domingo, 12 de agosto de 2012

Sociólogo da UFAL tem casa invadida, revirada e é algemado em ação equivocada da Deic



Professor Carlos Martins foi posto como suspeito de um dos assaltantes do Banco Santander, da Fits


O  sociólogo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Carlos Martins, sofreu constrangimentos ao ter a casa invadida por policiais do Tático Integrado Grupo de Resgates Especiais (Tigre), na tarde desta sexta-feira (10), no Loteamento Antares, na Serraria, ocasião que foi confundido com um assaltante. Os agentes procuravam cumprir mandado de busca e apreensão que resultasse na prisão dos assaltantes da agência do Banco Santander, ocorrido pela manhã na Faculdade Tiradentes (FITS). Eles confundiram o endereço, entraram, algemaram Martins e reviraram o imóvel.
Segundo Martins – que também é professor e integra o Núcleo de Estudo da Violência em Alagoas,  juntamente com a professora Ruth Vasconcelos – os policiais não apresentaram o mandado e nem pediram licença para entrar.
“Eles arrombaram o portão e fui saber o que estava acontecendo. Aproximei-me e disseram que era a polícia e eu ainda fiquei em dúvida se não eram bandidos, já que não havia razão para a polícia ir à minha casa. Aí eles entraram e mandaram que eu deitasse no chão, colocasse o braço direito para trás e me algemaram. Questionei o tempo todo a ação, queria saber a razão pela qual estavam na minha casa e me algemando e eles responderam que era para a minha segurança e também para a deles. Falei que era sociólogo, mas não adiantou nada. Perguntaram se havia mais alguém em casa e eu disse que não”, relata Martins. 
O sociólogo se arrumava para ir à Ufal ministrar uma palestra. Depois de algemado, Carlos Martins foi colocado numa cadeira na área de serviço  com o rosto "colado" na parede. “Recebi a determinação, inclusive, de não olhar para trás. Dois homens fortemente armados ficaram nas minhas costas, enquanto o restante da equipe revirava a casa. Demonstrei tranquilidade, mas por dentro fiquei  em polvorosa. Todas as vezes que batiam em alguma coisa, achava que podiam está montando equipamento de tortura e piorava o meu emocional. Vez ou outra um policial se aproximava e perguntava pelo gol branco que tinha saído da minha casa e eu afirmava que o meu carro era um celta preto”, detalha.
De todas as formas,  conta o sociólogo, foi tentado o diálogo para que as coisas se esclarecessem. “Se tivessem me mostrado o mandado , tudo teria sido resolvido imediatamente. Mas, não me ouviam. Argumentei sobre os princípios que regem a força policial e que, por eles, não havia a necessidade de usar as algemas. Passei quarenta minutos sob tortura psicológica, sem eles apresentarem mandado algum. Os policiais não podem dizer que agiram dentro da legalidade. Eu fui supostamente visto como assaltante de banco”, ressalta Martins.
O equívoco teria sido percebido pelos policiais quando resolveram, já no final, apresentar o mandado pedindo que Carlos Martins assinasse. Ele argumentou ser impossível com as mãos algemadas e pediu para olhar o documento expedido pela 17ª Vara Criminal da Capital.
“Comecei a encontrar as falhas e apresentá-las. No documento só tinha o nome Antares e aqui tem o Antares um e o dois. Peguei as faturas da Eletrobras e outras em meu endereço para mostrar que o nome da rua não era também o da minha. No mandado tinha outro nome estranho de rua que nunca ouvi por aqui. Só sei que eles não verificaram o endereço antes de entrar na minha casa e fui submetido a isso. O constrangimento foi grande. Imagine um helicóptero sobrevoando a sua casa e um monte de homens encapuzados entrando e a vizinhança olhando tudo. Moramos aqui há dois meses. Um preto com a polícia invadindo a casa e uma movimentação desse porte podem achar, no mínimo, que sou um grande traficante. Vão pensar, olha o vizinho novo é bandido. E também há outro risco, caso haja um traficante na região pode deduzir que eu sou concorrente por conta da grande ação policial”, desabafa.
Depois de tudo esclarecido, o sociólogo Carlos Martins foi conduzido à Deic para prestar depoimento e liberado em seguida. “Eles deixaram claro que eu não estava sendo preso, apenas precisava ir prestar declarações. Quando já vinha embora , acho que para amenizar a situação, pediram meu e-mail para mandar as fotos dos criminosos que procuravam para que se os visse na região auxiliasse a polícia”, conclui.
Mobilizações
Cientes do ocorrido, alguns segmentos decidiram se articular para cobrar posição do Governo do Estado. Irão se pronunciar a respeito, conforme o sociólogo Martins, o Núcleo de Estudo da Violência da Ufal, a Fundação Zumbi dos Palmares, o Movimento Negro de Alagoas e a Ufal que pretendem confeccionar na segunda-feira (13) documento a ser entregue ao governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) pedindo seu posicionamento.
Além disso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) também se pronunciará. O sociólogo vai entrar com ação contra o Estado e um documento será confeccionado pedindo providências ao governador Teotonio Vilela Filho. Uma cópia será levada ao Ministério Público Estadual. Vários vereadores já demonstraram solidariedade a Martins e prometeram discutir o assunto em plenária na terça (14). Em maio deste ano,  Carlos Martins foi um dos homenageados com a Comenda Zumbi dos Palmares, prêmio recebido na Câmara de Vereadores perante várias autoridades. Ele é tido como um grande sociólogo, conhecido e respeitado também nacionalmente pelos estudos desenvolvidos.
O que gerou o equívoco
A ação policial foi desencadeada após um assalto ao Santander, na Fits. Os criminosos empreenderam fuga levando consigo um aparelho celular que permite rastreamento. O sinal estava no Loteamento Antares, mas segundo especialistas não é tão preciso. Ou seja, pode dá uma diferença de um raio de cem metros.
Os policiais tinham mandado de prisão contra dois irmãos identificados pelas câmeras do banco. Um deles identificado como Tiago, ambos filhos de uma mulher presa na operação conjunta da quinta-feira.
Fonte: Correio de Alagoas

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