domingo, 4 de janeiro de 2009

Babalorixá Elias de Airá foi um dos mais procurados pela imprensa alagoana

O Babalorixá Elias de Airá também fez suas previsões para o ano que se inicia, e foi um dos mais procurados pela imprensa alagoana. Nascido em família dividida entre católicos, protestantes e membros do candomblé, Pai Elias lutou para desenvolver sua espiritualidade.

Confira a matéria publicada no Jornal Alagoas em tempo - Edição 355 - 29 a 31 de dezembro de 2008 / foto: Cícero Santana.



Bons ventos sopram em direção ao ASA de Arapiraca em 2009



“O ano de 2009 será um ano de água e de terra, é um ano bom para uns setores e ruim para outros. A nossa economia vai parar, vai dar uma estacionada, mas se os governantes não tomarem providências, vai ser um caminho para uma grande e grave crise no Brasil, se ele for realmente afetado”. A previsão é do Babalorixá Elias de Airá, do candomblé Palácio de Airá. Pai Elias tem 30 anos, é pernambucano, e há 15 anos faz parte da religião, tendo a casa inaugurada há dois anos, em Cruz das Almas.

No esporte, ele prevê que 2009 é o ano do ASA. “Um ano onde esse time estará se destacando, cada vez mais. A seleção estará se recuperando para enfrentar um grande time que aparecerá na sua frente, e eles irão superar esse jogo. Mesmo com a derrota na Copa, eles vão superar tudo isso e vão chegar lá”, assegura.


POLÍTICA

Dentro da política em Maceió vai surgir um jovem que vai dar um grande impacto, desde já ele está se articulando. É de uma família bem requisitada aqui no Estado. O Prefeito Cícero Almeida vai trabalhar em 2009 bastante na questão de pavimentação da cidade, mas vai também investir nos programas sociais, que até então é realmente um dos objetivos que ele está trabalhando. Em 2009 é necessário que não só o prefeito, mas também o governador trabalhem mais a questão do social, para sairmos desse quadro de inferioridade nacional, pois Alagoas tem índices ruins de saúde, educação, trabalho social, desenvolvimento humano e muito mais.


MEIO AMBIENTE

A natureza está cobrando de fato o que é dela, e o homem está em busca cada vez mais de deter aquilo que não é dele. 2009 vai ser um ano de muita água, muita seca e muito tremor de terra. Em Alagoas, fora a questão da água, vai haver um grande tremor, eu não consigo precisar em qual município. Vai haver a questão da água, mas a seca não ficará atrás, o que é muito ruim para a saúde.

O homem é o começo de tudo, mas seus atos fazem também ser nossa época o final dele. A mulher já está vindo para trazer a sensibilidade e quebrar essa visão de poder, de centralizador, que o homem tem. O homem tem que começar a pensar no futuro não só dele como também de sua família. O homem dá frutos, e ele tem que ter consciência de que no futuro esses frutos serão prejudicados pelos seus atos de agora, e nossa religião prega muito isso, a questão do respeito ao ciclo natural, da preservação da natureza.


SAÚDE

A população vai ter um grande problema de saúde, pela seca, pelo calor como também por ser um ano de muitos nascimentos, onde os hospitais e as maternidades vão ter um contingente maior de mulheres grávidas. Pelo crescimento na demanda pode haver algumas mortalidades. Peço aos gestores que olhem para esse lado da saúde, pois em 2009 nós vamos precisar muito da saúde. A estrutura existe, porém falta o material, principalmente o humano. Que as pessoas nessa área da saúde sejam mais humanas.

Vai surgir uma bactéria, que penetra no corpo via oral e será uma junção entre duas bactérias, uma originada do mosquito da dengue e outra do rato, que paralisará todos os órgãos e que realmente será um impacto. Ela já existe, ainda não foi denominada. Nacionalmente ainda não deram muita importância para ela, mas ela irá aparecer sim em 2009 e é muito grave.


FAMOSOS

No nível nacional nós perderemos um grande baluarte da cultura, um mestre, que contribuiu e contribui até hoje para a nossa cultura; isso vai abalar nacionalmente, ele está ligado a arte e música.


MUNDO FEMININO

Tudo vai ficar equilibrado, como uma balança. Em 2009 haverá um grande destaque de mulheres no governo, em Alagoas. Haverá um grande destaque na área da música, vai ser um fenômeno em Maceió e no Estado. Mas vai parar aqui, pois a questão da arte e da cultura ainda é complicada, infelizmente, pois falta um grande incentivo. Essa pessoa vai vir para dar uma grande balançada nisso tudo, para ensinar a Alagoas e Maceió a cuidar um pouco mais do seu povo e da sua cultura, incentivando mais.


AÇÕES DO PAI ELIAS

Pai Elias encabeça vários trabalhos sociais como o projeto “Sob a Proteção dos Orixás” que foi executado ano passado e esse ano foi aprovado de novo, trabalhando com prevenção nos municípios vizinhos; e o projeto dentro dos candomblés, “Saúde em Pontos de Linha” que é para os soropositivos.

Existe também um trabalho de prevenção com a comunidade, onde são distribuídos preservativos. “Nessa distribuição nós fazemos reunião com os que são ligados ao grupo, e damos algumas palestras sobre DST Aids, hepatite, além de um trabalho em ligação com o movimento GLBTT, onde se discute e orienta-se a questão da homossexualidade dentro das casas de matriz africana”, explicou.

Chanceler do Candomblé do Brasil prevê 2009 de grandes realizações para Alagoas


Sobre a sucessão governamental ele traça o perfil de Fernando Collor como futuro governador


Texto e foto: Cícero Santana



O presidente dos Cultos Afro-Umbandista de Alagoas, o Tataoluô, (na linguagem afro tataravô de santo) aos 95 anos, Benedito Maciel, que ao longo dos anos já acertou várias previsões boas e más, afirma que “o ano de 2009 será regido por Xangô, o rei da Justiça, por isso, conforme os búzios, vamos ter boas previsões para as pessoas que fazem a justiça”. Ele, que também tem a patente de Chanceler do Candomblé do Brasil, declara que desde 1960, vem sendo procurado pela imprensa, para fazer as previsões de final de ano e na sua grande maioria as revelações dos búzios acontecem.

Com relação ao clima de violência que colocou Alagoas como um dos estados mais violentos do País, Pai Maciel, falando através das mensagens dos búzios, disse que nenhuma ameaça de morte contra políticos será cumprida e que o próximo ano será um dos melhores de toda a história do Estado, quando irão surgir novos empregos através de implantação de novas indústrias e descobertas de jazidas de petróleo e de soda caustica.

No perfil traçado pelo chanceler Benedito Maciel, para as previsões da sucessão governamental de 2010, coincide com o do senador Fernando Collor de Melo. “Os búzios estão dizendo que é um homem maduro, com larga experiência na política alagoana e teve projeção nacional. Tem projetos que irão devolver o progresso do estado. Ele vem trabalhando e aos poucos reconquistando o eleitorado”. A reportagem procurou saber se os nomes seriam do senador Fernando Collor, ou do prefeito Cícero Almeida. “Com relação a nomes eu não posso dizer, porque os búzios não estão permitindo. São pessoas que estão na evidência e poderá ser até um deles ou outro cujo perfil se encaixe no que os búzios estão dizendo”, afirmou Pai Maciel.

O Palácio de Oxum, residência do chanceler do Candomblé do Brasil, Benedito Maciel, fica na rua Tiradentes, em Ponta Grossa, onde vem recebendo dezenas de pessoas que todos os anos, procuram suas previsões para o ano seguinte. “Aqui, quando chega essa época, o palácio fica sempre cheio. Muitos saem contentes outros não, porque eu não posso negar o que os búzios nos revelam. Já acertei várias previsões, como a queda do Divaldo Suruagy, quando renunciou ao governo, a vitória do governador Teotônio Vilela e várias outras previsões, inclusive das dificuldades que teríamos durante o ano de 2008, que está chegando ao fim”, revelou.

Jazida de Petróleo

Os búzios de Pai Maciel, também revelam que em 2009, será um ano de grandes realizações. “Este ano traz também a influência de Iemanjá, Rainha do Mar, onde se reflete o ouro e a riqueza. Vai ser muito bom para Alagoas, já que serão descobertas várias jazidas de petróleo em território alagoano, o que quer dizer que teremos mais empregos. Não só petróleo mas também jazida de soda cáustica, o que irá atrair novas indústrias para o estado, reduzindo o índice de desemprego, que sofremos este ano. 2009, será um ano vitorioso, não só para o nosso estado, mas também para todo país, é o que os búzios estão nos revelando”.

Ano da Justiça

“Esse também será o ano da justiça. Xangô é o Deus da Justiça e que tem como patrono São Gerônimo. Muitas injustiças serão corrigidas e nossos magistrados estarão recebendo a proteção dos orixás, para que possam desenvolver seus trabalhos com maior segurança. Com relação as ameaças de morte recebidas por políticos e autoridades, elas não serão concretizadas. Essas promessas malignas, o vento irá soprar para bem longe. Portanto, 2009, será um ano que irá marcar uma época positiva para os alagoanos em relação aos anos anteriores.


