quarta-feira, 30 de março de 2011

Sindjornal realiza homenagem às mulheres jornalistas


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal) realiza nesta quarta-feira (30 de março), no Espaço Cultural dos Bancários, um happy hour com início às 19hs, para marcar o lançamento da Comissão de Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero. A atividade encerra a Agenda Mulher 2011, programação conjunta de entidades sindicais e dos movimentos sociais em comemoração ao Dia da Mulher (8 de Março). Durante o evento, que terá a participação da jornalista e cantora Gal Monteiro, haverá ainda homenagem a mulheres jornalistas.



A comissão de Mulheres do Sindjornal surge em atendimento a decisão do 34º Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado no ano passado, em Porto Alegre (RS), que aprovou a instituição da Comissão de Mulheres da Fenaj. O objetivo é lutar pela construção de políticas públicas nas áreas da comunicação e direitos humanos. “Também defendemos o estabelecimento de políticas e ações que garantam o respeito à diversidade e aos direitos das mulheres e que coíbam a violência de gênero”, ressaltou a presidente do Sindjornal, Valdice Gomes.



Segundo a sindicalista, as mulheres nas redações e assessorias já são maioria, assim, a comissão defende o estímulo à difusão de imagens não discriminatórias e não estereotipadas da mulher, bem como a promoção de relações trabalhistas não-discriminatórias com equidade de gênero, raça e etnia nos locais de trabalho.



A Comissão de Mulheres da Fenaj tem como meta a montagem de uma rede e um grupo de discussão sobre o tema para as mulheres jornalistas; produzir estudos, pesquisas e orientações para a cobertura jornalística, além de ampliar o debate sobre a garantia e o aumento dos direitos das mulheres nos acordos e convenções coletivas.

terça-feira, 29 de março de 2011

Deputados querem punir colega por declarações contra Preta Gil

Diversos deputados manifestaram nesta terça-feira (29) repúdio às declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), dadas ontem no programa "CQC", da Band.

A deputada Manuela D'Ávila, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, prometeu apresentar uma moção de repúdio pelas afirmações. Disse ainda que vai encaminhar ao Ministério Públicos e à Procuradoria Geral da República pedido de investigação contra o parlamentar pelo suposto crime de racismo.

Junto com o presidente da Frente LGBT, Jean Wyllys (Psol-RJ), e com o deputado Brizola Neto (PDT-RJ), estuda ainda qual atitude tomar internamente: pode ingressar no ir ao Conselho de Ética ou na corregedoria.

"Achei as declarações muito graves, por expressar vários preconceitos em uma única fala. Um deputado tem o direito de pensar e expressar suas opiniões, mas não de cometer crimes, como o racismo", afirmou.

O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), também criticou as declarações. "Sou contra o mérito [do que ele falou]. O comportamento [de Bolsonaro] não é dos mais adequados", falou. Já o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PT-BA), afirmou ontem que recebeu mais de cem e-mails cobrando uma atitude do colegiado.

Em sua defesa, Bolsonaro disse que não tem nada contra os negros e que não entendeu direito a pergunta feita pelo programa "CQC". "Acha que em sã consciência teria dado aquela resposta?. Não vejo problema nenhum [se um filho casasse com um negro], desde que a pessoa não tivesse o comportamento de Preta Gil". Questionado pela Folha sobre qual era o comportamento da cantora, limitou-se a responder: "você sabe melhor do que eu".

Boslonaro disse que entendeu que a pergunta era sobre homossexuais e não contra os negros. "Tenho uma briga contra os homossexuais, isso eu não nego", afirmou.

A deputada Manuela D'Ávila ressalta, porém, que o racismo aconteceu, independente de contra quem. "O crime de racismo não é só contra os negros, mas também contra os homossexuais", afirmou.

Bolsonaro informou ontem que vai protocolar um ofício no Conselho de Ética pedindo para ser ouvido. "Vou me adiantar para não deixar que pessoas faturem politicamente com isso. tenho inúmeras pessoas afrodescendentes no meu gabinete", afirmou.


Fonte: Folha.com

Seppir – 8 anos

Por: Helciane Angélica - com informações do site da Seppir


A Secretaria de Políticas de Promoção à Igualdade Racial (Seppir), com status de Ministério, completou oito anos de implantação e de compromisso no combate do racismo e na efetivação de oportunidades de desenvolvimento para a população afro-descendente.

A celebração do aniversário foi promovida no subsolo do Bloco A da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), na última segunda-feira (21 de março) – no Dia Internacional de Combate ao Racismo – que foi marcada pela assinatura do protocolo de intenção com a Petrobras para divulgação do Estatuto da Igualdade Racial, a entrega do Selo Educação para Igualdade Racial e o lançamento de campanha “Igualdade Racial é pra Valer”, uma iniciativa motivada pelo Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, instituído em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Também teve uma homenagem especial à professora Petronília Beatriz Gonçalves e Silva, a primeira mulher a ter assento no Conselho Nacional de Educação, e que recebeu uma placa pelos relevantes serviços prestados ao País. Estiveram presentes mais de 300 pessoas, dentre os integrantes do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), autoridades e representantes do movimento negro.

De acordo com a ministra Luiza Bairros, “promover a igualdade racial não é responsabilidade só do movimento negro ou do estado brasileiro, mas de todos. A responsabilidade é coletiva, todos devem sentir-se motivados a realizar ações, por menores que sejam, em prol do país que queremos, um Brasil sem pobreza e sem discriminação”, declarou no seu discurso.

