terça-feira, 19 de julho de 2016

Carta de Amor da Revoada, Aos Afetos e aos afetados pela ocupação, Outros rumos da ocupação

Iniciamos a Ocupação Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no dia 19 de maio deste ano, e estamos agora partindo para novos rumos com a chegada do pedido de reintegração de posse. O Cultura Contra o Golpe é um movimento formado por artistas, produtores culturais, estudantes e militantes da cultura em geral. Somos um movimento plural e suprapartidário. Ocupamos o prédio do IPHAN, nos irmanando a um movimento nacional, formado espontaneamente, que pedia  a revogação da extinção do Ministério da Cultura (MinC) orquestrada pelo presidente golpista Michel Temer (PMDB) e seus aliados.  

Desde as primeiras reuniões do movimento Cultura Contra o Golpe, ficou claro que a pauta precisava ser extensa e ir além da exigência de volta do Ministério da Cultura, naquele espaço formava-se um amplo grupo de resistência em luta pela democracia, que não reconhece o governo golpista de Michel Temer. Por isso, mesmo após a vitória do movimento com o retorno do MinC, continuamos ocupando e resistindo. 

Durante os 60 dias de ocupação do prédio do IPHAN, foram realizados debates, rodas de conversa, ensaios abertos, apresentações artísticas, performances, entre outros. Recebemos apoio e dialogamos com vários movimentos políticos, grupos culturais, sindicatos, partidos e pessoas insatisfeitas com a atual situação do país. Cerca de 10.000 pessoas passaram pela ocupação. Discutimos temas importantes como machismo, racismo, LGBTFobia, reforma agrária, SUS, políticas culturais, função social da cidade, entre tantos outros durante os dois meses. 

Além de um ato político, conseguimos, a partir da ocupação, dar uma nova função e significado ao prédio, o espaço tornou-se ponto  de encontro e convergência dos mais variados movimentos e partes  da cidade. Foi muito bonito vê os  núcleos culturais da cidade misturando-se, os saberes serem trocados, os sorrisos e a satisfação de bons encontros nos rostos cada um. Foi emocionante perceber a garra, o apoio  e a força que os atores culturais podem ter quando se juntam. 

Durante todos estes dias sempre tivemos uma relação amistosa com os funcionários do IPHAN e temos feito acordos de convivência que mantiveram toda parte administrativa funcionando normalmente. O prédio está sendo entregue nas condições em que foi encontrado sem nenhum dano à estrutura física, instalações ou acervo. Desde o primeiro dia em que ocupamos tivemos a preocupação em isolar o acervo da Casa do Patrimônio, preservando e cuidando para que não houvesse nenhum dano ao importante patrimônio abrigado naquela casa, resultado do trabalho de vários artistas populares.

São muitos os frutos desta ocupação, inclusive obras artístico-culturais como grupos, composições musicais, vídeos arte, performances, espetáculo de dança;  muitas pessoas deixaram sua arte e expressividade florescer e agora têm novos caminhos a trilhar.

Entendemos que o movimento não acaba com  a saída física do IPHAN, iremos continuar ocupando o prédio com reuniões e atividades artísticas culturais, em consenso com a direção do Instituto. Entendemos também que demos uma outra vida e possibilidade de uso a este prédio da cultura.

O Movimento foi fortalecido. Hoje temos mais braços, mais pernas, mais cabeças pensantes juntas e articuladas. Toda esta força só vai se expandir porque as paredes do IPHAN já são pequenas para nós. O movimento segue outro rumo, transborda o espaço físico e segue com outras ações contra este governo golpista e à favor da cidade como espaço comum. A ideia inicial é a criação de um fórum permanente e de constante diálogo que vai pautar as próximas ações do Cultura Contra o Golpe.

Sair do Iphan nesse momento, significa ocupar as ruas, as praças, as escolas e ser parte do que é nosso. O espaço público será o palanque de nossas lutas, assim como de nossas conquistas. Não aceitamos governo golpista e nenhum outro golpe às conquistas dos trabalhadores, do movimento da cultura, da educação, da moradia, e nenhum outro que nos impossibilite sonhar com um futuro sem desigualdades.

Abrimos nossas asas e vamos alçar voos maiores por todas as partes da cidade.

Evoé aos bons ventos!!!
 
Confiança nas próprias asas e no bando!
 
Revoemos!!!

FORA TEMER! 

Maceió, 17 de julho de 2016.

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