terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Alagoas comemora o Dia de Combate à Intolerância Religiosa

Cerimônia no terreiro Casa de Iemanjá lembra a violência da data conhecida como o Dia do Quebra de Xangô e prestou homenagem a personalidades


A Constituição Federal de 1988 garante aos cidadãos a liberdade de crença, bem como assegura o Estado como laico e o responsabiliza por proporcionar uma atmosfera de compreensão religiosa em detrimento de intolerância ou de extremismo. Pensando nisso, o governo do Estado celebrou nesta terça-feira (2) o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, com cerimônia na Casa de Iemanjá, situada no bairro da Ponta da Terra.

O babalorixá Célio Rodrigues, o Pai Célio, responsável pela entidade fundada em 1984, coordenou as homenagens a 10 personalidades que vêm contribuindo na luta contra o preconceito religioso. Elas receberam o Diploma de Honra ao Mérito Oju-Jagum — que, em iorubá, significa Olhos do Guerreiro.

A data — O dia municipal e estadual de Combate à Intolerância Religiosa (2 de fevereiro) foi instituído em razão da Quebra de Xangô de 1912, ou o Dia do Quebra, episódio no a polícia alagoana destruiu centenas de terreiros. O episódio também resuçtou na perseguição dos religiosos praticantes dos cultos afro-brasileiros e na proibição dos cultos, que resistiram na clandestinidade.

Pai Célio declarou aos presentes à solenidade que, apesar de o episódio ter sido “extremamente negativo, foi revertido em uma outra visão da religiosidade, no dia 2 da celebração e da reflexão”.

Esta é a segunda vez que o Estado de Alagoas comemora a data, que foi incluída no calendário por meio da Lei nº 7.028, sancionada pelo governador Teotonio Vilela em 19 de janeiro de 2009. No país, a data é celebrada no dia 21 de janeiro e foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007.

O governador Teotonio Vilela Filho foi o primeiro homenageado do dia. Ele falou da eficácia da paz como caminho. “A intolerância de qualquer natureza precisa ser banida porque atrasa as pessoas. A intolerância religiosa causa um mal muito grande porque busca tolher a fala do espírito”, declarou o governador, que também discorreu sobre o papel do governante. “Um governante que detém o poder deve entender que a repressão é um caminho de uma bestialidade que não se concebe”. Sobre a lei estadual, Teotonio comentou não ser “apenas um gesto de ação legal. Deve ser tomada como prática do dia-a-dia”.

Por seu empenho em atender as reivindicações das entidades de matriz africana, o secretário-chefe do Gabinete Civil, Álvaro Machado, recebeu o Diploma. Ele contou que somente em 2007 o Palácio do Governo recebeu as religiões de matriz africana de portas abertas para discutir suas demandas. “Quer dizer que, lamentavelmente, desde o Quebra até 2007, aquele prédio que representa o Poder Executivo do Estado não as ouvia ”, lamentou.

Mas, para o secretário, também é preciso comemorar a abertura que se deu desde então, já que, em parceria com as secretarias da Mulher e da Cultura, o Gabinete Civil articulou a feitura da Lei nº 7.028, construída no ano passado e sancionada pelo governador Teotonio Vilela. “O dia é para chamar a atenção das pessoas para que elas percebam que a intolerância religiosa existe e ela tem que acabar e o ideário de civilidade entre os cidadãos que está na nossa Constituição acontece independente das escolhas religiosas”, declarou Machado.

Foram homenageados, ainda, o babalorixá Pai Maciel, a secretária de Estado da Mulher, Wedna Miranda, o vereador Galba Novaes, a jornalista do coletivo étnico Cojira, Helciane Angélica, o deputado estadual Judson Cabral, os promotores do Ministério Público Estadual Carla Padilha e Flávio Gomes, e o pesquisador no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), Clébio Correia.

O pesquisador ressaltou o forte simbolismo do momento, devido à presença da autoridade máxima do Estado. Para ele, o episódio do Quebra de 1912 não foi somente um acontecimento de repressão religiosa, mas de uma injustiça histórica sem precedentes, já que as consequências foram bem maiores. “Em 1912, os terreiros foram depredados, os líderes humilhados, os artefatos sagrados expostos em delegacias como provas de crimes”, disse o professor. “Até 1945, Alagoas reprimiu os cultos dessas escolas de formação popular”. Para ele, as casas de axé são importantes para a auto-estima dos afro-descendentes e não por acaso foram atacadas. “Os terreiros são centros mantenedores do nosso patrimônio ancestral, é preciso revitalizar o que há de mais orgânico”, disse o pesquisador Clébio Correia.


Fonte: Agência Alagoas

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