Fonte: Agência Afro-Étnica de Notícias (Afropress)
Baseados no fato de que o espaço da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) pertence ao PT, duas correntes desse Partido já disputam abertamente quem será o titular do cargo em substituição à Matilde Ribeiro, exonerada, à pedido, na semana passada por causa do seu envolvimento no escândalo dos cartões corporativos.
Os pretendentes – para si ou para membros do seu grupo – são os deputados federais Edson Santos, da corrente auto-denominada Campo Majoritário (antiga Articulação) e Carlos Santana (foto), pelo Movimento PT. Ambos são do PT do Rio. Santana é presidente da Frente Parlamentar da Igualdade Racial, formada na Câmara dos Deputados e integrada majoritariamente por parlamentares do Partido. As duas correntes disputam poder internamente no PT carioca.
Na última quarta-feira, o Diário Oficial da União publicou a nomeação pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do sociólogo Martvs Chagas, para exercer interinamente o cargo de Secretário, que tem status de ministro, embora a Seppir seja uma Secretaria da Presidência da República.
Bastidores
A disputa aberta no interior do PT é mais do que a medição de forças de tendências em conflito, já que o orçamento da Seppir é considerado irrisório – cerca de R$ 30 milhões para este ano -, o que é considerado muito pouco. O interesse maior, segundo analistas, está nos R$ 2 bilhões prometidos para os próximos 3 anos pelo Governo, a serem aplicados na Agenda Quilombola, que inclui ações em vários Ministérios, e que será coordenado pela Seppir.
A disputa também revela antagonismos regionais. Com Matilde, a Seppir era freqüentemente criticada por ser a expressão do PT paulista, com um grupo de negros hegemônico liderado por Flávio Jorge, coordenador da Coordenação Nacional das Entidades Negras (CONEN), hegemonizada pelo Partido, Rafael Pinto, da Associação de Funcionários do Grupo Santander/Banesp, oriundo do movimento sindical bancário, e Sônia Leite, do Fórum de Mulheres Negras, que dava as cartas, frequentemente de forma truculenta e arrogante, na relação com as demais correntes do Movimento Negro.
Por conta da falta de brilho próprio de Matilde, o trio acabou se constituindo uma espécie de "ghost cabinet" (gabinete fantasma), informal, da Seppir, tendo grande influência nas decisões da ministra.
Não por acaso, Pinto e Leite, que durante as semanas que antecederam ao pedido de demissão se mantiveram em absoluto silêncio, na última quinta-feira (07/02), usaram o mandato do deputado José Cândido (PT), na Assembléia Legislativa de S. Paulo, para dar entrevistas defendendo a ex-ministra e queixando-se da mídia.
Minas
A queda da Matilde e a nomeação de Chagas deslocou o eixo do poder na Seppir para Minas Gerais. Com bom trânsito em várias áreas, Martvs foi Secretário Nacional de Combate ao Racismo, e é do PT de Minas, onde coordenou a campanha de Lula em 2.002. De perfil conciliador, ele disse que vê com tranqüilidade a disputa (leia entrevista exclusiva concedida à Afropress na edição desta segunda-feira) e acrescentou que isso revela o prestígio conquistado pela Seppir.
Edson Santos, com pouca presença no movimento negro organizado, e Carlos Santana, um ex-sindicalista, que assumiu a presidência da Frente no ano passado, querem deslocar para o Rio, o peso e o poder de definir prioridades para os negros dentro do Governo Lula.
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