos filhos e diversos pais), assim como o aumento em escala da miséria, devido à estrutura sócio-econômica excludente. No entanto, a existência de mais de um milhão e meio de famílias negras (há cerca de trinta milhões de famílias no país) inseridas em oportunidades de consumo é perfeitamente cabível dentro desse modelo. Desde meados dos anos oitenta, sob o influxo do neoliberalismo sócio-econômico e da inferioridade do emprego diante do crescimento da população economicamente ativa, o setor informal passou a gerar um volume gigantesco de recursos. Isto ajudaria a explicar o aparecimento de emergentes de pele escura na órbita do consumo. Efetivamente, um estudo da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) mostrava em 98 que, de cada cem empregos gerados na América Latina entre 90 e 95, cerca de 84 pertenciam à economia informal.

Além disso, o fenômeno obedece também ao mesmo padrão norte-americano de concentração de renda em alguns setores urbanos antes excluídos (em termos de renda, educação e saúde) do resto. Não ocorre, portanto, uma verdadeira e digna integração sócio econômica dos descendentes de africanos - que constituem a maioria populacional -, mas nos bolsões de renda concentrada facilmente detectável pelo mercado e simulável como “modernização” pela publicidade. Na verdade, os produtos anunciados em Raça são bens semiduráveis de preços acessíveis, barateados pela produção de massas.
Sob uma economia de mercado especulativa, divorciada da vida social ou descomprometida com o fator humano (os governos buscam cada vez mais o puro e simples equilíbrio macroeconômico), confundem-se acúmulo financeiro e instáveis “negócios” com economia realmente produtiva e socialmente integradora. Economistas e sociólogos concordam em que as formas sócio-econômicas de inserção alternativa são limitadas em que é curto o tempo de vida do auto-empreendimento, além disso sem os benefícios da proteção social ao trabalho (previdência, saúde). Por outro lado, à velha valorização do processo educacional (que dentro de uma economia industrialista acenava com um remanejamento real de ocupações na estrutura produtiva) sucede-se o desejo de pura inserção na esfera do consumo.

Fora dessa esfera mercadológica-midiática, continua preocupante a condição social dos afrodescendentes, marcada pela desigualdade nos níveis de renda e acesso a serviços de educação, saúde e habitação. Tanto assim que, ao mesmo tempo em que alguns analistas (jornalistas, burocratas, acadêmicos) anunciavam em tom esperançoso a existência de uma nova “política de raça” na vida brasileira, um amplo estudo divulgado (1997) pela Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontava perspectivas sombrias para descendentes de africanos no Brasil. Mostrava, por exemplo, que era escassa a presença de negros nas universidades de boa qualidade, que a sua representação no Congresso era apenas simbólica e que as pessoas de pele clara ganhavam, em média, duas vezes e meia mais do que as de pele escura. A expectativa de vida tanto de crianças quanto de suas mães negras era igualmente muito menor.

Mas houve mesmo, na verdade, a descoberta pelos publicitários de um filão novo de mercado. Há euforia neste fato, tanto da parte deles quanto, é preciso reconhecer, dos virtuais consumidores, os indivíduos de pele escura. Estrategistas de necessidades (publicitários, técnicos em marketing) costumam orientar-se por uma visão superotimista da realidade histórica, bastante diversa da ideologia crítico-catastrofista do jornalismo tradicional. Na simples exteriorização de sinais de renda podem enxergar uma transformação real das condições de existência e agir em conformidade com tal suposição.

Por sua vez, os consumidores virtualmente emergentes num espaço social onde cor e classe estão imbricados, mesmo sem uma efetiva representatividade política (ou seja, sem acesso ao jogo do poder decisório) podem enxergar nas mudanças de superfície um reposicionamento “ontológico” de sua presença no mundo. Auto-imagem e auto-estima são mobilizadores poderosos do ego - alvo prático da visão publicitária das coisas, sustentada pela ideologia do mercado perfeito e sujeito ao equilíbrio “natural”.
Notas
1. Cf. Dijk, Teun A. Van. Political Discourse and Racism - describing others in western parliaments. Paper for the International Conference on “Others” in Discourse. Toronto, May 6-8, 1993. Ver também do mesmo autor Elites, Rascism and the Press. Paper for the Congress of the International Association of Mass Communication Research (IAMCR), Guarujá, Brasil, August 16-21, 1992.

2. Cf. Goffman, E. Stigmate. Minuit, p. 57.

3. Vale registrar a respeito deste tópico que a rede hegemônica de televisão no Brasil (Rede Globo) vem concedendo há muito tempo espaço para uma repórter negra no vídeo. Há algo aí que se poderia chamar de Know-how norte-americano na gestão da imagem empresarial: reserva-se um lugar único para uma “colored”, à maneira do sistema de quotas, produzindo-se um simulacro profissional de democracia racial.

4. Pesquisa levada a cabo em 1997 pela empresa Grottera Comunicação.

5. Wallerstein, Emmanuel, cit. por Dias, Patrick. Un autre partage. Ed. Erés, Unesco, p.48.

6. Oliveira, Francisco. Crítica da Razão Dualista. In Estudos Cebrap 2, edições Cebrap, 1972.

7. Registram-se inclusive oportunidades de acesso a instrumentos musicais até então vedados a descendentes de africanos. Alguns dos instrumentos de sopro que fariam depois as glórias de grandes músicos negros provinham originariamente das fileiras militares.
Fonte: Lumina - Facom/UFJF - v.1, n.1, p.23-32, jul./dez. 1998 - www.facom.ufjf.br

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cojira-AL comemora o primeiro aniversário com seminário

Por: Helciane Angélica
Jornalista e integrante da Cojira-AL



No dia 24 de novembro de 2007, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) dava um passo importante, instalou oficialmente, o primeiro coletivo do Nordeste voltado para o desenvolvimento de ações sobre as questões étnico-raciais. Assim, deu-se início a trajetória da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-AL). Para comemorar em grande estilo, a entidade realizará nos dias 29 e 30 de novembro, o seminário “200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial”.

O grupo ainda é pequeno, formado por jornalistas e acadêmicos negros e não-negros, comprometidos com a produção de material jornalístico que exalte a cultura afro e os avanços sócio-políticos; divulga as atividades do movimento social negro; além de denunciar irregularidades, casos de racismo e intolerância religiosa.

As ferramentas de trabalho resume-se a este blog com informações de âmbito local e mundial; e a Coluna Axé, publicada todas às terças-feiras na Tribuna Independente, jornal pioneiro na implantação de um espaço com esse recorte étnico no Estado. Porém, os integrantes têm planos para produzir cartilhas, pesquisas e livros sobre a temática.

Para a realização do evento, os organizadores contam com o apoio do Cesmac, Algás, Fundação Cultural Palmares, Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), Federação das Indústrias de Alagoas, Secretaria Estadual de Saúde e o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô (entidade do movimento negro alagoano).

