quarta-feira, 30 de abril de 2008

Recife tem três vezes mais morte de negros


Em 2006, o total de óbitos de pretos e pardos com até 59 anos foi 200% maior que o de brancos, amarelos e indígenas no município




SARAH FERNANDES
da PrimaPagina



O número de mortes de pretos e pardos com idade até 59 anos no Recife foi mais do que o triplo do total de óbitos registrados entre brancos, índios e amarelos no ano de 2006. A informação está no Quadro Epidemiológico de Mortalidade por Raça/Cor no Recife, levantamento sobre índices de mortalidade focado na questão racial. O estudo, promovido pela secretaria de saúde do município, indica 3.174 mortes de negros contra 929 de não-negros nessa faixa etária.

A morte de negros representa 77,4% dos óbitos, proporção maior do que os 53,22% da população que se autodenominaram de cor preta ou parda no Censo de 2000. Os números foram extraídos das declarações de óbito que traziam o quesito raça/cor preenchido (97,8% do total).

Em relação às crianças com idade até nove anos, foram registradas 310 mortes de negros contra 111 de não-negros, quase o triplo. A maior diferença, no entanto, ficou com os adolescentes entre 10 e 19 anos: foram 278 óbitos de negros para 32 de não-negros (mais de oito vezes). Já entre os adultos, os dados apontam 1.118 mortes de negros para 170 de não-negros (mais de seis vezes) no grupo de pessoas entre 20 e 39 anos e 1.468 óbitos de negros contra 616 de não-negros para a população entre 40 e 59 anos. No grupo dos idosos, com 60 anos ou mais, o quadro se inverte: foram 2.833 mortes de negros para 2.860 de não-negros, em 2006.

"Somente entre os idosos que essa proporção foi ligeiramente superior em não-negros. Ou seja: os negros morrem mais cedo que os não-negros. Salienta-se a ocorrência em adolescentes e adultos jovens de 8,7 e 6,6 óbitos em negros para 1 óbito em não-negro, respectivamente", afirma o estudo.

"A faixa etária mais vulnerável é a entre 10 e 19 anos. Uma das explicações é que eles compõem o grupo dos mais vulneráveis à violência", avalia a coordenadora do levantamento, Sony Santos. Homicídio foi o fator que mais vitimou negros de Recife em 2006, atingindo 959 pessoas da etnia contra 59 não-negras. "A taxa de mortalidade por homicídio chegou a ser 18,7 vezes superior na raça/cor negra", aponta a pesquisa.

Os óbitos causados por câncer de colo de útero, tuberculose e Aids também foram mais freqüentes na população negra do que na não-negra. Ao todo, 2,5 mulheres negras morreram vítimas de câncer de colo de útero para cada não-negra. Nos casos de Aids e tuberculose foram 3,3 e 3,2 óbitos em negros para um óbito não-negro, respectivamente, segundo o relatório. "São doenças mais comuns na população pobre, que tem mais dificuldade de acesso a informações e serviços", diz Sony. "Esse quadro pode sugerir que haja racismo institucional no atendimento da saúde da população negra", avalia.

Com a intenção de combater a discriminação nos serviços públicos a prefeitura de Recife aderiu ao PCRI (Programa de Combate ao Racismo Institucional), que é apoiado pelo PNUD. No setor de saúde o programa viabilizou a elaboração do levantamento sobre índices de mortalidade e natalidade segundo raça/cor, divulgado em novembro de 2007, e ofereceu três cursos para 300 servidores públicos para evitar discriminação no atendimento e para incluir o quesito raça/cor nos prontuários médicos.



terça-feira, 29 de abril de 2008

Movimento negro derruba edital da SEE


Edital convocava agentes culturais da Coordenadoria de Ação Cultural (Corac), mas não incluía a Capoeira


Representantes da Federação Alagoana de Capoeira (FALC) e do Fórum de Entidades Negras de Alagoas (Fenal) conseguiram derrubar o edital da Secretaria Estadual da Educação e do Esporte, que convocava agentes culturais da Coordenadoria de Ação Cultural (Corac), mas não incluía a Capoeira.

Segundo representantes do movimento, a prática da capoeira vem sendo ensinada em escolas públicas alagoanas nos últimos sete anos, através de contrato verbal com a Corac. O mesmo acontece com a música, o teatro, balé, folguedos populares, artes plásticas, cinema, maestro de bandas. O movimento negro considera que neste tempo a capoeira revelou-se peça fundamental na inclusão da cultura afro-brasileira nas escolas.

