SÃO PAULO - Logo no primeiro dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, que aconteceu da última segunda-feira (13) até este sábado (17) na Bienal do Ibirapuera, o público se deparou com uma manifestação da ONG Educafro. A entidade protestava para que a cota de modelos negros na passarela do evento de moda paulistano aumentasse de 10% para 20%.
O caso chamou a atenção do Famosidades, que passou a semana batendo perna na Bienal. Então, nós resolvemos abrir a polêmica. Muita gente é contra, mas muita gente também é a favor das cotas para que haja uma inclusão social de negros no disputado mundo da moda. O bafafá teve início também por conta do estilista Oskar Metsavaht, da grife Osklen. Ele contou que gostaria apresentar sua coleção Verão 2012 usando apenas modelos negros na passarela, mas que não conseguiu.
“Queria fazer com todos negros por uma questão de estética da passarela. Tentei fazer uma coleção só com loiros e não consegui [em uma edição passada da SPFW]. Dentro da passarela, você tem que ter uma estatura, um biótipo. Mas o mais legal foi ter essa diversidade na passarela com negros, brancos, ruivos... Fico lindo!”, afirmou o estilista ao Famosidades.
Além disso, Metsavaht garantiu que não encontrou modelos profissionais negros para colocar na passarela e formar seu casting 100%. Rebatendo o profissional, o representante da Educafro Frei Davi não entende a história assim. “Com certeza, ele está totalmente equivocado. Se ele quiser, eu coloco na frente dele 100 modelos negros nacionais de padrões internacionais. Hoje, há 30 agências só de casting negro no Brasil!”, contou.
O Famosidades devolveu a bomba para Metsavaht, que disse: “Bom, isso tem que ver com a empresa especializada em casting. Mas não tem estatura, não tem experiência. Tem que ter talento. Não cabe na SPFW pessoas inexperientes. Ontem de noite [um dia antes do desfile de sua marca], fiquei ensaiando com alguns modelos a andar, desfilar..”.
Sobre a discussão de ter cotas ou não, o Famosidades debateu esse assunto com modelos – negros e brancos -, fashionistas e também famosos. E o assunto rendeu... Confira nas próximas páginas:
Além disso, Glória considera essa questão atrasada para o século XXI. “Estarmos discutindo isso hoje, em 2011, é a prova de que o racismo e a discriminação continuam cada vez mais fortes. Não tem que ter cota. Acho que tem que ter naturalmente na passarela um monte de negro e um monte de branco. Gente que seja linda, modelo! A gente tem que lutar pelo fim da discriminação e não pela cota!”, disparou.
Luiza Brunet, por sua vez, é a favor das cotas. A ex-modelo, porém, disse que a palavra “cotas é um horror”: “Essa palavra deveria ser retirada do vocabulário. Cota pra mim é imposto de renda...”. “Mas a cota deveria aumentar mais. São pessoas maravilhosas, são consumidores, e deveriam estar mais presentes em qualquer evento de moda no mundo, não só no Brasil”, afirmou.
Já Glória Kalil disse ao Famosidades que tudo não passa de uma questão de mercado: “Tenho muita dificuldade de cota em geral. Cota para universidade... eu não sei se funciona. Algumas coisas obrigadas funcionam, outras não. Acho que é um assunto muito controverso pelo seguinte: fiquei sabendo que o pessoal da Osklen queria fazer um casting de negros e não conseguiu. Ou seja, não tem oferta grande ainda no mercado. Por que não tem? Porque não havia demanda. Hoje, que há demanda, eu acredito que vá se criar uma nova geração. Mas que ainda não tem”.
A fashionista disse ainda que a escolha de modelos que vão para passarela é muito restrita. “Tem uma seleção muito chata: ‘você sim, você não’; ‘você tem perna grossa..’. Não tem ainda um elenco de modelos negros para se fazer um casting. Cota? Pode ser que funcione. Não acho que tenha preconceito! Na moda e em quase tudo, o que existe é mercado. Não há mercado. Por exemplo, gordinhos não tinham roupa. Hoje que todo o mundo é ‘oversize’, está tendo. Ou seja, o que cria é a demanda”, opinou Glorinha.
Romulo Souza, de 20 anos, é negro e desfilou pela Osklen na SPFW na última quarta-feira (15). Ao Famosidades, o modelo, que está na profissão há um ano e meio, disse que é contra as cotas. “Isso é ridículo. Não tem bastante negro bom pra modelo e não tem perfil. Até o próprio negro tem preconceito por sua cor”, disparou. Lucas Cristino, de 19, que também é negro e fez sua estreia nas passarelas como modelo no desfile da Osklen, afirmou que há mesmo preconceito do próprio negro: “Eles nem fazem o teste porque acham que não vão chamar”.
Já a modelo Patrícia Müller, de 18 anos, que é branca e tem um ano e meio de profissão, afirmou que não tem uma opinião certa sobre o assunto. “Acho que todo o mundo tem que se conscientizar que não precisa desta cota. Se eles são iguais, não deveriam ter cota. Mas, ao mesmo tempo, acho que o estilista é preconceituoso, porque não chama os modelos negros para desfilar suas roupas”, disse.
Samira Carvalho, de 22 anos, que é negra e também desfilou para a grife do estilista Oskar Metsavaht, afirmou que existem sim negros no mercado de modelo. “Infelizmente, alguma coisa tem que ser feita. Sou a favor, porque o preconceito existe sim”, disse ela, que tem sete anos de carreira.
Iago Santibanez, que desfilou pela marca, e é loiro, afirmou que achou estranho o estilista afirmar que não achou modelos negros no mercado: “Muito estranho. Eu vejo bastante modelos negros. E tem que ter sim cotas porque realmente é desigual a forma como eles são tratados”.
Sobre o aumento da cota de 10% para 20%, Metsavaht disse que não está certo de que é ou não a favor. Porém, ele disse que como criador, o estilista não pode ser privado de nenhuma liberdade: “Expressão de moda tem que ser livre. Essa passarela, nesses 10 minutos, a nós pertence. Se a gente quiser colocar nenhuma pessoa na passarela, ou alguém plantando bananeira, a gente põe”.
“Mas sou embaixador da Unesco e me envolvo com a cultura de paz há muitos anos. Quando você vê as estatísticas sobre discriminação contra negro no Brasil, por incrível que pareça, ela está aumentando. Mas o mais importante é nós inserirmos a percepção que a cultura negra faz parte de todos nós, assim como a asiática e a européia”, finalizou Metsavaht.
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