Oscar Henrique Marques Cardoso nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 8 de dezembro de 1971. É jornalista e radialista, formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, começou a sua inserção no mundo das palavras ainda na adolescência. Foi premiado com uma monografia sobre “As Raízes Portuguesas no Rio Grande do Sul, cidade do Rio Grande”, pelo Instituto Cultural Português em 1987.
Sua trajetória profissional iniciou na Rádio Pampa de Porto Alegre em 1993, também atuou na Rádio Bandeirantes, em Porto Alegre, onde apresentou programas jornalísticos. Foi repórter no Jornal Pioneiro, em Caxias do Sul e coordenador na Rádio Universidade de Caxias do Sul. Em Brasília, trabalhou na Fundação Cultural Palmares, instituição pública federal vinculada ao Ministério da Cultura, o qual desenvolveu inúmeros projetos e ações em favor da divulgação da cultura afro-brasileira. Também trabalhou em jornais e revistas de Florianópolis, e atualmente, encontra-se como jornalista freelancer.
É casado com a jornalista Nilda Corrêa Cardoso há 12 anos, tem uma filha, Stefane Corrêa Cardoso. “Ela é um presente que ganhei de Brasília, pois a adotei em Brasília, com oito anos de idade. Ah, além de tudo, milito em favor da adoção tardia. Eu vivo metido em causas sociais”. Também participa do Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais e do Núcleo de Jornalistas Afrodescendentes do Rio Grande do Sul. Foi um dos fundadores da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA) no Distrito Federal e participei de importantes articulações do Movimento Negro em Brasília.
Ele também é um profundo admirador do Estado de Alagoas, já veio duas vezes e gostaria de vir mais e de ter um apartamento em Maceió. “O que me atrai, além da praia, do clima, da cultura, são as pessoas. As pessoas são muito agradáveis. Não são eufóricas, mas agradáveis. E Alagoas tem a Serra da Barriga, tem açúcar e tem a simplicidade e a humildade que falta aqui no Sul”, justificou.
O jornalista agora se dedica a sua nova paixão que é escrever livros. É o autor do livro
NÓS, publicado pela Editora Biblioteca 24x7 (
http://www.biblioteca24x7.com.br/) e custa R$ 42. A obra de ficção conta a história de dois ex-colegas de trabalho, sem interesses financeiros e ambições, fala de amizade e de outros temas polêmicos como: tráfico de mulheres, transplante de órgãos e adoção interracial.
Este é o primeiro de uma série de novos livros e histórias. O pré-lançamento ocorreu em Viamão (RS) no dia 21 de março em um encontro de professores sobre a 10.639/03. No dia 7 de abril, o livro será lançado em Caxias do Sul; no dia 27 em Canoas; e em Porto Alegre, a previsão é de acontecer no dia 12 de maio, no Memorial do Rio Grande do Sul. Também estar disponível para lançar sua obra em eventos diversos, inclusive, em outros estados.
Confira abaixo, uma entrevista especial com Oscar Cardoso concedida via internet à jornalista Helciane Angélica, editora da Coluna Axé publicada no jornal Tribuna Independente e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL). Para entrar em contato com o autor do livro, acesse: @OscarHenrique no twitter, ou pelo email oskarhcardoso@gmail.com.
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Cojira-AL: Como surgiu o interesse de começar a fazer livros?
Oscar: É tudo no peito e na raça. Não tenho patrocínio de ninguém, até porque infelizmente neste país a gente não consegue dinheiro de nada. Mas o meu primeiro livro, o NÓS, nasceu em um momento de profunda solidão e marasmo.
Cojira-AL: Foi um reencontro com você mesmo?
Oscar: Ainda morava em Florianópolis e estava desempregado. Uma grande amiga, escritora, tinha falecido, estava acompanhando a dolorosa separação de um grande amigo e estava só em minha casa, eu e minha filha, porque minha mulher estava em Porto Alegre cuidando da mãe doente. Eu sempre quis escrever, tentei e tentei por mais de dez anos. Quando eu vi, estava diante de um computador, colocando pra fora e aí nasceu o NÓS. Nasceu um livro carregado de emoção. De situações diversas, mas que fala de amizade, fala de doação, de um amor sem compromisso. Porque existe amor no meio da amizade. Ter um amigo é ter um tesouro. Amigos são para sempre, casamentos, nem sempre.