Na programação, ainda teve a primeira reunião do ano entre os conselheiros do CNPIR: Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs); Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doença Falciforme (FENAFAL); Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN); União Nacional dos Estudantes (UNE); Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB); Rede Amazônia Negra (RAN); Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira/Fenaj); Coordenação Nacional das Associações Quilombolas (CONAQ); Articulação de Mulheres Negras Brasileiras; Povo Cigano; Pastoral Afro-Brasileira (PAB); CEABRA; FUNAI; CUT; Comunidade Judaica. Até 2012, essa turma terá muitos desafios pela frente! Axé!



Fonte: Coluna Axé - nº 143 - Tribuna Independente (29.03.11)

domingo, 27 de março de 2011

ENTREVISTA: Jornalista Oscar Cardoso investe na produção literária


Oscar Henrique Marques Cardoso nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 8 de dezembro de 1971. É jornalista e radialista, formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, começou a sua inserção no mundo das palavras ainda na adolescência. Foi premiado com uma monografia sobre “As Raízes Portuguesas no Rio Grande do Sul, cidade do Rio Grande”, pelo Instituto Cultural Português em 1987.

Sua trajetória profissional iniciou na Rádio Pampa de Porto Alegre em 1993, também atuou na Rádio Bandeirantes, em Porto Alegre, onde apresentou programas jornalísticos. Foi repórter no Jornal Pioneiro, em Caxias do Sul e coordenador na Rádio Universidade de Caxias do Sul. Em Brasília, trabalhou na Fundação Cultural Palmares, instituição pública federal vinculada ao Ministério da Cultura, o qual desenvolveu inúmeros projetos e ações em favor da divulgação da cultura afro-brasileira. Também trabalhou em jornais e revistas de Florianópolis, e atualmente, encontra-se como jornalista freelancer.

É casado com a jornalista Nilda Corrêa Cardoso há 12 anos, tem uma filha, Stefane Corrêa Cardoso. “Ela é um presente que ganhei de Brasília, pois a adotei em Brasília, com oito anos de idade. Ah, além de tudo, milito em favor da adoção tardia. Eu vivo metido em causas sociais”. Também participa do Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais e do Núcleo de Jornalistas Afrodescendentes do Rio Grande do Sul. Foi um dos fundadores da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA) no Distrito Federal e participei de importantes articulações do Movimento Negro em Brasília.


Ele também é um profundo admirador do Estado de Alagoas, já veio duas vezes e gostaria de vir mais e de ter um apartamento em Maceió. “O que me atrai, além da praia, do clima, da cultura, são as pessoas. As pessoas são muito agradáveis. Não são eufóricas, mas agradáveis. E Alagoas tem a Serra da Barriga, tem açúcar e tem a simplicidade e a humildade que falta aqui no Sul”, justificou.


O jornalista agora se dedica a sua nova paixão que é escrever livros. É o autor do livro NÓS, publicado pela Editora Biblioteca 24x7 (http://www.biblioteca24x7.com.br/) e custa R$ 42. A obra de ficção conta a história de dois ex-colegas de trabalho, sem interesses financeiros e ambições, fala de amizade e de outros temas polêmicos como: tráfico de mulheres, transplante de órgãos e adoção interracial.

Este é o primeiro de uma série de novos livros e histórias. O pré-lançamento ocorreu em Viamão (RS) no dia 21 de março em um encontro de professores sobre a 10.639/03. No dia 7 de abril, o livro será lançado em Caxias do Sul; no dia 27 em Canoas; e em Porto Alegre, a previsão é de acontecer no dia 12 de maio, no Memorial do Rio Grande do Sul. Também estar disponível para lançar sua obra em eventos diversos, inclusive, em outros estados.

Confira abaixo, uma entrevista especial com Oscar Cardoso concedida via internet à jornalista Helciane Angélica, editora da Coluna Axé publicada no jornal Tribuna Independente e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL). Para entrar em contato com o autor do livro, acesse: @OscarHenrique  no twitter, ou pelo email oskarhcardoso@gmail.com.


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Cojira-AL: Como surgiu o interesse de começar a fazer livros?

Oscar: É tudo no peito e na raça. Não tenho patrocínio de ninguém, até porque infelizmente neste país a gente não consegue dinheiro de nada. Mas o meu primeiro livro, o NÓS, nasceu em um momento de profunda solidão e marasmo.


Cojira-AL: Foi um reencontro com você mesmo?

Oscar: Ainda morava em Florianópolis e estava desempregado. Uma grande amiga, escritora, tinha falecido, estava acompanhando a dolorosa separação de um grande amigo e estava só em minha casa, eu e minha filha, porque minha mulher estava em Porto Alegre cuidando da mãe doente. Eu sempre quis escrever, tentei e tentei por mais de dez anos. Quando eu vi, estava diante de um computador, colocando pra fora e aí nasceu o NÓS. Nasceu um livro carregado de emoção. De situações diversas, mas que fala de amizade, fala de doação, de um amor sem compromisso. Porque existe amor no meio da amizade. Ter um amigo é ter um tesouro. Amigos são para sempre, casamentos, nem sempre.

Cojira-AL: Que mudanças esse livro trouxe para a sua vida, já que também é uma realização pessoal?

Oscar: Trouxe mudanças profundas mesmo. Profundas porque venci um alto bloqueio interior que tinha acerca de escrever. Sempre foi um grande desejo meu escrever, escrever um livro, sempre fui em sessões de autógrafos e ficava imaginando quando seria a minha vez. Escrever para mim é mais do que uma realização pessoal, é uma forma que adotei para me comunicar com as pessoas, para mexer com coisas dentro da sociedade. Não digo que são situações que tem que ser mudadas, mas transformadas. Por exemplo, quando a gente fala em amizade, sabe que é um assunto que sempre é discutido em algum momento da vida. Para mim era um desafio escrever algo que mexesse com este tema e acabou nascendo. Escrever para mim também marca uma reinvenção profissional, porque também é uma nova profissão, dentro do que já fazemos como jornalista. Porque nem todo jornalista é escritor, nem todos recebem o dom de escrever, assim como o dom de cantar, de falar ao microfone. Vejo que foi um presente que ganhei do Criador, da vida. Escrever é um presente que ganhei mesmo.

