Lá para o Oscar, Tião se espantou com tanta 'comida que vai para o lixo'.
G1 fez passeio com o brasileiro pela Calçada da Fama, em Los Angeles.
Tião exibe placa de Hollywood em sua primeira visita à Calçada da Fama (Foto: Gustavo Miller/G1) |
“Não, Tião! Não compra a estátua que vai dar azar”. Foi com essa bronca bem-humorada do diretor João Jardim, que o brasileiro Tião Santos estreou na Calçada da Fama de Hollywood. O catador de lixo e o codiretor de “Lixo extraordinário”, que concorre ao Oscar de melhor documentário, chegaram nesta quinta-feira (24) a Los Angeles, e, desde então, seguem uma maratona que inclui entrevistas, sessões do filme e até um almoço no consulado brasileiro.
Só nesta sexta puderam conhecer a Hollywood Boulevard e o Kodak Theatre, onde a cerimônia será realizada neste domingo. “Meu coração está batendo até mais forte”, disse Tião, assim que viu o primeiro outdoor do evento. “Desde que saíram os indicados minha vida virou de cabeça para baixo. No dia do anúncio eu estava em uma assembléia dos catadores e tinha tanto repórter depois que pensaram que alguém tinha morrido. O bagulho foi muito louco”, diverte-se o presidente da Associação dos Catadores do Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina.
Coprodução entre Brasil (O2) e Reino Unido (Almega Projects), “Lixo extraordinário” tem direção de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. O documentário mostra o trabalho do artista plástico Vik Muniz com os catadores do aterro Jardim Camacho, em Duque de Caxias.
Tião e Jardim seguem alguns rituais desde que o trabalho saiu premiado de vários festivais mundiais. O cineasta, por exemplo, está usando o mesmo casaco que utilizou no Festival de Berlim, quando o filme foi eleito o melhor documentário pelo júri popular.
João Jardim, codiretor de 'Lixo extraordinário', e Tião posam para fotos diante de estátua gigante do Oscar (Foto: Gustavo Miller/G1) |
“O Oscar de documentário é um prêmio muito político e a vantagem de sermos uma coprodução é que estamos de igual para igual”, acredita Jardim. “Estou como jogador de futebol: acho que tem de manter a humildade, os pés no chão e prefiro nem saber quem são os adversários”, diz Tião.
"Lixo extraordinário" tem como concorrentes “Exit through the gift shop”, do artista plástico Banksy; “GasLand”, de Josh Fox; “Trabalho interno”, de Charles Ferguson; e “Restrepo”, de Tim Hetherington e Sebastian Junger.
377 e-mails não lidos“Hoje preciso de alguém para ajudar com a minha agenda. Está difícil trabalhar, vi agora 377 e-mails não lidos. Eu tenho de continuar trabalhando [com a associação], mas está difícil. O que me trouxe aqui foi a minha liderança e não posso perder a minha essência. Sei que isso aqui [o Oscar] nunca se repetirá”, explica Tião, que aproveita para falar como o filme está ajudando a mudar a imagem dos catadores de lixo.
“Estamos tendo um reconhecimento como profissionais, somos muito marginalizados. Mostramos como consumir pode ser impactante”, afirma, enquanto olha para a vitrine de uma doceria. “Olha o tamanho dessa rosquinha! Isso aqui é o país do exagero, desde que cheguei só penso na quantidade de comida que vai para o lixo. Minha mulher é magra e adora doce. Ela seria gorda nos EUA”, brinca.
“Isso aqui é a continuação do filme. Mostra como a arte muda a vida das pessoas”, completa Jardim, rindo, enquanto Tião compra camisetas e uma placa de Hollywood para a sua filha Clara Elis – o nome é uma homenagem às suas cantoras favoritas, Clara Nunes e Elis Regina.
“Ela faz 10 anos do domingo, acredita? Ela pediu para eu tirar fotos com os famosos, diz que agora sou um também”, afirma Tião, que já sabe exatamente qual personalidade vai tentar abordar na maior festa do cinema mundial: “Angelina Jolie. É uma questão pessoal querer conhecê-la”.
Tião brinca com sósias de personagens do filme 'Piratas do Caribe' em frente ao Chinese Theatre, na Hollywood Boulevard (Foto: Gustavo Miller/G1) |
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