Programação

As atividades serão iniciadas a partir das 8h, com o credenciamento e o acolhimento afro no Teatro Linda Mascarenhas, localizado no bairro do Farol em Maceió. Após a abertura oficial, começam as exposições de temas importantes, que foram divididos em painéis e desencadearão ricos debates.

No primeiro painel que possui o nome do evento, subdivide-se em dois perfis: “Aspectos históricos e a importância da mídia étnico-racial” e “Estética negra, auto-estima e o papel da Imprensa”, respectivamente, ministrados por: Nelson Inocêncio (Jornalista e Professor de Comunicação na UnB) e Ana Claudia Laurindo (Cientista Social e Mestra em Educação na Ufal).

Após um pequeno intervalo, terá o painel II com o tema: “Mídia e conjuntura afro-brasileira”, também dividido em dois perfis: “Mídia e Religiosidade Afro” que terá as explicações da ialorixá Neide Martins (Grupo União Espírita Santa Bárbara - Guesb), e também, outro tema polêmico “Políticas de Ações Afirmativas, Leis de combate ao racismo e intolerância”, conduzido pelo advogado Alberto Jorge Ferreira (Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL).

No período da tarde, acontecerá um almoço e o momento de confraternização no Bar da Comunicação Afro-Cultural na sede do Sindjornal. Também terá cerveja a preço promocional, no valor de R$ 1,00 (um real). Para abrilhantar a festa, a banda de reggae Civilização Roots interpretará músicas próprias e os sucessos de Bob Marley, Tribo de Jah e Edson Gomes.

Para enriquecer a programação do seminário, no domingo (30) acontecerá uma visita étnico-cultural na Serra da Barriga em União dos Palmares. O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô foi convidado para repassar as explanações históricas sobre a importância do maior quilombo do mundo (lideranças quilombolas, herança-cultural, organização sócio-política e militar); serão realizadas trilhas e dinâmicas de relaxamento; além de levar o grupo para conferir a realidade da comunidade remanescente de quilombo Muquém. Serão disponibilizados dois micro-ônibus que sairão da Casa da Comunicação/Sindjornal às 8h, e o retorno à Maceió está programado para às 15h. As vagas são limitadas e destinadas para os jornalistas que participarem de todo o evento.

Representatividade

O tratamento dado pela mídia à população afro-descendente tem se caracterizado pela invisibilidade e pela manutenção de estereótipos. Reverter este quadro é papel dos jornalistas comprometidos com o interesse público e com a democratização dos meios de comunicação.

Recentemente, foi implantada a Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conjira), órgão consultivo de assessoramento da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), que congrega todos os 06 (seis) coletivos no Brasil que trabalham as questões étnico-raciais no movimento sindical de jornalistas: o Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul e as Cojiras do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Alagoas e Bahia.

Aos poucos, os coletivos enfrentam os obstáculos e ampliam suas ações, com o fortalecimento de produtos midiáticos (entrevistas, artigos, fotos, reportagens) durante o ano inteiro e não apenas nas datas nacionalmente conhecidas (13 de maio e 20 de novembro); realizam seminários e debates sobre a conjuntura da população afro-descendente; investem na publicação de livros, pesquisas e outros. O próximo passo será a execução do I Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial em 2009, as discussões já começaram, e tem tudo para ser um sucesso.


Serviços

Seminário: “200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial”
Dias: 29 e 30 de novembro
Local: Palestras – Teatro Linda Mascarenhas
Bar da Comunicação – Sindjornal
Visita étnica - Serra da Barriga/ União dos Palmares
Inscrições gratuitas na sede do Sindjornal (Rua Sargento Jaime, 370, Prado -esquina com a Av. Assis Chateaubriand) ou pelo telefone: (82) 3326-9168

Missa da Paz e recorte étnico

A sociedade civil alagoana está sendo convidada a prestigiar a Missa da Paz no dia 27, às 18h, na Catedral Metropolitana de Maceió. Realizada toda última quinta-feira do mês, desta vez, abordará um tema especial: “Juntos pela paz e pela vida! Pelo respeito às diferenças”, além de integrar as celebrações do mês da consciência negra. Participe!!!

OAB/AL promove encontro sobre Promoção de Igualdade



Nos próximos dias 27 e 28 de novembro, acontece, no auditório da OAB Alagoas, o 2° Seminário Regional de Promoção da Igualdade. O evento é uma iniciativa da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O encontro será uma etapa preparatória para o Seminário Latino Americano de Promoção da Igualdade e tem por objetivo discutir temas relacionados à inclusão social e promoção da igualdade na sociedade.

A abertura do evento vai contar com a presença do presidente da OAB/AL Omar Coelho de Melo, da presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igual do Conselho Federal da OAB, Sílvia Cerqueira e do presidente da Comissão de Defesa das Minorias Alberto Jorge. A programação dos dois dias se estende com mesas temáticas sobre os direitos das crianças, GLBTS, portadores de necessidades especiais, negros, mulheres, índios e idosos. A expectativa é encerrar o evento com a formação da Comissão de Suporte à Defesa das Minorias Étnicas e Sociais.

Segundo a advogada Sheila Camelo, que integra a CONPI, o seminário é uma oportunidade especial de crescimento coletivo e individual. Ela explicou que o encontro é uma prévia do evento internacional que será realizado em Salvador (BA). “Queremos promover mudanças na sociedade. A nossa finalidade é tentar diminuir as desigualdades com o apoio desses movimentos”, afirmou. No final do encontro será redigido o texto da Carta de Maceió sobre a Promoção da Igualdade.

O evento está com inscrições abertas na sede da OAB. Para participar é necessário um quilo de alimento não perecível. O que for arrecadado será doado a Comunidade Nova Jericó que funciona em Marechal Deodoro e atua no tratamento de dependentes químicos. Mais informações pelo 9997-9289.

Fonte: http://www.oab-al.org.br/noticias.php?in=index&nid=2222

Teotonio e ministro Edson Santos, da Igualdade Racial, encerram programação de Zumbi

Os dois, juntamente com outras autoridades visitaram sábado a Serra da Barriga, palco das homenagens do Dia da Consciência Negra


O governador Teotonio Vilela Filho, acompanhado do ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, e de secretários de Estado, esteve, neste sábado, na Serra da Barriga, localizada no município de União dos Palmares para o encerramento das atividades do Dia da Consciência Negra. Na ocasião, Teotonio afirmou que tem trabalhado em conjunto com o governo federal e municipal para que a Serra da Barriga — onde foi construído o Parque Memorial Zumbi dos Palmares — possa ter, em um futuro próximo, condições de se tornar roteiro turístico do Estado.

“Precisamos trabalhar em conjunto, de mãos dadas, para que o mundo possa ter acesso a esse local. Temos uma agenda de trabalho para dar seqüência ao que vem sendo feito aqui”, afirmou o governador.

Entre as ações prioritárias para que o Parque Memorial Zumbi dos Palmares passe a funcionar todos os meses do ano está a pavimentação da pista de acesso a Serra da Barriga, já que no inverno o local fica praticamente inacessível. Pensando nisso, Teotonio afirmou que tem buscado a ajuda do ministro Edson Santos e que pretende procurar a bancada federal e, se necessário, até o presidente Lula para que a verba para a obra de pavimentação possa ser liberada o mais rápido possível.

