sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Identidade étnica também se aprende na escola

Texto e fotos: Emanuelle Vanderlei - Jornalista


Para combater o preconceito e resgatar a identidade étnica de um país, não há caminho melhor que a educação. Na sala de aula, um jovem pode descobrir as raízes de sua cultura, perceber o valor de suas origens e aprender a respeitar a diversidade de étnica que compõe o Brasil.

Pensando nisso, uma professora de português desenvolve um projeto na sala de aula, em escolas públicas de Alagoas. Marluce Remigio criou o Afro Reeducar como forma de enfrentamento permanente à ignorância, que forma, há séculos, uma sociedade racista.

São trabalhos em sala de aula que aproximam os alunos (em sua maioria, negros) da cultura africana e do orgulho dessa origem, assim como, é um resgate da autoestima. A ideia começou em 2008 com um trabalho de Literatura Brasileira destacando autores negros. Logo, o projeto ganhou adeptos de outras áreas, e no mesmo ano já contava com Ciências e História.

No ano seguinte o projeto cresceu. Uma verdadeira feira multidisciplinar envolveu toda a escola. Em palestra de um africano, mestrando em Sociologia, os alunos conheceram um pouco da história de Guiné Bissau. E cada área tratou o tema mais próximo de sua realidade. Na disciplina de Biologia discutiu-se sobre os fatores genéticos e ambientais que determinam a raça. O Inglês trouxe a história de resistência do reggae. A Geografia pensou na economia e nas particularidades do continente africano... Foi um mergulho na temática. Ao final do projeto, uma mostra cultural e um concurso da beleza negra fortaleceram a imagem positiva e fizeram um contraponto com os padrões de beleza que a mídia tenta impor ao Brasil.

Mesmo com dificuldades, o projeto sempre é realizado uma vez por ano. A cada edição, uma forma diferente de buscar o mesmo objetivo, o resgate da identidade afrobrasileira. Em 2010, com o país voltado para a Copa do Mundo de Futebol e a escola cheia de atividades, foi incluída uma gincana, com a 2ª edição do concurso da beleza negra. “Às vezes temos dificuldades, mas não podemos deixar de realizar. É um enfrentamento permanente que só traz mudanças se continuar”, explica a professora Marluce. No Dia da Consciência Negra do mesmo ano, Marluce realizou palestra para a comunidade escolar do Conjunto Benedito Bentes, mais precisamente na Escola Estadual Otávio Aguiar, representando o coletivo anti-racismo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal).

Neste ano, em sua quarta edição, o projeto traz para a sala de aula a leitura de contos africanos. Foram apresentados vídeos-documentários educativos que abordaram história, cultura, religião, costumes e até racismo na saúde, sempre com debates. A última etapa foi a distribuição de contos africanos entre os alunos, que estudaram os textos e produziram ilustrações. No dia 16 de novembro, durante a Semana da Consciência Negra, uma mostra cultural inspirada nos contos movimentou a comunidade escolar.

Iniciativas como essa são positivas, mas precisam de uma ampliação, de ações de governo que incluam o debate em toda a rede. A lei federal n°10.639/2003, sancionada pelo presidente Lula há 8 anos, regulamenta isso: “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.”

Mas ainda é preciso projetos de iniciativas isoladas de professores para que ela tenha alguma forma de aplicação na prática. Um projeto como o da professora Marluce atinge apenas a escola em que ela está. Enquanto não houver reconhecimento de governo e criação de um programa efetivo em todas as escolas da rede, será como apagar incêndios a conta-gotas.


Fonte: Encarte Afro AXÉ ESPECIAL - Jornal Tribuna Independente (20.11.11)

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