Enviado especial do UOL Notícias
O nome da escola de samba parece até inspirado na tragédia que abateu Nova Friburgo nesta semana: G.R.E.S. Unidos da Saudade, fundada em 1948.
Decorada com temas indígenas, que era o samba-enredo para 2011, a quadra da escola chegou a guardar 140 caixões de vítimas identificadas ou não da cidade serrana do Rio.
“Somos sambistas, mas não queremos Carnaval este ano. Não há clima. O samba hoje é triste. A única alegria é poder servir esse espaço para uma necessidade da população”, relata Luiz Carlos Teixeira, o presidente da escola de samba.
Metade do galpão é ocupada pelos carros alegóricos. A outra é tomada por caixões, um total de 24 esperando pelos militares que os levariam para o cemitério Trilha do Céu, que estava isolado por deslizamentos até este sábado. Por lá, as covas foram abertas a noite toda.
Três caixões na quadra estavam amarrados porque os tampos saltaram pela quantidade de gases emitidos pelos corpos em adiantado estado de putrefação. “Hoje o cheiro está até mais fraco. Nem precisamos de máscaras. Mas ontem estava insuportável”, conta Júlio César da Conceição, gerente de empresa funerária que doou os caixões de Nova Friburgo.
A escola de samba foi escolhida para a função pela prefeitura por conta de sua localização e pelo amplo espaço coberto. Desde a quarta-feira de chuvas e deslizamentos, o local serviu como local de identificar e velar os mortos. Muitas vezes nem isso era possível. Após permissão do Ministério Público, os corpos estão sendo fotografados, e as impressão digitais registradas para posterior identificação.
Atual campeã do Carnaval friburguense e com 18 títulos na história, a Unidos da Saudade já tinha escolhido o samba, ensaiado o desfile e preparado as alegorias em branco e roxo, suas cores. “Estamos prontinhos, mas nós estamos muito sensibilizados. Os carros alegóricos vão ficar para 2012”, conta o presidente.
O Carnaval local tem mais quatro escolas. Duas foram afetadas pelos deslizamentos. As outras duas estão em pontos extremos da cidade e não há logística para utilizá-las no serviço aos mortos, feridos e desalojados.
A triste coincidência é que um trecho do samba de 2011 da Unidos da Saudade fala de “ao seu lado, o sol não brilhará/um rio nasceu do pranto, por ele naveguei”. Muita coincidência para uma cidade de lágrimas e chuvas.
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