“Vamos trabalhar para que a verba venha o mais rápido possível. O governo do Estado não tem condições de fazer sozinho, precisamos do apoio do governo federal”, destacou o governador.

O ministro Edson Santos falou sobre a importância do local na história do país e destacou a necessidade de fazer com que as visitas ao Parque Memorial deixem de ser sazonais. “Esse é o patrimônio do nosso povo, um símbolo de luta que precisa ser conhecido. Uma certeza que temos ao nascer é o fato de que vamos morrer, mas existem figuras que são especiais e nascem duas vezes, Zumbi é um deles. A morte dele inaugurou uma nova vida. Ele e Tiradentes são os grandes heróis da nossa pátria”, afirmou.

Para o secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas, a Serra da Barriga é um local sagrado, que simboliza a luta pela liberdade. Ele destacou a importância da união entre as esferas federal, estadual e municipal, no intuito de fazer com o local seja difundido. “Esse projeto da pavimentação da pista de acesso a Serra é essencial para que o local possa se tornar um espaço de inclusão”, falou.

O presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo, aproveitou a oportunidade para prestar contas do que foi feito no Parque Memorial Zumbi dos Palmares durante esse ano de funcionamento. Entre outras coisas, ele citou a contratação de 18 novos servidores — 12 para fazer a segurança e 6 para limpeza e conservação do local - e a realização de oficinas de trabalho que envolveram cerca de 250 jovens.

O prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas, se mostrou satisfeito com as festividades deste ano, alusivas ao Dia da Consciência Negra na Serra da Barriga, e pediu ao ministro Edson Santos e ao governador Teotonio Vilela Filho uma atenção especial para a única comunidade quilombola do município, a de Muquém. “Nós temos uma comunidade quilombola aqui em União que também precisa ter a pista de acesso melhorada, pois a maioria das pessoas que vem conhecer a Serra da Barriga também passam pela comunidade. Lá o investimento é bem menor, pois são apenas 1,5 km de estrada”, disse.

Ao chegar a Serra da Barriga, o governador e o ministro Edson Santos foram recepcionados por um grupo de Afoxé Odô Iyá. Em seguida, o herói nacional Zumbi dos Palmares foi homenageado, tendo uma coroa de flores colocada em sua estátua construída na Serra da Barriga.

Também participaram da visita á Serra neste sábado a secretária de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Wedna Miranda, o secretário do Gabinete Militar, coronel Ronaldo dos Santos, o presidente do comitê gestor do Parque Memorial, Zezito Araújo, e Mãe Neide, do Grupo União Espírita Santa Bárbara.

Fonte: Agência Alagoas
Correção: O nome do complexo arquitetônio é Parque Memorial Quilombo dos Palmares, e não Zumbi como foi publicado no site.

Flor de Manacá - 2ª edição


Por: Helciane Angélica
Jornalista / Integrante da Cojira-AL


No último sábado (22), foi lançada a 2ª edição da revista "Flor de Manacá", desta vez, prestou uma homenagem as mulheres negras. A iniciativa foi do núcleo de gênero em parceria com a Pastoral da Negritude, ambas da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió.

A solenidade foi realizada durante à noite na própria Igreja, após um dia inteiro de debates no encontro estratégico sobre “Bíblia na ótica da Teologia Negra”, que contou com as explanações de Adriana Amorim – integrante do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi-BA).

Essa instituição evangélica segue uma linha progressista na sua essência, promove ações sobre as minorias étnico-sociais e o diálogo inter-religioso, além de estimular a reflexão de seus fiéis. Mais informações: (82) 9119-5730 /8814-6084 / pastoraldanegritudeibp@yahoo.com.br.

ARTIGO: O negro no poder


Por: Emanuelle Oliveira
Jornalista / Integrante da Cojira-AL

No 20 de novembro comemoramos o dia nacional da consciência negra, data histórica, principalmente para os alagoanos, já que ela marca a morte do líder negro, Zumbi - que lutou pela liberdade no quilombo da cidade de União dos Palmares, para onde os escravos fugidos iam. Sua guerra era justa e foi capaz de despertar a ira dos poderosos da capitania de Pernambuco, que expuseram sua cabeça em uma praça, achando que eram vitoriosos.

Hoje, representamos 50% da população brasileira, ou seja, são 90 milhões de negros e pardos e depois de tanto tempo a batalha ainda é travada dia-a-dia e o legado do guerreiro mantém viva a esperança daqueles que querem ser libertos, não mais dos grilhões supostamente quebrados pela lei áurea, mas do preconceito e da desigualdade que enfrentam em pleno século XXI.

Os quilombolas vivem hoje, só que em novos rostos e sob diferentes formas de opressão. Alguns têm pele escura e olhos azuis – fruto da miscigenação – e também a cara da fome e da desilusão. Continuam fragilizados e parece impossível devolver o que lhes fora roubado, tamanha é a dívida que a humanidade tem para com eles.

Mesmo depois de libertos os negros não tinham emprego, já que acreditavam que eles não eram qualificados para a nova forma de trabalho. Logo, foram facilmente substituídos por europeus, a população estava se multiplicando e queriam um país embranquecido. Como se enganaram, fizeram nascer um país de tantas cores e culturas, capazes de alimentar o desejo de dias melhores.

"Um negro a serviço dos brancos" é o que dizem a respeito do presidente recentemente eleito nos Estados Unidos (Eua), Barack Obama, que desbancou o candidato republicano, John Mackenzie, um branco bem sucedido, estereótipo de um presidente digno para uma potência mundial.

Obama dá vida à utopia de ter um negro no poder, já que a cor da sua pele lembra uma luta que está para além da política. Como seria possível elegê-lo, em um país massivamente racista, berço de organizações como o Ku Klux Klan? A ascensão do presidente mostra que a igualdade de direitos que nos foi roubada já está para além do sonho. Será que se Martin Luther King estivesse aqui acreditaria que a mentalidade sobre a questão racial mudou?

No entanto, ainda estamos nas periferias e favelas - senzalas da vida contemporânea - sem emprego, educação, saneamento e dignidade. Não somos coitadinhos e sim injustiçados, por isso me pergunto se existe diferença entre um negro pobre e um negro rico e descubro que a questão é mais complexa do que a falta de igualdade nas oportunidades.

Qualquer negro que chega ao poder – nas suas inúmeras variações - é cruelmente criticado, logo acusado de prestar serviços aos que antes lhes escravizavam, e por que não teria legitimidade para tomar suas próprias decisões?

Independente da classe social e do lugar que ocupa, somos vistos com indiferença, que toma forma até em brincadeiras despretensiosas e não importa se estamos falando de um morador de rua, de um ídolo de futebol ou do ministro da cultura.