Após mobilização da Falc e do Fenal, que mostraram que tal atitude descumpria as leis 10.639 e 6.914, a Secretaria reconheceu o erro e prometeu corrigir o edital e republicá-lo, incluindo as vagas para agentes culturais de capoeira e ampliando o prazo de inscrição.

“Esta é uma conquista histórica que representa, por um lado, a força dos segmentos afro-brasileiros quando unidos e conhecedores dos seus direitos, por outro, que os poderes institucionais tendem, se solicitados, a atender as nossas reivindicações pautadas nas leis e necessidades sociais.” comemorou Marco Baiano, presidente da Falc.

Assessoria
Fonte: http://gazetaweb.globo.com/

quinta-feira, 24 de abril de 2008

De cada cem negras trabalhadoras no Brasil, 22 são empregadas domésticas, diz OIT

De cada cem mulheres negras ocupadas no Brasil, aproximadamente 22 são empregadas domésticas. Nas mulheres brancas, amarelas e indígenas, o índice é de 13 a cada cem.


Os dados estão no estudo inédito divulgado nesta quinta (24) pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), elaborado a partir da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No dia 27 (domingo), comemora-se o Dia Nacional da Trabalhadora Doméstica.

Essas trabalhadoras domésticas negras estão ganhando mais registro na carteira de trabalho: 17,2% de aumento, entre 2004 e 2006. Esse movimento das negras acompanha o crescimento da formalização no setor, que foi de 10,2%, no mesmo período.

Apesar disso, somente 27,8% do total de trabalhadores domésticos têm carteira assinada, segundo dados de 2006.

O trabalho doméstico conta com 6,6 milhões de pessoas no Brasil. Desse total, 93,2% são mulheres e 6,8%, são homens. Ele representa 16,7% do total da ocupação feminina no Brasil, o que corresponde, em termos numéricos, a 6,2 milhões de mulheres.

Entre os não-registrados, as trabalhadoras negras correspondem a 57,5%. As mulheres não-negras são 37%. Os homens não-negros são 2,1%; e os negros somam 3,4%.

Entre as mulheres negras que são trabalhadoras domésticas, 75,6% não têm carteira assinada. Esse percentual é de 69,6% entre as mulheres não-negras. Entre os homens, o índice é de 61,9% (negros) e 54,9% (não-negros).

Segundo o documento da OIT, isso demonstra "de maneira inequívoca que, mesmo em um campo tradicionalmente feminino e em uma situação de extrema precariedade, as mulheres, e em especial as mulheres negras seguem em situação mais desfavorável do que os homens".

Analisando-se o período de 1995 a 2006, destaca-se ainda a diminuição da diferença de rendimentos. Em 1995, as mulheres negras recebiam o equivalente a 55,4% dos rendimentos dos homens brancos. Em 2006, essa diferença cai, apesar de continuar bastante elevada: as mulheres negras passam a receber 66,4%.

Os rendimentos das mulheres brancas, em 1995 e em 2005, equivaliam a 64,5% e 75,5% dos rendimentos dos homens brancos respectivamente; para os homens negros, os valores eram 69% e 87,3% respectivamente dos rendimentos dos brancos.

Para a OIT, isso significa que, "mesmo em um setor ainda bastante precário do mercado de trabalho, as desigualdades de gênero e raça reproduzem a lógica do mercado de trabalho mais amplo: os homens brancos seguem tendo os maiores rendimentos, seguidos dos homens negros e, por fim, das mulheres brancas e negras, nesta ordem".

A lei brasileira define o trabalho doméstico como aquele realizado por pessoa maior de 16 anos que presta serviços de natureza contínua (freqüente, constante) e de finalidade não-lucrativa à pessoa ou à família em sua casa.

Fonte: UOL - Empregos

Secretário Osvaldo Viégas visita Grupo União Espírita Santa Bárbara


Viégas afirmou que o maior obstáculo enfrentado pela disseminação da cultura negra ainda é o preconceito racial


Por: Mônica Lucia
Jornalista e integrante da Cojira/AL



O secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas, visitou, no último final de semana (20.04), a ONG Grupo União Espírita Santa Bárbara, um espaço destinado à valorização e divulgação da cultura afro-brasileira. A entidade, localizada no conjunto Village Campestre 2, assiste a mais de 50 crianças e adolescentes, através do Projeto Inaê, realizando oficinas de artesanato, dança, teatro, percussão, pintura, além de palestras e seminários.

