quinta-feira, 8 de março de 2012

Socióloga analisa conquistas e desafios da mulher contemporânea

Professora Ruth Vasconcelos afirma que luta pela igualdade entre os sexos no Brasil cometeu alguns equívocos
Por: Diana Monteiro – jornalista

Mundialmente comemora-se nesta quinta-feira, 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Falando sobre a data e o seu significado social, a professora e socióloga Ruth Vasconcelos, do Instituto de Ciências Sociais (ICS), considera importante a comemoração pelas inúmeras conquistas profissionais e afetivas que as mulheres vivenciaram nas últimas décadas. Mas, é de opinião que a luta pela defesa da igualdade entre homens e mulheres no Brasil, na década de 60, cometeu alguns equívocos em nome da tão sonhada igualdade.
“No início, o movimento feminista assumiu algumas posturas de radicalização na luta pela igualdade entre homens e mulheres, sugerindo até uma postura de ‘guerra entre os sexos’. Nesse processo, algumas mulheres sentiam, equivocadamente, que para afirmar os seus direitos, precisavam destituir os homens de suas vidas”, enfatiza Ruth Vasconcelos.
A socióloga explica que o que iguala os dois gêneros é o fato de viverem sob a mesma condição humana, marcada pela finitude, incompletude e insuficiência. “Nesses termos, o desafio da existência está posto para todos. Tanto homens quanto mulheres precisam produzir e inventar a vida todos os dias. Se conseguirmos estabelecer um laço de respeito e reciprocidade entre os dois, produzindo a vida sem disputas entre os sexos, certamente sairemos engrandecidos como seres humanos”, declara.
Racionalidade, sabedoria e realização
A professora Ruth Vasconcelos enfatiza que para se afirmar enquanto mulher não é necessário negar seu campo de realização no trabalho. “Podemos viver e usufruir as conquistas feministas no espaço profissional sem negar que também nos realizamos e nos preenchemos exercendo nosso papel de mãe, de filha, de companheira, de amiga, etc. Anular nossas possibilidades amorosas e afetivas como um gesto de autoafirmação é uma tolice sem tamanho”, diz.
Segundo a socióloga, histórica e culturalmente, a figura masculina tem sido associada a posturas marcadas pela objetividade, frieza racional e dureza nas decisões. De forma equivocada, algumas mulheres passam a assumir essas posturas para serem reconhecidas. “Não podemos confundir nossa inserção no mercado de trabalho com a meta de nos igualarmos aos homens naquilo que os coloca numa posição de objetividade, frieza e dureza racional. Essa exigência tem criado impasses subjetivos e angústias desnecessárias ao universo feminino”, acrescenta.
Em relação à importância de as mulheres assumirem posições de poder em nossa sociedade, Ruth enfatiza que elas são capazes de exercer o poder com sensibilidade e delicadeza, sem que isso implique perder a capacidade crítica, a determinação e a agilidade nas decisões. “Podemos ser simultaneamente racionais e emotivas; o importante é não negar a nossa possibilidade amorosa, em qualquer situação, seja no espaço público ou privado”, complementa.
Avanços e desafio
Ruth Vasconcelos diz que a criação da Lei Maria da Penha, na década de 90, é prova de que apesar das mulheres terem colecionado muitas conquistas ao longo desses anos, continuam sendo vítimas de violência, preconceito e discriminação. “A violência contra a mulher ainda ocorre, porque a sociedade mantém traços culturais machistas e autoritários, por isso a necessidade de criação de uma lei dessa natureza”, declara a professora.
Ela considera que o grande desafio é a garantia de uma nova cultura política que reconheça as diferenças entre os dois sexos. Citando como mudança histórica nas relações de gênero o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com possibilidade de adoção de filho ou mesmo concepção in vitro, Ruth enfatiza que essas novas composições colocam exigências e desafios na contemporaneidade.
Ela finaliza dizendo que o fundamental é a sociedade ficar vigilante em relação aos princípios e valores humanitários que são imprescindíveis para que essas transformações ocorridas nas relações de gênero possam efetivamente significar um avanço civilizacional. “O tempo é de comemoração! Nesse dia 8 de março precisamos comemorar a condição de ser mulher nesse mundo que se complexificou, diversificou-se e se ampliou, alargando, assim, as possibilidades de encontros, de construções e de realizações de homens e mulheres em suas relações sociais e interpessoais”, concluiu Ruth Vasconcelos, homenageando homens e mulheres.
Fonte: Ufal

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