Fonte: Jornal Alagoas em tempo - Edição 355- 29 a 31 de dezembro de 2008

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Miss Brasil Negra


A gaúcha Deise Nunes, 40 anos, a primeira Miss Brasil negra, diz a repórter Vivian Whiteman, para a coluna da Mônica Bergamo, da Folha, que algo está mudando para os negros. Ela acrescenta que está na hora de outra miss Brasil negra.

A ex- miss Brasil e atualmente modelo e apresentadora de TV, além de jurada em concursos, foi descoberta para o Miss Brasil quando, em 1984, concorreu ao concurso Rainha das Piscinas, realizado em Porto Alegre. O concurso era considerado uma das vitrinas para mulheres que ambicionavam ao título de a mais bonita do Brasil.

Ela conquistou o título mas a coroação, ela lembra, foi tumultuada. As famílias das demais candidatas reclamaram e a votação teve de ser repetida por três vezes para confirmação da vitória de Deise.




O motivo, era mais do que previsível, considerando-se que Deise, sendo negra, concorria ao título de Miss, em um dos concursos mais representativos do Rio Grande do Sul, conhecido pela beleza das mulheres loiras, em virtude da forte presença da imigração européia. Eleger uma negra era um absurdo, achava o coro dos inconformados.


Comentários maldosos




“No dia, percebi alguns comentários maldosos, mais só fui saber dos detalhes depois. Foi uma passagem lamentável”, lembra Deise que, dois anos depois, – em 1.986 – foi coroada a primeira - e até hoje única – Miss Brasil negra.

No Concurso Miss Universo ela ficou entre as finalistas, terminando em sexto lugar. “As outras concorrentes estranhavam. Geralmente as negras do concurso vinham só da África. Hoje isso já mudou um pouco”, acrescenta.

O incidente na primeira competição em Porto Alegre, por pouco não fez Deise desistir da carreira de modelo. Segundo ela isso só não aconteceu por conta dos conselhos recebidos da mãe. “Ela me mostrou que o racismo existia, mas que eu não poderia aceitá-lo calada. Muitos negros se resignaram, aceitaram a vitimização. Eu não me conformo com isso. É tudo difícil, mas é preciso insistir e insistir mais, até o fim”, acrescentou.

Hoje, casada, mãe de dois filhos, morando em Porto Alegre e trabalhando como modelo e apresentadora de programas de TV, ela está otimista com os sinais de mudança. “Os negros deixaram de ganhar só os papéis de pobres e de marginais nas novelas e nos filmes. O novo presidente dos EUA é negro. Algo está mudando de fato. Já está na hora de aparecer outra miss Brasil negra. Espero que ela possa chegar mais longe do que eu”, conclui.


Material publicado no site da Afropress / Fotos: Divulgação

Cotas para negros têm efeitos diferentes dependendo do curso, diz estudo

Enquanto em cursos como desenho industrial, história, engenharia mecatrônica e enfermagem não haveria nenhum ou um percentual muito pequeno de alunos negros se não houvesse o sistema de cotas, uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostra que em outros, como medicina e psicologia, a reserva de vagas teria pouca influência no número de negros matriculados.

No estudo Efeitos da Política de Cotas na UnB: uma Análise do Rendimento e da Evasão, a pedagoga Claudete Batista Cardoso simulou quais as chances de ingresso que alunos negros teriam na universidade e percebeu que em alguns cursos as cotas não seriam necessárias. Um exemplo é o curso de medicina. "Os alunos que entram para medicina teriam entrado de qualquer forma, muitos deles", disse a pedagoga.

Em geral, a reserva de vagas tem menor impacto nos cursos menos prestigiados. Na área de humanidades, por exemplo, sem as cotas, estima-se que aproximadamente 13% das vagas já seriam preenchidas por negros.

Entre os cursos considerados de alto prestígio, esse percentual é de pouco mais de 3%. Na UnB, o sistema de cotas reserva 20% das vagas para estudantes afrodescendentes.

Na área de ciências exatas, o percentual estimado de alunos negros nos cursos de baixo prestígio, sem o sistema das cotas, seria de 9,5%, contra 5,7% entre os cursos de maior prestígio.

Já nos cursos de saúde a lógica se inverte. O percentual de negros que conseguiriam uma vaga independentemente da reserva de 20% é maior nos cursos mais prestigiados (13,9%) do que nos de menor prestígio (5,9%).

De acordo com Claudete Cardoso, esses dados derrubam a tese de que as cotas aumentaram o número de negros em medicina, por exemplo. "É bom para desmistificar, é bom para mostrar para a universidade em quais pontos tinha o gargalo, o impedimento de negros entrarem no curso", disse.

A pedagoga também acredita que essas conclusões podem ajudar a universidade a planejar suas ações, para que a instituição saiba como focar os trabalhos a fim de garantir a permanência dos alunos em alguns cursos.

"Não vamos nos preocupar tanto quando eles [cotistas] entrarem na universidade em alguns cursos, mas nas engenharias é necessário haver uma ação em cima desses alunos que entram por cotas, se não eles não acompanham os outros alunos e não vão ter uma qualidade do curso tão boa", concluiu.
Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Gerência de Quilombolas faz balanço positivo de 2008

Entre as ações do setor, destacam-se as visitas a 30 comunidades, a elaboração do Mapa Etnográfico, o Encontro Estadual de Quilombolas e a ampliação do Programa Brasil Alfabetizado


Texto: Diego Barros
Foto: Sandreana Melo

Programa Brasil Alfabetizado vai levar educação diferenciada às crianças das comunidades quilombolas



A Gerência do Núcleo de Quilombolas do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) fez um balanço positivo das ações realizadas em 2008. Neste ano, foram visitadas 30 comunidades remanescentes de quilombos ainda não certificadas oficialmente para a elaboração do Mapeamento das Comunidades Quilombolas de Alagoas, ainda em fase parcial. Durante as visitas, os moradores desses lugares foram sensibilizados sobre a importância da certificação.

Mapeamento etnográfico — O mapeamento descreve os aspectos sociais, culturais e econômicos de cada uma das comunidades visitadas. O objetivo é que ele seja utilizado no processo de certificação das comunidades pela Fundação Cultural Palmares. “Com o reconhecimento oficial da comunidade como remanescente de povos quilombolas é mais fácil conseguir recursos para aplicação em projetos de melhoria de vida, entre eles construção de casas, estradas de acesso, postos de saúde, escolas e ampliação de programas sociais do governo federal”, explica Berenita Melo, gerente do Núcleo de Quilombolas do Iteral.

Além do relatório, a equipe do Iteral que fez as visitas, formada também por um antropólogo e uma acadêmica de Ciências Sociais, tentou mostrar aos moradores a relevância da certificação. “Para que uma comunidade seja reconhecida oficialmente como remanescente de quilombo, é necessário que a iniciativa parta dela própria; um estudo ou a determinação de pessoas de fora não é suficiente”, observa o antropólogo Christiano Barros.

Com o relatório das visitas foi criado um banco de imagens dessas comunidades. Estima-se que em Alagoas há mais de 50 comunidades remanescentes de quilombos, mas apenas 23 foram certificadas oficialmente.

Encontro estadual — Com a finalidade de discutir o fortalecimento étnico e a necessidade de obter a certificação oficial, de 12 a 14 de novembro, o Iteral realizou o I Encontro Estadual de Comunidades Negras Quilombolas de Alagoas, que reuniu cerca de 70 representantes de comunidades certificadas e não certificadas, em Maceió.

Com o apoio da Fundação Cultural Palmares e do Laboratório de Antropologia Visual de Alagoas (Aval), o evento promoveu o fortalecimento da organização das comunidades quilombolas e o debate sobre a melhoria da qualidade de vida e a valorização da identidade. Durante a reunião também foram discutidos temas relacionados à territorialidade e à promoção de políticas públicas.

Discussão política — Com o apoio do Iteral, por meio da Gerência do Núcleo de Quilombolas, lideranças das comunidades quilombolas Jussarinha, Filús e Mariana, de Santana do Mundaú, na Zona da Mata alagoana, participaram das comemorações alusivas ao Dia da Consciência Negra, em União dos Palmares. “Foi mais um momento de discussão política e fortalecimento da identidade”, conta Berenita Melo.

Exposição fotográfica — Como resultado das visitas às comunidades quilombolas, o banco de imagens criado deu origem a uma exposição, que ficou aberta ao público, em Maceió, de 12 a 18 de novembro, no Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa), no Jaraguá. Essa mostra também foi levada aos municípios de Santana do Mundaú, Viçosa e União dos Palmares.

Educação em debate — Engajados na busca de melhorias sociais, inclusive numa educação diferenciada, os moradores das três comunidades quilombolas de Santana do Mundaú, com o apoio do Iteral, do Instituto Irmãos Quilombolas, do deputado estadual Fernando Toledo e do vereador de Santana do Mundaú Ivan Ferreira, realizaram no dia 23 de dezembro o I Encontro Municipal de Identidade Quilombola e seus Direitos na Escola, que reuniu cerca de 70 professores das redes estadual e municipal de ensino. Segundo Arísia Barros, representante do Projeto Raízes de África que participou do evento, é preciso estabelecer políticas públicas que contemplem uma educação diferenciada para as comunidades remanescentes de quilombos.

