domingo, 10 de novembro de 2013

Entrevista: Coordenadora fala sobre o Prêmio Abdias Nascimento







O prêmio nacional Jornalista Abdias Nascimento encontra-se na terceira edição, é uma realização da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio), vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. 

Nessa edição, coube à jornalista Sandra Martins ficar a frente da organização geral do prêmio. Ela é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Faculdade Integrada Hélio Alonso em 1985. Iniciou a carreira profissional no Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, onde exerceu as funções de diagramadora, sub-secretaria de redação, repórter e sub-editora; e também foi bolsista-técnica de jornalismo na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Tem o patrocínio da Ford Foundation, Fundo Baobá e Oi; além da parceria da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Ipeafro, UNIC-Rio, Cultne e Sated. E no apoio: W. K. Kellogg Foundation, Fundação Palmares, ANPR, além das Cojiras que atuam no Distrito Federal, São Paulo, Alagoas, Paraíba, Bahia, Mato Grosso e do Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros (RS).



Leia abaixo a entrevista especial:



Qual a importância do prêmio Abdias Nascimento?

O Prêmio Abdias é uma provocação que as Cojiras/Núcleo fazem aos jornalistas e mídias comerciais ou não. Ao longo da história do Brasil, sempre fizemos nossa afro-imprensa. Falávamos para nós, o que foi e é excelente, mas não podemos ficar limitados, já o somos pelo histórico segregacionista. Mas não éramos totalmente invisíveis na mídia, sempre estivemos presentes nas páginas policiais, de cultura, geral. O questionamento sobre esse tipo de representatividade foi levada para as nossas entidades sindicais e depois para os nossos congressos nacionais de jornalistas. Com isso fortalecemos as alianças, na realidade, foram elas que possibilitaram a boa realização deste empreendimento que este ano vai para a 3ª edição. O mercado entendeu a provocação. Claro que nada é fácil, é uma construção constante, com muito tato e parceria.

Como se sente ao concluir essa edição do prêmio?

Estou muito feliz por concluir esta 3ª edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento. A experiência foi excepcional. Não é nada fácil, mas todos deveriam passar por este aprendizado, que desenvolve várias capacitações: paciência, articulação, visão do conjunto, entre outros.

Na coordenação, qual foi o maior aprendizado?

Percebi o quanto nós, ativistas, devemos nos qualificar para tratar com as várias áreas de execução de um projeto: concepção textual do projeto em si, captação de recursos, enquadramento às leis de incentivo, articulação com potenciais apoiadores, produção de relatórios, gestão de projeto, enfim, um aprendizado que é fundamental para todos e todas nós.

E qual a repercussão nacional?

No cenário nacional, o prêmio possibilitou levar a discussão racial para as redações em todas as regiões do país. É importante ressaltar, que, segundo a fala de alguns vencedores de versões anteriores, a vontade de escrever sobre a temática racial existia, e eventualmente era possível, mas pautar o tema era complicado, e o Prêmio foi uma estratégia fundamental para sensibilizar e derrubar algumas barreiras.

As inscrições são satisfatórias?

Os dados indicam um crescimento de mais de 75% de inscrições em relação a 2012, o Prêmio bateu recorde de adesão em 2013, reflexo da consolidação do concurso na imprensa brasileira. A Comissão Julgadora, formada por dez jornalistas e especialistas em relações raciais, escolheu os 21 melhores trabalhos dentre o total de 310 inscritos. Isso mostra que houve avanços expressivos, conseguimos estimular quem já se debruçava sobre o tema, ao mesmo tempo em que angariamos mais corações e mentes. O nível das matérias também houve uma expressiva melhora, ou seja, os nossos profissionais estão revendo seus próprios conceitos a partir de suas próprias descobertas: isso é maravilhoso. Mas também entendemos que é uma caminhada árdua e longa. O Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento é o somatório de várias aspirações que vem de longa data, antes mesmo de termos nascido, e mais ainda para aqueles que ainda vão surgir.

Na cerimônia de premiação, terá atração musical?
O Prêmio Abdias é um prêmio ímpar, não só na perspectiva da incitação ao diálogo com o/a produtor/a de conteúdo jornalístico, mas também quer mostrar um pouco da sua produção cultural engajada. Daí no primeiro ano, tivemos o som dos anos 70 e 90, soul black; na edição seguinte, demos vez e voz ao samba; e este ano, a juventude negra vai invadir os palcos da Zona Sul do Rio de Janeiro – o hip hop vai cantar o Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento.

quem receberá a homenagem desse ano?
Como entendemos que o que somos hoje é uma construção coletiva, sempre homenageamos personalidades, na realidade, arquitetos e engenheiras de nossas conquistas. No primeiro ano, o TEN, com Ruth de Souza e Leia Garcia; em 2012, nosso mestre Muniz Sodré; e este ano, será a vez de duas grandes damas do jornalismo e ativismo brasileiro: Vera Daiyse Barcelos e Jeanice Ramos. As duas devotaram suas vidas para o bom jornalismo e a promoção da igualdade racial, e levaram esta disposição para dentro do sindicato, articulando a criação do Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do sindicato gaúcho. E foram profissionais engajadas na mídia negra – Revista Tição em Porto Alegre.

Fonte: Cojira-AL

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