terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pai Célio: ‘É preciso que se respeite as diferenças’

Babalorixá cobra mais atenção pelo poder público e diz que sociedade ainda não está amadurecida o suficiente ‘para um país tão diverso como o Brasil’


O Pai Célio Rodrigues, babalorixá criador do Núcleo de Cultura Afro brasileira Iyá ogum té – com sede no bairro de Pajuçara, em Maceió –, fez uma análise, na tarde desta terça-feira, em entrevista à Rádio Gazeta AM, acerca das comemorações do Dia de Iemanjá, comemorado paralelamente aos festejos à Nossa Senhora da Conceição. Ele cobrou mais atenção pelo poder público e disse que a sociedade atual ‘ainda não respeita o diferente’.

“A sociedade ainda não está madura o suficiente para respeitar as diferenças. Trata-se de um processo histórico, em que ainda é preciso superar algumas barreiras. Por isso, trabalhamos para divulgar ainda mais a nossa cultura e refutar termos como o de intolerância religiosa, por exemplo. Nós não queremos ser tolerados, mas respeitados, como qualquer outro cidadão”, comentou Pai Célio, criticando o que ele considera ser fruto ‘da falta informação da maioria’.

Para o babalorixá, é preciso que se inclua a História da África como disciplina às redes pública e privada de ensino. “Isto contribuiria, dente outras coisas, à auto-afirmação do negro, a fim de que este passe a se assumir como tal, elevando sua auto-estima. Já estamos alcançando isto por meio de oficinas de dança, capoeira e leitura, como as desenvolvidas em nosso núcleo de cultura. E o mais importante é que nós não convidamos ninguém. Converte-se quem quer”, emendou Pai Célio, sobre o núcleo que, em 2010, também disponibilizará à comunidade de Ponta da Terra um Centro de Inclusão Digital com 15 computadores.

O também professor de história lembra que o candomblé, apesar de a religião já ter se tornado objeto de estudo por uma faculdade no Rio de Janeiro, ‘ainda se encontra afastada do convívio urbano, ainda fruto das imposições do colonizador europeu’.

Iemanjá está insatisfeita com o homem, que agride desenfreadamente a natureza. Daí os tsunamis e demais fenômenos que nos acostumamos a ver. Ela é a mãe das águas, de onde provém tudo. Quando se cultua a natureza, cultua-se iemanjá. “É bem verdade que a umbanda, com apenas cem anos de existência, tem conquistado espaço no Brasil, onde foi criada, abraçando a ideologia local ao mesclar nossas tradições com os costumes indígenas, por exemplo”, refletiu o babalorixá, citando termos que já se tornaram coloquiais, como cambona, mocambo e quiabo. “É preciso que se inculque na cabeça das pessoas que o negro foi o elemento formador de nossa cultura”, reforçou.

Cobrança

Na opinião de Pai Célio, o poder público também deveria ‘se engajar um pouco mais na causa negra’. “A SMCCU [Superintendência Municipal de Controle do Convívio Urbano] está acolhendo os candomblés, orientando-os onde realizarem suas manifestações na orla marítima. Mas a Prefeitura precisa, nos próximos anos, disponibilizar banheiros químicos, porque a demanda de devotos, nesta data, cresce bastante. Em todos os 102 municípios de Alagoas há cultos de matriz africana”, comentou o babalorixá, acrescentando que as atividades desta terça-feira serão relatadas em uma mostra fotográfica no próximo dia 12, no Museu da Imagem e do Som, em Jaraguá, onde as imagens estarão à disposição de todo o público.

“Precisamos intensificar a divulgação, a fim de que evitemos equívocos como o que se dará as dezesseis horas desta terça, na Praça Multieventos, com um evento denominado ‘Xô Satanás’ [que teria como objetivo disseminar as religiões de matriz africana como seguidoras do diabo]. Pedimos, inclusive, a todos os pais de santo para evitar um passar pelo local, evitando assim um possível confronto. É uma coisa negativa, errônea. Afronta à liberdade de culto e crença. É preciso que se respeite o diferente. Afinal, vivemos num país diverso”, avaliou.

Fonte: Gazetaweb - reportagem de Bruno Soriano

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