Programa Brasil Alfabetizado — A mobilização da Gerência do Núcleo de Quilombolas do Iteral em prol da educação para as comunidades quilombolas teve resultados positivos em 2008. Com o apoio do Instituto, o programa do Ministério da Educação, que em Alagoas tem o apoio da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte, foi ampliado e até agora 41 novas salas de aula estão em funcionamento nas comunidades quilombolas. “Essas salas de aula ficam em 31 comunidades certificadas e não certificadas de 18 municípios”, revela Berenita Melo.

São estas as comunidades atendidas pelo Programa Brasil Alfabetizado: Mombaça, Belo Horizonte e Urucu (Traipu); Mameluco, Poços do Lunga e Passagem do Vigário (Taquarana); Sapé (Igreja Nova); Oiteiro e Tabuleiro dos Negros (Penedo); Aguazinha, Gameleiro e Guarani (Olho D’água das Flores); Cajá dos Negros (Batalha); Alto do Tamanduá (Poço das Trincheiras); Alto da Madeira (Jacaré dos Homens); Caboclo (São José da Tapera); Serra das Viúvas e Lagoa das Pedras (Água Branca); Birrus e Abobreiras (Teotônio Vilela); Carrasco e Pau D’arco (Arapiraca); Tabacaria (Palmeira dos Índios); Vila de Santo Antônio e Filomena (Palestina); Muquém (União dos Palmares); Mariana, Jussarinha e Filús (Santana do Mundaú); Gurgumba (Viçosa); e Serrinha dos Cocos (Senador Rui Palmeira).

Fonte: Agência Alagoas

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Retrospectiva Afro-Alagoana (2008)


O material foi editado por Helciane Angélica Santos Pereira (jornalista - 1102 MTE/AL): integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) e presidente do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô. As informações são baseadas nos emails enviados pelos segmentos afro-alagoanos, pesquisas em sites e nas notas publicadas na Coluna Axé / Jornal Tribuna Independente.


Janeiro


* Lançamento do blog da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL): http://www.cojira-al.blogspot.com/.

* Aconteceu no dia 09, um incêndio na Serra da Barriga em União dos Palmares, que teve grande proporção (cerca de 20 hectares foram destruídos pelo fogo) e faltaram apenas 60m para atingir o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.
* Aconteceu a 6ª Lavagem do Bomfim no dia 13, a atividade reuniu religiosos de matriz africana e simpatizantes. Realização: Casa de Iemanjá.
* No dia 17 é publicado no Diário Oficial da União um convênio entre a Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura e a Fundação Sônia Ivar, que destina R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais) para o Intercâmbio Afro-Latino nas dependências do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, com prazo de vigência até 22 de dezembro de 2008.

* O Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb) instalou no dia 28/01, a loja Inaê com a Griffe Farrapu's. Os produtos serão vendidos na feira de artesanato "Guerreiros" localizado no bairro histórico Jaraguá em Maceió, e 50% do valor é revertido para o Projeto Inaê.

Fevereiro

* Robson Calheiros, irmão do ex-presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, foi condenado pela Justiça a cumprir dois anos e quatro meses de reclusão pelo crime de racismo contra a vereadora Fátima Santiago e seu filho, Henrique Santiago. A sentença foi dada pela juíza Maria da Graça Gurgel, titular da 2ª Vara Criminal da Capital. O racismo ocorreu em outubro de 2005, quando o então vereador proferiu agressões verbais contra Fátima Santiago.

* O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) da Universidade Federal de Alagoas lançou o terceiro número da Revista Kulé-Kulé, denominado AfroAtitude, no dia 14. O lançamento integra a programação de recepção aos feras 2008, no auditório da Reitoria localizado no Campus A. C. Simões, bairro do Tabuleiro do Martins.

* A Cojira-AL junto com diversas entidades do Movimento Negro alagoano solicitou uma audiência com o governador Teotônio Vilela Filho, para entregar uma pauta de reivindicações visando a formulação de políticas públicas para a promoção da igualdade racial no conjunto das ações do governo, considerando os índices de desigualdades, preconceitos e racismo que atingem a população afro-alagoana.

* Integrantes do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô estiveram na Serra da Barriga em União dos Palmares, no dia 21, para uma visita técnica, onde conferiram os estragos do incêndio e divulgaram fotos no seu blog.

* A Superintendência de Promoção dos Direitos e Políticas para a Mulher promoveu no dia 21, na Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, uma reunião com representantes do Instituto de Terras e a Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), quilombolas e do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), para discutir a execução da segunda etapa do projeto de Capacitação em Gênero, Raça e Etnia para Mulheres Gestoras.

* O Centro de Estudos e Pesquisa Afro-Alagoano Quilombo realizou a 1ª edição do projeto “Mirante Cultural – Um quilombo chamado Jacintinho”. Busca a valorização de artistas locais e ações que estimulam a identidade afro-cultural, além de proporcionar entretenimento para moradores da periferia.

* No período de 28 de fevereiro a 1º de março ocorreu o I Fórum Nacional da Consciência Negra na Educação, no Centro de Convenções de Maceió. A atividade reuniu educadores de várias partes do país e foi promovida pela Secretaria Estadual de Educação e Esporte, por meio da gerência étnico-racial.

Março


* O Cefet-AL iniciou as discussões sobre o curso de Africanidade, com o objetivo de introduzir a lei 10.639/2003 – implantação do ensino da cultura da África na instituição federal de ensino. O objetivo é formar primeiramente professores para se habilitar, em seguida, junto ao programa da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC introduzir cursos a distância em nível de “latu-sensu”.

* A Gerência do Núcleo de Quilombolas do Instituto de Terras e a Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) definiu o calendário das visitas as comunidades quilombolas do Estado, para elaboração de relatório a ser enviado ao Ministério da Cultura.
* A Comissão de Defesa das Minorias Étnico-Sociais da OAB-AL entrou com representação no Comando-geral da Polícia Militar no dia 07, contra o capitão PM Carlos Coelho da Paz pelo crime de racismo. O militar é acusado de fazer declarações ofensivas à sua empregada doméstica Neuza Maria dos Santos, 44, que é negra, e de agredi-la fisicamente. “Vou entrar com duas representações. Uma na delegacia pelo crime de discriminação racial e outra no Comando da Polícia Militar. Ele a chamou de negra vagabunda, ladra e disse que ela não procurasse a delegacia porque ele é poderoso e se ela fizesse isso quem seria presa era ela”, confirmou Alberto Jorge, presidente da Comissão de Defesa das Minorias da OAB.
* Estudantes de escolas públicas que passaram em vestibulares são homenageados pelo Governo de Alagoas, dentre eles, José Carlos dos Santos (conhecido por Hito) – morador da Serra da Barriga.

* O Fórum de Entidades Negras de Alagoas (Fenal) realizou a assembléia geral no dia 15 e elegeu a nova gestão: “Resistência Negra”, para o biênio 2008-2010.

* No dia 29, foi promovido o II Debate Estadual sobre a Serra da Barriga nas dependências do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. A atividade foi articulada pelo Anajô, Cojira-AL e Pastoral da Negritude.


Abril


* A Federação Alagoana de Capoeira (FALC) e o Fórum de Entidades Negras de Alagoas (Fenal) conseguiram derrubar o edital da Secretaria Estadual da Educação e do Esporte, que convocava agentes culturais da Coordenadoria de Ação Cultural (Corac), mas excluía os capoeiristas.

* O secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas, esteve no dia 20 no Guesb e conheceu o trabalho desenvolvido no projeto Inaê. Inúmeros turistas nacionais e internacionais que visitaram o local durante os finais de semana, conferiram a apresentação da Dança dos Orixás, a Capoeira, o Maculelê e a Dança Primitiva, além dos pratos da culinária afro-brasileira.

* Lançamento da Revista Flor de Manacá (29.04), que faz a releitura da Bíblia a partir da mulher e do Nordeste.

* Mestres de capoeira de Alagoas iniciaram a elaboração de um livro didático sobre o ensino-aprendizagem da capoeira visando atingir os alunos das escolas públicas e privadas. Também foi um encontro estratégico para a aprovação do Estatuto e do regimento do Conselho Estadual de Mestres de Capoeira de Alagoas (Cemcal).

* A Gerência Étnico-Racial da Secretaria Estadual de Educação e Esporte convocou os segmentos afros para indicarem seus representantes (titular e suplente), na equipe de trabalho do Fórum Estadual Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial.

* Iniciam os preparativos para a instalação do Teatro do Oprimido em Alagoas, destinados a organizações não governamentais e sindicais.

* Lideranças do movimento negro discutem o aumento dos casos de intolerância religiosa no Estado.

* A Federação Alagoana de Capoeira (Falc) realiza assembléia e elege a nova diretoria (2008-2012), além de ampliar o quadro de atuação no interior do Estado e organizar o planejamento estratégico.


Maio

* O Grupo e Capoeira Muzenza completou 36 anos no dia 05.
* A Igreja de São Gonçalo, a primeira na capital alagoana, sedia missa afro. A atividade ocorreu no dia 08 e foi promovida pela Casa Paroquial em parceria com a Gerência Étnico Racial/SEE.
* Foi lançado no dia 09, o curso sobre a História da África, com duração de nove meses e a participação de 50 pessoas. A aula inaugural foi realizada pelo Professor Zezito Araújo, o projeto é desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em parceria com o Grupo GUESB.

