segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cinzas de ativista negro são depositadas na Serra da Barriga


Serra da Barriga foi mais uma vez palco de manifestação cultural de entidades e líderes negros de várias partes do mundo


Texto: Ronaldo Lima
Foto: Ailton Cruz


Entidades do movimento negro de várias partes do país e do mundo participaram, nesse domingo (13), na Serra da Barriga, em União dos Palmares, da solenidade de deposição das cinzas de Abdias Nascimento, ex-senador, ex-deputado federal, intelectual, artista e presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro), falecido em maio deste, no Rio de Janeiro, aos 97 anos.

Ativista do movimento negro, com histórico nos movimentos políticos desde a década de 30, Abdias Nascimento, foi um expoente de ações afirmativas da cultura negra no mundo. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal da Bahia, e em 2010, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

Sua esposa Elisa Larkin Nascimento, doutora em psicologia pela USP e mestre em Direito e em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Nova Iorque, que anunciou para o mundo o desejo de Abdias Nascimento, fez questão de comandar pessoalmente toda a solenidade, numa celebração por meio de um culto interreligioso e pelo plantio de mudas de baobá e gameleira branca – plantas consideradas sagradas pelos ritos africanos.

Um grupo formado por nigerianos e comandado por Félix Ayoh Omdile, fez uma reverência a Abdias Nascimento em nome dos cultuadores da Nigéria, chamando os tambores. “O evento realizado em Alagoas é de uma dimensão extraordinária para o mundo, afinal a Serra da Barriga foi a primeira república de homens livres das Américas”, define Ayoh. Segundo ele, os grupos presentes na solenidade são herdeiros de Abdias, herdeiros de Zumbí dos Palmares.

Maria Leda Marques, do Movimento das Mulheres Negras da Bahia, foi uma das primeiras a subir a Serra da Barriga e ficou encantada pelo espaço e emocionada em participar da festa. “Essa justa homenagem significa a valorização por uma luta, é um momento de autoafirmação, do resgate de uma cultura. Nosso Abdias merece essa homenagem de todos nós”.

Adeilson Alexandre, da Casa Ilê Nife Oni Onopocu Betá de Maceió, Ogan Alabe (tocador de instrumentos) também foi um dos que participaram do culto e destacou a importância da homenagem: “É um momento especial e que ficará marcado para a eternidade”.

Para a enfermeira Socorro Marques, que adiou um compromisso em Curitiba, onde iria participar de um seminário, fez questão de subir a Serra da Barriga e também fazer sua reverência ao grande líder do movimento negro no país: “Abdias Nascimento foi, sem dúvida, também decisivo para o caminho da liberdade. Temos essa dívida de gratidão com esse guerreiro”.

O estudante de Letras da Universidade Federal da Bahia Márcio Santos Marques, participou da homenagem e subiu à Serra da Barriga como monitor do ‘Programa Universidade Para Todos’ da Uneb e destaca que “foi uma sensação extraordinária rememorar a luta de Zumbí pela liberdade”.

A Serra da Barriga foi palco de mais uma vez de uma grande manifestação cultural de entidades e dos movimentos negros de várias partes do mundo, reunindo pesquisadores, estudantes, ativistas, estudiosos, políticos, líderes de movimentos fazendo uma memorável homenagem àquele que foi um dos baluartes na luta pela liberdade e desigualdade social. Suas cinzas estão depositadas na Serra da Barriga, União dos Palmares, maior centro de resistência negra no Brasil – o Quilombo dos Palmares.


Fonte: Agência Alagoas

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