Até na gramática e nas cores percebemos as contradições entre o preto e o branco. Afinal, por que a magia ruim é a negra? Por que uma desgraça engraçada é humor negro? Por que o gato preto dá azar?Por que o branco é paz e o negro é morte? Por que dia de trabalho é dia de branco?Qual o racista que determinou essas coisas?

Esses detalhes estão implícitos em nossa cultura - embora ela seja tão misturada - e ás vezes eles vêm à tona, devido à hipocrisia cultivada há anos e ainda regada nos dias de hoje, que culminou com a destituição de reinos africanos, em nome do desenvolvimento de outras terras.

Procuram remediar o problema mostrando o negro de relance e falando dele nas estrelinhas, como se até hoje não fosse vítima da desigualdade. Nas novelas continuamos na cozinha, limitados a servir os brancos e nos programas de tv nunca somos apresentadores. As crianças não querem bonecas negras porque são estranhas e o branco já é a cor predominante.

Dão asas à idéia de que os negros são feios e até eles nutrem essa premissa, não se identificam com o que é tido como belo, quando na verdade são apenas diferentes, lindos e cheios de graça em suas características.

O fato é que o negro só é bonito em seus guetos, como no carnaval de Salvador e do Rio de Janeiro, que exibe nas escolas de samba belas mulatas. Músicas afro são lindas apenas em terreiros de macumba e em rodas de capoeira – Criada pelos africanos e praticada por gente de todo o mundo – a religião foi usurpada pela igreja e passou a ser coisa do demônio, mas para quê besta maior do que aquela que abusa de crianças?


A instrução dada por alguns pais influi na liberdade de pensamento dos pequenos, reproduzindo costumes racistas, já que para mim, a questão está diretamente ligada à educação. Porém, não dá para acreditar que quanto mais instruída, menos preconceituosa uma pessoa será.

Ninguém admite que tem preconceito, isso não é coisa para se dizer publicamente, só que basta ver alguém usando dread lock ou qualquer outro penteado afro e até um médico ou advogado "de cor" para que ele se manifeste. Se hoje os negros vão á escola e se profissionalizam, antes os homens só faziam serviços braçais e as mulheres serviam para satisfazer os desejos dos senhores de engenho, que as engravidavam e vendiam seus próprios filhos.

Temos sim muito a comemorar, porque a cada ano a esperança se renova, lembrando que a luta dos quilombolas de Palmares não foi em vão. Mas, é preciso saber que o 20 de novembro não deve ser visto apenas como um marco da negritude, e sim, como uma reflexão para cada pessoa, já que é ao longo dos dias e com a ajuda de todos que a história deve ser reescrita. Existirá um lugar onde não haverá distinção entre negros e brancos, pois lá existirão seres humanos, independente da cor da sua pele, porque o espírito é transparente.

Ministro da Seppir discursa em rede nacional

Por: Helciane Angélica
Jornalista / Integrante da Cojira-AL



Edson Santos, Ministro-Chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), diante da importância do dia 20 de novembro ressaltou os avanços para a população afro-descendente em rede nacional.

Foram 3 minutos e 25 segundos com palavras otimistas em pleno horário nobre, bem diferente do ano passado onde não se ouviu nem um “Feliz Dia da Consciência Negra!” de qualquer autoridade do Governo Federal.

A data não referencia só os negros, como muitos ainda insistem em falar “Festa dos Negros”. Trata-se de um momento para a reflexão e celebrações, onde todos os brasileiros deveriam participar independente, de cor, credo, gênero e condições sociais. Também serve para recordar as histórias de lutas e principalmente avaliar as ações desenvolvidas.

O ministro está de parabéns pela iniciativa e esperamos que novos avanços sejam adquiridos, para que no próximo ano tenhamos mais orgulho desta data.


Veja na íntegra o discurso transmitido na última quinta-feira:


“Boa noite!

Hoje é o dia da consciência negra, uma data para reflexão de todos nós brasileiros. Durante o período da escravidão, os negros resistiram de diversas formas nas muitas revoltas, fugas e com a formação de quilombos em várias partes do país. Assim surgiu o Quilombo das Palmares e o seu sonho de liberdade, que teve como principal líder Zumbi.

O exemplo de Zumbi morto em 20 de novembro de 1695, despertou a consciência de que era preciso lutar contra a escravidão. Veio a abolição, o Brasil mudou, mas os negros continuaram em situação de desigualdade. Donos de sua liberdade, mas privados do acesso a terra, a educação e não atingiram a plena cidadania. Mesmo assim, continuaram ajudando a construir o Brasil com o seu trabalho e uma rica contribuição à nossa cultura.

Atualmente, o Governo Federal investe em políticas públicas para promover a igualdade racial. A educação é o melhor instrumento para transformar a realidade da juventude negra nas favelas e nas periferias das grandes cidades. A falta de oportunidade leva muitos jovens a uma vida violenta e curta.

É muito raro, por exemplo, encontrarmos médicos negros ou negros em posição de chefia nas empresas. No entanto, a polícia de cotas e o PROUNI tornam possível o acesso de milhares de jovens negros e carentes à Universidade.

Em breve, essa nova geração terá a oportunidade de alcançar posições de destaque no mercado de trabalho. A gradual implantação do ensino de História da África e a revisão da História Brasileira inserindo o papel do negro na formação do nosso país será outro grande avanço. Dessa forma combatemos o racismo, fazemos com que haja o respeito à diversidade e tornamos a escola mais identificada pelos alunos negros.

Avançamos também na proteção contra a intolerância que atingem as religiões de matrizes africanas, como a Umbanda e o candomblé. E através da Agenda Social Quilombola, quase 2.000 comunidades remanescentes de quilombo são atendidas com serviços essenciais como saneamento e energia elétrica. O Governo Federal promove também ações para desenvolver economicamente as comunidades, de forma sustentável e adequada as suas tradições.

Todas essas medidas estão sendo aplicadas a partir do diálogo entre o Poder Público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada. Com cada um fazendo a sua parte, já é possível enxergar em dias futuros, um país livre do racismo e da discriminação racial em que a qualidade de vida e as oportunidades sejam iguais para qualquer brasileiro.

Afinal, um país sem desigualdade é um país melhor para todos!

Boa noite!”

Ato político-cultural e religioso marca 20 de novembro em Alagoas

Por: Helciane Angélica
Jornalista / Integrante da Cojira-AL



Cerca de 200 religiosos de matriz africana oriundos de 80 casas de axé de várias matrizes (Nagô, Gêgê, Umbanda, Geto e Xambá), além de ativistas de vários segmentos afros participaram de um ato político-cultural e religioso no centro de Maceió. A manifestação era contra o descaso dos governos Estadual e Federal, que não disponibilizaram recursos para as atividades artístico-culturais na capital alagoana.

Outra pauta de reivindicação foi a ausência de apoio para o ritual religioso de suma importância que acontece tradicionalmente na madrugada do dia 20 de novembro na Serra da Barriga. O "Axexê", oferenda aos orixás e homenagens aos ancestrais, o qual reverencia os quilombolas mortos em nome da liberdade, abre os caminhos, traz boas energias e purifica a subida até o palco da resistência negra.