* A Cojira-AL conquista apoio do Jornal Tribuna Independente e instala a Coluna Axé no dia 13. O produto midiático é publicado todas às terças-feiras, promove a interlocução entre segmentos afro-alagoanos, a imprensa e a sociedade; além de dar visibilidade às questões étnico-raciais.

* Lideranças do movimento negro realizam no dia 14, um ato político contra a intolerância religiosa, inclusive, com apresentações artístico-culturais. A atividade iniciou com um cortejo afro que percorreu as ruas do Conjunto Village Campestre em Maceió.

* Nos dias 15 e 16, aconteceu o 3º Seminário Alagoano das Religiões Afro-Brasileiras e a Epidemia de HIV/Aids. Realização: Projeto Afroatitude da Famed/Ufal e Grupo Gay Afro-Descendentes Filhos de Axé.

* Deputados estaduais realizaram no dia 16, na Assembléia Legislativa, uma sessão especial sobre os 120 anos da Abolição da Escravatura e as políticas públicas para a população negra alagoana.

* A Orquestra de Tambores participa da 22ª edição da Festa da Lavadeira em Santo Agostinho (PE).

* Capoeiristas realizam o 1º Papoeira no dia 23.

* Estudantes africanos da Ufal comemoram o Dia da África (25).

* O afro-descendente José Amaro da Silva, 64, foi o primeiro quilombola (Tabacaria – Palmeira dos Índios) a ter reconhecido o seu direito de segurado especial, em Alagoas. Ele se aposentou por idade, após uma ação direta da Gerência Executiva do INSS.

* Fundação Cultural Palmares concedeu o registro e a certificação da comunidade remanescente Gameleiro, no município de Olho D’Água das Flores (sertão alagoano).
* Entidades de diversos segmentos são selecionadas e iniciam as atividades na Fábrica de Teatro Popular Nordeste – Teatro do Oprimido.
* Normas de utilização do Parque Memorial Quilombo dos Palmares são publicadas no Diário Oficial da União, também, foi divulgada as entidades participantes do comitê gestor.

Junho


* A Gerência de Educação Étnico-Racial da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEE), participa na condição de delegada, nos dias 01 e 02, em Brasília, do Encontro Nacional para Implementação das Diretrizes Curriculares para Educação das Relações Étnico-Raciais (Lei 10.639/2003).

* Alagoanos participam do encontro “Diálogos Regionais - Nordeste 1”, juntamente, com representantes de SE, BA e PE nos dias 04 e 05. Teve como objetivo, discutir a elaboração do plano nacional e criar mecanismos eficazes para a implementação da Lei Federal nº 10.639/03.

* A OAB-AL entrou com representação criminal no Ministério Público Federal contra a Ufal, alegando crime de Prevaricação e Favorecimento Ilícito no último concurso para o cargo de professor assistente de dança. A denúncia foi realizada pela professora Piedade Videira, do Amapá, que concorreu a uma das vagas.

* O Diretório Acadêmico de Medicina e o DCE da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) promoveram debates sobre as políticas de cotas. Dentre as entidades do movimento negro que foram convidadas e prestaram suas contribuições, estiveram: Anajô e Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro.

* Foram intensificadas reuniões entre segmentos afro-alagoanos e a OAB-AL.

* Boleiras da comunidade remanescente Quilombo (Santa Luzia do Norte) participaram dos festejos juninos na capital alagoana, nos dias 21 a 30.

* Lançamento do projeto Gira Tradição, elaborados por técnicos da Fundação Municipal de Ação Cultural de Maceió e integrantes da Casa de Axé.

* A União de Negros pela Igualdade (Unegro-AL) realizou assembléia para a aprovação do Estatuto.

* A gestão “Quem luta conquista” do Sindicato dos Jornalistas Profissionais é eleita. No comando da Diretoria encontra-se Valdice Gomes, jornalista comprometida com as questões étnico-raciais e integrante da Cojira-AL.

* A emissora Marco Pólo TV (Itália) realizou uma reportagem especial sobre a Serra da Barriga e a religião de matriz africana.

* Iniciam as inscrições para o 1º Concurso Estudantil Miss e Mister Brasil Beleza Negra (etapa alagoana), com alunos de 14 a 20 anos de escolas públicas e particulares.

* A Secretaria Estadual de Educação e Esporte inicia mapeamento sobre a aplicação da Lei Estadual nº 6.814/07, que inclui a temática africana no currículo escolar de Alagoas.

Julho

* Foi aprovada na Câmara Municipal de Maceió e sancionada pelo prefeito Cícero Almeida, o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa de Matriz Africana, a ser comemorado no dia 02 de fevereiro.

* A Orquestra de Tambores foi uma das vencedoras do Prêmio Zumbi dos Palmares, na categoria cultural, no dia 03. A atividade foi realizada pelo projeto Pajuçara Social (TV Pajuçara) e a revista Salada Magazine.

* A Federação Alagoana de Capoeira realiza grande roda na Praia da Pajuçara com associados e simpatizantes.

* Vanda Menezes volta ao cenário político alagoano. Marchando ao lado de Judson Cabral, na condição de vice, disputou a Prefeitura de Maceió pela coligação PT e PDT. Ativista negra conhecida nacionalmente, feminista, psicóloga, já foi Secretária da Mulher no Governo Lessa, e atua no movimento negro a mais de 20 anos.

* A Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) aprova a inclusão de cotas raciais na instituição, das vagas reservadas foram divididas em 60% para alunos de escolas públicas e 40% para afro-descendentes.

* O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, se reuniu com lideranças dos segmentos afro-alagoanos no dia 12.

* 1º Concurso Estudantil Miss e Mister Beleza Negra, etapa alagoana, é realizado no dia 12, no Centro de Convenções de Maceió.

* Capoeiristas realizam roda comemorativa no dia 16, pela aprovação da capoeira como patrimônio cultural da união.

* O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufal participa de encontro com outros NEABs, para avaliar as ações desenvolvidas e discutir os preparativos para atividades conjuntas.

* A cultura afro-brasileira esteve bem representada com o estande do projeto Inaê, Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb), na 2ª Feira dos Estados e Nações, realizada no Centro Cultural e de Convenções de Maceió durante os dias 18 a 27 de julho.

* Na posse festiva do Sindjornal (19) integrantes da Cojira-AL conversam com José Carlos Oliveira Torves, Diretor da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), sobre os avanços das discussões quanto às questões étnico-raciais no movimento sindical da categoria.

* O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô realiza oficinas do Teatro do Oprimido, com estudantes de escolas públicas no bairro do Feitosa em Maceió.

* Projeto Gira Tradição realiza oficinas de capacitação sobre “Gestão Participativa” e “Técnicas de Entrevista e Pesquisa”, que busca a implantação de ações sócio-culturais no universo da religiosidade de matriz africana.

* A secretária de Estado da Educação e do Esporte, Marcia Valéria Lira Santana, juntamente com a gerente de Educação Étnico-Racial, professora Arísia Barros, participaram da 3ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), realizada no período de 31 a 1º de agosto, em Porto Alegre.
* O Museu Théo Brandão (Maceió) sedia a exposição fotográfica “A alma da Bahia” de Patrizia Giancotti, no período de 04 a 04 de agosto.
* Grupo Muzenza realiza o 1º Muzenzumbi Capoeira Internacional – Capoeira na Terra de Zumbi, no período de 31 a 03 de agosto.


Agosto


* A Casa de Iemanjá realizou no dia 16 o “Olubajé – o banquete dos deuses”, ritual para o orixá Obaluaiê (senhor da terra).

* São Paulo sediou o 33º Congresso Nacional de Jornalistas no período de 20 a 24. Na ocasião, também ocorreu o 2º Encontro Nacional entre as COJIRAS (SP, RJ, DF, AL e BA) e o Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros, com o tema “O Jornalismo, o mundo do trabalho e a liberdade de imprensa com justiça e igualdade racial”. Uma das importantes decisões foi a criação da Comissão Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial (Conjira) – órgão consultivo e de assessoramento da Fenaj.

* O grupo percussivo Baque Alagoano anima a noite festiva do Dia do Folclore (22), no Museu Théo Brandão em Maceió.

* A Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro iniciou o ciclo de estudos sobre o negro na Bíblia.

* A Orquestra de Tambores participou da 7ª edição da Feira da Música em Fortaleza (CE), no período de 20 a 23.

* A Gerente de Educação Étnico-Racial da Secretaria de Estado de Educação e Esporte, professora Arísia Barros participou da 3ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio-Ambiente, no período de 29 a 31 de agosto, no Centro de Referência a Cultura Afro-Brasileira em Lauro de Freitas (BA). Na ocasião, foi lançada a promoção da diversidade étnico-racial no âmbito da Conferência, com a realização da Oficina para as Escolas Quilombolas.

* O Baque Alagoano realiza oficinas de maracatu, nos dias 30 e 31, para músicos e simpatizantes.


Setembro


* A banda de reggae Civilização Roots apresentou no dia 6 um show especial, que integrou a quinta edição do Projeto Misa Acústico, no Museu de Imagem e do Som.

* Alunos dos sétimos anos da Escola Municipal Pedro Tenório Raposo, conhecida como PTR, de Murici, apresentaram no dia 8, vários temas ligados a importância do negro no Brasil, desde a sua culinária, danças, ritmos, crenças religiosas, além de relembrarem o maior líder negro, Zumbi dos Palmares.

