quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Só talento não dá!



Por: Juliana Costa
Jornalista - MTE 1090/AL
julianacosta.jornalista@gmail.com




Lido o artigo da jornalista Helciane Angélica, me senti na obrigação de manifestar meu apoio e minha opinião a respeito do assunto.

Sempre acreditei que para o exercício de qualquer profissão, antes de tudo, é preciso talento. O que, numa tradução bem simples, significa dizer que desde pequena acho que todo mundo nasce com um dom específico e que é este dom que vai fazer a diferença entre um profissional ruim, médio, bom ou ótimo. Hoje, não tenho mais a inocência dos meus 10 anos e enxergo as coisas de uma maneira um pouco mais complexa...

Continuo com minha tese de que o talento continua sendo um ótimo diferencial na carreira de alguém, mas não é tudo. Confiar só no talento não basta, por um motivo bem simples: se você acredita que o talento é tudo, você admite que não precisa de mais nada. Está subentendido. E se você não precisa de mais nada, está livre de correr atrás de qualquer coisa que te acrescente algo naquilo para o qual você se revela um talentoso exemplar da espécie.

Imagine aquele seu coleguinha de turma, que só tirava dez em matemática. No ensino médio, descobriu que tinha um talento gigantesco para contabilidade. Ainda no colégio, conseguiu estágio numa empresa e depois de alguns anos, foi contratado como contador em outra firma. A vida ia muito bem, obrigado, e ele dispensou a faculdade. Belo dia, sem ninguém esperar, bum!!! - a empresa quebra porque aquele seu colega se atrapalhou um pouco com os balancetes, trocou o lugar de uns míseros zerinhos e a coisa toda desandou...

Vamos então pensar em alguém com talento para psicologia, mas que nunca foi a uma aula da graduação e acha que tudo se resume à exclamação “Freud explica!”. Ou então, vamos imaginar um engenheiro "leigo", fascinado por aquelas estruturas metálicas e pelas construções, mas sem a mínima noção dos preceitos teóricos fundamentais pra erguer um prédio sem oferecer riscos a segurança de ninguém. Em resumo, profissionais talentosíssimos, mas sem o conhecimento acadêmico necessário para desempenhar satisfatoriamente suas atividades. Se só o talento bastasse, nenhuma dessas hipóteses seria possível, certo?!

Sou jornalista. Estudei quatro anos numa universidade para exercer a profissão. Vou fazer uma pós, em breve. Sonho com pesquisa, mestrado e doutorado na área. Já vi erros grotescos cometidos por pessoas que, às vezes talentosas, às vezes não, não tinham se preparado para exercer o jornalismo. Informações imprecisas, a mídia de responsabilidade social transformada em arena de egos - e a sociedade, o público do jornalismo feito com preparação e seriedade, saindo prejudicado por causa disso.

A mídia tem um poder que extrapola o nível pessoal. É inegável que é preciso o dom, mas trabalhar com algo tão delicado e ao mesmo tempo tão forte exige uma preparação densa e reconhecida pela sociedade que vai, sim, ser a maior beneficiada.

Ser a favor da desregulamentação da profissão de jornalista é sinônimo de irresponsabilidade e ignorância diante de uma atividade profissional que, tal como qualquer outra, deve contar com profissionais preparados para seu exercício e ter o devido reconhecimento da sociedade. É retroceder, esquecendo que o jornalismo tem um papel inegável na construção da democracia e um peso sem precedentes nas decisões dos cidadãos em seu cotidiano, além de olhar com leviandade para o exercício da profissão.

Conferir o devido reconhecimento das instituições sociais é uma prioridade dentro da sociedade democrática. Não podemos calar nossas vozes diante do absurdo que representa o Recurso Extraordinário (RE) 511961, que está prestes a ser votado no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de reconhecer o esforço da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e dos Sindicatos dos Jornalistas afiliados, precisamos afirmar a importância da categoria profissional e manifestar apoio à não-desregulamentaçã o da profissão.

O talento pode até não ser o suficiente, mas o diploma é fundamental.

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