domingo, 22 de fevereiro de 2009

Neguinho da Beija-Flor encara o câncer e se prepara para a Sapucaí

Luís Antonio Feliciano Marcondes, mais conhecido como Neguinho da Beija Flor, é o intérprete oficial da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis-RJ ... enfrenta as dificuldades com um largo sorriso


LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio


Um dos símbolos da vaidade de Neguinho da Beija-Flor era não falar de sua idade. Agora, ele conta até com orgulho: "59". "Para quem ia morrer, por que esconder a idade? Estou no lucro. Acabei com essa vaidade."

Em julho do ano passado, após ter tido um forte sangramento e ter ouvido do médico que estava com câncer, o atual mais conhecido intérprete de sambas-enredo do país -posto que herdou de Jamelão (1913-2008)- foi para a mesa de cirurgia e dela saiu sem 40 cm de intestino, afetados pelo tumor.

Uma semana depois da operação, já dava entrevistas falando de sua doença. "O público sabe dos meus discos, dos meus shows, das minhas viagens, do carro que eu tenho...Tem que saber das coisas ruins que estou passando também. Eu cresci no meio do câncer; vi quantos amigos eu tenho em todo o Brasil e até no exterior", diz.

Passou a receber enxurradas de mensagens de apoio, muitas delas vinculadas a religiões diversas. "Aceito tudo", avisa, ecumênico. A doença o ajudou a mudar prioridades: "Minhas preocupações eram viagens, shows, conta bancária. Meu lado espiritual estava esquecido. Eu não sabia nem rezar. Mas a necessidade faz o sapo pular".

Além das orações, Neguinho enfrenta o câncer com duas sessões de quimioterapia por mês. Já fez seis, perdeu todos os pelos, e até 17 de maio fará mais seis. A sétima será na próxima quinta, dez dias antes de ir à avenida Marquês de Sapucaí para ser, pelo 35º ano consecutivo (com 11 títulos), a voz principal da Beija-Flor de Nilópolis.


Um dos símbolos do Carnaval carioca, o cantor e compositor Neguinho da Beija Flor, 59, encara câncer e se prepara para a festa (foto: Rafael Andrade/Folha Imagem)


A médica que aplica a quimioterapia não aceitou interromper as sessões às vésperas do Carnaval, como ele sonhava. Mas, mesmo angustiado pela "queimação" que sente no corpo em razão das aplicações, ele diz que cantará durante os 80 minutos de desfile. "E vai sobrar, você vai ver. Estou tomando vacinas que me fortalecem, vou tomar muita vitamina até o dia D e vou conseguir".

E seu coração será posto à prova antes do desfile. Ainda na concentração, um juiz de paz e um padre o casarão com Elaine Reis, sua companheira há quatro anos e com quem tem um de seus cinco filhos -além de quatro netos. E minutos antes de dar o grito "olha a Beija-Flor aí, gente! Chora, cavaco!", que inventou em 1978, será homenageado por todos os puxadores de samba do Grupo Especial.

"A Beija-Flor me proporcionou tudo. Sem ela, eu não conheceria o mundo", diz ele, que recebe do presidente de honra da agremiação, o bicheiro Aniz Abrahão David, o Anísio, sem ter um salário formal.

Luís Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes - seu nome completo desde 2008- faz planos: lançará seu 31º disco e o 2º DVD, "Nos Braços da Comunidade". Quer completar 60 anos tendo vencido a doença. "Câncer não é uma pneumoniazinha. É vai ou fica".

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