terça-feira, 23 de junho de 2015

Religião e ódio

Durante muito tempo, toda criança aprendia com os mais sábios e até mesmo através das doutrinas religiosas, que é preciso amar ao próximo. No entanto, o que observamos cotidianamente, é que falsos fiéis e profetas, esqueceram os tradicionais ensinamentos e descaracterizam a expressão “religião é amor” e proliferam ataques às crenças e costumes diferentes. 

No Brasil, a liberdade religiosa está garantida pela Constituição Federal (CF) e a liberdade de não exercer nenhuma religião também é garantida como um direito fundamental do ser humano. O artigo 5º assegura que todas as crenças e religiões são iguais perante a lei, e todas devem ser tratadas com igual respeito e consideração. A Lei Nº 9.459, de 13 de Maio de 1997 – alterou os artigos 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 – e define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Logo, ninguém pode ser discriminado em razão da sua fé; as atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado em função de religião são crimes. 

Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional resulta em uma pena de reclusão de um a três anos e multa. Com a Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007, também foi criado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa que deve ser celebrado todo dia 21 de janeiro e utilizado para as reflexões e atividades denunciativas. 

Porém, independente dos avanços jurídicos, o que se ver é a proliferação do ódio motivado por discursos preconceituosos e que muitas vezes são fundamentados erroneamente através do livro sagrado (Bíblia), sendo uma arma política e segregacionista; também estão ocorrendo atos explícitos de hostilidade e violência em diversos ambientes. 

Os últimos casos emblemáticos foram: a menina candomblecista Kailane Campos, de 11 anos, que foi atingida por uma pedra após sair de um culto religioso e o assassinato violento do médium Gilberto Arruda, do Centro Espírita Lar de Frei Luiz – ambos ocorreram no Estado do Rio de Janeiro. Outros casos de opressão frequentes, em todo território nacional, são as invasões nos terreiros e a humilhação de Zeladores. 

Infelizmente, em Alagoas, o Quebra de Xangô persiste cada vez mais organizando e imponente, a exemplo da destruição da casa de axé que existia na Vila dos Pescadores no bairro histórico de Jaraguá em Maceió. (Assista o emocionante depoimento da Mãe Vitória, que encontra-se no Youtube e foi viralizado na internet). O que adiantou o ex-governador de Alagoas pedir perdão pelas perseguições e mortes dos adeptos das religiões de matrizes africanas em 1912? Enquanto isso, existe a Igreja Batista do Pinheiro em Maceió, um exemplo expressivo de instituição religiosa em Alagoas, que prega o diálogo e respeito interreligioso. No último domingo(21.06), no culto semanal, grande parte dos fiéis se vestiram de branco em alusão à liberdade religiosa, o amor e pela paz. 

É preciso mudar as atitudes, antes, que a barbárie prevaleça! Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade humana!


Fonte: Coluna Axé – 348ª edição – Jornal Tribuna Independente (23 a 29/06/15) / COJIRA-AL / Editora: Helciane Angélica / Contato: cojira.al@gmail.com 

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