Durante muitos anos, o ritual sagrado era conduzido por babalorixás e ialorixás da Bahia, e com a organização das Casas de Axé em Alagoas, foi assumido religiosos alagoanos. A cerimônia que tradicionalmente faz parte da programação foi abortada, porque as promessas com a garantia do translado, a compra dos objetos e alimentos para as oferendas não foram cumpridas até a véspera do ritual.

Segundo Maurício Reis, Diretor de Patrimônio da Fundação Cultural Palmares, a instituição não pôde atender tudo que havia sido solicitado, mas foi ofertada uma contra-proposta. “Nós disponibilizamos transporte e alimentação. O quantitativo que eles queriam eram para 300 pessoas e dentro de nossas possibilidades, nós não tínhamos recursos para isso”. A FCP sugeriu uma quantidade menor: “Seriam para aproximadamente 99 pessoas, mas eles não se sentiram contemplados”, declarou em entrevista a uma emissora de TV.


ATO

A atividade teve início com um cortejo afro que percorreu as ruas do centro de Maceió até a Praça Zumbi dos Palmares. O afoxé Odô Iyá conduziu o batuque afro e destacou a dança-afro, também, tiveram faixas que ressaltavam a indignação: "O povo do axé exige o respeito da Fundação Cultural Palmares" e "Religião de matriz africana é força e resistência da luta de Zumbi".

Na praça esperavam as bandas percussivas Baque Alagoano e Orquestra de Tambores que abrilhantaram ainda mais o “Xirê” (culto aos orixás, realizado em círculo), em baixo de sol forte, que foi acompanhado pelos meios de comunicação do Estado.

A ocasião também foi propícia para a passagem de uma Moção de repúdio aos últimos acontecimentos, que foi assinada pelos presentes, onde solicitava mais respeito.

Dentre as organizações que prestigiaram a celebração, estavam: Fórum de Entidades Negras de Alagoas (Fenal); Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL); Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL; Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro; Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô; Companhia Teatral Mundo Paralelo; Fundação Afonso Arinus.


Confira os depoimentos:

“Precisamos ser fortes, marchar no mesmo caminho e confiar em Olorum (deus da guerra). Pedimos proteção, muita paz e axé. Estamos aqui um por todos e todos por um”Pai Maciel (O mais antigo Babolorixá de Alagoas)

"Nós não estamos pedindo autorização para subir a Serra não, estamos dizendo que a Serra da Barriga é nossa!"Amaurício de Jesus (Professor; Fenal; Coordenador do Ponto de Cultura Quilombo Cultural dos Orixás/Casa de Iemanjá)

"Eu fiquei muito triste com as coisas que estão acontecendo, as questões políticas e as decisões impostas. Desde 1993, as atividades também aconteciam aqui (Praça Zumbi dos Palmares - Maceió) e a gente conseguia colocar 400 pessoas nesse espaço. (...) Muitas pessoas do nosso grupo fizeram questão de não subir a Serra esse ano, não nos sentíamos contemplados. Nosso quilombo, também é aqui!"Wilson Santos (Orquestra de Tambores)

“Todos os anos nós vamos a Serra da Barriga realizamos nossas atividades. Nós dançamos, fazemos nossas oferendas, mas também, precisamos aprender a fazer um ato político-cultural. Nós não somos qualquer um, merecemos respeito! Aonde tiver justiça, Xangô estará com a gente”Alberto Jorge Ferreira (Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL).

“Qualquer manifestação aqui em Alagoas ou em qualquer outro lugar sobre a importância de Zumbi merece respeito e tem sua relevância. A gente sabe também que ele não é herói apenas de União, é nacional. Maceió não poderia ficar fora da programação e esse momento é de extrema importância, onde não deixamos de dar o nosso grito de axé”.Benedito Jorge (Integrante da Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro).

“Esse é um momento histórico. Mostra de uma vez por todas que vocês não devem ser tutelados, devem assumir o controle das ações. É um momento único”Edson Bezerra (Antropólogo e Sociólogo).

"Estou satisfeita pela união e a força de todos nós. Quero dizer uma coisa, Zumbi não está só na Serra não, está aqui entre nós!”Mãe Mirian (Ialorixá)

domingo, 23 de novembro de 2008

Bahia Afro Film Festival

Salvador (BA) - 18 a 27 de novembro
O Festival
Luz, câmera, ação. Salvador já está pronta para receber o Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, que será realizado em novembro de 2008, de 18 a 27 - na semana em que comemoramos o dia Nacional da Consiciência Negra, dia 20, criado em homenagem ao grande herói Zumbi dos Palmares e data mais importante para o calendário afro-descendente no Brasil.

Imagine All the Afro People

O Bahia Afro Film Festival é um projeto da Casa de Cinema da Bahia, dirigida pelo cineasta Lázaro Faria e tem como principal objetivo divulgar, integrar e promover discussões em torno da produção de cinema e vídeos nacionais e estrangeiros, que tenham o povo afro-descendente como tema principal. O lema do Festival coordenado por Ruybela Carteado é "Imagine All the Afro People", um trocadilho com a letra da música do beatle John Lennon, que numa tradução livre significa "Imagine todos os negros juntos".

Para o presidente da Casa de Cinema da Bahia, Lázaro Faria, a comunidade afro-descendente já merecia - há muito - um festival internacional como este. "É um povo que veio como escravo, despojado de roupas, auto estima e chegou aqui para construir e refazer sua vida. E fizeram isso com uma alegria e uma beleza genial", opina Faria, que já assinou filmes conhecidos internacionalmente, entre eles, Orixás da Bahia, Mandinga em Manhattan e Cidade das Mulheres. Para Faria, Salvador é o lugar certo para um festival de filmes voltado para os afrodescendentes.

Foi aqui que a África foi reiventada, conclui.

Entre as pautas a serem discutidas no Festival destaques para a discussão do processo de profissionalização e crescimento da produção audiovisual na Bahia, a popularização da sétima arte, a formação de público e a promoção do cinema afro como gerador de debates. Estarão entre os sub-temas do evento, assuntos como Raízes e ancestralidade, Sincretismo Cultural, Diáspora Africana e Reparações . O Festival resgatará ainda, a velha ambição de tornar a Bahia, já conhecida mundialmente por sua essência e autenticidade cultural, um pólo internacional do audiovisual.

Para estas, entre outras questões pertinentes a ambiência da produção cinematográfica, serão montados simpósios, palestras, manifestações artísticas e culturais que resgatem e valorizem o cinema afro-descendente. Além disso, um acervo audiovisual será instalado na Casa de Cinema e disponibilizado ao público para mostras e exibições especiais durante todo o ano.

No mês da Consciência Veja ataca Zumbi

A revista Veja, da Editora Abril, conhecida pela campanha sistemática contra as ações afirmativas e as cotas para negros e indígenas, assumiu uma nova bandeira: desconstruir a imagem de Zumbi dos Palmares, morto pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, no dia 20 de novembro de 1.695.