* Líderes de religiões de matrizes africanas se reuniram no dia 8, com representantes do governo do Estado para discutir ações e parcerias. A reunião foi comandada pelo secretário chefe do Gabinete Civil, Álvaro Machado, que recebeu um documento com pautas reivindicatórias, destacam-se: a criação de uma Secretaria de Estado Especializada para a Promoção da Igualdade Racial; solicitação da sanção de uma Lei Estadual instituindo o dia de Combate à Intolerância Religiosa de Matriz Africana (Lei Municipal – nº 5.711); implantação de um núcleo na Polícia Militar para a formação sobre cultura afro-brasileira, como acontece em Salvador; a interlocução permanente com o Governo, dentre outros.

* Pela primeira vez o ministro-chefe da Seppir, Edson Santos, visitou o estado de Alagoas e se reuniu com autoridades e participou de atividades com lideranças do movimento negro.

* Aconteceu no dia 13, o show Matizes do alagoano Djavan no Ginásio do Sesi em Maceió.

* O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô realizou um encontro de formação na sede do Sindjornal, no dia 16, para discutir a importância dos africanos no desenvolvimento da humanidade.

* A casa de axé Ilê Axé Opô Olgodô foi realizada no dia 20 uma cerimônia de saída de Yaô, onde foram apresentados os iniciados no candomblé.

* O Grupo de Estudos Diversidade Étnico-Racial (Geder) do Neab-Ufal intensificou os encontros de formação no projeto “A Educação e as relações étnicas”.

* No dia 22, ocorreu o 1º Debate Democrático pela diversidade: “Meu voto tem cor. A cor do compromisso cidadão, onde candidatos à Prefeitura de Maceió puderam expor suas propostas nos diversos setores da etnicidade.

* O projeto “Cantando e brincando aprende-se” desenvolvido pela estudante de música da Ufal, Sônia André, oriunda de Moçambique, será implantada nas escolas do país africano.

* O Grupo União Espírita Santa Bárbara (Guesb) passa a ser reconhecido como de utilidade pública, o título foi entregue oficialmente por autoridades.


Outubro


* A Escola Estadual Alberto Torres promoveu o projeto “Pérola Negra Brasileira: História, importância e lutas do povo Negro. Conheça e se orgulhe!”, coordenado pelo professor de matemática Allex Sander Porfirio. Na programação (10 e 11) teve palestras, cine-fóruns e uma tentativa frustrada de uma aula de campo na Serra da Barriga em União dos Palmares (as más condições da estrada dificultaram o acesso até o platô).

* O grupo de reggae Comunidade Quilombola de Sião (ex-banda Thiago Correia e comunidade quilombola) de União dos Palmares realizou no dia 12, o show “Jah Work” (Trabalho de Deus).

* No Dia dos Professores (15), teve um fórum especial com profissionais desta área e convidados na Escola Estadual Alberto Torres, localizada no bairro do Bebedouro em Maceió. Foram debatidas as Leis Federal e Estadual (10.639/03 e 6.814/07), e teve a contribuição do Centro de Estudos e Pesquisa Afro-Alagoano Quilombo.

* Estudantes africanos da Ufal oriundos de países de língua portuguesa (Angola, Guiné Bissau, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe), realizaram a 5ª Semana de Cultura Africana (23 e 24). Na vasta programação teve exposições de artigos diversos, desfile de trajes típicos, banners, degustação de comidas tradicionais e palestras.

* A cientista social Ana Claudia Laurindo defendeu no dia 27, a tese de mestrado “O ponto de parada: racismo na escola, alunos negros na EJA”.

* A Orquestra de Tambores realizou o projeto “Tambores na praça”, com a execução de vários ensaios (abertos ao público) em diversos pontos do centro de Maceió.

* O Guesb realizou mais uma temporada de cursos para a comunidade do conjunto Village Campestre II e adjacências, para crianças, adolescentes e familiares.

* A Faculdade de Medicina da Ufal ressaltou a importância da disciplina eletiva “Saúde da População Negra” para toda a comunidade acadêmica.

* Iniciam os preparativos para a Missa da Paz, com temática afro, lideranças reúnem-se com o clero alagoano.


Novembro


* O Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac) promoveu a Semana de História “Tempo de África em Alagoas” (03 a 07), com palestras, exibição de documentários e apresentações artísticas.

* O Coletivo Feminista de Capoeira em Alagoas realizou no dia 8, o seu I Encontro Feminino de Capoeira, com oficinas e rodas ministras por mulheres.

* Aconteceu o 33º Encontro Afro-Alagoano de Educação no dia 10, com o tema “Viva África em Alagoas”. Realização: Gerência Étnico Racial / Secretaria Estadual de Educação e Esporte.

* No período de 12 a 14, foi promovido o Encontro Estadual de Comunidades Negras Quilombolas de Alagoas. O evento reuniu representantes de várias comunidades e foi promovido pelo Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), com o apoio da Fundação Cultural Palmares e do Laboratório de Antropologia Visual de Alagoas (Aval).

* Foi lançado o projeto musical “Zumbi Vive” no Iate Clube Pajuçara, 15, com grupos artísticos variados: Vibrações, Alma Rasta, Talita Cumi, Orquestra de Tambores, Afoxé Ojum Omin Orewa, capoeira e maculelê.

* O Prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas, esteve na sede da Fundação Cultural Palmares onde se reuniu com o presidente Zulu Araújo. Teve como objetivo estreitar parcerias para a programação da Semana da Consciência Negra e melhorar as condições de acesso à Serra da Barriga.

* No município de União dos Palmares ocorreu uma programação diversificada na Semana da Consciência Negra, que teve início no dia 15 e seguiu até o dia 22, com ações no centro da cidade, na Serra e na comunidade remanescente de quilombo Muquém. Dentre as atividades, estiveram: oficinas, rodas de capoeira, teatro, hip hop, seminários, além de shows com artistas locais e atrações nacionais (Margareth Menezes, Sandra de Sá e a banda de reggae Adão Negro).

* O Parque Memorial Quilombo dos Palmares situado no platô da Serra da Barriga em União dos Palmares, completou o primeiro ano de instalação no dia 19.

* A cerimônia da Comenda Ordem do Mérito dos Palmares ocorreu na noite do dia 19, no Palácio República dos Palmares – sede do Governo de Alagoas. Foram homenageadas 10 personalidades, que atuam no desenvolvimento sócio-econômico e cultural, além de se destacarem na realização de iniciativas que valorizam o recorte étnico. Do movimento negro foram agraciados a ialorixá Maria Neide Martins (Mãe Neide) e o mestre de capoeira Lizanel Cândido da Silva (Mestre Jacaré).

* No Dia da Consciência Negra (20), cerca de 200 religiosos de várias matrizes africanas (Umbanda, Nagô, Gêgê, Geto, Xambá) e ativistas realizaram um cortejo afro no Centro de Maceió, mesclando riqueza cultural com protesto, e seguiram até a Praça Zumbi dos Palmares em Maceió. As lideranças criticaram o Governo de Alagoas e a Fundação Cultural Palmares pelo descaso, criticaram a falta de apoio para a programação na capital e manifestaram a insatisfação por não terem conseguido apoio para levar os 300 religiosos no tradicional “Axexê” (oferendas, homenagens aos ancestrais e purificação para trazer boas energias). De acordo com o Diretor de Patrimônio/Fundação Cultural Palmares, Maurício Reis, foi disponibilizado transporte e alimentação para 100 pessoas, mas não se sentiram contemplados e desistiram da atividade.

* O cantor Igbonan Rocha apresentou o espetáculo “Vertente Musical” (22), que integrou o projeto Misa Acústico.

* A Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro realizou no dia 22, um encontro estratégico sobre “Bíblia na ótica da Teologia Negra”. Também foi lançada a 2ª edição da revista "Flor de Manacá", desta vez, o núcleo de gênero da Igreja prestou uma homenagem às mulheres negras.

* No Teatro de Arena, 23, a Companhia Teatral Mundo Paralelo apresentou o espetáculo “Transversalidade de idéias, uma declaração de amor à Serra da Barriga”.

* A OAB-AL promoveu o 2º Seminário Regional de Promoção da Igualdade (27 e 28), com diversos temas que refletiam o cotidiano das minorias étnico-sociais.

* A Catedral Metropolitana de Maceió sediou a tradicional Missa da Paz, desta vez, com o tema “Juntos pela paz e pela vida! Pelo respeito às diferenças”. Teve apresentação de capoeira, dança afro, músicas temáticas, etc.

* A Cojira-AL realizou nos dias 29 e 30, o seminário “200 anos da imprensa no Brasil: avanços e desafios da mídia étnico-racial”, também, comemorou o primeiro aniversário da entidade. Na programação teve exposição de todas as edições da coluna axé; distribuição do boletim especial; show da banda de reggae Civilização Roots; e a visita dos jornalistas e acadêmicos na Serra da Barriga em União dos Palmares.


Dezembro


* A Secretaria Estadual de Educação e Esporte (SEE) realizou a troca de gestores na Gerência Étnico Racial – a professora e publicitária Arísia Barros é exonerada e foi escolhida para atuar nesta importante Pasta, a professora e cientista social Irani Neves.

* O Guesb realizou no perído de 4 a 8, o Louvor às iabás (orixás femininos), com a realização de palestras, apresentações artísticas e oferendas na Praia Mirante da Sereia em Maceió.