Cojira-AL: Que mudanças esse livro trouxe para a sua vida, já que também é uma realização pessoal?
Oscar: Trouxe mudanças profundas mesmo. Profundas porque venci um alto bloqueio interior que tinha acerca de escrever. Sempre foi um grande desejo meu escrever, escrever um livro, sempre fui em sessões de autógrafos e ficava imaginando quando seria a minha vez. Escrever para mim é mais do que uma realização pessoal, é uma forma que adotei para me comunicar com as pessoas, para mexer com coisas dentro da sociedade. Não digo que são situações que tem que ser mudadas, mas transformadas. Por exemplo, quando a gente fala em amizade, sabe que é um assunto que sempre é discutido em algum momento da vida. Para mim era um desafio escrever algo que mexesse com este tema e acabou nascendo. Escrever para mim também marca uma reinvenção profissional, porque também é uma nova profissão, dentro do que já fazemos como jornalista. Porque nem todo jornalista é escritor, nem todos recebem o dom de escrever, assim como o dom de cantar, de falar ao microfone. Vejo que foi um presente que ganhei do Criador, da vida. Escrever é um presente que ganhei mesmo.
Cojira-AL: E os próximos livros? Pode adiantar?
Oscar: Olha, claro que posso adiantar sim, com certeza, e gosto de falar sobre isto. Já terminei o segundo livro. Já está em processo de revisão e vou começar a produzir o terceiro em breve. A gente tem que se reinventar na vida, sabe.
Cojira-AL: Vai continuar na mesma linha de NÓS?
Oscar: Meu segundo livro, que sairá pela Editora Naós, tem como título ENTRE LOUVORES E AMORES. Ele é uma novela, com 290 páginas, a qual traz, no gênero ficção, um romance. Um romance, tendo como pano de fundo uma dura crítica ao mercado da fé, a igreja sem essência, aos falsos pastores e a corrupção que existe dentro da igreja. Não estou denunciando ninguém, criei personagens baseados na passagem da história do sacerdote Eli, o qual na Bíblia queria servir a Deus de qualquer jeito, mas recebeu vários castigos e também a morte porque servia a Deus de uma forma pecaminosa. ENTRE LOUVORES E AMORES é uma narrativa recheada de polêmicas, de conflitos, mas também de muito amor. Amor de dois jovens. A mocinha, uma jovem negra, evangélica, de família rica, que mora em uma São Paulo pulsante, cidade que reúne brasileiros de vários cantos. O mocinho é filho do falso pastor e sofre com o desamor de seu pai, pois vive no meio de uma família completamente desunida. É uma história interessante.
Cojira-AL: Qual é a sua religião? Você pretende mostrar a dura realidade da intolerância religiosa?
Oscar: Eu sou evangélico. Gosto da minha religião, mas não aceito a intolerância. No Rio Grande do Sul participo, aqui em Canoas, na cidade onde moro, do Fórum Interreligioso, o qual reúne representantes de todas as religiões. Dialogo com o povo de matriz africana, com espíritas, católicos, muçulmanos. Eu procuro viver dentro daquilo que creio. Creio num evangelho que vai além das estruturas hoje existentes. Pois filtro e seleciono a tudo o que ouço. Deus me deu a capacidade de pensar e de selecionar o que é realmente dele e o que é realmente da boca humana. Do homem sacerdote que quer dominar a seu povo.
Cojira-AL: E o terceiro livro, é sobre o que?
Oscar: Ele é bem diferente. VIDA DE MULHER, também será a adaptação do Livro de Rute, outra história bíblica para os dias de hoje. Irá tratar de temas voltados ao universo feminino, com destaque para as mulheres que são vítimas de violência. Vai ser outra história pesada, mas deliciosa de escrever.
Cojira-AL: Suas obras podem ser consideradas como auto-ajuda? Qual classificação você daria para elas?
Oscar: Não é auto-ajuda não. Eu as chamo de ficção, de novelas mesmo. Eu gosto de escrever novelas. Estou largando três no mercado editorial e espero que minhas novelas, de ficção, a qual casam a realidade com a estória possam sim ser conhecidas pelo povo. Porque escrevo para o povo, escrevo sobre vidas e sobre o que acredito. O escritor tem que andar onde o povo está, parafraseando a música de Milton Nascimento a qual fala que o artista tem que ir aonde o povo está.