Cojira-AL: E os próximos livros? Pode adiantar?

Oscar: Olha, claro que posso adiantar sim, com certeza, e gosto de falar sobre isto. Já terminei o segundo livro. Já está em processo de revisão e vou começar a produzir o terceiro em breve. A gente tem que se reinventar na vida, sabe.

Cojira-AL: Vai continuar na mesma linha de NÓS?

Oscar: Meu segundo livro, que sairá pela Editora Naós, tem como título ENTRE LOUVORES E AMORES. Ele é uma novela, com 290 páginas, a qual traz, no gênero ficção, um romance. Um romance, tendo como pano de fundo uma dura crítica ao mercado da fé, a igreja sem essência, aos falsos pastores e a corrupção que existe dentro da igreja. Não estou denunciando ninguém, criei personagens baseados na passagem da história do sacerdote Eli, o qual na Bíblia queria servir a Deus de qualquer jeito, mas recebeu vários castigos e também a morte porque servia a Deus de uma forma pecaminosa. ENTRE LOUVORES E AMORES é uma narrativa recheada de polêmicas, de conflitos, mas também de muito amor. Amor de dois jovens. A mocinha, uma jovem negra, evangélica, de família rica, que mora em uma São Paulo pulsante, cidade que reúne brasileiros de vários cantos. O mocinho é filho do falso pastor e sofre com o desamor de seu pai, pois vive no meio de uma família completamente desunida. É uma história interessante.

Cojira-AL: Qual é a sua religião? Você pretende mostrar a dura realidade da intolerância religiosa?

Oscar: Eu sou evangélico. Gosto da minha religião, mas não aceito a intolerância. No Rio Grande do Sul participo, aqui em Canoas, na cidade onde moro, do Fórum Interreligioso, o qual reúne representantes de todas as religiões. Dialogo com o povo de matriz africana, com espíritas, católicos, muçulmanos. Eu procuro viver dentro daquilo que creio. Creio num evangelho que vai além das estruturas hoje existentes. Pois filtro e seleciono a tudo o que ouço. Deus me deu a capacidade de pensar e de selecionar o que é realmente dele e o que é realmente da boca humana. Do homem sacerdote que quer dominar a seu povo.

Cojira-AL: E o terceiro livro, é sobre o que?

Oscar: Ele é bem diferente. VIDA DE MULHER, também será a adaptação do Livro de Rute, outra história bíblica para os dias de hoje. Irá tratar de temas voltados ao universo feminino, com destaque para as mulheres que são vítimas de violência. Vai ser outra história pesada, mas deliciosa de escrever.


Cojira-AL: Suas obras podem ser consideradas como auto-ajuda? Qual classificação você daria para elas?

Oscar: Não é auto-ajuda não. Eu as chamo de ficção, de novelas mesmo. Eu gosto de escrever novelas. Estou largando três no mercado editorial e espero que minhas novelas, de ficção, a qual casam a realidade com a estória possam sim ser conhecidas pelo povo. Porque escrevo para o povo, escrevo sobre vidas e sobre o que acredito. O escritor tem que andar onde o povo está, parafraseando a música de Milton Nascimento a qual fala que o artista tem que ir aonde o povo está.


Cojira-AL: Você pensa em fazer um livro-reportagem?

Oscar: Olha, quem sabe. Esse não é o meu estilo original, mas a gente nunca pode dizer que não irá escrever sobre tal e tal gênero. Eu gostaria muito de escrever, e talvez seja o próximo trabalho, uma história voltada a homenagear e a falar da questão racial. É claro, sou admirador da luta das mulheres negras e também do povo quilombola. Uma vontade que tenho é de construir uma heroína, negra, jovem, quilombola, de religião de matriz africana, que chegou ao comando de uma cidade, por exemplo. Uma jovem negra que foi levada ao poder, aclamada por toda uma sociedade. Sabe, eu iria escrever sobre isto no terceiro livro, mas resolvi deixar para uma quarta obra. Mas é um tema o qual amo. Sou negro, sou um jornalista, um escritor negro, e gosto da negritude, em todas as suas variações.


Cojira-AL: Você já foi vítima de racismo? Por ser um jornalista negro, já perdeu oportunidades de trabalho devido a cor da sua pele?

Oscar: Já, já fui sim. Foi quando eu era coordenador de Jornalismo da Rádio Universidade de Caxias do Sul. Um diretor que trabalhava lá, ao ver umas matérias que produzi e que foram veiculadas na TV da universidade disse que eu era muito talentoso, mas que não teria oportunidade porque era negro. E que era para que eu soubesse que o mercado era assim. Que tinha talento para a televisão também, mas como sendo negro e com uns quilos a mais não teria oportunidade de fazer tevê. Aquele episódio não me chocou, porque vivo no RS e sei que este tipo de coisa acontece, mas de forma velada. Poucos são os que botam a cara pra fora e assumem que são racistas. Eu nunca perdi oportunidades por ser negro, mas sim por ser uma pessoa polêmica, que diz o que pensa e que busca a essência e a verdade das coisas. Talvez seja por isto que eu ainda estou fora do mercado aqui no RS, onde comecei a minha carreira e onde vivo atualmente. A desculpa do mercado é a grande oferta, mas na verdade a gente sabe que a questão de você ser negro, ser um pouco acima do peso e com quase 40 anos, você se torna desinteressante em um mercado que busca a beleza ariana, o corpo perfeito, um poliglota e uma pessoa tecnologicamente super bem resolvida. Hoje, no jornalismo, não buscamos almas. Buscamos máquinas que dêem resultados.

