segunda-feira, 14 de maio de 2012

Heraldo Pereira diz que Prêmio Abdias sensibiliza a imprensa para a temática racial

As inscrições já estão abertas

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“Acho que muitas vezes, os temas relativos aos negros são suprimidos do noticiário, de modo geral. No Brasil, há uma sociedade que não se vê na negritude.” A declaração é do jornalista da TV Globo, Heraldo Pereira, que participou do lançamento da 2ª edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias do Nascimento. A iniciativa é da Comissão de Jornalista pela Igualdade Racial (Cojira-Rio) e distribuirá R$ 35 mil em prêmios para reportagens sobre a questão racial, em sete categorias.

Ao revelar que é preciso “pressão” para fazer reportagens sobre desigualdades raciais e racismo, Heraldo Pereira disse que o Prêmio Abdias estimula a discussão. “Esse é um debate complicado nas redações. Por isso, o prêmio é importante, gera massa crítica. O jornalista fala para as massas”, acrescentou em seu discurso, repleto de referências a personalidades da imprensa negra como Luiz Gama, José do Patrocínio, Hamilton Cardoso e ao próprio Abdias, que morreu ano passado, aos 97 anos.

“Devemos criar um ambiente discursivo, uma abordagem capaz de tratar desses problemas [com foco na temática racial] nas redações. Isso não é ativismo político. É um posicionamento em defesa dos direitos humanos. Acho que é possível [nós, jornalistas] fazermos essa cobrança, como prêmio está a sugerir”, disse o jornalista da TV Globo Heraldo Pereira, no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio.

Durante sua apresentação, o jornalista citou a cobertura pelo Jornal Nacional do episódio de racismo da Polícia Militar contra um estudante da Universidade de São Paulo (USP), no campus da instituição, no início do ano.

Segundo Heraldo Pereira, nesse caso, a notícia era óbvia, principalmente, devido a disponibilidade de farto material de vídeo produzido por estudantes. Mas a não veiculação de casos “mais subliminares” semelhantes, não é sempre justificável. “Um caso desses é um escracho, para outros, é preciso mais boa vontade, pressão para sair”, afirmou.

Jornalismo com recorte racial

Ao sugerir temas que podem ser tratados pela mídia com foco na questão racial, no  âmbito do concurso, Fábio Nascimento, representante da Oi, uma das empresas patrocinadoras do prêmio, lembrou a falta de oportunidades para jovens das favelas, majoritariamente, negros. “A questão racial não é secundária”, disse Nascimento.

Já Rui Mesquita, representante da Fundação W. Kellogg no Brasil e que também patrocina o prêmio, citou a herança do sistema colonial aristocrata e afirmou que persistem desigualdades entre brancos e negros. Para ele, apesar da recente vitória das cotas nas universidades, no Supremo Tribunal Federal (STF), há muito que avançar, a contar a participação da imprensa.

A coordenadora do Prêmio Abdias Nascimento, Angélica Basthi, acrescentou que, para ajudar os jornalistas a superar as barreiras citadas por Heraldo Pereira, foi pensada uma estratégia de divulgação do concurso nas redações, com apoio das demais Cojiras (dos estados de Alagoas, da Bahia, de São Paulo, da Paraíba, além do Distrito Federal). A meta é ultrapassar as 150 inscrições do ano passado.

Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Suzana Blass, “o prêmio promove um jornalismo que luta pela igualdade, pelo bem comum e é voltado para o interesse público”.
O concurso conta ainda com o patrocínio da Fundação Ford, que enviou pedido de desculpas por sua ausência no evento.

Abdias vive

Durante a cerimônia de lançamento da 2ª edição, a viúva de Abdias Nascimento aproveitou para cobrar da Fundação Cultural Palmares proteção ao local onde estão os restos mortais do jornalista e ex-senador. As cinzas foram enterradas ano passado no antigo quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga (AL), mas segundo ela, o local está “totalmente abandonado”.

“Formigas comeram o baobá e a lápide do Abdias desapareceu”, denunciou.

Inscrições abertas

As inscrições para o Prêmio Abdias Nascimento estão abertas até 31 de julho.

Categorias: televisão, rádio, internet, mídia impressa, mídia alternativa ou comunitária, fotografia e especial de gênero.

O prêmio para os vencedores é R$ 5 mil, totalizando R$ 35 mil.

Podem participar jornalistas com registro profissional.

Entrevistas: Angélica Basthi (coordenadora):  (21) 9627-7633


Para mais informações acesse: www.premioabdiasnascimento.org.br

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Fonte: Cojira-RJ

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