Cerca de 150 crianças, jovens, idosos e deficientes físicos e intelectuais realizam a atividade nas unidades da Pestalozzi
Texto: Emanuelle Oliveira - Jornalista
Fotos: Arquivo Ginga Terapia
O som do berimbau e o ritmo envolvente de movimentos sincronizados dão vida à capoeira, herança negra que chegou ao Brasil com os descendentes de escravos africanos e se espalhou pelo mundo. Considerada por alguns como uma dança ou até mesmo um jogo, a capoeira vem ganhando uma nova finalidade e passou a ser utilizada como uma terapia, com portadores de necessidades especiais atendidos pela Associação Pestalozzi em Maceió.
O projeto Ginga Terapia começou em 2004, sob a coordenação do professor Antônio Sergio de Araújo, após um convite feito pela então presidente da Petalozzi, a vereadora Tereza Nelma ao mestre Girafa, do grupo Muzenza, que perdeu uma das pernas em um acidente de moto, mas que com o auxílio de uma prótese e força de vontade, superou desafios e continuou disseminando a capoeira em Alagoas.
“Ele me indicou para realizar esse trabalho em fevereiro de 2004. As nossas dificuldades são bem parecidas com a de todos os projetos culturais ou esportivos: falta de recursos, dificuldades com a divulgação e falta de apoio governamental. O apoio que recebemos vem da Pestalozzi, que nos oferece cursos de qualificação e apóia as viagens para eventos. Desenvolvemos esse trabalho com poucos recursos, mas com muito amor”, explicou o professor.
Entre os benefícios da capoeira inclusiva estão a diminuição dos níveis de estresse e agressividade, além da melhora do equilíbrio e resistência física e das perspectivas de inclusão social, garante Araújo, lembrando que o esporte também é uma forma de trabalhar a auto-estima das pessoas com deficiência.
“O esporte é uma importante ferramenta de inclusão social. A capoeira tem uma vantagem em relação às outras atividades físicas, pois consegue associar valores como noções de cidadania e ecologia à sua prática, benefícios que ficaram evidentes com a realização de uma pesquisa apresentada no Congresso Nacional das Associações Pestalozzi, em 2011, no Estado de Goiás”, explicou ele.
O trabalho com a capoeira inclusiva, desenvolvido em sete unidades da Pestalozzi na capital, também é feito com idosos. Araújo destacou ainda, que o mundo já descobriu e valoriza a capoeira, uma vez que existem professores e mestres “gringos”. Porém, lamenta que no Estado o esporte não seja reconhecido e valorizado como deveria.
“É uma arte afro-brasileira que sofreu influência indígena e também dos colonizadores e talvez seja a arte que melhor representa o povo brasileiro, com toda sua pluralidade, diversidade, alegria, gingado e malandragem, “é a cara do Brasil. Em Alagoas, a capoeira tem uma importância muito grande para a cultura”, ressaltou.
Amor pelo que faz
“O objetivo é que o aluno faça os movimentos de acordo com sua capacidade, mesmo que não seja de forma perfeita. Costumo ajudar um aluno deficiente físico de 17 anos a sair da cadeira para fazer os movimentos”, relata com entusiasmo o monitor Daniel Isac, se referindo ao desenvolvimento de seus alunos, que em sua maioria, têm autismo, síndrome de down e deficiência mental”.
Ele começou a praticar capoeira em 2008 e decidiu se dedicar ao Ginga Terapia junto com seu irmão Sérgio. “Existem alunos com epilepsia que apresentam um bom desenvolvimento. Há um jovem com autismo que nem se mexia e agora já faz alguns movimentos. Buscamos dar um apoio, principalmente para aqueles que não têm muita mobilidade e coordenação motora. Fiquei feliz quando fui chamado para dar aula e resolvi trabalhar só com capoeira. É um trabalho feito com amor”, explicou o monitor.
Segundo ele, a capoeira traz consigo um molejo que envolve os praticantes. “Trabalhamos com a musicalidade, a ginga, batendo palmas, é bem mais divertido, os alunos interagem. Transformamos a herança afro em um tratamento, é algo novo, porque a capoeira nasceu como uma luta e não era nem praticada por mulheres. Na hora de tocar berimbau, os alunos se soltam, me emocionei ao ver um deles, que tem autismo e dificuldade de se expressar, sorrindo para a mãe”, ressaltou.
Incentivo
A coordenadora da Associação Pestalozzi, Silvia Campos, lembrou que o bem-estar e a melhoria nas relações sociais são benefícios visíveis trazidos pela capoeira. “É um esporte genuinamente brasileiro e temos que valorizar nossa cultura. O projeto atende as pessoas que frequentam o centro de inclusão”, informou.
Vera Lúcia, que tem dois filhos portadores de necessidades especiais, afirmou perceber as mudanças no comportamento deles, após começarem a praticar o esporte. “Meus filhos tem 31 e 34 anos. Um deles era muito quieto, mas agora é mais comunicativo. Eles ficam ansiosos pelo dia da aula. Os pais devem incentivar seus filhos, independente deles terem algum tipo de deficiência”, destacou.
MAIS INFORMAÇÕES:
www.gingaterapia.blogspot.com
gingaterapia@hotmail.com
(82) 8831-5750 Sérgio Araujo (Bujão) / 8824-1035 Daniel Isac
Fonte: Encarte Afro AXÉ ESPECIAL - Jornal Tribuna Independente (20.11.11)
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