Cojira-AL: Que conselho você daria para os jovens profissionais negros do Jornalismo?

Oscar: Daria o conselho que a união faz a força. A grande mídia só lembra da gente em época de Carnaval. Aí botam as negras rebolando a bunda e os negões, seminus dançando. Aconselho aos meus colegas negros, acadêmicos, recém ou já formados a um tempo para que se rebelem. Rebelem contra a falsa democracia racial que é pregada neste país. A falsa integração e a falsa abertura. Ainda somos poucos nos meios de comunicação. As nossas tevês, os nossos jornais, as rádios, dão pouca bola para as nossas questões, ligam pouco para o regional, para a cultura local. O que digo, em especial para vocês que estão em Alagoas, um estado que verdadeiramente gosto muito e que gostaria de poder ir mais aí, estar mais junto com vocês, é sim se reunir. Se reunir em torno da Cojira, se reunir em torno da Coluna AXÉ, se reunir nos espaços para usar a mídia para denunciar a exclusão e denunciar a mentira da igualdade racial. Hoje, a falsa ideologia vende que existe uma desigualdade social. Mentira. Existe sim uma desigualdade racial sim. Uma mulher negra ainda é pouco valorizada na sociedade. Mulher negra ainda é vista como uma mulher que não é para casar. Homem negro é visto como um bicho sexual, é visto como um cavalo de raça que copula com todo mundo. Chega disto. Nós temos origem, temos história. Temos os quilombos, os terreiros, temos a nossa comida, a nossa música, a nossa ancestralidade, e que tem que ser respeitada. Se nós negros não olharmos para dentro de cada um de nós e não fizermos da nossa profissão um espaço de debate e resistência, então peguem os diplomas, pendurem na parede e se vendam para um mercado asséptico e sem identidade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Homenagens marcam aniversário de oito anos da Seppir

Conselheiros alagoanos do CNPIR/Seppir: Valdice Gomes (Conajira/Fenaj) e Helcias Pereira (APNs) - ao lado da Ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros


Por: Valdice Gomes - Integrante da Cojira/AL e do Anajô/APN-AL; Conselheira do CNPIR

A celebração do aniversário de oito anos de criação da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir), promovida na última segunda-feira (21 de março), foram marcadas por assinatura de convênio, entrega do Selo Educação para Igualdade Racial, premiação aos vencedores de concurso da Petrobras, lançamento de campanha e uma homenagem especial à professora Petronília Beatriz Gonçalves e Silva. A solenidade ocorrida no subsolo do Bloco A da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), contou com a presença dos integrantes do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Cnpir), autoridades e representantes do movimento negro.

Um dos momentos mais emocionantes foi quando a ministra de Estado Chefe da Seppir, Luiza Bairros, entregou à gaúcha Petronília Beatriz, primeira mulher a ter assento no Conselho Nacional de Educação, uma placa pelos relevantes serviços prestados ao País. Emocionada e bastante aplaudida, Petronilha destacou que a homenagem representa o reconhecimento à luta silenciosa dos professores negros e negras contra o racismo. No mesmo dia, pela manhã, a professora recebeu das mãos da presidente Dilma Roussef, a Medalha da Ordem Nacional do Mérito.

Luíza Bairros aproveitou o evento para lançar a campanha “Igualdade Racial é pra Valer”, convocando o povo brasileiro para o combate ao racismo. A iniciativa é motivada pelo Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, instituído em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Ainda durante a solenidade, a Petrobras premiou crianças filhas de funcionários da estatal, vencedoras do concurso As Cores do Saber. Luiza Bairros ainda entregou o Selo Educação para a Igualdade Racial a escolas, secretarias estaduais e municipais de Educação por apresentarem experiências exitosas na aplicação da Lei 10.639.

Também foram assinados protocolos de intenção com a Petrobras para divulgação do Estatuto da Igualdade Racial. Além disso, foi firmado um acordo de cooperação técnica entre a Seppir, o governo do estado do Rio Grande do Sul e o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja). O objetivo é garantir ações de apoio ao desenvolvimento das comunidades quilombolas daquele estado, especialmente as contempladas pelos Programas Brasil Quilombola (PBQ) e Territórios da Cidadania (TC).

terça-feira, 22 de março de 2011

Campus Maceió do Ifal abre ao público curso de Capacitação em História da África e Cultura Afro-Brasileira

O Instituto Federal de Alagoas, Campus Maceió, por intermédio da Diretoria de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação, promove no dia 25 de março um curso de Extensão sobre Capacitação em História da África e Cultura Afro-Brasileira com carga horária de 60 horas. O curso tem o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros do Instituto Federal de Alagoas e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e é aberto ao público. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas na Coordenadoria de Ciências Humanas e na Diretoria de Ensino do Campus Maceió.

Mais informações pelos telefones: (82) 8114-8274 / 8836-3832 / 9932-4737.

Obama in Brazil

Por: Helciane Angélica
Com informações de agências de noticícas nacionais



Neste fim de semana, o mundo observou o encontro inédito entre o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América e a primeira mulher presidente do Brasil – dois países com grande potencial econômico e de recursos naturais das Américas.

A visita ao Brasil já ficou para a história, principalmente, para os moradores de comunidades carentes e integrantes de grupos afro-culturais que se apresentaram para a família negra da Casa Branca. Porém, a velha política imperialista dos EUA mexeu com o cotidiano das cidades visitadas (Brasília e Rio de Janeiro), inclusive, com um forte esquema de segurança que chamou a atenção de todos, mas é um protocolo militar adotado em qualquer lugar para onde o presidente norte-americano for.

