segunda-feira, 7 de abril de 2014

Jornalistas divulgam a Carta da Igualdade de Maceió

Considerando o papel inequívoco da atividade jornalística para a garantia da democracia e do pluralismo nas sociedades contemporâneas, nós, jornalistas negros e negras, não negros e não negras, reunidos(as) no I Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (ENJIRA) durante o 36º Congresso Nacional de Jornalistas, em Maceió, tornamos públicas as principais questões que nuclearam o 1º ENJIRA e que são extensivas às políticas de comunicação que, certamente, nortearão este Congresso.
            
As representações dos(as) negros(as) e grupos historicamente discriminados no jornalismo e a destinação de verbas públicas para as mídias negras foram alguns dos temas que ordenaram as reflexões tecidas no 1º Enjira e nos estimularam a pensar no projeto de democracia que cimenta o desenvolvimento deste país. Durante o debate, também sublinhamos, enfaticamente, a existência de uma ditadura estética eurocêntrica na imprensa, a reduzida presença de jornalistas negros(as) nas redações e a necessidade de inclusão da temática etnicorracial no currículo das faculdades de jornalismo.

Tornou-se moeda corrente a afirmação de que a democracia, um dos motes do 36º Congresso, não se coaduna com racismo. Discutir a situação dos jornalistas, do jornalismo e da democracia deve obrigatoriamente nos levar a assumir a superação do racismo brasileiro como nexo prioritário para o exercício do bom jornalismo, calcado nos princípios de transparência e de combate a toda sorte de desigualdades.
            
Não se põe mais em questionamento o fato de o Brasil ser um país marcadamente racista. Alguns indicadores não deixam dúvida: o nosso IDH fica na margem do 79º lugar no ranking mundial. Quando desagregamos essa posição por raça, a população negra fica no 114º lugar e a branca no 38º lugar. Mulheres e homens negros permanecem ganhando menos que homens e mulheres brancas.  As altas taxas de extermínio da juventude negra, especialmente dos homens, são uma tragédia social. Alagoas, que sedia nosso Congresso, é o estado que mais mata jovens negros no Brasil.
           
Como podemos, no território da atividade jornalística, promover a equidade e combater o racismo? Uma vez que o jornalismo é atividade que funda e não apenas relata a realidade, de que modo podemos transpor as assimetrias raciais nos sistemas de informação e nos regimes de visibilidade trazidos à superfície pelas notícias que manufaturamos cotidianamente?
            
Sabemos, igualmente, das profundas modificações nos processos de sociabilidade. Essas mudanças não são pensáveis sem o papel fundamental que as mídias desempenham na visibilidade do poder. A opinião pública se formou em parte graças ao que hoje chamamos de mídia.
            
Ora, se concordamos quanto a esse estatuto da mídia, em geral, e do jornalismo, em particular, constitui-se urgência política e um imperativo ético que a Federação Nacional de Jornalistas e os sindicatos possam cada vez mais aprofundar o debate em torno das assimetrias raciais, com propostas exequíveis no campo de ação dos jornalistas engajados(as) no combate à discriminação e ao racismo. Temos 31 sindicatos e apenas 7 comissões de jornalistas pela igualdade racial, o que ainda é pouco em face da magnitude do racismo no tecido social. É preciso que a Federação e os sindicatos sejam indutores de políticas capazes de incidir sobre as desigualdades sociais com fundamento racial. Necessário se faz a reflexão em torno do imaginário que governa todos nós, negros(as) e brancos(as), e que não tenciona os papéis subalternizados sobrerepresentados em grupos raciais não hegemônicos. 
         
Acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, são absolutamente cristalinos no que diz respeito ao compromisso do Estado brasileiro, bem como de organismos e categorias profissionais, em superar o drama racial que ainda experimentamos como forma de alcançar, efetivamente, o desenvolvimento pleno capaz de consolidar a democracia.

Reafirmamos neste 36º Congresso Nacional dos Jornalistas o nosso papel com a promoção da igualdade etnicorracial e de gênero, entendendo que os grupos historicamente discriminados tem o direito de desfrutar do binômio justiça e desenvolvimento.


Maceió-AL, 02 de abril de 2014.

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