Considerando
o papel inequívoco da atividade jornalística para a garantia da democracia e do
pluralismo nas sociedades contemporâneas, nós, jornalistas negros e negras, não
negros e não negras, reunidos(as) no I Encontro Nacional de Jornalistas pela
Igualdade Racial (ENJIRA) durante o 36º Congresso Nacional de Jornalistas, em
Maceió, tornamos públicas as principais questões que nuclearam o 1º ENJIRA e que
são extensivas às políticas de comunicação que, certamente, nortearão este Congresso.
As representações dos(as) negros(as)
e grupos historicamente discriminados no jornalismo e a destinação de verbas
públicas para as mídias negras foram alguns dos temas que ordenaram as
reflexões tecidas no 1º Enjira e nos estimularam a pensar no projeto de democracia
que cimenta o desenvolvimento deste país. Durante o debate, também sublinhamos,
enfaticamente, a existência de uma ditadura estética eurocêntrica na imprensa, a
reduzida presença de jornalistas negros(as) nas redações e a necessidade de inclusão da temática etnicorracial no currículo das faculdades de
jornalismo.
Tornou-se moeda corrente a afirmação de
que a democracia, um dos motes do 36º Congresso, não se coaduna com racismo. Discutir
a situação dos jornalistas, do jornalismo e da democracia deve obrigatoriamente
nos levar a assumir a superação do racismo brasileiro como nexo prioritário
para o exercício do bom jornalismo, calcado nos princípios de transparência e de
combate a toda sorte de desigualdades.
Não se põe mais em questionamento o
fato de o Brasil ser um país marcadamente racista. Alguns indicadores não
deixam dúvida: o nosso IDH fica na margem do 79º lugar no ranking mundial.
Quando desagregamos essa posição por raça, a população negra fica no 114º lugar
e a branca no 38º lugar. Mulheres e
homens negros permanecem ganhando menos que homens e mulheres brancas. As altas taxas de extermínio da juventude
negra, especialmente dos homens, são uma tragédia social. Alagoas, que sedia
nosso Congresso, é o estado que mais mata jovens negros no Brasil.
Como podemos, no território da
atividade jornalística, promover a equidade e combater o racismo? Uma vez que o
jornalismo é atividade que funda e não apenas relata a realidade, de que modo
podemos transpor as assimetrias raciais nos sistemas de informação e nos
regimes de visibilidade trazidos à superfície pelas notícias que manufaturamos
cotidianamente?
Sabemos, igualmente, das profundas
modificações nos processos de sociabilidade. Essas mudanças não são pensáveis
sem o papel fundamental que as mídias desempenham na visibilidade do poder. A
opinião pública se formou em parte graças ao que hoje chamamos de mídia.
Ora,
se concordamos quanto a esse estatuto da mídia,
em geral, e do jornalismo, em particular, constitui-se urgência política e um imperativo
ético que a Federação Nacional de Jornalistas e os sindicatos possam cada vez
mais aprofundar o debate em torno das assimetrias raciais, com propostas exequíveis
no campo de ação dos jornalistas engajados(as) no combate à discriminação e ao
racismo. Temos 31 sindicatos e apenas 7
comissões de jornalistas pela igualdade racial, o que ainda é pouco em face da
magnitude do racismo no tecido social. É preciso que a Federação e os
sindicatos sejam indutores de políticas capazes de incidir sobre as
desigualdades sociais com fundamento racial. Necessário se faz a reflexão em
torno do imaginário que governa todos nós, negros(as) e brancos(as), e que
não tenciona os papéis subalternizados sobrerepresentados em grupos raciais não
hegemônicos.
Acordos
internacionais, dos quais o Brasil é
signatário, são absolutamente cristalinos no que diz respeito ao compromisso do
Estado brasileiro, bem como de organismos e categorias profissionais, em
superar o drama racial que ainda experimentamos como forma de alcançar,
efetivamente, o desenvolvimento pleno capaz de consolidar a democracia.
Reafirmamos
neste 36º Congresso Nacional dos Jornalistas o nosso papel com a promoção da igualdade etnicorracial e de
gênero, entendendo que os grupos historicamente discriminados tem o direito de
desfrutar do binômio justiça e desenvolvimento.
Maceió-AL, 02 de abril de 2014.
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