domingo, 6 de junho de 2010

Orquestra de Tambores poderá realizar show em Londres

CD com ritmos afro lançado na Europa tem boa repercussão e encanta pessoas no exterior


Os sons dos instrumentos africanos, o atabaque, o adjá, o agogô e o abê, ocasionam ritmos que contagiam e despertam o lado ancestral da humanidade. Por esse e por outros motivos, Wilson Santos se apaixonou pela percussão afro.

Ele, que coordena a Orquestra de Tambores, um grupo alagoano de percussão com grande influência na Europa, conta em entrevista ao Alagoas em Tempo Real que a magia dos sons africanos já mexia com ele muito antes dos cinco anos de idade, quando fazia barulho nas panelas da mãe. Ele relata que desde os onze começou a tocar tambores oficialmente e, a partir daí, não quis mais parar...

Após o lançamento do CD Bantus e Caetés na capital inglesa, pela Far Out Recordings, a Orquestra de Tambores aguarda anciosa a repercussão da obra para realizar um show em Londres.


Alagoas em Tempo Real – Wilson, como aconteceu essa sua paixão pelos ritmos africanos?
Wilson Santos - Quando moleque, fiz amizade com várias crianças de cinco e seis anos da Casa de Santo de Dona Maria do Boi, uma casa de candomblé da nação Ketu, no bairro da Ponta Grossa, onde morava. Isso foi em 1970. Nessa época, era proibida a entrada de crianças em casas de candomblé e umbanda. Lá, eu via as festas, os toques, e me apaixonei pelos ingomes e seus sons. Então comecei a fazer contatos com os instrumentos do culto, porém era de dia e sem fazer muito barulho.

A.T.R. – Agora nos conta, como se deu sua primeira experiência em público com esses instrumentos?
W.S. – A primeira vez que peguei o instrumento chamado ingome pra tocar, o mesmo que dizer atabaque, foi com sete anos de idade, na festa de São Cosme e Damião, na mesma casa onde havia os visto pela primeira vez. Nessa festa, recebíamos doces pela janela. No momento em que eu vi um dos ogãs que tocavam os atabaques no ilu da casa sair, eu furei o bloqueio da janela e por alguns instantes tomei o atabaque nas mãos e comecei a tocar no lugar dele. Fui reprimido pela mãe-de-santo, o toque parou, mas foi uma experiência muito boa para que eu crescesse e para que me desse mais vontade de aperfeiçoar o que eu já sabia. O que me levou para dentro da religião de matriz africana foi esse elemento encantador do tambor. Escondido da repressão social que sofríamos e ainda sofremos, comecei a tocar nas festas aos onze anos.

A.T.R. – E sobre o grupo Orquestra de Tambores, o que você nos diz?
W.S. – Eu já tinha dezoito anos. Nesse entremeio, começou a vontade de realizar atividades com tambores. O pessoal que eu conhecia estava criando um projeto para destrinchar a complexidade do Djambê e começando a buscar parceiros para isto. O Djambê é um instrumento diferente do adjá e do ingome, que são mais ritualísticos. O Djambê está mais ligado à comunicação da tribo. No Senegal e na Nigéria existe um ritual especial em que o Djambê é tocado para comunicar todos os tipos de acontecimentos.
A Orquestra de Tambores surgiu então, no ano de 2004, a partir da necessidade de comunicar o elemento afro às pessoas, que não têm muito acesso às músicas de raiz. Começamos com quatro ou cinco pessoas, e hoje temos dezoito pessoas no grupo, sendo três universitários. Vários outros grupos surgiram a partir das ações coordenadas pela Orquestra. O grupo completou seis anos em 2010 e o primeiro encontro foi em março do ano em que surgiu.

A.T.R. – Agora nos conta, como foi esse negócio de gravar na Europa?
W.S. – Não é fácil conseguir uma gravadora no Brasil com a música que realizamos, é uma música fora do contexto do nosso mercado. Porém, desde cedo compreendemos que na Europa seria interessante. Começamos a direcionar as músicas para a Europa, onde temos parceiros. Nas viagens à Europa, comecei a fazer contatos. Uma alagoana me encontrou lá e entrou em contato com um produtor inglês, onde chegamos ao projeto da gravação do CD em Londres. Essa pessoa tem sido uma ponte com o dono da Far Out Recordingss, o Sr. Joe Daves.
Passamos por uma banca examinadora na capital da Inglaterra, onde iríamos lançar somente uma música, que seria por compilação num CD com vários artistas em coletânea. O fato foi que o Sr. Joe Daves e os demais gostaram do CD todo que apresentamos na audição, o CD Bantus e Caetés. Ele resolveu entrar com o projeto de gravar o CD inteiro. Assinamos o contrato em novembro do ano passado. Por meio desse documento, podemos tocar no Brasil sem intervenção da Far Out, mas no mundo só podemos com a intervenção dela. Gravamos o CD no dia dez de maio.

A.T.R. – E aí, como tem sido a sensação de lançar um CD em Londres?
W.S. – Olha só, tive a oportunidade de sair sozinho em turnê com outros músicos. Estive na Alemanha, na República Tcheca e em vários países da África também. As parcerias têm tido êxito. Nunca fiz curso em Universidade, mas tenho conhecimento e boa repercussão na Ufal, lá sou reconhecido. A orquestra busca parceiros e espera a abertura de editais para viabilizar a divulgação dos ritmos africanos. Dependendo do sucesso que o CD tiver em Londres, faremos um show lá. É muito emocionante comunicar o elemento musical africano ao mundo todo.

A.T.R. – E como é esse CD?
W.S. – O CD é composto por catorze faixas. Trinta por cento desse CD é vocal com percussão, os outros setenta são feitos só de percussão de ritmos como o barravento, o ijexá, o samba, o cabula, todos relidos com os elementos da nossa vivência, mas sem despersonificá-los. No campo indígena, trabalhamos mais com o pífano e a sonoridade onomatopéica das cascas de frutas e sementes, que representam a sonoridade da natureza. É uma mistura excelente, tanto que conquistou esse espaço internacional.



Para contatos com Wilson Santos e o grupo: (82) 8826-6548 ou Cenart 3315-7871 / 1916. Para adquirir o CD Bantus e Caetés é só acessar o endereço http://www.faroutrecordings.com/buy/bantus-e-caetes-0/ e conferir!



Fonte: Kleverton Almirante - Colaborador
http://www.alemtemporeal.com.br/?pag=cultura&cod=3018

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