segunda-feira, 24 de maio de 2010

ARTIGO: África no imaginário brasileiro


Por: Domingos Intchalá

A
fricano de Guiné-Bissau, está no Brasil há 2 anos e 5 meses. É estudante do 5º período de jornalismo na Faculdade Integrada Tiradentes (Fits) e também faz parte da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL)



“Uma África, um povo, uma cultura”. Por este tipo de narrativas proferidas na mídia brasileira parece que África é lugar homogêneo. Nas reportagens sobre a África associam África ao longo do processo das imagens, das árvores fantásticas, dos animais selvagens, povo selvagem e desumano, um lugar qualquer, que não presta.

África é um continente com mais de 50 países e está dividido em cinco grupos que são África Setentrional ou do Norte, a África Ocidental, a África Central, a África Oriental e a África Meridional. A segunda regionalização desse continente, que vem sendo muito utilizada, usa critérios étnicos e culturais (religião e etnias predominantes em cada região), é dividida em dois grandes grupos: a África Branca ou setentrional formada pelos oito países da África do Norte, mais a Mauritânia e o Saara Ocidental, e a África Negra ou subsaariana formada pelos outros 44 países do continente.

Então, se África é um continente porque que a mídia brasileira não sabe distinguir continente de País? Se algo acontece num desses países porque que os repórteres não sabem dizer o nome do país? E porque que a mídia associa África com plantas, animais, doenças, miséria etc. Será que não existem plantas, animais selvagens, fome e miséria no Brasil? Existe.

Lamentavelmente, sinto muito ao ouvir o povo brasileiro interrogar questões sem lógica aos estudantes africanos, como por exemplo: “vocês vieram de ônibus? Vocês vivem com os Leões? Na sua terra tem casas assim? Tem carros? Vocês pretendem voltar? Alguns afirmam o seguinte: “Eu sempre vejo a África na televisão; é um povo muito sofrido que passa fome”.

Sem sombra de dúvida isso me leva crer que discursos proferidos na mídia brasileira são uma forma desumanizadora, na medida em que negam afetividades culturais e direitos das identidades próprias dos outros; reduz num processo histórico novo ao tipo africano cujo comportamento deve ser daquela maneira.

Um dos principais problemas não é o desconhecimento, mas sim a desvalorização de um povo, resultado do processo histórico do qual África passou ao longo da sua história no começo do século XV. E essas imagens são remetidas de uma forma preconceituosa. Isso faz com que as pessoas, querendo ou não, acabem reproduzindo de maneira distintiva como se aquilo fizesse parte da ordem natural dos africanos.

Essas informações, totalmente erradas e preconceituosas, poderão comprometer um bom relacionamento entre dois povos cuja história desse continente está intimamente ligada à historia do “Civilizado” Brasil, porque os africanos trazidos para este país no século XVI e XIX, enriqueceram a cultura brasileira com seus costumes, rituais religiosos, culinária, danças, mulheres lindas. Aliás, tudo que vocês são hoje veio desse povo, segundo a mídia “tão miserável, sem cultura, que vive com animais selvagens; associados com doenças” e tudo de mal que existe no planeta.

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