sexta-feira, 28 de março de 2008

Mulheres negras fora das redações

Apenas seis das cem jornalistas no mercado de trabalho da Baixada Santista são negras. Esse foi o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) A Inserção da Jornalista Negra nos Meios de Comunicação da Baixada Santista realizado pelas jornalistas Carolina Ferreira dos Santos, Elys Paula Santiago da Costa e Vera Lúcia Oscar Alves da Silva, recém-formadas. O TCC, uma grande reportagem em formato de revista, foi apresentado ao final de 2007 no Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos-SP, e orientado pelo jornalista e professor Adelto Gonçalves, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

O recorte de gênero e raça para constatar se há igualdade de oportunidades dentro da profissão é inédito. Até então, havia apenas levantamentos sobre a questão de gênero ou de raça, sem levar em conta a possibilidade de dupla discriminação.Mulheres excluídas. A pesquisa, foco do trabalho, constata que dos 200 profissionais que trabalham nos 12 veículos da Baixada Santista que responderam à pesquisa, 100 são mulheres e apenas 6% dessas mulheres são negras. Foram enviados e-mails para 17 redações com perguntas referentes ao número de jornalistas que trabalham nesses veículos, dentre eles, quantidade de mulheres, dessas mulheres, quantas são negras e se entre as afro-descendentes, alguma ocupa cargos de chefia.

O tema do trabalho foi escolhido um ano antes da apresentação. "Sou militante dos movimentos negro e feminista e as minhas duas colegas de trabalho, simpatizantes", diz Vera Oscar. "Foi entre conversas ligadas a essas questões que decidimos o tema do nosso TCC", conta. Ainda segundo ela, o principal objetivo das estudantes era responder à questão: a ausência de mulheres negras que ocorre em diversas profissões também acontece no jornalismo?

Carolina Ferreira conta como foram feitas as grandes reportagens que embasaram a pesquisa. "Foram entrevistadas especialistas na questão de gênero e racial como a ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e a psicóloga Edna Roland que foi relatora da ONU na Conferência Mundial Contra o Racismo na África do Sul em 2001".

Histórias de vida - Além das especialistas, seis jornalistas negras que se formaram ou trabalham na região contaram suas histórias de vida. Textos de apoio contando a trajetória da mulher negra no Brasil e definindo conceitos como feminismo, raça e etnia também serviram para complementar a grande reportagem.A revista recebeu o nome de Dandara, que significa "a mais bela", em homenagem a uma heroína brasileira.

"Embora os historiadores estejam ainda concluindo as pesquisas sobre a personagem, o que se sabe é que Dandara foi uma mulher negra, esposa de Ganga Zumba, rei do Quilombo dos Palmares antes de Zumbi", explica a terceira componente do grupo, Elys Santiago. "Dizem que ela lutou ao seu lado, escondeu escravos e se suicidou para não voltar à condição de escrava".Ao comentar o que representou o trabalho para suas autoras, Carolina Ferreira diz que, além de se tornarem jornalistas com consciência social, as recém-formadas estão disponibilizando "mais um mecanismo para a luta pela democracia racial e de gênero no País".


Por: Adelto Gonçalves
Fonte: Afropress - 27/3/2008

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