segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Prêmio Abdias Nascimento homenageia jornalistas gaúchas

Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento prepara homenagens especiais para a cerimônia que anunciará os vencedores desta terceira edição, dia 11 de novembro, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro. Serão agraciadas por suas trajetórias no campo do jornalismo, as jornalistas gaúchas Vera Daisy e Jeanice Ramos. Elas são do Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.
A organização do evento, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio), do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, se sente honrada em reverenciar as duas jornalistas. Elas foram precursoras ao levar para sindicatos de jornalistas um problema que é estrutural das desigualdade do país: o racismo.

Conheça Vera Daisy e Jeanice Ramos:

A educação transformou minha vida
Por Sionei Ricardo Leão
A jornalista Vera Daisy tem na alma o ativismo e a causa da igualdade racial como propósito de vida. “Não vou desistir enquanto não perceber que o país mudou para melhor no sentido de propiciar mais possibilidades aos negros“, frisa a ativista.
Filha de uma empregada doméstica que criou cinco filhos, Vera Daisy reputa ao ensino o fator que lhe deu a oportunidade de dar uma guinada na trajetória pessoal. “Não fosse isso, meu percurso naturalmente seria o de me tornar o que minha mãe foi, ou seja, cozinheira e empregada doméstica, digo com todo o respeito a essas profissões”.
Os primeiros passos na militância negra foram dados ao ingressar no Grupo de Estudos Palmares, do Rio Grande do Sul, que se notabilizou pelo pioneirismo em defender uma inversão de valores do ponto de vista histórico, ou seja, questionar o mito da Lei Áurea e adotar em lugar a simbologia de Zumbi dos Palmares como ícone da luta pela liberdade.
Vera Daisy estudou jornalismo na década de 1970, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Nesse período dividia sua atenção entre as aulas na universidade e as reuniões lideradas pelo poeta Oliveira Silveira, líder do Grupo Palmares. 
Na sua trajetória, Vera Daisy considera, igualmente, importante os anos que devotou à Revista Tição, lançada em 1977, com o propósito de cumprir um papel de imprensa alternativa no Rio Grande do Sul, com foco na temática racial e é um dos marcos da chamada imprensa negra.
Outro momento que ela recorda com satisfação foi 2004. Nessa época, ela já atuava pelo Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros e, por esse motivo, em articulação com a Cojira-RS e Cojira-SP participou da elaboração de uma tese sindical apresentada no Congresso da Fenaj, realizado em João Pessoa, na Paraíba.
“Foi uma quebra de paradigma, porque daí em diante, a questão racial passou a ser vista com um viés mais profissional no meio jornalístico”, destaca Vera Daisy.
Em 2006, houve outro momento marcante para o núcleo. Em Ouro Preto (MG), Vera Daisy participou do 1º painel de jornalistas afro-brasileiros, como parte do congresso da Fenaj.
O Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros havia surgido cinco anos antes, em 2001, em razão do Fórum Social Mundial. Jornalistas estrangeiros pediram apoio no Sindicato de Jornalistas do Rio Grande do Sul para denunciar uma barreira que estavam tendo pela mídia brasileira, que não publicava as matérias sobre o evento.
Em meio a tantas atividades, Vera Daisy conseguiu reservar parte de suas energias para a produção literária, já que é autora e coautora de três publicações.
A profissional que começou a carreira de imprensa no Jornal do Comércio reafirma “fui e continuarei a ser uma eterna militante”. Atualmente, ela  é a segunda vice-presidente do Sindicato de Jornalistas do Rio Grande do Sul, entidade em que já ocupou as funções de secretária geral e presidente do Conselho de Ética.

As diferenças apareceram na faculdade
Por Sionei Ricardo Leão
A jornalista Jeanice Dias Ramos é eclética, determinada e idealista. Para se chegar a essa percepção basta conversar com ela por alguns minutos e perceber como, de  forma assertiva e rápida, ela responde a quaisquer questionamentos.
Uma das mentoras do Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul, Jeanice se orgulha de ter crescido em uma família bem estruturada.  “Fui sempre muito bem tratada em casa. Quando entrei pra Faculdade de Comunicação é que as diferenças foram aparecendo, apenas eu e mais um colega éramos negros”, recorda.
Foi  na faculdade que Jeanice teve contato com o “pessoal” da Revista Tição, um dos ícones da chamada imprensa negra no Brasil. “Pois é, aí conheci alguns outros negros que também não estavam tão satisfeitos assim, foi aí que eu conheci o pessoal da revista” . Foi então que ela  decide efetivamente a tornar-se ativista da igualdade racial.
Jeanice relata que atuar na revista exigiu dela e dos outros autores se relacionar com festivais de cinema negro e com a música negra sulista, o que enriqueceu sua visão cultural.
 Natural de Porto Alegre (RS) e filha de um militar de carreira, do Exército, e de uma costureira, Jeanice frisa que a convivência no lar foi determinante para a sua formação enquanto ser humano.  “Minha família é relativamente grande, somos quatro irmãos. Me acostumei com a mãe sempre em casa, atendendo sua freguesia e dando conta das lides domésticas”.
Embora tenha despontado como jornalista, Jeanice tem uma formação eclética, pois é também graduada em biblioteconomia e museologia e é especialista em projetos sociais, gestão de políticas públicas (com ênfase na questão de gênero e igualdade racial).
Atualmente, ela é vice-presidente do CODENE - Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunicade Negra do Rio Grande do Sul (Codene) e também integra o Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, para a qual foi eleita como diretora e desenvolve ações com profissionais do setor.

Fonte: Divulgação

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