Em matéria de duas páginas na edição 2087 – nº 46, de 19 de novembro, assinada pelo jornalista Leandro Narloch, com o título de “O enigma de Zumbi”, a Revista se refere a estudos recentes para afirmar que ele próprio pode ter sido dono de escravos no quilombo dos Palmares e aponta distorções nos livros didáticos sobre Palmares. “Muito do que se conta sobre sua atuação à frente do quilombo é incompatível com as circunstâncias históricas da época”, afirma Narloch.

Veja também cita os historiadores Ronaldo Vainfas, professor da Universidade Federal Fluminense, e autor do dicionário do Brasil Colonial, e Manolo Florentino, da UFJR – o mesmo que disse na semana passada no Caderno “Mais” da Folha que o presidente eleito dos EUA Barack Obama não é negro, mas mulato – tese defendida pelo pastor protestante e diretor da Ku Klux Klan, Thomas Robb, para quem Obama é “só metade negro”.

“É uma mistificação dizer que havia igualdade em Palmares. Zumbi e os grandes generais do quilombo lutavam contra a escravidão de si próprios, mas também possuíam escravos”, diz Vainfas, acrescentando não fazer muito sentido falar em igualdade e liberdade numa sociedade do século XVII, porque, nessa época esses conceitos não estavam consolidados entre os europeus e nas culturas africanas muito menos.

Florentino acrescenta que não “não se sabe a proporção de escravos que serviam os quilombolas, mas é muito natural que eles tenham existido já que a escravidão era um costume fortíssimo na cultura da África”.

A possibilidade de ter havido a prática da escravidão no Quilombo costumeira e habitual tanto na África quanto na Europa, conforme admitem ambos, não é desconhecida de historiadores como Clóvis Moura, que no livro “Rebeliões da Senzala”, na página 187, da LECH – Livraria Editoria Ciências Humanas Ltda. conta. “Os que vinham forçados eram transformados em escravos que trabalhavam na agricultura. Assim se foi desenvolvendo o escravismo dentro da própria “república”, em conseqüência do desenvolvimento das atividades agrícolas”.

O objetivo da Veja, porém, ao tentar tirar o tema do contexto, em pleno Mês da Consciência Negra, quando são lembrados os 313 anos do assassinato de Zumbi – “negro de singular valor, grande ânimo e constância rara”, como é descrito por todos os historiadores, só pode ter um objetivo: desconstruir a imagem de um guerreiro do povo negro e brasileiro e a importância de Palmares – que durante quase 100 anos – abalou os alicerces da ordem senhorial escravocrata e ainda hoje é sinônimo de Liberdade.


sábado, 22 de novembro de 2008

Artistas nacionais agitaram União dos Palmares

Sandra de Sá e Margareth Menezes

A programação celebrativa da semana da consciência negra em Alagoas iniciou no dia 15 de novembro e se estenderá até o dia 03 de dezembro. A maior parte das atividades foram destinadas ao município de União dos Palmares, distante 83 km da capital alagoana.

Dentre as atividades, destacaram-se: oficinas, rodas de capoeira, teatro, hip-hop, seminários com temas diversos, além de shows com artistas locais e atrações nacionais como Margareth Menezes, Adão Negro e Sandra de Sá.

Houve também uma salva de tiros, seguida da colocação de coroa de flores no Monumento a Zumbi, além dos pronunciamentos das autoridades presentes.

Segundo Zezito Araújo, secretário do Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, “a comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra em União dos Palmares é uma grande oportunidade para promover o resgate cultural do nosso povo e de elevar a auto-estima coletiva do município. Alagoas é o único estado brasileiro que tem dois representantes heróicos no Livro do Tombo, do governo federal: Zumbi dos Palmares e o Marechal Deodoro. E isso tem de ser motivo de grande orgulho para todos os alagoanos”, afirmou.

Este ano, foi a Prefeitura de União dos Palmares que conduziu o processo das comemorações realizadas na região durante a semana da Consciência Negra. “O Dia Nacional da Consciência Negra se tornou uma boa oportunidade de geração de renda para o município. Contudo, queremos aproveitar melhor esse potencial estruturando um roteiro turístico para a região que já atrai inúmeros visitantes interessados em desvendar a história do Quilombo e de Zumbi dos Palmares”, declarou o prefeito Areski Freitas.

Com informações da Agência Alagoas.

Zumbi dos Palmares é lembrado durante entrega da Comenda da Ordem do Mérito dos Palmares

Comenda Ordem do Mérito dos Palmares homenageou dez pessoas que atuam no desenvolvimento socioeconômico e cultural de Alagoas



Mônica Lima



O governador Teotonio Vilela entregou, nesta quarta-feira, a Comenda Ordem do Mérito dos Palmares para dez pessoas que atuam no desenvolvimento socioeconômico e cultural de Alagoas. Os nomes foram selecionados por uma comissão definida pelo Conselho Estadual de Cultura. O evento, realizado nos jardins do Palácio Marechal Floriano Peixoto, contou com a participação de diversas autoridades, secretários de Estado, entre outros.

O líder do maior quilombo dos Palmares, Zumbi, foi lembrado nos discursos dos homenageados, a exemplo do ministro do Tribunal de Contas da União e ex-governador de Alagoas, Guilherme Palmeira, contemplado com a comenda no grau de grã-cruz. Ele lembrou das suas origens negras, por conta da miscigenação que existiu no país unindo brancos e negros. ”É com emoção que recebo essa comenda e é a que mais me toca, pelas minhas origens com Zumbi. E é uma homenagem ao povo alagoano, a quem eu devo tudo”, destacou.
A infância nos engenhos em meio aos filhos dos empregados foi lembrada pelo presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas, José Fernandes de Holanda Ferreira, homenageado como grande oficial. Segundo ele, em sua trajetória de vida duas palavras foram banidas do dicionário de sua família “preconceito e discriminação”. Por isso, afirmou que a comenda tinha um sabor diferente, incomum e muito significativo.
A luta de Zumbi dos Palmares em prol da liberdade e cidadania foi lembrada pelo governador Teotonio Vilela em seu discurso. De acordo com ele, o ideal do guerreiro negro foi universal. E a sua morte não significou o fim, pois deixou a vida e entrou para a história.Também foram contemplados com a comenda Ordem dos Palmares o advogado Jayme Lustosa de Altavila, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (comendador); o médico e intelectual José Medeiros (comendador); a bailarina Eliana Cavalcanti (oficial); o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida (oficial).

E, ainda, o jornalista e cineasta Elinaldo Barros (cavaleiro); o artesão João Carlos da Silva (João das Alagoas - cavaleiro); o capoeirista Lizanel Cândido da Silva (mestre Jacaré - cavaleiro) e a ialorixá Maria Neide Martins (cavaleiro), fundadora do projeto Inaê, de assistência social a crianças, adolescentes e jovens do Village Campestre II.