Osvaldo Viégas teve a oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido pela ONG, que é reconhecida pelos inúmeros turistas nacionais e internacionais que visitam o local durante os finais de semana. Entre eles, a apresentação da Dança dos Orixás, a Capoeira, o Maculelê e a Dança Primitiva. Além dos pratos da culinária afro, que são conhecidos pela sua variedade e sabor, a exemplo do acarajé, abará, vatapá, caruru e outras iguarias.

A ialorixá mãe Neide Oyá D' Oxum agradeceu a visita do secretário Osvaldo Viégas ao Grupo Espírita, que desenvolve atividades culturais, divulgando a Umbanda e suas manifestações. Segundo ela, a cultura negra ainda é vista com preconceito por parte da sociedade, em especial os atos religiosos, que são constantemente criticados por integrantes de outras religiões. Mesmo diante desses obstáculos, a religiosa diz que não desistirá de divulgar a sua fé.

Para o secretário, a cultura afro-brasileira ainda enfrenta dificuldade de ser divulgada em função da discriminação e preconceito. Mas afirmou que o governo do Estado, através da Secult, tem como uma de suas metas divulgar o trabalho realizado pelas etnias consideradas minorias. Uma das propostas da secretaria é incluir o grupo de dança do Guesb na caravana cultural, realizada pelo órgão nos municípios alagoanos. "A cultura afro-brasileira tem uma bagagem significativa. Porém, para ser valorizada, será necessário romper a barreira do preconceito", ressaltou.

O turista italiano Giancarlo Franci disse que nunca retornou a um destino duas vezes, mas pretende voltar, a Maceió, porque encontrou, além de belas praias, humanismo no Grupo União Espírita Santa Bárbara. “Em Salvador é muito turístico, aqui em Maceió é autentico, a própria comunidade participa e tem benefícios. Fiquei emocionado”, conta. Durante dois anos, o agente de viagem Ubiraelson Nascimento, da agência Marina Viagem, trouxe mais de 2 mil turistas italianos para conhecer a cultura afro.

Criado na década de 80, o Grupo União Espírita Santa Bárbara tem conquistado o reconhecimento através de suas ações, que têm como foco crianças e adolescentes carentes do bairro. Morando no local há mais de 15 anos, mãe Neide, como é chamada carinhosamente, observando as dificuldades enfrentadas pelas famílias, resolveu implantar o projeto Inaê, que além das oficinas de arte, promove cursos voltados para geração de emprego e renda, destinado aos familiares, que aprendem pintura em seda, confecção de colares, pulseiras, brincos e roupas com a temática afro, crochê e peças que são utilizadas pelos filhos de santo.

A ampliação dos serviços é um dos planos para o futuro. Nesse sentido, recentemente foi adquirido um terreno, onde será construído um prédio com estrutura de palco, refeitório, salas e uma escola.

Centro de Teatro do Oprimido (RJ) chega a Alagoas

O Centro de Teatro do Oprimido, com patrocínio da Petrobras, firmou parceria com o SESC Alagoas para implantar um núcleo no Estado com representantes de Pontos de Cultura, Grupos Culturais e Movimentos Sociais.

Os interessados em participar e conhecer o trabalho do Centro do Teatro do Oprimido deve preencher o formulário de adesão que está disponível no site do SESC Alagoas, e enviar para o e-mail sesccentro@gmail.com.

A Oficina Demonstrativa realizada no dia 09 de abril no Sesc Guaxuma (Coronel Mário Saraiva, s/n – Praia de Guaxuma) teve como objetivo apresentar e facilitar a compreensão do projeto Fábrica de Teatro Popular – Nordeste que pretende oferecer um programa de formação de Multiplicadores de Teatro do Oprimido para instituições e grupos interessados em conhecer e utilizar este método teatral praticado em línguas, culturas e geografias diversas.

Apesar de seus praticantes seguirem os mesmos fundamentos teóricos e práticos, filosóficos e políticos, sistematizados por Boal, o Teatro do Oprimido é regionalizado, ou seja, é o mesmo em todos os lugares, sendo, ao mesmo tempo, específico em cada um deles por incorporar a cultura local.

Com quase quatro décadas de existência, praticado em cerca de 70 países e em 19 estados brasileiros, o Teatro do Oprimido chega a Alagoas, onde a cultura local e necessidades específicas forjarão o nascimento do Teatro do Oprimido Alagoano.Este método se baseia no princípio de que todo ser humano é teatro e é capaz de fazer teatro, por isso o programa de capacitação não exige experiência teatral ou uma formação específica. Entretanto, os participantes devem ter experiência em organizar e promover atividades coletivas e envolvimento em ações comunitárias e estarem aptos e comprometidos com a multiplicação.

