Brasília, 19 de novembro de 2014.
Carta Circular nº 13/2014
–
FENAJ
CC: Diretores da
FENAJ e CNE.
20
de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra
Companheiros e
companheiras,
Neste 20 de novembro, quando o Brasil
celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, a FENAJ reafirma o seu compromisso
com os princípios e propostas da Carta da Igualdade de Maceió,
resultado do I Encontro Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial (I
ENJIRA), referendada no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas, e
pede aos sindicatos o empenho na reflexão do tema para que possamos avançar na
luta pela igualdade racial como fundamental para a democracia.
As
representações dos (as) negros (as) e grupos historicamente discriminados no
jornalismo e a destinação de verbas públicas para as mídias negras foram alguns
dos temas que ordenaram as reflexões tecidas no I ENJIRA e nos estimularam a
pensar no projeto de democracia que cimenta o desenvolvimento deste país.
Durante o debate, também sublinhamos, enfaticamente, a existência de uma
ditadura estética eurocêntrica na imprensa, a reduzida presença de jornalistas
negros (as) nas redações e a necessidade de inclusão da temática
étnico-racial no currículo das faculdades de jornalismo.
Tornou-se
moeda corrente a afirmação de que a democracia, um dos motes do 36º Congresso,
não se coaduna com racismo. Discutir a situação dos (as) jornalistas, do
jornalismo e da democracia deve obrigatoriamente nos levar a assumir a superação
do racismo brasileiro como nexo prioritário para o exercício do bom jornalismo,
calcado nos princípios de transparência e de combate a toda sorte de
desigualdades.
Não se põe mais em questionamento o fato de o Brasil ser um país marcadamente
racista. Alguns indicadores não deixam dúvida: o nosso IDH fica na margem do
79º lugar no ranking mundial. Quando desagregamos essa posição por raça, a
população negra fica no 114º lugar e a branca no 38º lugar. Mulheres e
homens negros permanecem ganhando menos que homens e mulheres brancas. As
altas taxas de extermínio da juventude negra, especialmente dos homens, são uma
tragédia social. Alagoas, que sediou nosso 36º Congresso, é o estado
que mais mata jovens negros no Brasil.
Como podemos, no território da atividade jornalística, promover a equidade e
combater o racismo? Uma vez que o jornalismo é atividade que funda e não apenas
relata a realidade, de que modo podemos transpor as assimetrias raciais nos
sistemas de informação e nos regimes de visibilidade trazidos à superfície
pelas notícias que manufaturamos cotidianamente?
Sabemos, igualmente, das profundas modificações nos processos de sociabilidade.
Essas mudanças não são pensáveis sem o papel fundamental que as mídias desempenham
na visibilidade do poder. A opinião pública se forma em parte graças
ao que hoje chamamos de mídia.
Ora, se concordamos quanto a esse estatuto da mídia, em geral, e do jornalismo,
em particular, constitui-se urgência política e um imperativo ético que a
Federação Nacional dos Jornalistas e os sindicatos possam cada vez mais
aprofundar o debate em torno das assimetrias raciais, com propostas exequíveis
no campo de ação dos (as) jornalistas engajados (as) no combate à discriminação
e ao racismo. Temos 31 sindicatos e apenas 8 (oito) comissões de
jornalistas pela igualdade racial, o que ainda é pouco em face da magnitude do
racismo no tecido social. É preciso que a Federação e os sindicatos sejam
indutores de políticas capazes de incidir sobre as desigualdades sociais com
fundamento racial. Necessário se faz a reflexão em torno do imaginário que
governa todos nós, negros (as) e brancos (as), e que não tenciona os papéis
subalternizados sobrerepresentados em grupos raciais não hegemônicos.
Acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, são absolutamente
cristalinos no que diz respeito ao compromisso do Estado brasileiro, bem como
de organismos e categorias profissionais, em superar o drama racial que ainda
experimentamos como forma de alcançar, efetivamente, o desenvolvimento pleno
capaz de consolidar a democracia.
Reafirmamos neste Dia Nacional da Consciência Negra o
nosso compromisso com a promoção da igualdade étnico-racial e de
gênero, entendendo que os grupos historicamente discriminados tem o direito de
desfrutar do binômio justiça e desenvolvimento.
Saudações
sindicais,
Celso
Augusto Schröder
Presidente
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