sábado, 26 de julho de 2008

Mutação torna africanos mais suscetíveis ao HIV

Variação no DNA facilita infecção, mas faz sintomas surgirem mais lentamente. Alteração genética está em 90% da população da África subsaariana e surgiu com a evolução para proteger pessoas contra a malária.
Uma mutação genética que surgiu há milhares de anos na África para proteger as pessoas da malária pode, por outro lado, tornar seus portadores mais vulneráveis à infecção por HIV. Uma vez expostas ao vírus, essas pessoas o contraem com mais facilidade, mas também resistem a ele por mais tempo antes de seus organismos sucumbirem à Aids.
A descoberta, descrita ontem (16/7) por cientistas dos EUA e do Reino Unido no periódico científico "Cell Host & Microbe", pode explicar porque a Aids tem castigado a África mais do que todas as outras partes do mundo. Segundo os pesquisadores, 90% das pessoas na África subsaariana têm essa variante do gene, e cerca de 60% dos norte-americanos afrodescendentes também o possuem.
O estudo, liderado pelo infectologista Sunil Ahuja, da Universidade do Texas, afirma que o comportamento sexual e a falta de médicos não podem explicar sozinhos a concentração da epidemia. Hoje, mais de dois terços dos 33 milhões de soropositivos do mundo vivem na África subsaariana.
Pessoas com a variação genética recém-identificada têm risco 40% maior de serem infectadas pelo HIV. Apesar de ela proteger contra a malária, se ela não existisse a epidemia de Aids na África seria 11% menor, estimam os pesquisadores.
Dos 2,1 milhões de pessoas que morreram de Aids no mundo ano passado, 1,6 milhão eram da África subsaariana. A mutação descoberta por Ahuja e seus colaboradores cancela a produção de uma proteína que recobre a superfície dos glóbulos vermelhos do sangue.
Apesar de ela facilitar a circulação do HIV de pessoa para pessoa, ela ajuda o organismo a combater o vírus e retardar o aparecimento dos sintomas da Aids. Os soropositivos portadores da mutação vivem em média dois anos a mais que os outros. Para a epidemiologia, diz Ahuja, essa variação do DNA é uma "faca de dois gumes".
Alarme desligado
A proteína ligada ao gene foi batizada como Darc. Ela é uma espécie de "fechadura" molecular que abre uma "porta" de entrada nas células. Sem a fechadura, de nada adianta um dos parasitas da malária, o Plasmodium vivax, ter a "chave" para abri-la, e por isso a mutação protege contra essa doença.
Como a malária é endêmica na África, a mutação surgiu e se espalhou com o tempo porque a população local evoluiu para adquirir resistência. "Isso provavelmente foi há milhares de anos", diz Robin Weiss, co-autora do estudo de Ahuja.
Em relação ao HIV, porém, o efeito é inverso. A Darc ajuda a emitir as chamadas citocinas -moléculas que dão sinais ao sistema imunológico para ampliar as defesas contra o vírus. Quando a proteína está ausente, o HIV se beneficia e trafega no sangue sem ser delatado.
Os pesquisadores fizeram a descoberta em negros americanos e não na população da África. Eles observaram 1.266 soropositivos na Força Aérea dos EUA, registrados desde a década de 1980, bem como 2.000 pessoas não infectadas.
Eles descobriram que a variante é muito mais comum entre os negros americanos portadores do HIV do que entre aqueles que não o contraíram. Apenas uma pequena proporção das pessoas de ascendência não-africana carregava essa mutação genética.
Fonte: Folha de SP (17/7)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos sua mensagem!
Axé!