A
Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), por meio da Comissão
Nacional de Jornalistas pela Igualdade Etnicorracial e das Comissões de
Jornalistas pela Igualdade Racial e Núcleo de Jornalistas
Afro-brasileiros dos sindicatos, vem a público manifestar total repúdio
aos comentários racistas do jornalista William Waack, registrados em
vídeo viralizado na internet.
De maneira ultrajante e entre risos, o
jornalista atribui má-conduta a uma pessoa negra, buscando falsa
justificativa na negritude. Waack atenta contra leis e normas, entre
elas a Constituição Federal e o Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros, expressamente no artigo 6º:
I – defesa dos princípios da Declaração Universal de Direitos Humanos – incluindo a comunicação como direito humano;
XI – defender os direitos de cidadãos e cidadãs, em especial negros, entre outros;
XIV – combater a prática de perseguição
ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos,
de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou
de qualquer outra natureza.
Apesar do afastamento de Waack de suas
atividades no Jornal da Globo, é mister manter o debate político acerca
do racismo e da discriminação racial praticado por jornalistas, na
imprensa e em veículos de comunicação. Esta é uma discussão que vem
sendo historicamente desprezada pela área, impedindo a eliminação do
racismo e a responsabilização de pessoas, empresas e instituições a
despeito dos esforços do movimento negro e de negras e negros
organizados, inclusive em instâncias sindicais de jornalistas.
Desde o ano 2000, jornalistas negras e
negros estão organizados em comissões e núcleos, reagindo contra o
racismo na imprensa que ocorre seja por meio da baixa presença de
afrodescendentes nas redações, piores condições de trabalho decorrentes
da discriminação racial e violação do direito humano à comunicação da
população brasileira, especialmente da população negra. Diversas teses
em congressos de jornalistas, seminários, debates, estudos e
publicações, cursos e guias têm sido produzidos pela FENAJ, sindicatos e
entidades parceiras como instrumentos de sensibilização e
desenvolvimento de práticas inclusivas no âmbito das relações raciais no
jornalismo brasileiro.
Contudo, é fundamental registrar a pouca
adesão de jornalistas e a falta de respostas das empresas jornalísticas
em apoiar tais iniciativas. Não é prematuro reconhecer que o caso Waack
é a expressão da situação-limite que o jornalismo brasileiro enfrenta, o
que demanda transformações profundas por parte de profissionais,
empresas, universidades, entidades sindicais, sociedade e poder público.
A FENAJ conclama a sua categoria e a
sociedade brasileira para que as mobilizações nas redes sociais frente à
indignação com o caso Waack perseverem na efetivação de mudanças que
jornalistas e empresas de comunicação têm evitado, ao longo dos tempos, a
qual é reveladora do racismo como estruturante das relações sociais,
econômicas, trabalhistas e políticas no País. Que o caso Waack,
publicizado neste mês da Consciência Negra, seja o
catalisador de debates e práticas que a categoria, setor de comunicação,
sociedade, governo e instituições de ensino não podem mais se furtar: a
eliminação do racismo sob todas as suas formas.
Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
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