terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Carnaval dos protestos

Pelo menos três escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro levaram para o Sambódromo um Carnaval de críticas e protestos, externando a insatisfação do povo com os políticos e a corrupção.

A Beija-Flor, campeã do Carnaval, fez um paralelo entre o romance "Frankenstein” e as mazelas sociais brasileiras. Corrupção, desigualdade, violência e intolerâncias de gênero, racial, religiosa e até esportiva formaram o cenário de "Brasil monstruoso". Um carro encenou a violência cotidiana do Rio de Janeiro, mostrando crianças morrendo na escola, mães enterrando seus filhos policiais e ocorrências de assaltos.

A Paraíso do Tuiuti, que ficou com o segundo lugar, com belas alegorias e um samba enredo primoroso fez abordagem crítica sobre a situação da população negra e pobre neste País. Não faltaram Michel Temer, o vampiro neoliberalista, paneleiros com camisetas do Brasil e patos da Fiesp sendo controlados pela mídia, além de críticas às reformas trabalhista e da Previdência.

A escola passou pela Sapucaí deixando a pergunta "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?" A Tuiuti recontou a história da escravidão no Brasil, nos 130 anos da Lei Áurea, e fez uma crítica ao racismo e às dificuldades dos trabalhadores brasileiros hoje. Em seu segundo ano seguido no Grupo Especial e após um acidente grave no ano passado, a escola dedicou parte do desfile para uma crítica social mais atualizada. As três últimas alas retrataram perrengues dos brasileiros em busca de bons empregos. No último carro, a Tuiuti apresentou um "novo navio negreiro" buscando fazer uma comparação entre os "novos trabalhadores explorados pela classe dominante" e os escravos do passado.

A Estação Primeira de Mangueira, que ficou em 5º lugar, também não ficou atrás em termos de protesto. Aproveitou o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco” para ironizar a decisão de Prefeitura do Rio de cortar os recursos destinados às escolas de samba. Sem metáforas, o prefeito do Rio foi citado nominalmente e representado como um boneco de Judas para ser malhado.

Foi mesmo emocionante! Mas o Carnaval passou. É preciso que essa ousadia cidadã ganhe força na consciência dos brasileiros e ecoe nas ruas, antes que outros direitos sucumbam.



Fonte: Coluna Axé / 479ª edição / Jornal Tribuna Independente (20 a 26/02/18) / Editora: Helciane Angélica/ Contato: cojira.al@gmail.com

(Responsáveis, interinamente, as jornalistas Valdice Gomes e Luíla de Paula)

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