sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ato contra o genocídio da juventude negra em Alagoas

 
Nessa quarta-feira (20.02), ocorreu o ato intitutlado "Em Nome da Vida..." dentro do Palácio do Governo de Alagoas localizado no centro de Maceió, durante a posse dos representantes Denis Angola e Carlos Pereira (Movimento Negro) e Fernanda Monteiro e Daniel Araújo (Juventude Negra) no Comitê Gestor do Plano Juventude Viva em Alagoas. A ação serviu para cobrar explicação sobre a assassinato de Gutemberg Bandeira, e de tantos outros jovens que são assassinados a todo instante nas periferias do nosso estado.
 
Confira na íntegra, a MOÇÃO DE REPÚDIO lida na atividade:
 
 
 
Em memória de um marco negro em Alagoas, em memória de um artista negro em Alagoas, em memória de um jovem negro em Alagoas, em memória de um guerreiro negro em Alagoas, em memória de uma criança negra em Alagoas, em memória de uma mulher negra em Alagoas, em memórias imemoráveis corpos de negros e negras em alagoas.  
Dificilmente eu possa explicar tão grande é nossa revolta, dificilmente eu possa expor meus sentimentos quanto à quantidade de jovens negros e negras que violentamente ceifou-se a vida em Alagoas.  
A juventude Negra de Alagoas esta em luto, não apenas pelo jovem negro, artista, músico, dançarino, capoeirista e educador Gutembuergue, mais também ao que podemos hoje chamar da negligência de nossos gestores, e também o que podemos chamar de incentivo ao Genocídio de jovens negras e negros.  
O plano juventude viva, não pode ser um engodo, o plano juventude viva não pode ser um espaço do silêncio, o plano juventude viva é um plano para juventude negra de periferia, o plano juventude negra viva era assim que todos os gestores ao tratar deste plano deveria se referir, pois nós nas trincheiras periféricas estamos morrendo e estamos morrendo não por não ter poder em nossa comunidade, mais sim por ter.  
Gutembergue Bandeira, foi um líder que não curvou-se as mazelas que nossa falta de políticas públicas gerou com nosso lideres governantes, em nossas trincheiras não iremos nos curvar, estaremos sempre lá, resistindo a tudo e a todos.  
Quando se mata jovens negros em Alagoas quase nunca pensamos que foi o extremo da violência, quase nunca pensamos que existem níveis de violência e que estes níveis tem cor, gênero, classe social e idade. Outro dia vi um vídeo onde uma criança negra, em Maceió tinha sido capturado no bairro do Reginaldo por estar assaltando, uma criança de 12 anos, criança esta que era tratada como adulto, criança esta que ao ser perguntada por que fazia aquilo ela respondeu; Eu meto bala mesmo, quem vir eu mato e é assim mesmo, se virem me pegar eu meto bronca, e quando feito outra pergunta a ele, onde esta seu pai e sua mãe? A criança responde, estão mortos, meu pai matou minha mãe e os caras mataram meu pai.  
Num outro vídeo que teve repercussão nacional, policiais da força nacional, trazidos pelo plano Brasil Mais seguro estavam na periferia torturando a comunidade com a justificativa de que eram suspeitos, ai eu pergunto quem não é suspeito na periferia? Qual negro não é suspeito quando vive na condição marginalizada? Quantos de nós jovens negras e negros não fomos abordados pela policia porque somos suspeitos? 
Nossos exemplos históricos de como são tratados os negros em Alagoas tem um fato em comum e cito exemplos: em 1655, o genocídio no Quilombo dos palmares (União dos Palmares), 1832, insurreição com os mucambeiros Papa-méis, na região litoral (Maragogi), 28 de Abril de1876, a última pena de morte no Brasil, escravo Francisco, (Pilar) e em 1912 operação chamado de “Quebra de Xangô” (Maceió), todos estes fatos marcados historicamente pela violência à cultura negra.  
Hoje somos nós, jovens negras e negros, hoje estamos no centro das atenções, hoje o plano é Juventude Negra Morta no fronte de batalha, hoje estamos sendo exterminados, com a violência extrema, a fogo e ainda sim hoje não choramos o leite derramado, pois não é só o leite derramado nas periferias, mas sim o sangue de jovens promissores, jovens que poderiam está com um berimbau na mão ao invés de uma arma.
Gutembuergue Bandeira não pode ser apenas uma estatística, não podemos tratar Guto Bandeira como mais um, nem tampouco justificar seu assassinato como comum, assim como outros assassinatos se tornaram comuns aos olhos de nossa sociedade e justificável até pelos atos extremos.
O que nos causa espanto é o silêncio da imprensa alagoana, o que nos causa espanto é as mídias simplesmente tratar como comum, para está imprensa e para está sociedade justificável deixamos a pergunta, e se fosse no bairro da Ponta Verde? E se o jovem morte fosse filho do Governador, filho de um Juiz, filho de um Delegado, um Médico?
 A revolta não ofusca o sentimento de impunidade e o sentimento de impunidade não ofusca a necessidade de justiça para todas e todos os negros mortos em nosso Estado, pois a cada dia em nosso estado morre um Gutembergue, a cada momento uma bandeira negra é arriada nas periferias.
 A juventude Negra Alagoana quer respostas, a juventude negra alagoana quer justiça, a juventude negra alagoana não quer mais crimes a humanidades impunes, nem o genocídio aos jovens negros alagoanos, a juventude negra é a principal vítima da falta de gestão pública. Acabou-se um legado com a morte do Guto. Tudo ele herdou do pai, mais não acabou nossa necessidade de justiça, nossa necessidade de respostas.
Nesse sentido, é propício o momento para repudiar e reivindicar políticas públicas voltadas à juventude negra, em específico à juventude negra de Periferia, a juventude que resiste e é hoje o pilar e o futuro deste Estado.
 
 

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