* No dia 08, teve homenagens e oferendas na orla de Maceió com representantes de diversas casas de axé, ativistas, turistas e simpatizantes. O Baque Alagoano e a Orquestra de Tambores realizaram um show aberto ao público.

* O Grupo Muzenza promoveu o 2º Muzenzaya Capoeira, com atividades culturais ministradas por mulheres em bairros periféricos de Maceió.

* Aconteceu na Escola Estadual Alberto Torres a 1ª Feira Afro-Matemática no dia 13, teve como objetivo apresentar a história da matemática oriunda do continente africano e ressaltar a importância dessa ciência na cultura afro-brasileira, também, se estendeu para as disciplinas de Física, História e Ensino Religioso. Participaram alunos de sete turmas do Ensino Fundamental e Médio, divididos em cinco equipes que participaram de exposições, apresentações artísticas e recitam poemas.

* Foi realizado no dia 13, nas dependências do Parque Memorial Quilombo dos Palmares (Serra da Barriga), apresentações artísticas do grupo Nação Dandara, Capoeira Palmares e o cantor de renome nacional Luiz Melodia.

* Durante o 46º aniversário do Conselho Estadual de Educação de Alagoas, teve a Comenda ao Mérito Educativo Alagoano. Dentre os homenageados do dia 17, esteve Ana Paula da Silva, Diretora do Centro de Cultura e Cidadania Malungos do Ilê e do Fórum de Entidades Negras de Alagoas.

* A Orquestra de Tambores lançou oficialmente no dia 20, o CD “Bantus e Caetés” no Museu de Imagem e Som de Maceió.

* Dando continuidade ao projeto criação, o Centro de Cultura e Cidadania Malungos do Ilê foram realizadas no dia 21, ações sócio-educativas e culturais com crianças e adolescentes. A atividade teve o apoio da CESE/BA e ocorreu no acampamento Paulo Bandeira, estrada de acesso ao Complexo Residencial Benedito Bentes, em Maceió.

* O Centro de Pesquisas e Estudos Afro-Alagoano encerrou o ano de 2008 com o consagrado “Mirante Cultural – Um quilombo chamado Jacintinho”. A 10ª edição ocorreu no dia 26, e contou com a parceria do Fenal, Associação Comunitária Cultural e Esportiva Juventude e Saudáveis Subversivos.

* O Centro Cultural Quilombo dos Palmares realizou o seu batizado anual de capoeira no dia 27, desta vez no Parque Memorial, localizado na Serra da Barriga. O projeto "Caa Puera na Terra de Zumbi" do Instituto Magna Mater, premiado no edital do Capoeira Viva 2007 (37068), destinado para crianças e adolescentes que residem na Serra, também foram contempladas e tiveram suas cordas trocadas. As atividades tiveram início com uma celebração ecumênica, apresentações culturais e foi encerrada com a confraternização entre os presentes.
* O futuro prefeito de Viçosa, Flaubert Torres disse que vai transformar a Serra Dois Irmãos em um dos pontos de atração turística daquela cidade.
* Foi instalado o Fórum Alagoas Inclusiva, o segundo do país, que reúne entidades diversas que apóiam grupos em desvantagem.

* A organização não-governamental Maria Mariá encontra-se com o projeto Ibá (significa abençoar em ioruba) na favela Sururu de Capote, às margens da Lagoa Mundaú em Maceió.

* A comunidade remanescente de quilombo Gameleiro conseguiu se livrar do lixão que fica em suas terras. A Prefeitura de Olho D’Água das Flores (sertão alagoano) está projetando um aterro sanitário para o município, o processo está em fase de licenciamento pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA).

* A Cojira-AL recebeu uma carta da vereadora Tereza Nelma, onde consta a Moção de Congratulações aprovada pela Câmara Municipal de Maceió, que parabeniza o trabalho realizado pela Coluna Axé. O produto midiático publicado no jornal Tribuna Independente já se tornou uma referência nacional na mídia étnico-racial.

* O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, a Cojira-AL e a Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro firmam parceria para organizar o projeto Tambor Falante – Ciclo de Debates. Com o intuito de fortalecer o entrosamento entre as lideranças dos segmentos afro-alagoanos e desenvolver a reflexão sobre a conjuntura sócio-política, onde os participantes poderão emitir suas opiniões e relatar suas experiências. A primeira edição será realizada no dia 10 janeiro de 2009 e já tem o tema escolhido, discutirá os seis anos da Lei Federal 10.639/03.



Helciane Angélica – jornalista (1102 MTE-AL)
helciane.angelica@gmail.com

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas
cojira.al@gmail.com / www.cojira-al.blogspot.com

Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô
mocamboanajo@yahoo.com.br / www.anajoonline.spaces.live.com

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Carta Aberta ao Presidente de Cuba


Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e Doutor em Etnologia da Universidade de Paris-7 na França, é atualmente Chefe de Pesquisa na University of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica.

Ele foi consultor pessoal para assuntos latino-americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana (atualmente União Africana), Dr. Edem Kodjo, de 1982 a 1983, e consultor pessoal do Secretario Geral da Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM), Dr. Edwin Carrington, de 1966 a 2000. Foi assistente pessoal do professor Cheikh Anta Diop, diretor do Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da África Negra, de 1975 a 1980, em Dakar, Senegal.

Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são: Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba,(Chicago: Lawrence Hill Books, 2008); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Paris: Karthala, 1982).

Durante a Conferência de Chefes de Estado e de Governo da América Latina e do Caribe, realizada no dia 17 dezembro na Costa do Sauípe (BA), escreveu uma carta para o presidente de Cuba e General de Exército Raúl Castro Ruz com duras críticas sobre a suposta supressão do preconceito étnico, além de emitir suas propostas.

Veja a conteúdo completo abaixo:


Salvador, Bahia, 17 de Dezembro de 2008

Sua Excelência General de Exército Raúl Castro Ruz
Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros

Conferência de Chefes de Estado e de Governo da América Latina e do Caribe,
Costa do Sauípe, Bahia, Brasil


Senhor presidente,


Se me dirijo a V. Ex.ª por meio desta Carta Aberta é porque essa é a única forma que tenho de chegar diretamente a V. Ex.ª, e também porque quero que meus concidadãos e todos aqueles que no mundo se interessam pelos problemas vitais de nossa época, se inteirem do que aqui exponho.

Tanto V. Ex.ª, descendente de europeus nascidos na Espanha, como eu, descendente de africanos nascidos no Caribe, somos Cubanos, mas esse fato não nos confere nenhum privilégio específico como humanos, a não ser o direito de ter uma voz nos destinos do país em que nascemos. Uso desse direito sem apologia.

Sei que um mundo de divergências separam nossas respectivas concepções sobre a vida, as relações sociais, a maneira de conduzir os destinos de nosso país e, enfim, a interpretação daquelas realidades que impactam a vida cotidiana dos cubanos de maneira negativa. Mas, V. Ex.ª, como mandatário de nosso país, e eu como cidadão desse mesmo país, temos em comum o fato de que, sejam quais forem nossas divergências, compartilhamos a responsabilidade de transformar nosso presente social, assim como a responsabilidade de modelar nosso futuro coletivo como nação. Da ação ou inação de cada cubano, seja qual for sua condição social, gênero, raça, orientação sexual, ou convicção política, dependerá o porvir de todos.

Sempre apoiei e respeitei a soberania nacional e, por isso, sempre me opus a qualquer medida, seja o embargo econômico ou as ameaças contra o território nacional, que puderam colocar a independência de Cuba em perigo ou lesar os interesses de sua população. Mas também, e pelas mesmas razões, sempre advoguei pelo direito inalienável do povo de Cuba, ou de qualquer povo, a dirigir seu próprio destino mediante instituições representativas e com dirigentes que sejam eleitos em campanhas livres e verdadeiramente democráticas; isto é, em eleições onde estão colocadas diferentes idéias representadas por movimentos e partidos organizados, com plataformas políticas e propostas sociais realmente independentes e diferentes. Estimo que, só assim, pode um povo exercer seu direito de optar pelo que melhor lhe convenha. Portanto, sou inimigo de qualquer ditadura ou sistema totalitário, seja da chamada direita ou da denominada esquerda, e não compartilho da opinião de que a democracia seja um luxo reservado aos burgueses.

Não vou fazer rodeios para manifestar a V. Ex.ª minha sólida convicção de que o racismo, fenômeno que impera em nosso país e que cada vez cobra novos espaços na vida política, econômica e cultural da nação, é o maior, mais grave e mais tenaz problema que confronta a sociedade cubana.

Se deixarmos de lado os discursos grandiloquentes, mas vazios, e as declarações contundentes, mas enganadoras, sobre a suposta supressão do racismo e da discriminação racial em Cuba, aparecerá diante de nossos olhos um mundo concreto de desigualdades e iniquidades sócio-raciais que foram estruturadas por séculos e séculos de opressão racial e de ódio contra a raça negra. Esse foi o mundo que concretamente herdou a Revolução que chegou ao poder em 1959, mas que os dirigentes desta última se mostraram incapazes de interpretar corretamente, por serem homens e mulheres procedentes, como eram, das classes médias brancas que sempre dominaram o país e monopolizaram sua direção política e econômica.