No Teatro Municipal, Obama mostrou ainda mais simpatia e arriscou algumas palavras em português, no seu discurso trouxe muitas peculiaridades sobre a história e os costumes do nosso país com dimensão continental. Muito bem elaborado, sem dúvidas, o texto mexeu com a auto-estima do povo brasileiro e também ressaltou a importância da parceria sócio-econômica: "O futuro já chegou e está aqui, agora! (...) Juntos, podemos ter uma prosperidade maior", destacou.

No local estiveram presentes muitos artistas, especialistas nas questões étnicorraciais e autoridades – Lázaro Ramos, Thaís Araújo, Frei Davi (coordenador da ONG Educafro) e Abdias Nascimento (primeiro senador negro do Brasil) – e do lado de fora, tinham muitos ativistas demonstrando a insatisfação com a presença do Obama e a sua postura em relação aos ataques na Líbia. Por onde passou, ele foi simpático mostrou-se ser realmente simples, mesmo sendo atualmente o homem mais poderoso do mundo!

O fato foi destaque na mídia internacional, uma verdadeira overdose até nas redes sociais, e ficará na mente de muitas pessoas por vários anos. Apesar das inúmeras críticas, e de ser considerado por muitos um traidor do povo negro no mundo, ainda é uma referência para os afro-descendentes.

Ah, já ia esquecendo, infelizmente, a visita à Serra da Barriga em União dos Palmares (AL) para conhecer a história do Quilombo dos Palmares não foi incluída no roteiro – a proposta defendida na Assembleia Legislativa de Alagoas por um deputado virou piada em muitos locais – mas, porque a graça? Trata-se do palco da resistência negra e de luta pela liberdade no Brasil, já foi visitada por muitos turistas estrangeiros, merece ser respeitada, sempre! Axé!


Fonte: Coluna Axé - 142ª edição - Tribuna Independente

segunda-feira, 21 de março de 2011

O mercado vence o racismo?

Às vésperas da visita do presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao Brasil, a revista Veja estampou em suas páginas amarelas na edição de 9 de março último, uma maliciosa entrevista com o economista afro-estadunidense Walter Williams, no passado considerado um “radical”. A entrevista traz o economista numa posição contra as cotas raciais (marca do governo Lula e que prossegue com sua sucessora, a presidenta Dilma Rousseff) e em defesa da idéia do mercado livre no papel de regulador natural de superação do racismo, além de apregoar insucessos para o governo Obama.

Jornalistas do movimento brasileiro pela promoção da igualdade racial na mídia consideraram a entrevista como endereçada aos dois governos: o brasileiro e o norte-americano. E, inconformados com a parcialidade do discurso peculiar àquele veículo, principalmente quando as matérias jornalísticas têm o viés de raça, entrevistaram outra fonte sobre o mesmo assunto: o escritor, professor nigeriano radicado nos Estados Unidos, Emérito (PHD) em francês e história do St. Mary’s College, Femi Ojo-Ade, autor de mais de 60 obras sobre diáspora africana publicadas no Brasil e em outros países, entre artigos, estudos críticos e livros como “Obama – o fenômeno”. Traduzida e editada por alaionline.

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Iris Cary (Radio Câmara / Brasília) – O que o senhor acha dessa entrevista ter sido publicada pela Veja às vésperas da visita do presidente Obama ao Brasil?

Ojo-Ade: Pelo que eu sei sobre a Veja, ela parece ser uma revista reacionária, que favorece as opiniões do eurocêntrico e burguês norte-americano. Não é de admirar que tenha publicado a entrevista com Walter Williams. Ele representa um ponto de vista da corrente de pensamento norte-americana dominante. Em sua essência, essa corrente pode ser chamada de anti-negra e retrógrada, contrária a uma opinião progressista e que segue os princípios da democracia. Naturalmente, esta última favorece aos negros, incluindo afro-brasileiros, bem como aqueles interessados em uma verdadeira aldeia global onde a justiça, a igualdade e a verdadeira liberdade seria regra .

Miro Nunes (free lancer e radio – documentarista / Rio de Janeiro) - O senhor acredita que o mercado pode promover a igualdade? Partindo da premissa que isso seja verdadeiro, porque o mesmo mercado que provocou a mais recente crise financeira vitimou especialmente os Estados Unidos?

Ojo-Ade: Não sendo eu um economista, não saberia argumentar sobre teorias propagadas pelos chamados especialistas. No entanto, chamo a atenção que esse conceito parece um exagero e, na verdade, ridículo. O que é chamado mercado livre não é mais do que um disfarce para exploração imperialista, outro aspecto da continuidade da escravidão e do colonialismo. Partindo de dentro da casa do “senhorio”, observo que abundam questões de raça e, essencialmente, em relação a aqueles que estão na camada inferior, ou seja, negros que nunca totalmente foram beneficiados pelo chamado mercado livre. O mercado, e é preciso insistir nisso, continuou a ser usado para mantê-los “em seu lugar”. Racismo prospera agora como antes; em certos lugares ainda de forma mais flagrante e viciosa. O mercado não promove a igualdade; pelo contrário, incentiva uma série de desigualdades e serve como camuflagem de atos e atitudes que mantêm as pessoas na condição de escravo. Os Estados Unidos são vítimas de sua própria política econômica reacionária, porquê o que vai, volta. E não esqueçamos que as vítimas de racismo são as mais afetadas. Estou falando em desemprego, instabilidade no trabalho, pobreza, seguridade social, etc.

André Ricardo (TV Senado / Brasília) - Sendo o mercado movido por uma série de interesses, aqueles que o dominam buscarão a reprodução daquilo que vem dando certo para eles. Não seria utopia a idéia de que o livre mercado seja uma solução para resolver desigualdades raciais e outras?