Mais informações:
(82) 3326.3133
http://www.al.sesc.com.br

Com informações da Assessoria.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Anajô realiza assembléia no dia 27

A Diretoria do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô informa que realizará no próximo domingo (27.04) a 1ª Assembléia Ordinária/2008. A atividade acontecerá das 9hs às 14hs, na sede da instituição denominada “Mocambinho” – Rua Jardim Manguaba, nº10, Feitosa, Maceió-AL. Cep:57043-280.

Estão convidados todos os associados e as associadas, além das pessoas que se interessam entrar efetivamente na instituição.

Pautas:
*Adesão de novos membros;
* Cronograma de atividades para o segundo semestre;
* Projetos sócio-culturais e de formação;
* Finanças.

Mais informações:
(82) 8831-3231 / 8865-5520 / 9341-0943
onganajo@hotmail.com
http://www.anajoonline.spaces.live.com

Mestres de capoeira elaboram livro didático e elegem diretoria do Conselho Estadual em União dos Palmares

Mestres de capoeira de Alagoas iniciam a elaboração de um livro didático sobre o ensino-aprendizagem da capoeira visando atingir os alunos das escolas públicas e privadas. O primeiro encontro será realizado durante todo o dia 27, no auditório da Secretaria Municipal de Educação de União dos Palmares, que ofereceu total apoio ao evento, no qual acontecerá também a Assembléia de eleição da nova gestão, aprovação do Estatuto e do Regimento do Conselho Estadual de Mestres de Capoeira de Alagoas - Cemcal.

Os mestres saírão no domingo às 7 horas da manhã, da Praça Sinimbu com destino a União, onde serão recebidos com café da manhã, almoço e lanche ao final das atividades. Os organizadores do evento estão esperando cerca de trinta mestres, com representação de vários municípios.

Segundo Cláudio Figueiredo, um dos idealizadores do Cemcal, o início da elaboração do livro didático, no município de União se deveu a dois fatores, que são a simbologia de Zumbi para os capoeiristas e o fato do município já ter implantado o ensino da capoeira nas escolas, salientou o mestre.

Um dos objetivos do Cemcal é a formação continuada dos capoeiristas para a implantação do ensino da capoeira nas escolas. Para atingir seus objetivos o Conselho já conta com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de União, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro/NEAB da Universidade Federal de Alagoas/UFAL e da Secretaria de Estado de Cultura. “Depois da eleição de nossa entidade, ampliaremos o diálogo junto ao Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico- Racial e a Secretaria Municipal de Educação de Maceió”, adiantou Antônio Pereira, o mestre Tunico.

A construção coletiva de um livro didático de capoeira que compreenderá os conteúdos programáticos de cada série do ensino médio se apresenta como um desafio para os mestres envolvidos, assegurou o Mestre Cláudio. Já o mestre Tunico ressalta a importância do livro para Alagoas e observa que a busca de um conteúdo que inclua o ensino da capoeira angola e regional de forma sistematizada nas escolas vai construir uma nova era da capoeira no Estado e no país, além de ampliar o mercado de trabalho formal para os capoeiristas.

A eleição da primeira diretoria do Conselho de Mestres em União e um próximo encontro em Arapiraca, cuja Câmara Municipal aprovou a obrigatoriedade do ensino da capoeira nas escolas municipais, demonstram que a entidade pretende trabalhar interiorizando as suas ações, buscando um maior desenvolvimento da capoeira e construindo parcerias, conclui mestre Cláudio.

Assesoria de Imprensa:
Sandra Bomfim - Jornalista (MT 1217)
Contatos: (82) 8859 5872

Mirante Cultural segue em 3ª edição

O Mirante Cultural - "Um Quilombo Chamado Jacintinho" é uma iniciativa do Centro de Estudos e Pesquisas Afro-alagoano QUILOMBO, com o objetivo de proporcionar atividades culturais e discussões políticas na comunidade do Jacintinho.

A terceira edição será realizada no dia 25 de abril, das 19h às 22h, no Mirante ao lado da rádio 96 FM. Na ocasião será passado um abaixo assinado, que solicita a construção de uma praça no Mirante Kátia Assunção, para que a comunidade do Jacintinho possa ter efetivamente um espaço de lazer.

