No domingo (17.06) acontecerá a Marcha das Vadias em Maceió – a concentração ocorrerá a partir das 10h, no Alagoinhas, na Ponta Verde e terminará no Posto Sete, na Jatiúca. Confira abaixo o manifesto oficial do Movimento, também, disponível no blog: www.marchadasvadiasal.blogspot.com.br
Manifesto da Marcha Nacional das Vadias
Em 2011 uma onda de protestos contra culpabilização das vítimas de agressão sexual surgiu no mundo todo. Tendo início no Canadá, a Marcha das Vadias vem contestar e desconstruir a ideia de que mulheres são culpadas pelas agressões que sofrem.
O primeiro ponto de reivindicação é a ressignificação do nome vadia. Somos constantemente chamadas de vadias, putas e vagabundas pelo simples fato de exercermos nossa sexualidade livremente e por sermos seguras de quem somos. Se no momento que nos declaramos livres, liberadas, felizes, conscientes e seguras sexualmente, somos vadias, então somos todas (e queremos ser todas) vadias, pois não existe nada mais libertador e bonito do que ser livre, ter amor próprio e consciência do próprio corpo.Ser mulher é uma luta diária em nossa sociedade machista.
Todos os dias precisamos enfrentar as ruas, locais estes onde somos agredidas de todos os modos. Somos frequentemente agredidas verbalmente por homens que acham divertido e normal nos catalogar entre “gostosas”, “princesas” ou “feias”, sendo agressivos e invasivos para com as mulheres. * Somos frequentemente abusadas nos ônibus, metrôs e trens, a caminho do trabalho e a televisão insiste em estampar essa realidade sofrida em “programas humorísticos”, representando sempre uma mulher em uma situação humilhante e seu algoz na posição de “homem viril”.
Sofremos violência doméstica, em todos os patamares: de nossos pais, irmãos e principalmente de nossos companheiros ou ex-companheiros . Aproximadamente 12 mulheres morrem por dia no Brasil vítimas de crimes de ódio, motivados pela não aceitação do fim de relacionamentos. Machismo mata, todos os dias!
Somos alvo de modelos de sexualidade e maternidade pré-determinados, que não condizem com nossas vivências. Se optamos por não termos filhos e nos dedicarmos às nossas carreiras, somos acusadas de não cumprirmos o nosso sagrado dever da maternidade. Se abandonamos a vida profissional para nos dedicarmos exclusivamente à criação dos filhos somos acusadas de não contribuirmos com a economia doméstica e, ainda por cima, de sermos submissas.
Todos os dias somos submetidas à violência obstétrica por parte de profissionais despreparados que nos obrigam a realizar cesáreas desnecessárias, sem respeitar nossa autonomia e poder de decisão. Somos impedidas de exercer a maternidade ativa, de decidirmos como queremos que nossas filhas e filhos venham ao mundo. Somos vítimas de uma cultura de impotência, que nos reduz a coadjuvantes de nossas próprias vidas, pois nossos desejos, vontades e capacidades não são levados em conta.
Somos diminuídas profissionalmente e, em pleno ano de 2012, as mulheres ainda possuem um salário 17% menor do que o salário de homens (por exercerem a mesma função, durante a mesma carga horária e com o mesmo nível de qualificação profissional). É inaceitável que ainda sejamos tratadas como seres inferiores, exercendo papéis puramente no âmbito doméstico e familiar.
Somos objetificadas e utilizadas como garotas-propagandas, como meros pedaços de carne e não aceitamos isso! Sabemos que esse tratamento - objetificado e mercantilizado - é uma das consequências de uma sociedade machista. Estamos aqui para dar um basta às propagandas de cerveja e similares, que utilizam sempre mulheres e seus corpos como chamariz para vendas e para perpetuar preconceitos.
Lutamos ainda pelo direito da livre escolha em casos de aborto. Esse tema foi discutido desde as primeiras revoluções feministas e ainda hoje está em pauta, pois o governo brasileiro não garante para suas cidadãs o direito de escolher quando abortar e também não oferece nenhum procedimento legalizado e seguro para a prática da interrupção da gravidez.
Desejamos ainda que todas as mulheres que optem pelo aborto não sejam criminalizadas. Atualmente, a prática do aborto só é legalizada em casos de estupro, de fetos anencéfalos ou em casos onde a gravidez represente risco de morte para a mãe. Lutamos para que o aborto seja legal e seguro para todas as mulheres que optem por realizá-lo e que, caso optem pela realização, não sejam de forma alguma criminalizadas ou hostilizadas (principalmente pelos profissionais de saúde).
O eixo principal da marcha das vadias é tratar sobre violência e sobre culpabilização das vítimas. Exigimos e lutamos por uma sociedade que repense suas atitudes para com as mulheres e acabe com qualquer forma de violência contra elas.O discurso de muitas pessoas ao opinarem sobre violência contra mulher é que essas mulheres provocaram seu agressor. Não acreditamos em provocações ou argumentos infantis como esse. Nenhuma mulher deve ser machucada, estuprada, hostilizada ou ofendida por nenhum motivo. Não importa quantas latas de cerveja ela bebeu... quando ela disser NÃO é NÃO! Não nos importa se ela disse sim várias vezes e só mais tarde disse não. A vontade da mulher precisa ser respeitada sempre! É preciso que a sociedade seja participativa como um todo, relatando os casos de violência contra as mulheres.Ainda, desejamos que o Estado se mobilize em prol das mulheres, que olhe com cautela para nossas necessidades e que eduque as próximas gerações para que preconceitos não sejam disseminados. É importante que Estado e sociedade trabalhem juntos para o fim da violência contra a mulher - fato este que é histórico - e a Marcha das Vadias vem com a intenção de promover debates e diálogos sobre como é importante a não culpabilização das vítimas em casos de violência.
Marcharemos até que todas sejamos livres.
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