Temas como preconceito, resistência e reconhecimento de lideranças negras foram debatidos no evento
Por: Natália Oliveira - estudante de Jornalismo
Na ocasião, foi realizada uma mesa-redonda com a diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), Lígia Ferreira, e Girlaine Santos, coordenadora da pasta de direitos humanos, gêneros, raça e etnia do Sindicato dos Trabalhadores da Ufal (Sintufal). “Eu, enquanto mulher negra, enxergo não apenas a comemoração de uma data, mas um marco de luta e resistência da mulher diante de todos os preconceitos e situações de racismo que a gente vive”, declarou Girlaine.
Diante do machismo e racismo presentes nas relações da sociedade, ser mulher negra é estar em cheque. “O preconceito em cima da mulher é maior. O homem, mesmo que tenha o cabelo ‘ruim’, como a sociedade caracterizou, pode cortá-lo e não vai ter problema com sua identidade negra no ambiente de trabalho. Já a mulher, se ela assumir o cabelo, pode não vai entrar no mercado de trabalho. Se ela não tiver o cabelo dentro dos padrões de uma branca, ela é preterida”, avalia Girlaine.
Presente no encontro, a doutoranda em Educação pela Ufal, Sónia André, viveu uma realidade diferente em Moçambique, seu país natal. Lá, a negritude é exaltada na cultura, no vestuário, no cotidiano da população. “No Brasil, eu sinto que sou negra. No meu país, eu sei que sou negra. Para nós, ser negra não é algo de desdém, é poder. Estudos indicam que nem 10% das mulheres estão presentes nas tomadas de decisões para o Brasil. Estamos um país puramente machista, diferentemente do nosso belo continente africano, sobretudo, de Moçambique, onde a mulher está em todos os lugares. Tem mulher governadora, ministra, professora”, pontuou Sónia.
Ainda de acordo com a africana, ter essa data instituída no Brasil é a prova de que muita coisa precisa mudar. “Estar aqui para levantar essa bandeira é dizer que o Brasil precisa muito refletir a questão de ser negro e, sobretudo, de ser mulher. É um momento ímpar para o país e a América Latina”, concluiu.
O reconhecimento de uma líder negra
O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra foi instituído em 2014, com a promulgação da Lei nº 12.987. A inspiração para essa data surgiu após 22 anos da criação do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, em 25 de julho de 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana.
A data criada foi um marco internacional da luta e resistência da mulher negra. Tereza de Benguela foi um ícone da resistência negra na época do Brasil Colônia. Após a morte do marido, José Piolho, ela tornou-se a líder do Quilombo do Piolho, também conhecido como Quariterê, no atual Estado do Mato Grosso. A rainha Tereza, como era chamada no local, comandou a estrutura política, econômica e a administrativa da comunidade negra e indígena, até o quilombo ser destruído pelas forças do então governador da capitania hereditária no século 18.
O fato de Tereza de Benguela ter sido um ícone importante para a história negra e ter ficado ausente dos livros didáticos sobre a história do Brasil foi levantado pela diretora do Neab durante o evento na Ufal.
“Como é que esta pessoa foi invisibilizada no Brasil por quase três séculos? Como é que nós não estudamos a história dessa mulher nos livros de história do Brasil? Em toda minha formação básica, que foi em escola pública, eu só via pessoas negras com correntes nos braços e nos pés. Essa imagem percorreu todo o material didático por décadas no Brasil. Acho que este dia é de luta, resistência e organização”, manifestou Lígia Ferreira.
Em sua fala final, Girlaine expressou a satisfação pelo breve, mas fundamental momento de celebração à data. “O objetivo do nosso encontro, que é estimular o debate e a reflexão, foi atingido”, comemorou. O evento foi encerrado com a apresentação da Cia de Teatro de Dança Afro Oie Orum.
Fonte: Ascom/Ufal
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