quarta-feira, 18 de março de 2009

Programa Expedições percorre os caminhos de Alagoas

Jornalista Paula Saldanha e equipe gravam, durante toda esta semana, em diversos pontos do Estado, cenas para as próximas edições de seu trabalho, exibido nas TVs Cultura e Brasil

Texto: Telma Elita
Fotos: Neno Canuto


Há mais de 24 anos, a jornalista Paula Saldanha viaja os quatro cantos do país à frente do programa Expedições, exibido nas TVs Cultura e Brasil. No último dia 13, Paula e sua equipe desembarcaram em Alagoas. Vão mostrar ao público os litorais Norte e Sul, o rio São Francisco e as principais manifestações da cultura popular. Será rodada ainda uma sequência especial sobre o Quilombo dos Palmares e a trajetória de Zumbi.

“Conheço Alagoas desde a década de 1970. Fizemos as últimas filmagens em 1998/99. Já faz 10 anos! Depois de tanto tempo é sempre muito bom voltar. Considero o litoral de vocês espetacular, muito rico e diversificado. Sem falar na região ribeirinha; são muitos os aspectos a serem abordados”, contou, em primeira mão, a jornalista.

Nesta terça-feira, a nossa reportagem acompanhou a expedição de Paula, Roberto Werneck (diretor) e Tadeo Saldanha (editor e cinegrafista). O trabalho começou cedo. A equipe saiu de Maceió às 6h30, em direção à Serra da Barriga, na cidade de União dos Palmares.
Depois de pouco mais de 1h30 de viagem foram recebidos por uma grande boiada. Os animais estavam bem na passagem para a Serra da Barriga. Para a equipe, o que poderia ser um contratempo passou à categoria de registro. Foi a primeira cena do dia: a lida dos vaqueiros.

Liberado o caminho, era necessário continuar o trajeto morro acima. No Parque Memorial Quilombo dos Palmares já estavam à espera da jornalista vários grupos de cultura afrobrasileira, de União dos Palmares e Maceió.

Com a câmera ligada entraram em cena a ginga e a música dos capoeiristas. Capricharam na apresentação os integrantes dos grupos Quilombo dos Palmares e Guerreiros de Aruanda, ambos de União. Eram crianças, adolescentes e adultos na roda. Todos queriam fazer a sua parte.


“Temos o grupo Quilombo dos Palmares há um ano. Todas as sextas e sábados, subimos a serra para os ensaios. Participam 52 integrantes, entre 6 e 34 anos. A capoeira trouxe mudanças para a saúde, a qualidade física dessas pessoas e, principalmente, para a autoestima”, explica o mestre Cláudio, coordenador desse núcleo.

Ao final da capoeira veio a alegria do maculelê, uma dança de movimentos rápidos e muitos saltos. O ritmo é marcado pelo toque de paus de imbira. Essa foi apenas uma mostra dos jovens do Centro de Formação e Inclusão Social Inaê, que é dirigido pela Mãe Neide e funciona no Village Campestre II, em Maceió. Os meninos nem pareciam cansados da viagem, feita bem cedo.

Mãe Neide estava orgulhosa. O Centro Inaê já tem 15 anos. Ela explica que é uma escola aberta. “Nós abraçamos gente de todas as idades, homens e mulheres de diferentes credos. Vamos além da religiosidade para levar cidadania e dignidade à nossa comunidade”, revela. Hoje, mais de 300 pessoas participam do projeto, que oferece oficinas de capacitação profissional e atividades de cultura e lazer.
Entre as jovens do Inaê está a estudante Iaçannã Rodrigues, 19 anos. “Eu participo do grupo há 5 anos. Sou monitora de dança. Antes, eu tinha muito preconceito. Dizia que nunca iria participar de um grupo como esse. Mas depois que conheci, me apaixonei”, conta.
As lentes de Paula Saldanha ainda registraram os passos da dança primitiva, de raízes africanas. A coreografia também é da responsabilidade do Centro do Village Campestre.

Entre os espectadores da festa estava o secretário municipal de Cultura de União dos Palmares, Elson Davi. “Para mim é uma satisfação muito grande receber, na Serra da Barriga, a equipe do programa Expedições. Temos que mostrar toda a nossa riqueza; os nossos valores”, ressaltou.

Alheia a toda as manifestações estava Dona Irinéia Rosa Nunes da Silva, moradora da comunidade Muquém, que também fica em União dos Palmares. Durante as gravações a senhora ficou quieta, entretida na criação de esculturas de argila. É mais uma tradição entre os quilombolas: a arte que nasce do chão, da terra escura.
Durante as gravações a senhora ficou quieta, entretida na criação de esculturas de argilaquente saíram dezenas de tapiocas e pés-de-moleque. Mais cenas para o documentário de Paula Saldanha.
Foi tomado ainda o depoimento do pesquisador Zezito de Araújo, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), que faz parte da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Zezito trouxe fatos da luta de Zumbi e do massacre causado por Domingos Jorge Velho.
“A morte de Zumbi não foi causada apenas pela sua resistência ao trabalho escravo. Ele foi morto por conta do interesse pela terra. Os quilombos ficavam numa região muito fértil e produtiva. É triste pensar que depois de tantos anos essas mesmas terras ainda se concentram nas mãos de poucos”, avaliou.
A expedição de Paula Saldanha e equipe pelas terras Caetés prossegue até a próxima sexta-feira, dia 20. Os programas sobre o Estado (mais abrangente) e o Quilombo dos Palmares ainda não têm data prevista para serem exibidos. Por isso vale ficar de olho nas próximas edições. A “incursão” dos jornalistas tem o apoio do governo do Estado, por meio das secretarias da Cultura e da Comunicação. Para saber mais sobre o programa entre no site http://www.expedicoes.tv/.

Fonte: Agência Alagoas

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