O lançamento da Campanha “Por uma infância sem racismo” em Alagoas aconteceu na Serra da Barriga, berço da liberdade e palco da resistência negra
Texto: Helciane Angélica / Fotos: Emanuelle Vanderlei - integrantes da COJIRA/AL
Crianças de todas as cores, idades, etnias, cheias de sonhos e oriundas de várias partes de Alagoas estiveram nesta sexta-feira (03.12) na Serra da Barriga em União dos Palmares, local onde se formou o maior e mais importante Quilombo já registrado e que teve uma população multi-étnica em busca de liberdade e justiça social. Na ocasião foi lançada a Campanha “Por uma infância sem racismo”, uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com várias instituições.
A solenidade iniciou com a leitura das dez maneiras de contribuir para uma infância sem racismo, informações apresentadas por alunos de escolas públicas. Em seguida, ocorreram os pronunciamentos das autoridades: o Prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas; Nadja Lessa, Secretaria Adjunta da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos; Claudio Leite, o Mestre Claudio, do Escritório Estadual da Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura; Dr. Claudio Soriano, Presidente do Conselho Estadual de Direito da Criança e Adolescente; o professor Carlinhos da Associação Muzenza Capoeira, representando todas as entidades da sociedade civil que aderiram à Campanha; e por último, Salvador Soler, coordenador do UNICEF nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
O coordenador Salvador Soler apresentou os principais objetivos e metas da campanha nacional que a princípio terá uma duração de doze meses, com o intuito de sensibilizar a sociedade e os veículos de comunicação sobre os efeitos do racismo na infância. Também, foram exibidas peças de divulgação como o encarte informativo, blog e vídeos que contou com a interpretação de Lázaro Ramos – ator, ativista e Embaixador do Unicef.
A estudante Daniele Ferreira de onze anos é uma das crianças que enfrenta diariamente o preconceito de coleguinhas da escola que implicam com o seu cabelo afro e fazem constantemente piadas ofensivas. Mas a menina, que foi escolhida para ser a mestre de cerimônia mirim, não se deixa abater, afirmou que ignora porque tem orgulho de ser negra, é feliz e se considera linda.
O UNICEF está comemorando 60 anos de atuação e sempre monitora os indicadores sociais relacionadas à saúde, educação, moradia, segurança e em outros segmentos; além de buscar o empoderamento das crianças para que conheçam seus direitos e sejam protagonistas das ações. De acordo com dados estatísticos do IBGE e do PNAD, no Brasil vivem 31 milhões de crianças negras e 150 mil crianças indígenas, onde cerca de 26 milhões das crianças brasileiras vivem em condições de pobreza e 17 milhões são negras.
Simbologia
A escolha da Serra da Barriga para realizar o lançamento da Campanha em Alagoas não foi uma decisão unilateral, e sim, definida em consenso pelas mais de 30 instituições públicas e privadas parceiras. “Quando eu cheguei aqui, me senti entrando em um local sagrado. E estou muito feliz pela simbologia de liberdade e resistência que esse lugar tem, onde pessoas que mesmo não sendo reconhecidas lutaram por liberdade e respeito. Então, estar aqui, nos anima a continuar lutando por igualdade na infância e na expectativa que todas as parcerias conquistadas permaneçam contribuindo para a promoção do respeito étnico”, declarou Soler.
Apresentações
O dia de mobilização também contou com apresentações artísticas, onde as crianças alagoanas exibiram seus talentos na arte de representar, dançaram, cantaram e batucaram. Teve o grupo Malungos do Ilê, Afoxé Odô Iyá, Banda Afro Nação Dandara, o Grupo Ará Fun Fun Omagerê que é vinculado ao Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb), aulão de capoeira e a presença especial do Coral Canarinhos Aracaju de Sergipe que existe há onze anos sob a regência do Maestro Carlos Magno do Espírito Santo.
Estiveram presentes aproximadamente 230 crianças no total, oriundas de escolas públicas de vários municípios; de três comunidades quilombolas Muquém, Filús e Jusarinha; indígenas da Tribo Xucuru Cariri; além de representações de comunidades em áreas de vulnerabilidade social a exemplo da Vila Emater II, Bebedouro, Benedito Bentes, Conjunto Village Campestre e Ponta da Terra.
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