Ojo-Ade: É uma grande falácia dizer que o mercado livre seja a solução de problemas raciais e outras iniqüidades. Essa idéia é um estratagema, um ardil, uma forma sutil e horrível de manter um status quo que vai impedir as pessoas de pensar em resolver efetivamente problemas de longos anos. Racismo tem uma longa trajetória na história na herança negra e os Estados Unidos tem sido sua cama quente para o equilíbrio da existência da América. Como a maioria das outras coisas referentes à experiência negra, racismo tem sido considerado como uma espécie de problema médico, que pode ser diagnosticado, tratado e resolvido. Acredita-se que o movimento de direitos civis atacou o racismo e, uma vez conquistado esses direitos, o problema chegou ao fim. Como o câncer, extraído, erradicado, completamente cortado e deixando o corpo limpo e com excelente saúde. Infelizmente, a vida não funciona dessa maneira. O racismo está no fundo da alma humana. Ele consome nossa própria essência e, como uma doença mental, ele mexe tanto em nosso ser que se torna impossível identificar sua localização e extensão. Em outras palavras, não há uma única forma de garantir uma cura. Tem de ser um exercício contínuo também porque muitos dos seus autores estão vivendo em negação. Eles estão no poder, eles são o poder e suas vítimas, impotentes, estão, em sua maioria, assobiando dentro de um redemoinho de vento.

Ana Alakija ( alaionline / Brasil-EUA) – O Brasil é um país que tem a política de ações afirmativas mais avançada da América Latina. Entretanto os EUA e a França foram os pioneiros na construção do conceito e leis da igualdade e ainda hoje superam o país brasileiro nesse sentido. Qual a sua percepção de diferenças e semelhanças entre a realidade da população afrodescendente nesses países, especialmente a cerca do funcionamento das ações afirmativas?

Ojo-Ade: Enquanto o Brasil está avançando no estabelecimento e expandindo programas de ações afirmativas, os Estados Unidos, pioneiro no projeto, tem em grande parte, estacionado essas ações. E a França não pode mais ser exemplo de programas benéficos para as chamadas minorias. Estamos observando, com espanto e um certo horror, o drama que se desenrola naquele país, visto como a sociedade mais aberta e liberal do mundo, o “centro da civilização,” agora fechando violentamente suas portas para qualquer um que não seja branco. Pense na saga dos ciganos, nas angústias atuais de africanos e imigrantes árabes e a presença crescente e o poder da direita num país onde, no passado foi símbolo de tudo que os negros queriam, onde negros dos Estados Unidos buscavam refúgio contra o racismo. Quanto às ações afirmativas na América [EUA], sua história é repleta de todos os tipos de soluços porque a elite dominante nunca quiz que elas tivessem êxito. Isso significa que nada foi feito com vista a alcançar o progresso e sucesso ideal para aqueles que sofrem as iniqüidades do racismo. Tendo em conta a autonomia dos estados e as consequentes diferenças nas políticas e programas, as ações afirmativas não são válidas em todo o país. Alguns estados rejeitaram o programa; alguns não cumpriram as promessas feitas; outros implementaram relutantemente as ações enquanto só um punhado engajado fez tudo para o sucesso do programa. O Brasil tem a oportunidade de aprender com as experiências da França e da América e eu acredito que ele está no caminho certo. Ele tem um governo progressista, orientado para as pessoas e voltado para o futuro. Ele não tem estados insistindo em atraso, e tem uma população de afrodescendentes agora ciente de seus direitos e os sonhos essenciais para ser cumprida em um contexto propício ao seu bem-estar e sobrevivência. Espero que, num futuro próximo, o Brasil tenha o seu próprio presidente negro. Os Estados Unidos continuam a ser símbolo do empenho e da luta do que podem alcançar. Tudo que a gente precisa é pronunciar mesmo o nome “OBAMA”. E o que esses países têm em comum, além de sua herança africana, é a experiência de racismo; e, o racismo é racismo!

André Ricardo (TV Senado / Brasília) – Se os lares de negros são desestruturados em maior número (tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos), a que se deve isso? Seria algo semelhante à maior presença proporcional de negros nas prisões? Como combinar ação estatal (as políticas de cotas) com liberdade individual?

Ojo-Ade: É preciso compreender a condição atual dos negros como consequência da história. Desde então e até agora, não obstante os esforços corajosos de muitos africanos e seus descendentes, apesar da luta corajosa de líderes negros e seus seguidores, o senhorio nunca deixou de exercer a sua agenda, antes aberta e agora oculta, para manter as famílias negras desorganizadas e em disputa contínua. Lar é onde a mulher está com os filhos que não sabem quem é seu pai e que continua entrando e saindo da prisão. E a mulher é alimentada com histórias sangrentas sobre as irresponsabilidades do seu marido. No tempo da plantação escrava, o homem era forçosamente separado da mulher que foi feita empregada do “senhor”, compartilhante da sua cama e, como se não fosse bastante, mãe do “mulato bastardo” resultante da relação sexual entre ela e seu “dono”. Ato de estupro ou de mútuo consentimento a leitura é a mesmo: o homem negro, fragilizado, nu e desumanizado, iria ser marginalizado para sempre. Essa é a história de pessoas negras que só os ignorantes podem culpá-los por serem “irresponsáveis” e “sem vergonha”. Quando as pessoas são desapropriadas e desumanizadas, elas se tornam vítimas fáceis de todos os tipos de caprichos. O sistema os abandona. A vida faz o mesmo. Eles estão em um beco sem saída de desastres e desespero. Este é o dilema dos negros nos Estados Unidos e no Brasil, também. A sociedade cínica paga para ter esses lares partidos e as multidões de homens negros na prisão. “Deixe eles aprenderem a se manterem em seu lugar”, poderiam até entoar com orgulho! O indivíduo sozinho se sente muitas vezes perdido, sem orientação, em um deserto onde sua melhor jogada é se mover em círculos em vez de ir para a frente. O Poder, a Constituição, está comprometida com um programa de dissipação e desintegração, incentivando as pessoas a agir sozinho, com o pleno conhecimento de que eles vão falhar.