Cojira-AL: Você pensa em fazer um livro-reportagem?
Oscar: Olha, quem sabe. Esse não é o meu estilo original, mas a gente nunca pode dizer que não irá escrever sobre tal e tal gênero. Eu gostaria muito de escrever, e talvez seja o próximo trabalho, uma história voltada a homenagear e a falar da questão racial. É claro, sou admirador da luta das mulheres negras e também do povo quilombola. Uma vontade que tenho é de construir uma heroína, negra, jovem, quilombola, de religião de matriz africana, que chegou ao comando de uma cidade, por exemplo. Uma jovem negra que foi levada ao poder, aclamada por toda uma sociedade. Sabe, eu iria escrever sobre isto no terceiro livro, mas resolvi deixar para uma quarta obra. Mas é um tema o qual amo. Sou negro, sou um jornalista, um escritor negro, e gosto da negritude, em todas as suas variações.
Cojira-AL: Você já foi vítima de racismo? Por ser um jornalista negro, já perdeu oportunidades de trabalho devido a cor da sua pele?
Oscar: Já, já fui sim. Foi quando eu era coordenador de Jornalismo da Rádio Universidade de Caxias do Sul. Um diretor que trabalhava lá, ao ver umas matérias que produzi e que foram veiculadas na TV da universidade disse que eu era muito talentoso, mas que não teria oportunidade porque era negro. E que era para que eu soubesse que o mercado era assim. Que tinha talento para a televisão também, mas como sendo negro e com uns quilos a mais não teria oportunidade de fazer tevê. Aquele episódio não me chocou, porque vivo no RS e sei que este tipo de coisa acontece, mas de forma velada. Poucos são os que botam a cara pra fora e assumem que são racistas. Eu nunca perdi oportunidades por ser negro, mas sim por ser uma pessoa polêmica, que diz o que pensa e que busca a essência e a verdade das coisas. Talvez seja por isto que eu ainda estou fora do mercado aqui no RS, onde comecei a minha carreira e onde vivo atualmente. A desculpa do mercado é a grande oferta, mas na verdade a gente sabe que a questão de você ser negro, ser um pouco acima do peso e com quase 40 anos, você se torna desinteressante em um mercado que busca a beleza ariana, o corpo perfeito, um poliglota e uma pessoa tecnologicamente super bem resolvida. Hoje, no jornalismo, não buscamos almas. Buscamos máquinas que dêem resultados.
Cojira-AL: Que conselho você daria para os jovens profissionais negros do Jornalismo?
Oscar: Daria o conselho que a união faz a força. A grande mídia só lembra da gente em época de Carnaval. Aí botam as negras rebolando a bunda e os negões, seminus dançando. Aconselho aos meus colegas negros, acadêmicos, recém ou já formados a um tempo para que se rebelem. Rebelem contra a falsa democracia racial que é pregada neste país. A falsa integração e a falsa abertura. Ainda somos poucos nos meios de comunicação. As nossas tevês, os nossos jornais, as rádios, dão pouca bola para as nossas questões, ligam pouco para o regional, para a cultura local. O que digo, em especial para vocês que estão em Alagoas, um estado que verdadeiramente gosto muito e que gostaria de poder ir mais aí, estar mais junto com vocês, é sim se reunir. Se reunir em torno da Cojira, se reunir em torno da Coluna AXÉ, se reunir nos espaços para usar a mídia para denunciar a exclusão e denunciar a mentira da igualdade racial. Hoje, a falsa ideologia vende que existe uma desigualdade social. Mentira. Existe sim uma desigualdade racial sim. Uma mulher negra ainda é pouco valorizada na sociedade. Mulher negra ainda é vista como uma mulher que não é para casar. Homem negro é visto como um bicho sexual, é visto como um cavalo de raça que copula com todo mundo. Chega disto. Nós temos origem, temos história. Temos os quilombos, os terreiros, temos a nossa comida, a nossa música, a nossa ancestralidade, e que tem que ser respeitada. Se nós negros não olharmos para dentro de cada um de nós e não fizermos da nossa profissão um espaço de debate e resistência, então peguem os diplomas, pendurem na parede e se vendam para um mercado asséptico e sem identidade.