A Ordem do Mérito dos Palmares foi criada em 1983, pelo decreto governamental 5619, inserido na Constituição Estadual. A insígnia consta de uma Cruz de Malta estilizada, em tombac dourado, com os ramos esmaltados em branco, com escudo trazendo em relevo a efígie de Zumbi, coroado como o "Rei dos Quilombos". E, tem como finalidade homenagear pessoas que atuam no desenvolvimento socioeconômico e cultural de Alagoas. Além de se destacarem pela conduta notória e também na realização de iniciativas que valorizam o recorte étnico.

Mãe Neide e Mestre Jacaré no lado esquerdo


Fonte: Agência Alagoas

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Governador destaca em discurso o valor universal da comenda

Grão Mestre da Ordem do Mérito dos Palmares, Teotonio Vilela diz, em discurso, que homenagem preserva luta dos quilombolas dos Palmares


“Estamos aqui reunidos para manter viva a memória e a glória dos feitos dos quilombolas dos Palmares”, disse o governador Teotonio Vilela na solenidade de entrega da Comenda do Mérito dos Palmares, realizada nos jardins do Palácio da República, na noite desta quarta-feira. “Feitos esses que conquistaram com suor, lágrimas e sangue um merecido lugar na história de construção do povo e da Nação brasileira”, enfatizou Teotonio.

Aos agraciados, o governador afirmou: “Hoje, aqui no Palácio República dos Palmares, os senhores e as senhoras recebem uma medalha de valor universal, posto ser universal o ideal motivador desta comenda”. Abaixo, na integra o pronunciamento do governador:


Autoridades presentes,
Senhoras e senhores,

Amanhã, 20 de novembro de 2008, registrar-se-ão 313 anos do assassinato do alagoano Zumbi, o último e maior dos líderes do Quilombo dos Palmares.

Hoje, nos encontramos nestes salões do Palácio República dos Palmares para manter viva a memória e a glória dos feitos dos quilombolas dos Palmares; feitos esses que conquistaram com suor, lágrimas e sangue um merecido lugar na história de construção do povo e da Nação brasileira. Tais feitos heróicos encontram-se, depois de longa e abnegada luta, simbolizados no nome de Zumbi. Zumbi dos Palmares.Pouco se sabe dos detalhes da história desse alagoano. Os documentos históricos registram-lhe a presença como líder inconteste do Quilombo dos Palmares apenas nas duas últimas décadas do século 17.

E a única vez que o registro oficial debruçou-se sobre esse excepcional alagoano aconteceu quando de seu assassinato, no dia 20 de novembro de 1695. Naquele dia, há 313 anos, as autoridades coloniais e escravistas, lavraram, em cartório, a morte de Zumbi ao mesmo tempo em que, pelo mesmo documento, mesmo sem assim o desejar, transformaram Zumbi em personagem imortal, destinado a atemorizar, para todo o sempre, os escravocratas, os racistas, os ditadores — os injustos, enfim.

Zumbi deixou a vida e entrou para a história um ponto de nossa Alagoas identificado como “o sumidouro da Serra Dois Irmãos”, localidade hoje situada no município da Viçosa, terra de onde me orgulho ter fixadas — e fundas — minhas raízes. Ali, naquela serra, Zumbi encontrou seu abrigo derradeiro, tendo ali sobrevivido por quase dois anos, posto que a capital do Quilombo dos Palmares, a Cerca Real dos Macacos, ter sido destruída violentamente no começo do ano de 1694.

Entre essas duas serras, da Barriga e Dois Irmãos, Zumbi viveu e lutou heroicamente até o último de seus dias.

Entre aquelas duas serras Zumbi e os quilombolas dos Palmares deixaram vivas, para sempre, as lições do direito à liberdade, da insubordinação às injustiças, da construção de uma sociedade alternativa e auto-suficiente; e, fundamentalmente, a lição de não capitular dos ideais mais sagrados da humanidade — aqui expressos na irresignação, inegociável, à escravatura.

Entre essas duas serras ainda reverberam o eco de uma das primeiras e mais importantes batalhas sociais e políticas travadas no Novo Mundo. Poderíamos dizer, até, ter sido a saga dos Palmares, um conflito onde os oprimidos do Novo e dos Velhos Mundos bateram-se contra a opressão, posto que os filhos d’África uniram-se e lideraram descendentes de europeus, brancos e pobres, e índios nativos, num gigantesco esforço para viverem suas vidas, organizarem-se como melhor lhes aprouvesse, trabalhando e produzindo em liberdade, escolhendo seus dirigentes da forma como melhor lhes parecesse. Tudo isso ocorreu durante os dois primeiros séculos de formação do nosso Brasil.

A epopéia de Zumbi e do Quilombo dos Palmares é parte indissolúvel, indivisível, da invenção do Brasil. Diria mais, da invenção da América Latina, das Américas, e a — porque não? — Zumbi e do Quilombo dos Palmares são rochas integrantes do alicerce de todo este mundo contemporâneo e as lições dos acontecimentos ocorridos entre a Serra da Barriga e a Serra Dois Irmãos fazem parte do acervo histórico mais significativo do chamado mundo moderno.

Hoje, aqui no Palácio República dos Palmares, os senhores e as senhoras recebem uma medalha de valor universal, posto ser universal o ideal motivador desta comenda.

Ministro Guilherme Gracindo Soares Palmeira; Seu nome dispensa apresentações e não tenho como evitar redundâncias e repetições ao falar sobre seus méritos. Mas destaco, como exemplo de merecimento específico para esta medalha, que foi em sua gestão como governador de Alagoas que foi “redescoberta” a Serra da Barriga, nos idos de 1979.

Há quase trinta anos, seu governo deu apoio para as caravanas iniciais, em sua maioria provenientes da Bahia e de São Paulo, para a “invasão” às alagoanas terras da Serra da Barriga — não sem polêmicas e naturais desencontros, mas ao fim e ao cabo, o solo onde Zumbi e os quilombolas viveram hoje é devidamente reconhecido como patrimônio histórico nacional — e, de certa forma, todos esses avanços contemporâneos se iniciaram naquele 20 de novembro, há 29 anos, quando Guilherme Palmeira era governador de Alagoas. Desembargador José Fernandes Hollanda Ferreira, Presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas; Repito, em essência, o dito quando da solenidade da Comenda da República Marechal Deodoro da Fonseca: sua gestão enquanto Desembargador-Presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas avivou, como nunca dantes, a chama da esperança na alma cidadã alagoana. Chama essa que alimenta o ideal da luta, e da vitória, dos justos contra as injustiças, da ética contra a amoralidade — a vitória da igualdade dos direitos e deveres contra os que querem perpetuar privilégios inconcebíveis numa sociedade moderna, regida pelo Estado de Direito. Pelos exemplos pessoais do magistrado José Fernandes de Hollanda Ferreira, pelos exemplos cidadãos do Tribunal de Justiça de Alagoas, nas batalhas contra todo o tipo de discriminação, vossa excelência faz jus a esta distinção.