Angélica Basthi (Programa Rio Afro/ Radio Nacional e mestre em Comunicação pela UFRJ/ Rio de Janeiro) – O senhor é a favor das ações afirmativas? Por quê? Que benefícios essas políticas serão capazes de trazer a médio e longo prazos para os/as negros/as num país com a característica brasileira?

Ojo-Ade: Estou plenamente de acordo com as ações afirmativas porque é uma questão de corrigir erros, fazer as pazes, tenta melhorar uma situação que por muito tempo tem empurrado milhões de seres humanos para a parte de trás do ônibus e para a base da pirâmide devido a sua cor de pele ou raça. A situação do Brasil é um pouco mais complicada e complexa do que nos Estados Unidos, onde uma gota de sangue negro torna você “negro”, “mestiço” ou uma “pessoa de cor”, ou afro-americana; no Brasil você tem uma gama de terminologias para distinguir raça e tonalidades da cor, tanto que as pessoas têm sido incentivadas a se descreverem e a se definirem como gostam. Mas no fundo, todos tem tentado “se limpar,” mover para cima e para fugir do que é negro. Preto não pode ser enfatizado, permanece na parte inferior e todos os outros tons e cores avançam, até que se chegue ao zenith, branco. Com ações afirmativas, talvez haja menos motivos para desejar “se limpar”; talvez haja mais auto-afirmação, com a auto-estima mais presente na mente das pessoas. Talvez as vítimas reconheçam suas limitações e estejam mais dispostas a lutar por seus direitos. Certamente as ações afirmativas contribuem para nivelar a igualdade social, econômica e política. Educação, serviços sociais, formação profissional, expectativas de vida… O objetivo é que esses programas já não sejam necessários no futuro; mas no presente, eles são e devem ser implementados com integridade e diligência.

Angélica Basthi (Programa Rio Afro/ Radio Nacional e mestre em Comunicação pela UFRJ/ Rio de Janeiro) – A associação do critério da competência às ações afirmativas é uma tentativa sutil de reforçar um estereótipo sobre o/a negro/a?

Ojo-Ade: Sim, essas associações geralmente têm uma agenda oculta. Por enfatizar e realçar critérios de “competência”, eles desviam a atenção do essencial, que é a necessidade de melhorar a vida desses milhões esquecidos por muito tempo, mesmo que a sociedade moderna, desenvolvida, tenha sido construída através de seu sangue e suor. A genealogia de tais organizações é comum, global: conservadores de políticas entrincheiradas e promotores de perspectivas hegemônicas do estabelecimento exclusivista, que servem ao propósito de lançar um tamanco nas rodas do progresso. São táticas destinadas a atrasar, se não destruir, as ações.

Miro Nunes (free lancer e radio-documentarista / Rio de Janeiro) – Aqui no Brasil há uma frase tirada das ruas que diz : ” …a longo prazo todos (nós) estaremos mortos! ” . Como precisamos resolver problemas nesta vida que temos aqui na Terra (à parte, considerações de caráter religioso), que alternativas a população negra tem – sem contar com o conjunto de ações afirmativas e as reparações – para solucionar o problema da desigualdade material (econômica) que ela enfrenta há muitos e muitos e muitos anos ?

Ojo-Ade: Eu também me pergunto quando o nosso sofrimento vai acabar? Quando vamos alcançar a terra prometida que o falecido Martin Luther King Jr. disse que teríamos? A religião não é um truque novo. Milhões entre nós têm encontrado consolo na religião. Ela foi usada para capturar os corações e almas dos africanos por europeus que lhes deram a bíblia e roubou suas terras. Enquanto os africanos estavam orando e olhando para o céu em busca de Cristo, os invasores estavam ocupando, explorando a terra, suas riquezas e controlando as suas mentes e suas matérias-prima. Tenho observado que, no Brasil, muitos estão na religião afro-orientada tradicional mas é triste dizer que parecem ter sido aprisionados, estão no Candomblé não como fonte de resistência e libertação. Qualquer religião que não ajuda os seres humanos a serem livres e não estiver bem fundamentada em uma sociedade onde as pessoas cresçam, não vale a hora do dia. Também sejamos claros: as desigualdades econômicas não vão desaparecer da face da terra. Por um lado, os exploradores jogam duro, são resistentes e implacáveis e vão formular novas maneiras de manter o status quo. E mesmo que o problema econômico seja resolvido (como no caso dos burgueses negros), o problema não terá resolvido. Racismo não conhece a cor do dinheiro, só a cor da pele.

Ana Alakija ( alaionline / Brasil / EUA) – Muitos como o professor Williams prevêem que o governo Obama será um desastre como o de Jimmy Carter. Sabemos que o presidente vem sofrendo pressões da sociedade para desregulamentar cada vez mais a economia. O senhor é autor de um livro que considera Obama como um fenômeno. Onde estabelecer as fronteiras entre sucesso / insucesso e incompetência / pressões políticas? “Ser negro” é um fator preponderante?