Já estão confirmados os seguintes grupos: bumba-meu-boi Diamante; Grupo de Teatro Mutetra; Escola de Samba Arco-Íris; Federação Alagoana de Capoeira (FALC) e a Banda Afro Mania.

Contatos:
Denis Costa: 8858-6771
Gilson Félix: 3035-7913
Sirlene Gomes: 8823-2517
http://fotolog.terra.com.br/mirante

Com informações da Assessoria.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Comissão da Igualdade Racial cobra presença de movimentos e mídia em debates

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Há oito anos em tramitação no Congresso Nacional, o Estatuto da Igualdade Racial (PL 6264/05) passou a ser discutido este ano em uma comissão especial na Câmara dos Deputados. Já aprovado no Senado, o documento, que estabelece políticas públicas para combater a discriminação e promover a inclusão dos afrodescendentes, agora está em fase de audiência pública.
Neste mês, foram realizadas duas audiências. A terceira está marcada para quarta-feira (16), com a participação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo. Ele foi convidado para apresentar as políticas públicas desenvolvidas pela fundação, especialmente na certificação das comunidades remanescentes de quilombos.
Presidente da comissão, o deputado Carlos Santana (PT-RJ) espera que a reunião desta semana tenha um quorum mais alto de parlamentares, representantes de movimentos sociais e jornalistas. Na última sessão, 15 deputados compareceram.
“Vamos fazer um esforço de mobilização aqui para aumentar esse número, mas esperamos que os representantes das organizações do movimento negro também venham aos debates. A participação tem sido baixa, assim como a cobertura da mídia”, reclama Santana.
“Temos dúvidas se o projeto deve ser alterado ou aprovado como está para que não tenha que voltar ao Senado. Precisamos saber o que o movimento negro pensa. O movimento tem que dar respaldo pra gente. Queria ser cobrado 24 horas por dia, mas não sou.”
Santana acredita que diversos pontos do estatuto vão enfrentar resistência de setores mais “conservadores e religiosos” da sociedade. No topo da lista de "polêmicas", estariam as políticas voltadas para a regularização das terras quilombolas e as ações afirmativas.
Para ampliar o debate, o presidente da comissão considera essencial a divulgação do debate pelos meios de comunicação. A começar pela própria TV Câmara. Na última audiência pública, os deputados criticaram a ausência de uma equipe da TV para transmitir ou gravar o debate.
Um requerimento verbal nesse sentido chegou a ser apresentando pelo deputado Vicentinho (PT-SP). “Nossa luta é árdua até aqui dentro. Precisamos exigir espaço na TV. É vergonhoso que uma audiência como essa não seja sequer gravada”, reclamou Vicentinho.
A coordenação da TV Câmara considerou o requerimento “válido” e atribuiu a ausência de uma equipe no local à realização de várias reuniões em plenários diferentes na quarta-feira passada.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Convocatória: Fórum Estadual Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial

A Gerência Étnico-Racial da Secretaria Estadual de Educação e Esporte está convocando os segmentos afros para indicarem seus representantes (titular e suplente), que integrarão a equipe de trabalho do Fórum Estadual Permanente de Educação e Diversidadade Étnico-Racial.
O Fórum tem como objetivo: articular e subsidiar a definição de políticas públicas, comprometidas com a implementação da LEI nº 10. 639, de 9 de janeiro de 2003; em Alagoas com especificidade da lei 6.814/007 e outros temas correlatos com a temática étnico- racial e de gênero na área de educação, turismo e cultura no processo ensino - aprendizagem em toda a rede pública e privada do Estado de Alagoas.
A primeira reunião acontecerá nesta quinta-feira (11.04), das 09 às 12 horas na Sala da Imprensa do Palácio do Governo República dos Palmares. Dentre os pontos de pautas, estão: a discussão sobre o regimento; distribuição do material para a reunião ampliada sobre a implementação da lei, que acontecerá em Sergipe/Aracaju, dias 04 e 05 de junho (o sujeito de direito da reunião de Aracajú são os membros dos Fóruns Estaduais).
Mais informações:
Arísia Barros (Gerente Étnico-Racial)
(82) 3315-1268 / 8815-5794

sexta-feira, 4 de abril de 2008

40 anos sem Martin Luther King





EU TENHO UM SONHO


Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)






"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.


Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.


Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.


De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".


Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.


Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.


Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.


Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.


Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.


E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"


Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.


Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.


Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.


Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.


Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.


Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!


Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!


Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.


Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado. "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.


Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.


E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro: "Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."