segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Seminário alerta para discriminação racial e exclusão de jornalistas negros na mídia brasileira

"Historicamente os meios de comunicação têm reproduzido o racismo no Brasil". Esta é apenas uma das conclusões dos 120 participantes que lotaram o auditório da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), durante o II Seminário Estadual O Negro na Mídia: a Invisibilidade da Cor e do Encontro Latino-americano de Comunicação, Afrodescendentes e Censos de 2010. Os eventos, realizados na quinta e sexta-feira, 17 e 18/9, em Porto Alegre, integram a programação dos 67 anos do Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.

O presidente do Sindicato, José Maria Nunes, abriu o evento e ressaltou a importância de promover discussões sobre o tema. "Encontros como este são fundamentais para multiplicar as informações relativas à discriminação em relação aos colegas negros que enfrentam inúmeras dificuldades para se colocarem no mercado de trabalho. Mas, também porque é preciso alertar a sociedade sobre esta questão, que é invisível na mídia e por extensão na sociedade".

Nunes lembrou que a data do seminário também é de extrema importância para os jornalistas porque neste dia completa exatamente três meses da decisão do STF que abolia a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. "Esta é uma decisão que atinge a todos e fundamentalmente aos jornalistas negros, pois se já é difícil um emprego tendo diploma, imaginem sem a obrigatoriedade do mesmo". O presidente do Sindicato dos Jornalistas lembrou que é fundamental a participação dos representantes dos núcleos de afrodescendentes na Conferência Nacional de Comunicação, que será realizada em Brasília nos dias 1, 2 e 3 de dezembro. O presidente da ARI, Ercy Torma, afirmou que a realização do evento é uma honra para a entidade, que foi criada em 1935 e sempre esteve presentes nas discussões de temas relevantes para a sociedade gaúcha.


Discriminação no RS

José Carlos Torves, diretor do Departamento de Mobilização, Negociação Salarial e Direito Autoral da Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ), advertiu os presentes para a importância da realização de pesquisas científicas, no sentido de colher dados confiáveis para que os mesmos sejam utilizados das mais diversas formas, tanto nos trabalhos acadêmicos quanto em estudos voltados às políticas democráticas e que buscam a igualdade social. Torves lembrou que para a realização deste seminário foi necessário percorrer um longo caminho até sua realização e que o mesmo deve acontecer em relação a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. "A Conferência vai acontecer, apesar de todos os boicotes por parte dos representantes dos grandes veículos de comunicação de massa do país, e, de imediato, nada vai mudar, porque trata-se de uma luta de grandes proporções e de muita paciência e de empenho".

O representante da FENAJ foi enfático ao lembrar da importância das pesquisas. "Quando elaboramos o livro a Invisibilidade do Negro na Mídia, aqui no Sindicato dos Jornalistas do RS, sabíamos que os negros não ocupavam espaços nas redações e principalmente nas mídias de imagem como a TV, porém quando recebemos os dados oficiais da pesquisa, elaborada pelo Departamento de Sociologia da PUC, e constatamos que em todo o Rio Grande do Sul havia apenas 5% de apresentadores ou repórteres negros. Portanto, com os dados foi possível constatar que o nosso estado é um dos que mais discrimina.

Já Valdice Gomes, da Comissão de Igualdade Racial de Alagoas da FENAJ, lembrou que havia um discurso no meios das empresas de comunicação de que o negro não produzia, não trabalhava. "Criamos o nosso grupo, com um site e podemos observar a quantidade de material que era postado, desmontando este argumento. Na verdade, o que nós todos sabemos é que os veículos de comunicação deste país reproduzem o racismo", avaliou.

Políticas afirmativas

Outra participante, Maria Inês Barbosa, coordenadora do programa de Gênero, Raça e Etnia do UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas) Brasil e Cone Sul, lembrou que durante muitos anos prevaleceu no mundo "uma supremacia branca e eurocêntrica. A representante do UNIFEM foi enfática ao afirmar que é preciso rescrever a história e citou um pensamento de Martin Luther King: "para abrir as feridas, primeiro é preciso aceitar que existem feridas". Na opinião de Maria Inês, uma das formas de rescrever a história é promover e implementar políticas afirmativas. "Estamos promovendo uma série de políticas públicas para redução da pobreza e também de para promoção da igualdade de gênero e raça. Temos cursos de capacitação em 11 universidade brasileiras", concluiu.

O seminário prosseguiu hoje pela manhã com a participação de Sonia Viveros, integrante do Grupo de Afrodescendentes das Américas para Censos de 2010 e da Rede de Mulheres Afrolatinoamericanas e Afrocaribenhas (equador); Esaud Noel, jornalista e presidente da Associação Nacional de Jornalistas Afrocolombianos (Colômbia); Elói Ferreira, secretário–adjunto da Secretaria Especial de Políticas de Promação da Igualdade Racial (SEPPIR); Ana Lúcia Sabóia, socióloga e chefe da Divisão de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e Rosane Borges, jornalista, doutora em Comunicação pela ECA/USP e secretária executiva da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Os moderadores foram Cristian Guevara, jornalista e membro da Federação de Afrodescendentes Iberoamericanos da Espanha; e Helena Oliveira, oficial de Proteção do Unicef e coordenadora do Grupo Temático de Gênero e Raças das Nações Unidas no Brasil.


Assessoria de Imprensa: Alexandre Costa (mtb 7587)
Fotos: Arfio Mazzei

Fonte: http://www.jornalistas-rs.org.br/

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