Ojo-Ade: Para comparar o mandato da Obama a um desastre no mesmo molde do de Jimmy Carter é deliberadamente distorcer fatos históricos e forças sociais. Todas essas questões pelas quais Obama está sendo criticado e condenado e que ameaçam afundar o país e arruinar a sua administração – guerras, terrorismo, nevoeiro econômico… – vieram do passado, herdados de Bush. Quantos não afirmam que ele simplesmente poderia lavar as mãos? Muitos críticos e detratores compatriotas deveriam estar na arena encarando os problemas como questões nacionais e não como “problemas de Obama’ – os republicanos e seus companheiros racistas e colaboradores de direita, como o Tea Party cheio de ódio. Eles não conseguem ultrapassar o choque da vitória do Obama e farão qualquer coisa para certificar a falha de Obama e colocar isso nos livros de história em letras maiúsculas. É impressionante que, mais do que nunca, o câncer do racismo esteja comendo no núcleo da sociedade americana. O presidente está sendo vilipendiado porque ele é negro. Ele e sua esposa negra são comparados a macacos. Alguns até mesmo questionam a sua cidadania americana outros cunham ele de fundamentalista muçulmano e, portanto, “terrorista”. Ele é, de longe, o presidente mais desrespeitado na história do país. A batalha campal contra o “Obama comunista” é um outro aspecto da investida sem escrúpulos. É tradição na América condenar o Comunismo, a última escala do socialismo; comunista é um trapaceiro e criminoso, anti-democrata e traidor. Assistimos os líderes das colônias africanas da Europa e neo-colônias serem taxados de comunistas. Um excelente exemplo é Patrice Lumumba [ primeiro ministro ] da República Democrática do Congo. Ele foi sumariamente assassinado por ser um comunista. Obama é um fenômeno porque conseguiu aglutinar em massa jovens e velhos, pretos e brancos, burgueses e proletários para virar a mesa do retrocesso e construir uma vitória com grande vantagem contra uma América racista; a raça de Obama, classe e cultura constituem um bônus de boas vindas, não uma objeção às suas qualidades extraordinárias de inteligência e intelecto e integridade, sua graciosidade e generosidade, a despeito do ódio e da hipocrisia mais cruel. Sendo ele como um presidente negro, os Estados Unidos têm uma oportunidade rara para mostrar sua face humana para o mundo, para ser verdadeiramente um líder da liberdade, do progresso e humanismo. Afro-americanos veem em Obama suas próprias possibilidades como seres humanos em uma sociedade construída sob o racismo e que se recusa a abandonar a herança da opressão e repressão provenientes de raça e cor das pessoas. Obama simboliza o sucesso dos negros como seres humanos, bem como o potencial para o progresso real. O problema é que a sociedade americana ainda não está pronta para aceitar um presidente negro como líder de pleno direito, sem referência a sua raça como restrição. Os Estados Unidos simplesmente têm que acordar e maximizar o seu potencial se deseja manter-se líder mundial.

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Iris Cary e André Ricardo, Miro Nunes e Angélica Basthi, e Ana Alakija são membros das Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial dos Sindicatos de Jornalistas do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Bahia, vinculadas à Comissão Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial da Federação Nacional dos Jornalistas.


Fonte: http://www.alaionline.com

Mensagem do Secretário​-Geral, Ban Ki-moon, por ocasião do Dia Internacio​nal pela Eliminação da Discrimina​ção Racial

2011 - ANO INTERNACIONAL DAS E DOS AFRODESCENDENTES

Mensagem do Secretário-Geral, Ban Ki-moon, por ocasião do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial



Todos os anos o mundo rememora o aniversário do massacre de Sharpville de 1960, em que dezenas de manifestantes pacíficos foram mortos a tiros pela polícia sul-africana do apartheid porque protestavam contra as leis discriminatórias em função da raça.

Este ano, o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial está consagrado a combater a discriminação de que são objeto os afrodescendentes. Elegemos este tema para refletir sobre a proclamação da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2011 como Ano Internacional dos Afrodescendentes.

A discriminação contra os afrodescendentes é prejudicial. Em geral, estão presos à pobreza devido à intolerância, e se utiliza a pobreza como pretexto para excluí-los ainda mais. Muitas vezes, eles não têm acesso à educação por causa dos preconceitos, e logo a instrução insuficiente é alegada como motivo para negar-lhes postos de trabalho. Essas e outras injustiças fundamentais têm uma longa e terrível história, compreendida pelo tráfico de escravos transatlântico, cujas consequencias são sentidas ainda hoje.

Há uma década em Durban, a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância aprovou um amplo programa de luta contra o racismo com visão de futuro em que figurava em destaque o fomento da plena participação dos afrodescendentes na sociedade. O Ano Internacional oferece a oportunidade de avançar neste combate e de reconhecer as vastas contribuições dos afrodescendentes ao desenvolvimento político, econômico, social e cultural de todas as nossas sociedades.

Para derrotar o racismo temos que acabar com as políticas públicas e as atitudes privadas que o perpetuam. Neste Dia Internacional, faço um chamamento aos Estados Membros, às organizações internacionais e não-governamentais, aos meios de comunicação, à sociedade civil e a todas as pessoas para que participem ativamente na promoção do Ano Internacional dos Afrodescendentes e combatam conjuntamente o racismo quando e onde ele surja.



Alunos da rede pública apresentam peça teatral com temática afro

O Dia Mundial de Combate a Discriminação Racial (21 de março) será comemorado pela Escola Municipal Vereador Audival Amélio com a apresentação de um espetáculo com os alunos integrantes do programa Mais Educação no Teatro Jofre Soares - SESC Centro (entrada gratuita).

A Escola Municipal Vereador Audival Amélio localiza-se próximo ao lixão de Cruz das Almas, recentemente desativado, e participa do Programa Mais Educação desde 2009, oferecendo acompanhamento pedagógico, cultura e esporte aos alunos participantes.

O espetáculo “Nyemba”, escrito pela monitora Leone Manoel, é a primeira apresentação teatral dos alunos participantes do Programa.Trata-se de um espetáculo de cultura afro-brasileira, que foi adaptado para a realidade das crianças a fim de celebrar o dia da Consciência Negra na Escola, e que agora terá a oportunidade de ser apresentado num Teatro.

Informações pelos telefones: (82) 8853.5865 (Leone) / 3315.4551 (Escola)

Fonte: Divulgação