Professor Jaime Lustosa da Altavila, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas; Seu pai, Anfilófio Jaime de Altavila, também mereceria esta homenagem, afinal é dele o mérito de ter escrito, no século XX, o primeiro livro onde Zumbi e o Quilombo dos Palmares são tratados como heróis. Mas a Jaime Lustosa da Altavila, aqui presente — bibliotecário, ex-secretário de Educação, pesquisador e presidente do Instituto Histórico, guardião do Acervo Perseverança de Cultura Afro-Brasileira — Alagoas está devendo o devido reconhecimento por seus préstimos à memória alagoana. Receba, como uma parcela deste reconhecimento, esta medalha.

Doutor José Medeiros, médico e escritor, ex-pró-Reitor da Ufal, ex-deputado, ex-secretário da Educação, ex-secretário da Saúde, Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores; sua atuação em quaisquer um desses postos, ocupados com brilhantismo ao longo de sua carreira pública, o faria merecedor de mais esta honraria. Caro Doutor José Medeiros, considere esta medalha como reconhecimento, além dos méritos específicos comprovados ao longo de sua vida, a sua capacidade de recusar aposentadoria do posto de cidadão atuante, por sua incansável disposição em seguir atuando em prol do bem comum e da cultura em nosso Estado.

Eliana Maria Moreira Cavalcanti Lins, bailarina, professora de balé e lutadora incansável pelas causas da arte e da cultura em nosso Estado; você se orgulha de, tendo nascido em Maceió, ser uma alagoabucana, em função de sua formação pessoal e artística no Recife, mas suas raízes estendem-se mais longe e mais fundo que as capitais desses dois estados, você também tem parte de sua alma vinculada às serras palmarinas, até pelos laços matrimoniais. Sua carreira incansável como cidadã plena, engajada na luta pelo crescimento cultural e artístico de Alagoas, luta essa para a qual você sempre buscou o respaldo criativo na história alagoana, donde se destaca a epopéia quilombola, a faz merecedora desta homenagem. Como Zumbi, ou como Aqualtune, você não se entrega, não desiste de seus ideais, não abre não de suas causas. Eliana, você merece esta medalha.

Arquiteto Luiz Fernando Almeida, Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; para Alagoas, estado repleto de memória histórica, de acervos valiosos para a história do Brasil, a parceria com o IPHAN é fundamental. Mais essencial ainda, façamos, nós, alagoanos, uma merecida autocrítica, pelo fato de nós mesmos, naturais desta terra maravilhosa, termos, ao longo de nossa trajetória enquanto comunidade, demonstrado pouca atenção a essas nossas riquezas memoriais.

Ao Norte temos os sítios históricos onde Calabar ainda vive como personagem dos mais polêmicos da história do Brasil; ao Sul temos Penedo, repleta de lembranças contidas num acervo arquitetônico precioso, à leste, poderíamos mesmo considerar o repositório das memórias pouco estudadas da própria cidade de Maceió e nosso seminal porto de Jaraguá.

A Oeste vicejam os sertões alagoanos, férteis como poucas áreas no Brasil em termos de acontecimentos inusitados. E, no coração da Zona da Mata, despontam os morros quilombolas: A Serra da Barriga e a Serra Dois Irmãos. Caríssimo Luiz Fernando Almeida, como presidente do IPHAN, você tanto faz por merecer esta medalha por sua atuação em defesa da Serra da Barriga enquanto sítio devidamente tombado, como — com certeza — a merecerá pelo porvir, quando de nossa luta pelo tombamento nacional da Serra Dois Irmãos, o derradeiro refúgio de Zumbi dos Palmares. Contamos, novamente, com você!

Professor Elinaldo Barros Soares, cinéfilo e lutador pela cultura alagoana; Podemos dizer que seu currículo é coisa de cinema. Você, tal qual os super-heróis da tela, tem dedicado seus incansáveis esforços, ao longo de décadas para, além e através do tema “cinema”, fazer passar para seus alunos, para a sociedade em geral, como a sétima arte pode ser um forte elemento de cidadania. Especialmente, Elinaldo, você merece esta medalha por ter construído e mantido vivo, durante todos esses anos, um verdadeiro quilombo cultural, onde estão resguardadas as memórias — sempre atualizadas com as produções contemporâneas — do fazer cinema em nosso Estado. Professor Elinaldo Barros, por esse seu esforço cinematográfico, receba essa medalha como se fosse o seu Oscar, um Oscar de ébano, brasileiro e alagoano.

João Carlos da Silva — nosso querido "João das Alagoas", escultor e mestre artesão; Você merece duplamente esta medalha. Merece-a como artista do povo, autodidata; merece-a como artista para o povo, quando extrapola seu próprio talento pessoal e dedica boa parte do seu tempo para formar outros artistas do povo, esses não mais tão autodidatas como você, posto você — em sua generosidade cidadã — lhes ser o mestre, o professor. De sua oficina/escola situada na cidade de Capela emana arte, emana cidadania. É você também, João das Alagoas, um quilombola incansável, imortal na defesa de sua causa. Siga adiante!

Lizanel Cândido da Silva, bravo "Mestre Jacaré", mestre de Capoeira, legítimo representante do espírito de luta e de arte irradiado dos Quilombos; Como difusor desta arte que é uma forma de luta e desta forma de lutar que é uma arte, a capoeira, você merece esta honraria que tem como patrono nosso conterrâneo Zumbi dos Palmares. Assim como os grandes mestres que resgataram a capoeira da marginalidade, elevando-a a seu devido posto de arte marcial brasileira, e aqui, cito e reverencio a memória de mestres pioneiros como Pastinha e Bimba, dentre outros gigantes da ginga marcial afro-brasileira. Em nome de todos os capoeiristas, de todos os quilombolas, de todos os que aprenderam a dar uma rasteira, ou cravar um rabo-de-arraia, contra as injustiças e as discriminações de todos os tipos, receba — mestre Jacaré — esta medalha.

Maria Neide Martins, Ialorixá "Mãe Neide", legítima representante da religiosidade afro-brasileira sincretizada desde os terreiros quilombolas; receba esta homenagem por seu trabalho religioso e cidadão, por seus esforços de inclusão social realizados em nossa cidade. Mas, Mãe Neide, Ialorixá, receba, antes de tudo, essa honraria oficial do Estado de Alagoas, em nome dos incontáveis praticantes dos cultos afro-brasileiros que foram injustamente, covardemente, perseguidos em Alagoas — mui especialmente no eternamente condenável período histórico conhecido como “o quebra”, perpetrado nos idos de 1912. Por todas essas injustiças, Mãe Neide, receba, em nome de todos os praticantes das crenças afro-brasileiras, esta medalha — e junto com ela, o pedido de perdão do Estado de Alagoas por tudo de errado que possa ter sido cometido até hoje.

Que o espírito de luz, de coragem, e de cidadania, de Zumbi dos Palmares (e de todos as heróicas personalidades quilombolas) acompanhe a todos vocês e os orientem, sempre, nas batalhas cotidianas contra as todas as injustiças, e por uma Alagoas e um Brasil cada vez melhor, sem discriminações e injustiças de todos os tipos. Muito obrigado.

Fonte: Agência Alagoas