A hegemonia branca, com seu concomitante racismo, é uma realidade histórica que o governo revolucionário, longe de destruir, contribuiu para solidificar e estender quando declarou a inexistência do racismo, o fim da discriminação racial e o advento de uma sociedade de “democracia pós-racial” socialista. Isso significa que tanto os dirigentes da Revolução que tantas transformações sociais benéficas trouxeram para nosso país, como o povo que lhes deu seu apoio ao processo revolucionário, eram reféns do mesmo passado brutal nascido do ventre da escravidão racial que impuseram os europeus nestas terras americanas. Desse ventre monstruoso surgiu uma sociedade racista. Por tanto, Cuba é hoje um país que fala com duas vozes totalmente distintas, uma branca e outra negra, ainda que, às vezes, essas tenham se fundido, temporariamente, em momentos específicos de nossa história comum.

Senhor presidente,

É um fato sabido que a Cuba socialista foi o único país no mundo que proclamou, publicamente, que havia eliminado o racismo e a discriminação racial, e que havia empoderado a população negra. Consequentemente, o governo revolucionário reprimiu, perseguiu e forçou ao exílio todos aqueles negros, intelectuais ou trabalhadores, que sustentaram o contrário. Para esses últimos, foram reservados os campos de trabalho forçado, as prisões, o manicômio ou o exílio. Eles foram tidos como “racistas ao contrário”, “racistas negros”, “contra-revolucionários”, “agentes do imperialismo”, e até como “instrumentos da CIA”.

Grandes pensadores negros, como o Dr. Juan René Betancourt Bencomo ou o professor Waltério Carbonell, pagaram um preço muito alto por haverem se levantado contra a doutrina racial que foi erigida em política de Estado durante cinco décadas e que consistiu em negar a existência da opressão racial e do racismo em Cuba sob a Revolução. É por essa razão que hoje os olhos do mundo se voltam cada vez mais para nossa suposta “democracia pós-racial” para saber por que o regime revolucionário destruiu aqueles que se negaram a conviver com essa Grande Mentira.

Cuba é um país onde uma revolução conseguiu derrubar os velhos privilégios de uma oligarquia republicana corrupta e submissa ao estrangeiro, mas onde, até o dia de hoje, a população de raça negra, majoritária no país, está confinada a jogar um papel de subalternidade. As honrosas exceções negras que ascendem à cúpula do poder o fazem unicamente com o beneplácito da elite dominante, predominantemente de origem européia, e confirmam assim a realidade, também dominante, baseada na subalternidade da raça negra em Cuba, depois de meio século de revolução socialista. Essa é a realidade. E negá-la seria persistir na Grande Mentira.

O racismo é a última fronteira do ódio entre humanos, precisamente porque raça é a mais profunda e duradoura linha divisória que determina quem tem acesso privilegiado e protegido aos recursos da sociedade, e a quem é vedada qualquer oportunidade de usufruto desses mesmos recursos. O racismo é uma estrutura de distribuição diferenciada, racialmente seletiva, dos recursos da sociedade e do planeta, que se perpetua através do monopólio do poder político. Portanto, trata-se de um modus operandi permanente, não de uma aberração; de uma estrutura de poder total que funciona maravilhosamente bem para garantir a permanência do domínio de uma raça especifica em detrimento das outras, e não um mero reflexo das simpatias e antipatias que surgem do jogo interpessoal.

A maioria dos dirigentes cubanos, revolucionários e marxistas, é branca num país onde a maioria da população é negra. Qual seria a razão para isso? E porque razão o racismo persiste e se expande constantemente, abarcando cada vez mais espaços da sociedade cubana, e impregnando as estruturas mentais individuais e coletivas em Cuba? O poder é branco em Cuba, e a discriminação racial contra os negros cubanos se mostra cada vez com mais força, unicamente por causa do racismo. O racismo se reforça constantemente, não somente em Cuba, mas em todos os países, precisamente pela mesma razão: porque funciona positivamente para aqueles que, em função de sua raça, se beneficiam do acesso racialmente seletivo aos recursos da sociedade. Se não fosse assim, o racismo teria desaparecido há milhares de anos, como desapareceram tantas realidades que surgiram da imaginação criativa do ser humano.

Senhor presidente,

O objetivo desta carta é contribuir com o debate que está sendo levado a cabo em nosso país sobre o rumo que haverá de tomar a nação num momento crucial de sua existência; momento que deverá enfrentar os desafios do novo milênio com políticas novas e verdadeiramente inovadoras que resolvam os problemas que atingem nossa sociedade. Com esse objetivo, quero propor a V. Ex.ª um conjunto de medidas mínimas que me parecem necessárias para começar o processo que nos leve, posteriormente, todos os cubanos anti-racistas e nacionalistas, a desafiar e superar a herança do passado. Esse passado se manifesta hoje nas desigualdades raciais que debilitam a unidade nacional, particularmente em momentos em que Cuba tem a possibilidade, pela primeira vez em cinquenta anos, de resolver seu litígio com os Estados Unidos de maneira pacífica.

Mas seria hipócrita e imoral pedir o cessar do embargo/bloqueio que os Estados Unidos injustamente impuseram a Cuba, sem que os dirigentes de Cuba se comprometam, também, a levantar o embargo/bloqueio que o regime revolucionário impôs à população majoritária do país desde o início da Revolução. Ambos os embargos/bloqueios devem ser levantados, simultaneamente, sem pré-condições de nenhum dos dois lados. E, por meio desta carta, quero contribuir para que nosso país, atualmente sob seu comando, encontre a melhor maneira de alcançar esse objetivo em meio a um consenso formado na unidade nacional.

Concretamente, sugiro, como um primeiro passo, que seu governo tome, sem demora, as seguintes medidas:

* Estabelecimento de um estado social de direito como pré-condição do exercício democrático da cidadania cubana; prescrição de todas as práticas discriminatórias, sejam de natureza política, de gênero, de raça, de orientação sexual ou de confissão religiosa; libertação de todos os presos políticos em Cuba e dos presos de consciência.

* Extinção da proibição que foi colocada judicialmente contra as “Sociedades de Cor”, instituições históricas que formam parte do patrimônio cultural dos negros cubanos e que são indispensáveis como esferas diferenciadas de organização da raça negra em Cuba; restauração do direito de existência e de organização dessas Sociedades, conforme a existência em Cuba de organizações do mesmo tipo a favor de outras etnias (tais como, as organizações de cubanos de origem chinesa, basco, galego, hebreu, árabe); autorização de qualquer organização propriamente negra (cultural, social, desportiva, estudantil, política ou artística) cuja finalidade seja a luta contra o racismo e a discriminação racial.

* Reabilitação de todas as figuras históricas e pensadores negros proscritos e/ou silenciados ao longo da história de Cuba, antes e depois da Revolução, assim como a publicação das obras de militantes negros que lutaram pelo fim do racismo e da discriminação racial (Rafael Serra, Evaristo Estenoz, Pedro Ivonnet, Ramón Vasconcelos, Gustavo Urrutia, Juan René Betancourt Bencomo, Walterio Carbonell ….).

* Condenação oficial do genocídio perpetrado pelo Estado cubano em 1912, contra a população negra, fato que, até hoje, o Estado não reconheceu de maneira oficial; reabilitação do programa político do Partido Independente de Cor (PIC) e de seus lideres históricos (Evaristo Estenoz, Pedro Ivonnet e outros), visando o restabelecimento da memória histórica nacional.

* Autorização para a criação de um organismo nacional autônomo de Negros Cubanos, na forma de uma Fundação Nacional para Fomento do Desenvolvimento Econômico da População Negra (FUNAFEN), para atender aos graves problemas sócio-econômicos que enfrenta a população negra e com atribuições para obter fundos de caráter nacional e internacional para melhorar as condições de vida nos bairros mais pobres; criar novos programas específicos para a capacitação profissional de jovens afro-cubanos que os prepare para as demandas da economia nacional e global.

* Adoção, por parte do Estado, de novas medidas com relação às remessas que seus cidadãos recebem do exterior (e estimadas em 1.5 bilhões de dólares por ano, dos quais menos de 15% chegam às mãos da população negra); adoção de uma carga impositiva sobre essas remessas, que deveria estabelecer 10% ao invés dos 20% atuais; e o 50% deste último imposto, recolhido pelo governo, deverá ser incorporado automaticamente à FUNACEN, atendendo ao fato de que as remessas do exterior favorecem o incremento vertiginoso das desigualdades raciais em Cuba.

* Autorização para a convocação, por organizações autônomas dentro de Cuba, e sem interferência dos órgãos do poder, de um Congresso Nacional sobre o Racismo e a Discriminação Racial; autorização para que intelectuais e militantes Afro-cubanos independentes, residentes em Cuba, possam participar de uma Mesa Redonda de Nacionalistas Cubanos do interior e da Diáspora, com a finalidade de discutir estratégias de combate ao racismo em Cuba.

* Autorização para a criação de um Observatório Nacional para monitorar a situação racial em Cuba e trabalhar a favor da eliminação das práticas racialmente discriminatórias de qualquer tipo, seja no domínio público como no privado.

* Adoção de medidas e políticas concretas que dignifiquem e façam respeitar o fenótipo associado à raça negra e que é objeto em Cuba de rejeição e de ridicularização, especialmente no caso da mulher negra; projeção positiva do fenótipo do afro-cubano em todos os meios de comunicação de massa, manifestações culturais e formas de representações artísticas, com o fim de combater o escárnio racista dirigido maciçamente às características raciais da população de herança africana (nariz, lábios, cor, cabelo crespo, morfologia…).

* Criminalização formal do racismo e da discriminação racial em todas as esferas da vida nacional sem direito a fiança, conforme já existe no Brasil (Lei Caó); proposta à Assembléia Nacional de novas legislações especificamente designadas para punir qualquer tipo de manifestação de discriminação ou humilhação racial na esfera pública ou privada.

* Reconhecimento pleno da mulher negra cubana como protagonista extraordinária da dignidade nacional, mas que sofreu e continua sofrendo duplamente a discriminação; lançamento de uma campanha nacional em prol da revalorização do fenótipo específico da mulher afro-cubana; autorização para a criação de uma Organização de Mulheres Afro-cubanas, totalmente independente da Federação de Mulheres Cubanas (FMC) e com capacidade para buscar financiamento externo.

* Reconhecimento da existência de maiorias orgânicas no país, atendendo principalmente aos parâmetros de sexo e raça, que deverão refletir equitativamente em todos os órgãos de decisão política, econômica e cultural, considerando que mais de 60% da população cubana atual é de origem africana; estabelecimento de um mecanismo de representatividade progressiva que garanta a presença efetiva da população Afro-cubana em todos os níveis e em todas as instâncias do país, e que, para começar, deverá alcançar nos próximos cinco anos 35% das posições-chave do Partido, do Governo, do Parlamento, das Organizações Populares, da direção das Forças Armadas e do Ministério do Interior, dos meios de difusão de massa (em especial o cinema e a televisão), da indústria turística, e das empresas mistas criadas com capital estrangeiro.

* Reconhecimento oficial e respeito efetivo das religiões Afro-cubanas, em pé de igualdade com as demais religiões em Cuba, mediante a instauração de um mecanismo de diálogo permanente da direção política do país com as referidas religiões, como se fez com as religiões cristãs, conferindo-as, assim, o lugar que legitimamente lhe é de direito, e que impulsionaria o processo de consolidação da identidade nacional e cultural; interrupção imediata de todas as práticas oficiais ou extra-oficiais que resultem na interferência, folclorização e exploração para fins turísticos das religiões de origem africana, adotando-se medidas penais adequadas que impeçam sua discriminação, como deve ser em um estado laico.

* Imposição de lei, em todos os níveis do sistema educativo, do ensino da História da África e dos povos de origem africana nas Américas, como já fez o Brasil (Lei 10639/03); publicação das obras de referência mundial que elucidam a história da África em todos os seus aspectos, e daquelas obras que evidenciam a história do próprio racismo; desenvolvimento dos estudos e pesquisas sobre a problemática afro-cubana na história e na sociedade, a fim de fortalecer a identidade nacional e levantar a auto-estima da pessoa negra; criação de disciplinas de estudos afro-cubanos nas universidades e de centros de estudos étnico-raciais extra-muros.

* Implementação de políticas públicas de ação afirmativa, como uma estratégia global capaz de conduzir a uma equiparação sócio-econômica daqueles cidadãos que, por causa de sua origem racial, sofrem desvantagens historicamente construídas, como consequência de serem descendentes das populações africanas que foram escravizadas em Cuba, e que, por tanto, seriam uma forma concreta de reparação moral para a população negra.

* Realização de um censo nacional baseado em parâmetros científicos modernos como base para avaliar a extensão das injustiças sociais que afetam desproporcionalmente a população Afro-cubana, e atendendo ao fato de que os resultados dos censos realizados nos últimos cinquenta anos merecem total desconfiança.

Senhor presidente,

Pessoalmente, estou convencido de que V. Ex.ª tem consciência da gravidade do momento e da pouca margem de manobra que teria qualquer dirigente em sua posição. Contudo, a seu favor, acorrem certas circunstâncias próprias que devem ser aproveitadas, se o objetivo é salvar as conquistas sociais que o povo de Cuba obteve através da Revolução de 1959. Considero como algo benéfico, para V. Ex.ª e para Cuba, precisamente, o fato de que V. Ex.ª não seja um líder carismático tradicional, o que lhe permite ser, em contrapartida, um dirigente realista e pragmático, capaz de reconhecer o perigo quando o vê.

Estou convencido de que os numerosos dispositivos de inteligência que V. Ex.ª tem sob seu comando, a grande quantidade de institutos de pesquisa social que o regime revolucionário criou ao longo das décadas para analisar a realidade social e tomar o pulso da população, proporcionou suficientes dados sociológicos, empíricos e abstratos, que permite concluir que algo novo está acontecendo na consciência coletiva da população negra majoritária e que esse “algo” não poderá ser satisfeito a não ser com um empoderamento efetivo, a partir de formas de organização legitimamente populares e surgidas de baixo.

Chegou o momento de mudar drasticamente, e num tempo mais rápido possível, a situação da população negra em Cuba, atendendo tanto à urgência que sentem aqueles que nunca tiveram o poder, e aos problemas gigantescos com os quais têm de se confrontar. Mudanças profundas devem ser feitas agora, sem qualquer pretextos ou estratégia de retardos, sem demora, para modificar de maneira radical, permanente e abrangente o panorama sócio-racial da sociedade cubana. Não há tempo a perder: cada minuto de espera é uma porta aberta a situações imprevistas e difíceis de serem controladas, na medida em que apareçam.

Seria perigoso continuar a pensar que “aos negros não interessa o poder”, e continuar postergando aquelas medidas sem as quais não pode acontecer o empoderamento verdadeiro da população que é maioria em Cuba. É por isso que nas mãos de V. Ex.ª está atualmente a possibilidade de fazer uma ruptura completa com o passado e fazer o que nenhum dirigente que o precedeu se atreveu a fazer: trabalhar a favor do empoderamento efetivo daqueles que, há mais de trezentos anos, vivem em um estado permanente de Período Especial.

Falei a V. Ex.ª em meu nome, e só em meu nome. No entanto, sei que as opiniões emitidas nesta carta têm eco naquelas que cada vez mais estão sendo formuladas no país. E eu sei que V. Ex.ª sabe disso.

Com muita deferência e saudações nacionalistas,

Carlos Moore
Etnólogo e Professor de Relações Internacionais

domingo, 28 de dezembro de 2008

Cartão de recomeços


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Material enviado por email.

Das Macumbas à Umbanda: a construção de uma religião Brasileira


Qual a relação entre Zélio de Moraes, Allan Kardec, Getúlio Vargas e Jesus de Nazaré? A resposta pode ser encontrada em Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, do jornalista José Henrique Motta de Oliveira, mestre em História Comparada pela UFRJ. O livro foi lançado em outubro de 2008.

No livro, José Henrique refaz o caminho percorrido por antigos cultos cariocas, a fim de analisar o processo de legitimação da nova religião no seio da sociedade brasileira, à época do Estado Novo - período em que a Delegacia de Tóxicos e Mistificações realizava batidas freqüentes nos terreiros do Rio de Janeiro e encarcerava os adeptos.

Entre a macumba - culto que saltou das senzalas para os porões das casas grandes, apresentando heranças do catolicismo popular e das tradições afro-indígenas - e o kardecismo, com o seu caráter normatizador e científico, a umbanda encontrou na institucionalização da religião e na codificação do ritual o passaporte para o "mundo da ordem", imposto pela ditadura Vargas.

"O mundo do trabalho e da garantia dos direitos sociais se opunha ao ´mundo da desordem e da malandragem´ representados por Zé Pelintra", analisa o historiador, comentando que a construção de uma identidade nacional para a umbanda se deu à medida em que elementos da classe média urbana se inseriram na macumba e passaram a mediar códigos sociais, políticos e religiosos, a fim de transformar magia em religião, curandeiros em sacerdotes, assistencialismo em caridade e, conseqüentemente, prestigio político em respeitabilidade religiosa.

O livro, editado pela Editora do Conhecimento, está dividido em duas partes: na primeira, o autor apresenta, de forma didática, o encontro, no território brasileiro, das culturas ameríndias, européias e africanas, cujas religiosidades se amalgamaram ao longo do processo colonizatório, oferecendo os elementos necessários para o desabrochar de uma nova religião, que refletiria a mesma mestiçagem da população que a professava.


Na segunda parte, o pesquisador se debruça sobre o processo de institucionalização da umbanda, tendo como objetos de análise a Federação Espírita de Umbanda, fundada por um grupo de sacerdotes em 1939, com objetivo de servir de interlocutor entre os templos filiados, o Estado e a sociedade; e os anais do 1º Congresso Brasileiro de Umbanda, realizado em 1941, cuja finalidade era unificar as práticas rituais a partir de dogmas cristãos e espíritas.

José Henrique dedicou ainda um capítulo a analisar o mito de "anunciação" da umbanda, que se deu pela manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no médium Zélio de Moraes, no dia 15 de novembro de 1908, na Federação Espírita de Niterói. "Alguns pesquisadores desqualificam o mito de origem da religião umbandista, alegando que é uma construção tardia e que teria o objetivo de reverter à dispersão de seus adeptos. Contudo, o fato de poder ser uma construção tardia não desqualifica o mito", justifica o historiador, lembrando que o mito do Natal também fora construído tardiamente para atender aos interesses da Igreja.


Divulgação - Fundação Cultural Palmares